Cunha
e Silva Filho
Eu me pergunto: será que um
país assim tem
conserto? Creio que não. Quantos anos,
ou mesmo um século, serão necessários para que um político brasileiro possa
ser levado a sério? A curto e médio prazos, não há vislumbre de que alguma coisa
boa surja da vida política
nacional.
Não há manifestação nas praças, nas avenidas, nos morros, no planalto, na planície, no mar, no ar, na terra que consiga reformar
a ética e a prepotência de
quem foi eleito pelo povo e praticamente nada tenha
feito à sociedade. Mesmo quando
saem de cena, os políticos
brasileiros deixam seus rebentos incrustados nos feudos palacianos, dando continuidade à fanfarra das mordomias, das manobras, das tergiversações, das falcatruas praticada contra
o Erário Público.
Ainda este ano saiu uma notícia no jornal O Globo informando ao
leitor que o atual
Presidente do Senado, figura da
política nacional por demais
respeitada desde os tempos do
governo Collor e das rocambolecas
histórias amorosas, além de
outras implicações de conduta no bolo
do escândalo do Mensalão, prodigaliza
a um mordomo um salário faraônico de
dezoito mil reais, quando
um médico, um professor com
mestrado e doutorado nem sonham em terem tamanho
salário e o salário mínimo
do povão e os proventos dos aposentados do INSS estão
sempre aquém de um patamar de uma
vida digna.
Ora,
para dar esse salário a um mordomo seria preciso que este entendesse do
riscado, fosse fluente pelo menos em duas línguas modernas, tivesse domínio dos protocolos
sociais, fosse discreto,
observador, fiel, amigo da família,
e familiarizado com todas as etiquetas daqueles
velhos mordomos da aristocracia inglesa. Um completo butler,
em suma.
Este mesmo
senador é aquele que há poucos
dias viajou com amigos
num avião da FAB para comparecer a um casamento ou coisa parecida. O Brasil é uma
República ou pensa ainda que esteja nos tempos dos nobres do primeiro e segundo impérios ?
Este ex-ministro da justiça semelha ter
saído das páginas da ficção dos
bruzundangas limabarretianos. Não me
parece uma pessoa física, com nome
em cartório de registro. Para
sustentar um mordomo deste tipo, é mister que
o senador ganhe rios de dinheiro, sendo que, no caso dele,
o dinheiro escorre com facilidade dos cofres
públicos...
Por que estou implicando com o salário
de um simples mordomo de um
palaciano? Simplesmente
porque, ao conceder um salário
nesta proporção, o senador brasileiro dá um exemplo
inconteste de quanto
está distante do interesse
que revela ter pela
coletividade, sabendo ele que o brasileiro, em várias
profissões, é mal remunerado,
pouco valorizado, a quem faltam hospitais, segurança,
educação de qualidade e
transporte de massa à altura
do gigantesco número de usuários principalmente nas grandes cidades brasileira.
O país se revela por metonímia. Para
entender o todo, cumpre atentar para a parte e é por esta que chegamos às entranhas do todo. O exemplo do mordomo é
aquela parte do iceberg, cujo tamanho
se esconde até o fundo do mar (de lama, bem entendido).
Juntadas as partes, atingiremos o todo
que nos oferece uma triste
fisionomia.
São as partes que devemos
examinar com cuidado e com profundidade e, ao alcançarmos
o fundo do mar, perceberemos quão
imoral, injusto, defeituoso se nos apresenta. É do fundo do mar que
veremos, transparente, todos
os “malfeitos” (do jargão da
Presidenta Dilma) da nação, o lodo, a sujeira, os escolhos, o lixo
chafurdando no lamaçal de ausência
de ética, falta
de vontade política, protelações para que mudanças
substanciais nunca ocorram e
deixem tudo como
está visto que a memória do povo é curta e poderá ser
presa de sucessivas
péssimas escolhas de novos candidatos que, em eleições futuras, comporão a
política do país.
O que não pode é mudar para melhor
a vida do brasileiro. Por isso, a
reforma política, tanto quanto
possível, será adiada e, caso não o fosse,
como a realizaríamos com o conjunto
de políticos de fancaria de
que, em geral, dispomos na Câmara
e no Senado? Se questões de grande urgência não
serão tão cedo discutidas para
aprovação, como a reforma e atualização do
Código Penal, por exemplo, assim como leis que
venham beneficiar os quatro setores da vida
nacional (saúde, segurança, educação e transporte ) que exigem
dos governos federal, estadual e municipal soluções
urgentíssimas.
Um país tal qual o nosso,
que tem uma sociedade bastante dividida socialmente - classe miserável, classe média,
classe burguesa, elite econômica
– não terá nunca força
suficiente para se unir e ser
solidária entre si. Se os restaurantes de alto
luxo estão cheios,
e cheios estão os shopping centers, e o consumismo dos que
têm poder de compra continua
rolando solto, quando é
que encontraremos um
ponto certo para
fazermos valer nossas
reivindicações? A divisão de classes e
de níveis culturais faz a
felicidade da politicalha e, por tabela, é um porto seguro para a
continuidade e inalterabilidade do status quo vigente. Ó bendita divisão de classes, deleite dos que
implantaram o cinismo e a falta de
vergonha como a melhor forma de governança dos tempos contemporâneos!
Meu amigo professor Francisco Cunha da Silva Filho, esse texto é maravilhoso, não só pela precisão dos verbos e vocábulos, mas porque desborda, com veracidade, a triste realidade da nossa podre política. Meus sinceros parabéns. Vou reler esse outra vez, por que vale a pena. O amigo foi muito feliz, como de costume em todos os outros textos de sua lavra. Ele nos leva a indagar: Que país e esse? Não tenho mais esperanças, não. Não vejo mais solução. Não acredito nos poderes constituídos do Brasil, no Legislativo, no Executivo, muito menos no Judiciário. Só podridão. O pior de tudo isso é a hipocrisia do PT. Isso é uma verdadeira pandemia, já contaminou todo o Brasil com esse vírus letal . Certa vez ouvi dizer a seguinte frase: Pobre do México. Tão perto dos Estados Unidos da América e tão longe de Deus... Apesar de não querer entrar no mérito da questão, que frase posso dizer acerca do Brasil? Ele está tão longe dos Estados Unidos da América e muito mais ainda de Deus... Ai de nós, pois só conseguimos enxergar o céu e o mar, sem sabermos que existe terra firme, terra de verdade, terra de caráter, terra de respeito ao próximo, ou melhor, ao cidadão. De uma coisa tenho certeza absoluta, (...) feliz é a nação cujo Deus é o Senhor (...), para essa referida nação basta uma Constituição com dois artigos: 1°- Amar a Deus sobre todas as coisas. 2° - Amar ao próximo como a nós mesmos. Meus sinceros abraços do seu admirador BenHur Cavalcanti.
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ResponderExcluirPrezado BenHur Cavalcanti:
O que mais deixa alguém que escreve feliz é saber que o que escrevo não foi em vão. Pôde penetrar na alma do leitor com ideias que neste tiveram algum resultado no ato da interlocução, ato que não precisa sempre ser de concordância ou de crítica construtiva, mas de tentativa de ser coerente e corajoso na discussão de temas da vida nacional. Jamais este seu colunista, acredite, escreverá com o fel da hipocrisia. Qualquer escritor que tenha respeito à sua vocação seja em que gênero for, deve ter, antes de tudo, o sentimento de expressar as verdades que professa com dignidade e respeito. O que não é isso, passa a ser mistificação e falta de caráter, quando não de coragem.
Um abraço do
Cunha e Silva Filho .