segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Os governantes não querem a paz, as pessoas, sim




Cunha e Silva Filho





Prefiro usar o termo governantes ou poderia ser governos. São estas organizações de estruturas do Estado, quer da direita, quer da esquerda, do centro, ou de governos autocratas ou ditatoriais, nas democracias ou no comunismo, para simplificar, que  decididamente não desejam a paz global, desarmar os espíritos belicosos e os interesses mais ambiciosos. A tão ansiada paz se situa mais no domínio pessoal ou individual, como bem e simplesmente declarou a um repórter internacional aquela jovem judia ao lhe perguntarem sobre o que ela pensava dos confrontos entre judeus e palestinos. Ela apenas expressou esta verdade cristalina: “Os dois lados deviam viver juntos.”

Ora, isso prova que, nos conflitos entre países inimigos, as ações dos governos não partem das pessoas comuns, se bem que indivíduos, separadamente , ou em pequenos grupos, também demonstrem sua indignação ou rebeldia contra os governos de oposição. As decisões ou deliberações sobre declaração de guerra partem de cima para baixo. São resultados de discussões entre os que estão no poder e no comando de seus povos ou nações. A sociedade civil é a grande vítima e a que mais fica sacrificada tanto em bens materiais, quanto em perdas de vidas. Basta mencionar o caso de judeus e palestinos que se encontram num país na condição de imigrantes. São Paulo serve de exemplo. Sua capital abriga povos que, no Oriente Médio, são inimigos e guerreiam entre si. Porém, no estrangeiro, i.e., no Brasil, por exemplo, convivem pacificamente.

Existe sempre e em qualquer parte do mundo contemporâneo uma razão forte, pelo menos para os donos do poder de plantão ou de longo curso, ou para os que se eternizam no poder, os reis, mesmo nas monarquias modernas. E esta razão forte pode significar domínio econômico, territorial, ideológico, religioso, político, ou todos eles fundidos. Por isso, na Síria, no Tibete, no Afeganistão, em alguns países da América do Sul, no Paquistão, no Irã, na China, na Coreia do Norte, a Rússia, em Cuba, nos Estados Unidos e agora, na disputa pelo poder territorial entre os palestinos e os judeus, formando um grande e complicado xadrez, os sistemas de governo de cada um desses países se mostram , em grau maior ou menor, em estado de preparação para guerra. Cada qual julga estar com a razão em relação ao país inimigo.

O mundo não aprendeu a lição com tantas guerras da Antiguidade, na Idade Média, na Idade Moderna e na contemporaneidade. As duas grandes conflagrações do século XX ainda não foram suficientes para tornarem as nações atualmente menos belicosas. Nem com os horrores da Segunda Guerra Mundial aprendemos a lutar pela paz duradoura, senão definitiva. Estivemos à beira de uma destruição total entre os EUA e a Rússia, oportunamente advertida pelo filósofo, matemático, historiador e lógico Bertrand Russel (1872-1970) envolvendo o destino de Cuba, nos governos de John Kennedy (1917-19630e de Nikita Kruschchev (1894-1971). Para Russell, só havia, então, dois caminhos para o mundo: a paz ou a destruição total.

Felizmente, as duas grandes potências não deram o passo final e apocalíptico durante a invasão de Cuba pelos exilados cubanos ligados a Fulgêncio Batista (1901-1973) com o apoio da CIA, acirrando, desse modo, ainda mais os ânimos dos EUA e URSS no episódio da famosa “Crise dos Mísseis”, ou seja, com instalação de mísseis soviéticos no caso de uma invasão direta norte-americana. Dois bicudos não se beijam A Guerra Fria pelo menos teve este mérito: o de neutralizar a prepotência de dois países com poderio armamentista descomunal e de destruição planetária..

Ainda bem que o mundo criou alguns organismos internacionais (à frente a ONU, OEA, OTAN), sobretudo a ONU com seu Conselho de Segurança para conter em parte a insânia em direção à barbárie. A humanidade sabe que qualquer excesso no emprego de armas nucleares contra nações que as possuem será uma razão forte para um conflito mundial sem precedente na história da Humanidade.

Na questão do balizamento ou equilíbrio de forças e de poderio superior de armas, o mundo ainda está mal dividido, já que algumas nações detêm armas nucleares e outras não. Neste caso, o que os organismos internacionais têm a fazer é se desarmarem paulatinamente a ponto de chegar-se a uma fase de equilíbrio mínimo, não havendo estas disparidades de poder bélico que algumas potências dispõem em detrimento de países mais fracos em seu poder de fogo.

A grande luta que as nações, grandes ou pequenas têm por fazer nos tempos atuais através dos órgãos de segurança internacional e aprofundar estratégias que transformem as dissidências entre os povos em vias de transformação em direção à paz universal. Para isso, é que servem a diplomacia, as reuniões de cúpula, os debates criativos e incentivadores de mudanças profundas de visões dos diferentes povos do planeta.

Esta procura incessante para dirimir grandes conflitos entre governos, seja qual for o seu sistema político ou de governança, seguramente será profícua se houver a transformação dos espíritos dos governantes em regime autenticamente democrático que venha atender ao bem-estar das sociedades que, no futuro, não sejam forjadas à custa de tremendas desigualdades econômicas e sociais.

Se a globalização é um fato, uma realidade no mundo contemporâneo, abrangendo sobretudo a intercomunicação em escala planetária, devemos aprender uma outra lição: a de que os países devem se tornar partes solidárias entre si, aprofundando os contatos econômicos, sociais, culturais, num intercâmbio que muito pode se realizar em clima de independência da soberania dos países e sob a égide da reciprocidade respeitada nas suas diferenças sem mais nenhum ranço xenófobo nem fanatismos primitivos que só provocam desentendimentos entre os povos. Só quando as nações ditas civilizadas respeitarem as diferenças culturais e religiosas de outros povos é que poderão aspirar a uma paz que seja fruto da tolerância e da compreensão fraterna e solidária num plano universal.

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