Cunha
e Silva Filho
Imagino o que se passa na cabeça
de tantos governantes brasileiros nesta semana em que o Papa visita o nosso país e leva a multidão de fiéis ao delírio graças
ao seu carisma, à ternura que transmite ao
povo brasileiro de todas as classes sociais. Não foi um só dia essa
apoteose em que se transformou a presença
do Papa em terras cariocas. Até as
manifestações das ruas contra o governador
fluminense e contra a política
brasileira diminuíram. A cidade parece
encantada. Aleluia! Aleluia! Deixem o Papa
passar com o seu sorriso constante, o seu olhar doce, o seu abraço, beijos e carícias
nas cabecinhas das crianças. “Sinite parvulos venire ad me.” Seria um slogan bem apropriado à sua figura
e aos seu modos angelicais. Papa
dos pobres, desde os tempos argentinos.
Não falando bem português, mas lendo a
nossa língua bem razoavelmente, pode se comunicar à vontade com o brasileiro.
Creio que em popularidade já
superou o grande João Paulo II, cuja presença no Brasil
foi também admirável e fez muito
bem ao povo. Entretanto, Papa Francisco é
diferente. Está conquistando o coração
dos brasileiros.
A imprensa vinha declarando que seus pronunciamentos, suas homilias, teriam
um tom incisivo no que concerne à situação
social brasileira. Explicitamente, isso passou pra muitos despercebido. Se, no entanto, olharmos
mais fundo, as entrelinhas dirão muito sobre questões
sociais e sobre o sofrimento de parte do povo brasileiro e, particularmente, do carioca.. Pois Francisco andou falando
em segurança, saúde,
fome, pobreza, abandono
das classes desfavorecidas, consumismo, falta de solidariedade
e corrupção. É só prestar muita atenção
em algumas frases
por ele proferidas dirigindo-se aos
necessitados, seja, na visita a uma casa
humilde em Varginha, conjunto de favelas de Manguinhos, seja em homilias, seja na magnífico evento em Copacabana, na Tijuca, quando ali foi
assistir a uma inauguração de um hospital para dependente químicos, seja em
outros lugares.
Com cuidado diplomático, vai ele, aqui e
ali, soltando algumas pistas de seus
pronunciamentos à população jovem e aos adultos. Ele sabe de tudo, utiliza
a internet, o twitter e de aceno à direita e à esquerda no seu papa-móvel
aberto e sem blindados, vai
semeando seus grãos de
esperança, de entusiasmo e
de desejos de mudanças para a humanidade, sobretudo quando estão em jogo os injustiçados, os deficientes, os velhos, os marginalizados, as crianças
indefesas e, principalmente, os humildes.
É difícil expor tantos ângulos dessa personalidade e dessa viagem ao encontro da juventude mundial.
Papa Francisco marcará o coração de todos os brasileiros de forma indelével. Sua presença é uma
epifania. Veio ao Rio em momento delicado e conturbado. Sua passagem tem sido um oásis, um brisa
acalentadora e, enquanto estiver
no Rio, a esperança se espalhará
pelos quatro canos do país.
Papa Francisco, nos atos litúrgicos, permanece
sério e compenetrado, no
semblante do qual podemos
vislumbrar a profunda preocupação
com a dimensão transcendente
do que lhe vai na alma. Disso deu mostra
em Aparecida diante da festada
imagem de Nossa Senhora, ou dentro da capelinha
simples de Varginha, ou nos momentos
de orações em Copacabana, na
Catedral com os jovens argentinos. Fora
desse contexto sagrado, volta à
alegria que lhe é característica, nos abraços,
nos apertos de mãos, nos
acenos de bênçãos ao povo.
Todos lhe querem estender a mão,
tocá-lo, falar com ele, dizer-lhe
do amor e afeto que por ele sentem. São milhares, milhões de
mãos estendidas, desejosas de um toque que seja, de um olhar que
seja, de um sorriso que seja. E aí
vai esse
senhor setentão conquistando os corações de todos e até de pessoas de outras religiões.
Não creio que sua passagem pelo Rio de Janeiro e, por extensão, pelo
Brasil, ficará em vão. Papa Francisco tem o
dom de entrar na vida interior das pessoas, instilar em nossas
vidas confiança de dias melhores não só para o Brasil mas para o mundo
inteiro. Num país em que praticamente
não temos um líder com a envergadura moral,
a simpatia, o carisma e a simplicidade natural
desse Sumo Pontífice, é de
esperar que o povo brasileiro se tenha
apegado tanto a ele. Tenho
certeza de que da parte dele levará
do nosso povo uma imensa
alegria do tamanho da Mundo.
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