Cunha
e Silva Filho
Ontem
estive preso à tela da tevê,
acompanhando tudo o que dizia respeito à vinda do Papa Francisco ao Brasil. Do avião
ainda em voo até o pouso
lento e bem conduzido em avião da Alitalia. Foram horas de voo com o Sumo Pontífice, sua
comitiva eclesial, os seguranças e jornalistas credenciados.
Enfim, do avião desce o Papa
Francisco, um argentino descendente de italiano. Sorriso largo,
simpático, de estatura mediana..
Lá vem ele, em movimentos firmes,
descendo a escada encostada à porta do avião. No outro extremo do avião de
outra porta haviam primeiro saído os homens de segurança.
Papa Francisco chega ao
país em momento
difícil por que passa
a sua população, aquela que
saiu às ruas gritando por mais justiça em todos os aspectos da estrutura do Estado brasileiro.
Aguardavam-no as autoridades locais e nacionais. Todos bem vestidos e
compenetrados. Entre uns e outros,
havia um homem amável, carismático,
observador, de voz mansa e
frágil. Na sua agenda, o objetivo
mais elevado dele seria
estar com os jovens de diversas partes do mundo. Jovens que
vieram ao Rio para se alegrarem com
a presença e a mensagem
do Sumo Pontífice nos dias em que acontecerá a Jornada Mundial da Juventude. Portanto, na
realidade, o Papa Francisco aqui
veio para esse encontro multirracial. O Brasil serviu apenas de
espaço na geografia do
Planeta Terra.
A figura de um Papa traz por si
mesma um clima de
festa, de paz, de esperança. Por isso, é bem-vinda. Eu me lembro do tempo em que João Paulo Segundo esteve no Rio
de Janeiro. Foi uma comoção geral. Uma
semana de tranquilidade, de união
de pessoas, de todas as idades.
Nem se falava em violência. Desconfio até de
que os próprios marginais
se recolheram, fugindo aos seus hábitos
selvagens. Tudo em nome de um homem
que representa o líder máximo da religião católica. Não há
quem não se sinta emocionado
com essa figura do Vaticano conquanto se sabe que o catolicismo
não vai bem em muitos aspectos da
vida material, moral e espiritual.O momento da visita do Papa,
contudo, apazigua, infunde um clima
inédito de esperança e
fraternidade.
Papa Francisco, cujo
nome foi tão bem escolhido para
o momento conturbado
universal, ao chegar ao Brasil, traz
novas energias de certeza de que
alguma coisa tem que ser feita ou mudada para o bem do
povo brasileiro que, a um
tempo que se torna
enfurecido, como dissera bem ontem uma manchete de jornal
inglês, sabe também se
comportar com espírito
pacífico, alegria, brandura e carinho.
Vejo como o povo é sábio no que faz por vezes.Sabe
ser grande hospitaleiro, carinhoso, cuidados com
essa figura frágil do Papa
Francisco cuja atuação como líder
do catolicismo tem-se pautado por
uma postura de decisões
firmes e de humildade na
função que ocupa na Igreja.
Desde aquele momento em que ficou
ouvindo, no aeroporto, o coral de
crianças cantando uma canção em sua
homenagem, em português, espanhol e, se
não me engano, em inglês, até o seu deslocamento do Aeroporto do Galeão em direção
ao Centro do Rio de Janeiro presenciou-se um exemplo do quanto o brasileiro se sente órfão
de afeto de líderes que merecem
respeito e em quem confiam de alma aberta. A multidão que o cercou
na Avenida Presidente Vargas, cada qual querendo segurar-lhe a mão, dar-lhe um abraço e dizer-lhe palavras afetuosas
é uma cena de encantamento
da alma simples do povo brasileiro, de todas as idades e níveis sociais. O povo sabe a quem prestar
tributo, essa é uma lição que
tiro da permanência
do Papa Francisco em solo
brasileiro.
Por outro lado, fico
imaginando a distante grande
entre o afeto dedicado ao Papa e
a indiferença do povo em
geral pelas autoridades. Não há o menor
sinal de
admiração pelos governantes e por
toda a estrutura do poder
público. No caso do Rio de Janeiro, temos o
exemplo de divórcio completo
de laços de consideração e respeito
entre o povo e o governador
atual.
O encontro do Papa Francisco no
Palácio das Laranjeiras, residência
oficial do governador, é que se
pode ver com nitidez o poço fundo entre
o governador e o
povo. Lá dentro, no palácio, os discursos incompatíveis entre
o que a Presidente da República disse sobre o seu governo e a realidade
que o país está atravessando. O grupo seleto, lá dentro,
não representa de forma
alguma as aspirações do povo
brasileiro. Lá fora, o
aparato policial pronto para qualquer eventualidade a serviço
do poder.
Os discursos não passam de
formalidades diplomáticas entre
dois chefes de Estado, visto que a
verdade da nação ali não se encontra, mas sim nas ruas,
no grupo de manifestantes
pacíficos que não podia se
aproximar do Papa Francisco. O boneco de pano
queimado simbolizando a
figura impopular do governador é o maior testemunho de
quanto o anfitrião fluminense está
distante das aspirações populares.
Como deve ser triste e solitário o mundo interior de um
governante detestado por considerável parte dos habitantes
do Estado que dirige!
A presença do Papa Francisco, pelo que traz de alegria, paz e verdade humana e espiritual, destoa em todos os sentidos
do grupo de representantes do
poder do Estado.Brasileiro.
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