Cunha e Silva Filho
Leandro Tessler, professor do Instituto de Física Gleb Wattagin da Unicamp assinou oportuna matéria acerca da atual importância do domínio da língua inglesa como veículo de comunicação para cursos ministrados na universidade brasileira. O artigo tem por título “Nossas universidades precisam falar inglês” (Folha de São Paulo, 25/11/2012).
O tema abordado tem sua pertinência, sem duvida. Mostra que, no âmbito internacional do ensino superior, universidades portuguesas já oferecem cursos superiores lecionados em inglês. Os portugueses, que são bem zelosos com a sua/nossa própria língua, não estão dando nenhuma demonstração de falta de nacionalismo por incluírem essa novidade nos seus cursos. Este é,, conforme se infere do artigo em exame também o ponto de vista do articulista.
Acredito que, no Japão, na China, na Alemanha em Israel, por exemplo, já existam universidades que oferecem seus cursos ministrados em inglês.
Concordo com o autor do artigo quanto a não vislumbrar essa incorporação de inglês como lingua franca em universidade pelo mundo como formas de dominação, elitização ou neo-colonialismo cultural ou como perda de “soberania nacional”, mas sim como afirmação positiva de elevar o nível de intercâmbio dos saberes entre estudantes e professores em escala global.
Tessler relembra o fato histórico, no período da Idade Média, no século 12, de alta relevância para a intercomunicação cultural de nações europeias, cujo canal linguístico usava o latim, com o qual os estudiosos de Oxford ou de Bologna podiam trocar conhecimentos, informações ou ideias com outros estudiosos de universidades do porte de Salamanca ou Sorbonne.
O articulista ainda assinala que o nosso pais dispõe de um número reduzido de universidades incluído nas 500 melhores do mundo.
Segundo o professor da Unicamp, se nosso país não alavancar recursos materiais e humanos para podermos inserir em nossas universidades cursos dados no idioma inglês, como já existe na Argentina, estaremos perdendo uma grande oportunidade de elevarmos o nível da universidade brasileira e fazê-la ingressar num circuito internacional com evidentes benefícios recíprocos para as universidades estrangeiras e as nacionais.
Todavia, teoricamente esta necessidade esbarra em alguns pontos dignos de maior explicitação. Dispomos há anos no país (desde o final dos anos de 1930) dos cursos de Letras responsáveis máximos pelo desenvolvimento, aperfeiçoamento e atualização de nossos cursos de língua portuguesa, literatura brasileira e literatura portuguesa, bem com de outras graduações em diversos idiomas neolatinos e anglo-germânicos (inglês e alemão), além de idiomas clássicos de línguas mortas, o latim e o grego. Bem mais tarde, foram incluídas na grade curricular de algumas universidade federais, cursos de literaturas africanas de expressão portuguesa e curso de graduação em árabe, russo, japonês, o que foi um notável ganho para os nossos estudos literários. Hoje, pode-se dizer, sem qualquer ufanismo, que nosso ensino público, estadual e federal, de Letras, atingiu, em diversas universidades, inclusive em algumas particulares, um bom e por vezes excelente nível de qualidade de ensino não só na graduação como na pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado).
Por que, numa primeira etapa, em nosso ensino de Letras, não intensificamos os cursos de português para estrangeiros com aulas ministradas em inglês? Isso já e bastante difundido em cursos particulares ou nos chamados cursos in-company. Esta seria uma saudável forma de valorizarmos a nossa língua como requisito básico a incluirmos na grade curricular geral dos diversos cursos de graduação (antigo bacharelado e licenciatura) a serem ministrados em inglês. Tal inovação bem poderia ser simultânea à introdução da língua inglesa como instrumento de comunicação na mencionada graduação e, depois, pós-graduação. Não haveria nenhum inconveniente nisso. O importante seria, agora, a preocupação com o preenchimento de quadros docentes à altura dessa inovação pedagógica.
No país há tempos existem escolas para estrangeiros nas quais os cursos fundamental e médio são ventilados no idioma inglês, como é exemplo no Rio de Janeiro a Escola Americana.
Sabemos que as propostas do professor Tessler têm fundamento e são exequíveis. Entretanto, elas precisam, pelo menos na experiência brasileira, de serem bem equacionadas, porquanto redundam em custos e melhor qualificação de professores com domínio perfeito da língua inglesa tanto brasileiros, quanto nativos ou de outra nacionalidade mas com igual proficiência oral e escrita no idioma de Shakespeare. Obviamente, a nova modalidade de graduação em língua inglesa abriria novo campo de trabalho de profissionais atendendo a estas exigências.
Penso, ademais, que a mão de obra qualificada não seria tão facilmente adquirida, uma vez que, mesmo no ensino superior de nossas universidades há carências de docentes com estas competências linguísticas e mesmo há aqueles que nem mesmo desejam aperfeiçoar seu inglês por não gostar da língua ou por se interessar por outra língua moderna. A questão da mão de obra não é tão simples assim.
Por outro lado, vejo que o nosso país está muito longe de alcançar um nível de excelência do inglês ou espanhol em nossas escolas públicas ou privadas, sendo raras as exceções. Ao contrário do que ocorre com países adiantados ou mesmo menos adiantados, os quais investem seriamente no ensino público fundamental e médio. Alunos egressos destes níveis mostram uma proficiência oral e escrita bem mais avançada do que a média do estudante brasileiro.
É claro que, notadamente nas áreas técnico-científicas muito tem a aproveitar a implantação de cursos de graduação falados em inglês, como nos cursos de matemática, física, biologia, química, medicina, engenharia, arquitetura, veterinária, odontologia, fisioterapia, entre outros.
Numa segunda etapa mais desenvolvida, teríamos cursos de Letras, jornalismo, direito, filosofia, história, geografia, dramaturgia, belas artes, enfim, em outros cursos de humanidades.
Um último aspecto da maior importância levantado pelo artigo de Tessler é aquele em que salienta a relevância de termos um produção científica escrita no idioma inglês ou como ele próprio afirmou: “Publicações acadêmicas em inglês atingem a um público maior e têm mais impacto sobre o desenvolvimento científico e cultural da humanidade”
Estão aí sugestões sobre este assunto registradas pelo professor Leandro Tessler, assim como outros pontos de vista que expendi suscitados pelo articulista da Unicamp. Resta, pois, às autoridades do MEC, dos Conselhos (estaduais e federal) da Educação e de outros órgãos correlatos refletirem maduramente sobre estas mudanças de rumo no ensino universitário brasileiro. O debate está, portanto, aberto à comunidade acadêmica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário