sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um primeiro passo, mas já é um começo




                         Cunha e Silva Filho



Com a vitória da votação dos membros permanentes da ONU para o pleito do Estado da Palestina ter direito ao status de “Estado Observador”, à semelhança do Estado do Vaticano, os palestinos conseguiram, com muito esforço, a aprovação de considerável parte dos membros da ONU. Os palestinos, a partir de agora, já podem ter acesso a uma instância de extrema relevância, o Tribunal Penal Internacional (TPI) através do qual poderá reivindicar queixas contra violações de atentados, massacres, crimes de guerra e e crimes contra a humanidade e outros delitos cometidas pelos governantes israelenses. Ressalve-se que a minha crítica não se destina ao povo judeu na sua maioria, mas ao seus sistema de governança no âmbito das relações internacionais e de geopolítica num conflito entre os dois países que se arrasta desde a divisão do território que caberia a Israel e à região territorial destinada aos palestinos. O conflito mais acirrado atualmente diz respeito ao avanço dos judeus por parte do território que pertence aos árabes, por exemplo a Faixa de Gaza controlada pela facção Hamas.

O nó górdio entre judeus e palestinos tem implicações maiores no campo  da divisão territorial de partes de regiões que deveriam ficar sob o controle palestino, e não apenas servindo de munição para que os judeus continuem isolando as fronteiras do dois países e ainda por cima unilateralmente praticando ilícitos quando avança pelo território palestino a fim de aumentar seu próprio espaço geográfico.

Seria preciso que ambos os lados desarmassem os espíritos e pensassem em encontrar uma via que os levaria a uma estado de convivência pacífica sem ódios nem retaliações de parte a parte. Se o Estado judeu cessar a sua ambição de querer tomar à força marcos fronteiriços já assentados pelos órgão internacionais competentes, como a ONU, isso  já seria  outro passo  notável na  relação com os  palestinos. O que não pode persistir é este estado de beligerância constante entre as duas nações que não resultaram, até hoje,  em nenhum bem para a paz entre os dois povos.

Por que não permitir que a velha Jerusalém se torne uma espaço comum compartilhado harmoniosamente entre palestinos e israelenses, uma espécie de lugar santo aberto aos dois povos, uma área geográfica livre de confrontos religiosos e políticos, na qual só haveria espaço para a convivência e a pacificação.

Porém, não é assim que pensa o Premiê Netaniahu que, ao lado dos Estados Unidos, não vê com bons olhos essa pequena vitória do povo palestino. Netaniahu me parece sempre estar com um pé atrás em relação às palavras do Presidente Mahmud Abbas, segundo ele discurso que esconde falsa propaganda e outras intenções que não as que conduzem à paz. Ao contrário, vejo o Premiê judeu sempre iracundo e com fisionomia hostil no que diz respeito a discussões entre os dois países, ao contrário de Abbas que me dá a impressão de desejar uma saída para a paz. Mesmo quando os dois países estão se guerreando, o saldo de mortes é muito mais elevado para o lado palestino. É só ver as estatísticas, que falam mais do que as palavras.

Qualquer pretensão maior da parte dos palestinos na tomada de decisões conducentes a uma trégua com os judeus será barrada pelos EUA e Israel – os dois grandes aliados prontos a vetarem no Conselho de Segurança da ONU reivindicações dos palestinos. Esta união destes dois países em nada contribuirá para melhorar de vez o conflito e os crimes praticados entre Israel e os palestinos. Obama , tanto quanto os seus predecessores, mantêm a mesma fidelidade incondicional em propiciar aos judeus afagos e apoio em todos os sentidos, o que é lamentável para o EUA e para a suas relações internacionais

O governo brasileiro está de parabéns porque se solidarizou com a vitória dos palestinos na conquista de ser um novo “Estado Observador" e, de certa forma, ter mais visibilidade junto aos membros permanentes da ONU. Os 138 votos favoráveis aos palestinos foram um grande indício de que nações importantes não veem o povo palestino como uma nação aventureira e sim como um povo que almeja conquistar a paz duradoura.



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Da importância atual da língua inglesa na universidade






Cunha e Silva Filho



Leandro Tessler, professor do Instituto de Física Gleb Wattagin da Unicamp assinou oportuna matéria acerca da atual importância do domínio da língua inglesa como veículo de comunicação para cursos ministrados na universidade brasileira. O artigo tem por título “Nossas universidades precisam falar inglês” (Folha de São Paulo, 25/11/2012).

O tema abordado tem sua pertinência, sem duvida. Mostra que, no âmbito internacional do ensino superior, universidades portuguesas já oferecem cursos superiores lecionados em inglês. Os portugueses, que são bem zelosos com a sua/nossa própria língua, não estão dando nenhuma demonstração de falta de nacionalismo por incluírem essa novidade nos seus cursos. Este é,, conforme se infere do artigo em exame também o ponto de vista do articulista.

Acredito que, no Japão, na China, na Alemanha em Israel, por exemplo, já existam universidades que oferecem seus cursos ministrados em inglês.

Concordo com o autor do artigo quanto a não vislumbrar essa incorporação de inglês como lingua franca em universidade pelo mundo como formas de dominação, elitização ou neo-colonialismo cultural ou como perda de “soberania nacional”, mas sim como afirmação positiva de elevar o nível de intercâmbio dos saberes entre estudantes e professores em escala global.

Tessler relembra o fato histórico, no período da Idade Média, no século 12, de alta relevância para a intercomunicação cultural de nações europeias, cujo canal linguístico usava o latim, com o qual os estudiosos de Oxford ou de Bologna podiam trocar conhecimentos, informações ou ideias com outros estudiosos de universidades do porte de Salamanca ou Sorbonne.

O articulista ainda assinala que o nosso pais dispõe de um número reduzido de universidades incluído nas 500 melhores do mundo.

Segundo o professor da Unicamp, se nosso país não alavancar recursos materiais e humanos para podermos inserir em nossas universidades cursos dados no idioma inglês, como já existe na Argentina, estaremos perdendo uma grande oportunidade de elevarmos o nível da universidade brasileira e fazê-la ingressar num circuito internacional com evidentes benefícios recíprocos para as universidades estrangeiras e as nacionais.

Todavia, teoricamente esta necessidade esbarra em alguns pontos dignos de maior explicitação. Dispomos há anos no país (desde o final dos anos de 1930) dos cursos de Letras responsáveis máximos pelo desenvolvimento, aperfeiçoamento e atualização de nossos cursos de língua portuguesa, literatura brasileira e literatura portuguesa, bem com de outras graduações em diversos idiomas neolatinos e anglo-germânicos (inglês e alemão), além de idiomas clássicos de línguas mortas, o latim e o grego. Bem mais tarde, foram incluídas na grade curricular de algumas universidade federais, cursos de literaturas africanas de expressão portuguesa e curso de graduação em árabe, russo, japonês, o que foi um notável ganho para os nossos estudos literários. Hoje, pode-se dizer, sem qualquer ufanismo, que nosso ensino público, estadual e federal, de Letras, atingiu, em diversas universidades, inclusive em algumas particulares, um bom e por vezes excelente nível de qualidade de ensino não só na graduação como na pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado).

Por que, numa primeira etapa, em nosso ensino de Letras, não intensificamos os cursos de português para estrangeiros com aulas ministradas em inglês? Isso já e bastante difundido em cursos particulares ou nos chamados cursos in-company. Esta seria uma saudável forma de valorizarmos a nossa língua como requisito básico a incluirmos na grade curricular geral dos diversos cursos de graduação (antigo bacharelado e licenciatura) a serem ministrados em inglês. Tal inovação bem poderia ser simultânea à introdução da língua inglesa como instrumento de comunicação na mencionada graduação e, depois, pós-graduação. Não haveria nenhum inconveniente nisso. O importante seria, agora, a preocupação com o preenchimento de quadros docentes à altura dessa inovação pedagógica.

No país há tempos existem escolas para estrangeiros nas quais os cursos fundamental e médio são ventilados no idioma inglês, como é exemplo no Rio de Janeiro a Escola Americana.

Sabemos que as propostas do professor Tessler têm fundamento e são exequíveis. Entretanto, elas precisam, pelo menos na experiência brasileira, de serem bem equacionadas, porquanto redundam em custos e melhor qualificação de professores com domínio perfeito da língua inglesa tanto brasileiros, quanto nativos ou de outra nacionalidade mas com igual proficiência oral e escrita no idioma de Shakespeare. Obviamente, a nova modalidade de graduação em língua inglesa abriria novo campo de trabalho de profissionais atendendo a estas exigências.

Penso, ademais, que a mão de obra qualificada não seria tão facilmente adquirida, uma vez que, mesmo no ensino superior de nossas universidades há carências de docentes com estas competências linguísticas e mesmo há aqueles que nem mesmo desejam aperfeiçoar seu inglês por não gostar da língua ou por se interessar por outra língua moderna. A questão da mão de obra não é tão simples assim.

Por outro lado, vejo que o nosso país está muito longe de alcançar um nível de excelência do inglês ou espanhol em nossas escolas públicas ou privadas, sendo raras as exceções. Ao contrário do que ocorre com países adiantados ou mesmo menos adiantados, os quais investem seriamente no ensino público fundamental e médio. Alunos egressos destes níveis mostram uma proficiência oral e escrita bem mais avançada do que a média do estudante brasileiro.

É claro que, notadamente nas áreas técnico-científicas muito tem a aproveitar a implantação de cursos de graduação falados em inglês, como nos cursos de matemática, física, biologia, química, medicina, engenharia, arquitetura, veterinária, odontologia, fisioterapia, entre outros.

Numa segunda etapa mais desenvolvida, teríamos cursos de Letras, jornalismo, direito, filosofia, história, geografia, dramaturgia, belas artes, enfim, em outros cursos de humanidades.

Um último aspecto da maior importância levantado pelo artigo de Tessler é aquele em que salienta a relevância de termos um produção científica escrita no idioma inglês ou como ele próprio afirmou: “Publicações acadêmicas em inglês atingem a um público maior e têm mais impacto sobre o desenvolvimento científico e cultural da humanidade”

Estão aí sugestões sobre este assunto registradas pelo professor Leandro Tessler, assim como outros pontos de vista que expendi suscitados pelo articulista da Unicamp. Resta, pois, às autoridades do MEC, dos Conselhos (estaduais e federal) da Educação e de outros órgãos correlatos refletirem maduramente sobre estas mudanças de rumo no ensino universitário brasileiro. O debate está, portanto, aberto à comunidade acadêmica.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um poema de Thomas Hardy ( 1840-1928)







The Oxen





Christmas Eve, and twelve of the clock,

“Now they are all on their knees,”

An elder said as we sat in a flock

By the embers in hearthside ease.



We picture the meek mild creatures where

They dwelt in their strawy pen,

Nor did it occur to one of us there

To doubt they were kneeling then.



So fair a fancy would weave

In these years! Yet, I feel,

If someone said on Christmas Eve,

“Come; see the oxen kneel



“in the lonely barton by yonder coomb

Our childhood used to know,”

Hoping it might be so.





Os Bois





Meia noite. Véspera de Natal.

“Ajoelhados estão todos,”

Dissera um ancião enquanto sentados estávamos

Ao pé das cinzas na paz de uma lareira.



Meigas e maviosas criaturas vislumbrávamos

Tendo por morada um redil de palha.

Tampouco a nenhum de nós sucedeu

Duvidar de que ali ajoelhados estavam.



Poucos um tão belo quadro imaginariam fantasiar

Naqueles tempos! Não eu, todavia.

Se por acaso uma pessoa falasse à Véspera de Natal

“Venham ver os bois ajoelhados



Ali, no vale, naquele solitário pátio da fazenda

Tão familiar aos dias de nossa infância,”

Certo que com ela iria pela escuridão

Na esperança de um milagre acontecer.



(Trad. de Cunha e Silva Filho)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Fragmentos: o país e o mundo



Cunha e Silva Filho







O Mundo:



Dias passam e a questão da guerra civil na Síria ainda constitui um enigma quanto ao seu desfecho. Será que a oposição, os injustamente chamados revoltosos, “terroristas’, conseguirão mesmo apear do poder o tirano Bashar Al-Assad ? Ou haverá, por parte dos EUA e alguns países europeus, em decisão no Conselho de Segurança da ONU, um endurecimento em relação a essa guerra com uma intervenção militar para, pelo menos, destituir o déspota sanguinário do poder? A população, que ainda anda como fantasmas pelas ruas e bairros destroçados de Beirute e de outras cidades , pouco resistência tem para agüentar tanta desgraça. Os que podem atravessam a fronteira com a Turquia à procura de algum esperança. Tudo ainda é indeterminação O sofrimento é a palavra de ordem dos sírios massacrados por um ditador-louco, porque só mesmo alguém que como ele gerou tanta miséria e destruição para a sua própria pátria foi capaz de , até agora, se comportar sem clemência.



O País



              A posse do novo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, foi um happening cheio de aduladores, com um numero grande de convidados para a solenidade. Ali estavam os homens e mulheres do poder. Foi hilária a frase do poliglota Presidente segundo a qual a “Justiça brasileira é desigual”. Ora, na terra dos bruzundangas, desde tempos imemoriais do Brasil Colônia, a justiça foi desigual, o que equivaleria a afirmar que “ladrão que vai para a cadeia é ladrão de galinha". Aliás, a frase do Presidente – um prato cheio para os analistas do discurso - não passa de um lugar-comum, de um truísmo, sem imaginação, visto que qualquer brasileiro comum sabe  há séculos que rico não fica atrás das grades com as vestes  em estilo listrado para uso no  xadrez.   O melhor exemplo disso foi a “soltura” do bicheiro Cachoeira por ordem da própria Justiça.

             Quero ver com olhos que esta terra há de comer o que acontecerá com o grupo político do Mensalão julgado pelos pares do Supremo. Irão mesmo para o xilindró ou as famosas e imemoriais brechas e recursos da justiça encontrarão uma via para que os sentenciados fiquem em “prisão domiciliar” ou mesmo com total liberdade de ir e vir e de cuidar de suas vidas profissionais?



O Mundo



            O que foi feito da “Primavera Árabe? Os ânimos descoroçoaram ou apenas foi fogo de palha diante da realidade da “pedra de resistência “ da autocracia que ainda manda e desmanda em alguns países do Oriente?

            Alguns movimentos, como o “Ocupem ao Wall Street” se me afiguraram inoperantes. Vejam como a força do capitalismo é tão avassaladora e - por que não dizer ? - atraente como um canto de uma sereia. Quem pode, i.e. quem tem o vil mental, é quem dá as cartas nas mentes globalizadas neoliberais. Nova Iorque só não aguenta as forças de um furacão ou de um tsunami. Com a chegada do Furacão Sandy, o império dos investimentos da New York Stock Exchange teve que parar e a cidade – a síntese do mundo - virou uma wasteland.



O País



            São Paulo enfrenta a maior crise de violência de toda a sua história. Se contarmos os mortos na guerra suja de bandidos com a polícia ou de bandidos com o lado podre da polícia, poderemos falar quase em guerra civil. A violência contra inocentes na forma de execução sumária sangra a imagem da maior cidade do país e principal cidade da América Latina. Perde o turismo, perda a economia e os políticos que a governam cairão na desgraça do esquecimento pela falta de resolver a escalada de violência, seja na capital, seja em cidades do interior paulista.



O Mundo



        Temos novo governo na China. Esta caminha com passos firmes para se tornar a primeira potência mundial. A única coisa a objetar no país é a manutenção do sistema comunista, que exclui as liberdades fundamentais do indivíduo. Por isso, creio que este é um país interiormente triste. O Estadoda foice e do martelo,  com o controle de tudo e de todos, progride economicamente, mas perde na dimensão espiritual no tocante à liberdade da pessoa humana. Paradoxalmente, o país comercializa com nações livres, faz suas exportações e importações. Do mundo a China só quer a dimensão econômica, vender seus produtos e daí sua contradição radical.



O País



        Enquanto o mundo roda, o Brasil tem um longo caminho a percorrer a fim de merecer ser chamado uma nação moderna, civilizada, sem as crônicas dissimetrias entre ainda o arcaico e a modernidade.Mesmo nos grandes centros urbanos, como o Rio de Janeiro e São Paulo, vemos um Brasil de miséria, de ausência de vida digna, de respeito ao cidadão. A cidadania brasileira é ainda uma falácia. Haja vista os focos de miséria pelo país afora. O muito que ostenta em melhoria de transferência de renda é uma fatia irrisória se leva em consideração os quesitos de segurança , saúde, justiça, nível de educação pública, transporte de massa precários e até desumano. O país é um grande exemplo de uma sociedade dividida, individualizada, insolidária, com mínima possibilidade de mobilização social.

      Favelas convivem com a suntuosidade dos bairros da alta burguesia. O país é um melting-pot social de desigualdades gritantes. Na prática político-institucional grassam a desonestidade, propinas, tráfico de influência, clientelismo, conluio espúrio entre o público e o privado ( de quando em quando a Polícia Federal está descobrindo servidores do Estado em funções relevantes praticando falcatruas contra o Erário Público) para realizar  trocas de influências, partidos políticos sem identidade que não passam de formações partidárias instrumentalizadas pelos grandes partidos nacionais.

    Em resumo, o nível de corrupção do país em nada melhorou, uma vez que parece uma doença crônica difícil de deter. A antropólogos e sociólogos cabe analisar o caráter do povo brasileiro tendo em vista a recorrência, a continuidade de casos de corrupção afetando praticamente todo a máquina do Estado Brasileiro.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tradução de um poema de Paul Verlaine ( 1844-1896)








                  O MON DIEU



O mon Dieu, vous m’avez blessé d’amour

Et la blessure est encore vibrante,

O mon Dieu, vous m’avez blessé d’amour.



O mon Dieu, votre crainte m’a frappé

Et la brûlure est encore là qui tonne

O mon Dieu, votre crainte m’ frappé.



O mon Dieu, j’ai connu que tout est vil

Et votre gloire en moi s’est installée,

O mon Dieu, j’ai connu que tout est vil.



Noyez mon âme aux flots de votre Vin

Fondez ma vie au Pain de votre table

Noyez mon âme aux flots de votre Vin.



Hélas, mon Dieu d’offrande e de pardon,

Quel est le puits de mon ingratitude!

Hélas, vous Dieu d’offrande e de pardon.



Dieu de terreur et Dieu de sainteté,

Hélas! ce  soir abîme de mon crime.

Dieu de terreur et Dieu de sainteté



Vous, Dieu de la paix, de joie et de bonheur,

Toutes mes peurs, toutes mês ignorances,

Vous, Dieu de paix, de joie e de bonheur.



Vous connaissez tout cela, tout cela,

Et que je suis plus pauvre que personne

Vous connaissez tout cela, tout cela,

Mais ce que j’ai, mon Dieu, je vous le donne.

                                                                (Sagesse, 1881)







              DEUS MEU


Deus de amor n’alma me feristes

E a ferida mais profunda ainda me ficou

Deus de amor n’alma me feristes.



Deus meu, o temor de vós se me apoderou

E a ferida ainda dolorida está.

Deus meu o terror de vós se me apoderou.



Deus meu, já tudo vi do que seja abjeto

E a glória vossa em mim se instalou

Deus meu, já tudo vi o que seja abjeto.



Nas ondas de vosso Vinho afogai minh’alma.

Imergi no Pão de vossa mesa a minha vida

Nas ondas de vosso Vinho afogai minh’alma.



Ai de mim! Deus d’oferenda e do perdão

Quão profunda é a minha ingratidão!

Ai de mim! Deus d’oferenda e do perdão.



Deus do terror e Deus da santidade

Ai de mim! Sorvedouro do meu crime.

Deus do terror e Deus da santidade.

Ó Deus da paz, d’alegria e da felicidade.

Todos os meus receios, minhas ignorâncias todas.

Ó Deus da paz, d’alegria e da felicidade.



De tudo sabeis, de tudo mesmo

E ainda que mais pobre sou do que ninguém.

De tudo sabeis, de tudo mesmo.

O que, porém, é meu, Senhor, a vós pertence.



                                                                  (Trad. de Cunha e Silva Filho)





segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Os governantes não querem a paz, as pessoas, sim




Cunha e Silva Filho





Prefiro usar o termo governantes ou poderia ser governos. São estas organizações de estruturas do Estado, quer da direita, quer da esquerda, do centro, ou de governos autocratas ou ditatoriais, nas democracias ou no comunismo, para simplificar, que  decididamente não desejam a paz global, desarmar os espíritos belicosos e os interesses mais ambiciosos. A tão ansiada paz se situa mais no domínio pessoal ou individual, como bem e simplesmente declarou a um repórter internacional aquela jovem judia ao lhe perguntarem sobre o que ela pensava dos confrontos entre judeus e palestinos. Ela apenas expressou esta verdade cristalina: “Os dois lados deviam viver juntos.”

Ora, isso prova que, nos conflitos entre países inimigos, as ações dos governos não partem das pessoas comuns, se bem que indivíduos, separadamente , ou em pequenos grupos, também demonstrem sua indignação ou rebeldia contra os governos de oposição. As decisões ou deliberações sobre declaração de guerra partem de cima para baixo. São resultados de discussões entre os que estão no poder e no comando de seus povos ou nações. A sociedade civil é a grande vítima e a que mais fica sacrificada tanto em bens materiais, quanto em perdas de vidas. Basta mencionar o caso de judeus e palestinos que se encontram num país na condição de imigrantes. São Paulo serve de exemplo. Sua capital abriga povos que, no Oriente Médio, são inimigos e guerreiam entre si. Porém, no estrangeiro, i.e., no Brasil, por exemplo, convivem pacificamente.

Existe sempre e em qualquer parte do mundo contemporâneo uma razão forte, pelo menos para os donos do poder de plantão ou de longo curso, ou para os que se eternizam no poder, os reis, mesmo nas monarquias modernas. E esta razão forte pode significar domínio econômico, territorial, ideológico, religioso, político, ou todos eles fundidos. Por isso, na Síria, no Tibete, no Afeganistão, em alguns países da América do Sul, no Paquistão, no Irã, na China, na Coreia do Norte, a Rússia, em Cuba, nos Estados Unidos e agora, na disputa pelo poder territorial entre os palestinos e os judeus, formando um grande e complicado xadrez, os sistemas de governo de cada um desses países se mostram , em grau maior ou menor, em estado de preparação para guerra. Cada qual julga estar com a razão em relação ao país inimigo.

O mundo não aprendeu a lição com tantas guerras da Antiguidade, na Idade Média, na Idade Moderna e na contemporaneidade. As duas grandes conflagrações do século XX ainda não foram suficientes para tornarem as nações atualmente menos belicosas. Nem com os horrores da Segunda Guerra Mundial aprendemos a lutar pela paz duradoura, senão definitiva. Estivemos à beira de uma destruição total entre os EUA e a Rússia, oportunamente advertida pelo filósofo, matemático, historiador e lógico Bertrand Russel (1872-1970) envolvendo o destino de Cuba, nos governos de John Kennedy (1917-19630e de Nikita Kruschchev (1894-1971). Para Russell, só havia, então, dois caminhos para o mundo: a paz ou a destruição total.

Felizmente, as duas grandes potências não deram o passo final e apocalíptico durante a invasão de Cuba pelos exilados cubanos ligados a Fulgêncio Batista (1901-1973) com o apoio da CIA, acirrando, desse modo, ainda mais os ânimos dos EUA e URSS no episódio da famosa “Crise dos Mísseis”, ou seja, com instalação de mísseis soviéticos no caso de uma invasão direta norte-americana. Dois bicudos não se beijam A Guerra Fria pelo menos teve este mérito: o de neutralizar a prepotência de dois países com poderio armamentista descomunal e de destruição planetária..

Ainda bem que o mundo criou alguns organismos internacionais (à frente a ONU, OEA, OTAN), sobretudo a ONU com seu Conselho de Segurança para conter em parte a insânia em direção à barbárie. A humanidade sabe que qualquer excesso no emprego de armas nucleares contra nações que as possuem será uma razão forte para um conflito mundial sem precedente na história da Humanidade.

Na questão do balizamento ou equilíbrio de forças e de poderio superior de armas, o mundo ainda está mal dividido, já que algumas nações detêm armas nucleares e outras não. Neste caso, o que os organismos internacionais têm a fazer é se desarmarem paulatinamente a ponto de chegar-se a uma fase de equilíbrio mínimo, não havendo estas disparidades de poder bélico que algumas potências dispõem em detrimento de países mais fracos em seu poder de fogo.

A grande luta que as nações, grandes ou pequenas têm por fazer nos tempos atuais através dos órgãos de segurança internacional e aprofundar estratégias que transformem as dissidências entre os povos em vias de transformação em direção à paz universal. Para isso, é que servem a diplomacia, as reuniões de cúpula, os debates criativos e incentivadores de mudanças profundas de visões dos diferentes povos do planeta.

Esta procura incessante para dirimir grandes conflitos entre governos, seja qual for o seu sistema político ou de governança, seguramente será profícua se houver a transformação dos espíritos dos governantes em regime autenticamente democrático que venha atender ao bem-estar das sociedades que, no futuro, não sejam forjadas à custa de tremendas desigualdades econômicas e sociais.

Se a globalização é um fato, uma realidade no mundo contemporâneo, abrangendo sobretudo a intercomunicação em escala planetária, devemos aprender uma outra lição: a de que os países devem se tornar partes solidárias entre si, aprofundando os contatos econômicos, sociais, culturais, num intercâmbio que muito pode se realizar em clima de independência da soberania dos países e sob a égide da reciprocidade respeitada nas suas diferenças sem mais nenhum ranço xenófobo nem fanatismos primitivos que só provocam desentendimentos entre os povos. Só quando as nações ditas civilizadas respeitarem as diferenças culturais e religiosas de outros povos é que poderão aspirar a uma paz que seja fruto da tolerância e da compreensão fraterna e solidária num plano universal.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O fato e a mentira: a natureza de nossa política nanica





Cunha e Silva Filho



Li, num Portal de escritores conhecidos e desconhecidos ou pouco conhecidos, mais desconhecidos do que conhecidos, um texto de um deles que tem um título inusitado ”Odeio o povo brasileiro”. Achei estranho um brasileiro, radicado na Suíça, afirmar isso. Estranho porque me parece impatriótico, ou que o autor esteja delirando como um personagem alienado de Machado de Assis (1839-1908). Lendo, todavia, o conteúdo da matéria, passo a ter outra visão do autor. Por quê? - me indagará um leitor. Porque o que ele afirma no artigo, descontando certas generalizações, são verdades de um auto-exilado ou de um emigrante que para aquele país viajou ainda adolescente e de lá tem o distanciamento necessáro de ver diferente o que na verdade era/é seu país.Qualquer pessoa, isenta de parti-pris, ou de miopia natural daqueles que foram anestesiados com o veneno cego de uma dada ideologia, há de concordar com ele, guardados, segundo atrás acentuei, os excessos de generalizações.

O articulista em questão não odeia o país fisicamente considerado, mas as mazelas morais que estão aí para qualquer indivíduo medianamente informado e que tenha algum bom senso verificar, constatar e tirar suas conclusões da vida político-social-cultural-brasileira pejada, com se sabe, de mistificações, de maquiavelismos de toda a sorte.

O objetivo de todo partido político de feição autoritária é provocar ambivalências de ideias, causar dúvidas e incertezas de fatos e ideias entre a população. E isso ocorre mais com os regimes de força de vários tamanhos e colorações, nacionais e internacionais. A China é um exemplo disso. Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Rússia, parte do mundo árabe onde domina ainda a autocracia e as ditaduras, como a Síria e outros países, incluindo alguns da África.

Ou seja, o Brasil, nas duas últimas décadas, tem se comportado politicamente assim, na base de gerar formas de informações ambíguas, contrapostas, contraditórias. Seu objetivo é confundir as mentes ingênuas ou facilmente impressionáveis, onde a falácia passa a ter uma axiologia de conteúdo verdadeiro.Para isso, com a ajuda de parte da mídia vendida e sem personalidade, algumas verdades são artificialmente construídas, fabricadas para darem a ilusão de uma realidade postiça, camaleônica adrede montada pelos meios de comunicação que se vendem ao poder de plantão e instilam subliminarmente na população ignorante ou mesmo não ignorante, mas sem caráter, e cúmplice das maquinações do poder travestido de democracia e de um propalado desenvolvimento conseguido - sabe Deus como - e em que laboratórios de engenharia a serviço da manipulação das consciências fracas e facilmente moldáveis, sobretudo se aproveitando da secular ignorância do povo brasileiro. Para conhecer a natureza política e social do brasileiro, leiam Lima Barreto (1881-1922), em vez de alguns cientistas políticos de leitura cifrada ou escrita para os privilegiados intelectualmente.

Estou sentindo falta agora mesmo dos artigos destemidos e admiráveis de Fausto Wolff (1940-2008) quando revirava de ponta cabeça os arraiais do governo Lula e de todas as falcatruas que, pelo menos nos últimos vinte anos (inclusive parte do governo de FHC) e sobretudo da era Lula que ainda se arrasta pelos costados doloridos do país.

Não me entra na cabeça por que homens inteligentes ainda se lançam em defesa de quem cometeu crimes financeiros já sobejamente conhecidos de toda as pessoas que pensam no bem do país e num país livre de tantas mentiras camufladas de “verdades.” Agora, entendo por que Nero, Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Idi Amin, Stálin, Pinochet, entre outros, tinham seguidores, assim como todos os malfeitores que se alçaram pela força ao poder em nosso devastado planeta. Onde se encontra o verdadeiro mentor e responsável pelos crimes do Mensalão? Há muitos fatos ainda por serem descobertos. Indicações há, pistas há, indícios indiretos, idem. Ninguém fica rico à toa.

Respeito as divergências doutrinárias, mas o que me repugna é saber que homens de bem e de cultura sejam prosélitos e defensores gratuitos de todos os descalabros ocorridos na era Lula. Reconhecer valores morais de políticos como os do “grupo político” que foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal como praticantes de vários crimes é inadmissível, sobretudo quando, além de defendidos, são guindados à condição de heróis democráticos da Pátria (!). Que parâmetros de valores morais e éticos são esses mentados por seguidores tidos como indivíduos esclarecidos?

O Brasil não vai bem em vários aspectos pelos quais possamos considerá-lo. O custo de vida aqui é altíssimo em itens vitais para o cotidiano da população: alimentação, medicamentos, planos de saúde, segurança, corrupção ainda elevada, desigualdades salariais em âmito municipal, estadual e federal gritantes, sistema de leis excessivamente leniente contra perigosos delinquentes, até de menor idade, violência (esta, se não for controlada, tende a se alastrar pelo país afora), arrocho salarial de alguns setores do governo federal, pobreza, tráfico de drogas, tráfico de armas, entre outras mazelas crônicas nacionais. Como, então dizer, que vamos bem, obrigado? O fato e a mentira ainda se mostram nublados como a personalidade de alguns personagens malandros bifrontes da ficção de João Antônio (1937-1996). O autor sabe mais do que nós. Infelizmente, está morto.















quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tradução de um poema de Emily Dickinson ( 1830-1886)










I Died for Beauty





I died for Beauty – but was scarce

Adjusted in the Tomb

When One who died for Truth, was lain

In an adjoining Room –



He questioned softly “Why I failed”?

“For beauty”, I replied –

“And I – for Truth – Themselves are One-



And so, as Kinsmen, met a Night-

We talked between the Rooms-

Until the Moss had reached our lips-

And covered up- our names-





Pela Beleza Morri



Pela Beleza morri, porém pouco

Ao Túmulo me habituei

Quando Alguém que, pela Verdade morreu,
Ao lado numa Sala sepultado foi.



Com voz suave me indagou por que havia fracassado ?

“Pela Beleza”, retruquei.

“Eu – pela Verdade. São duas coisas numa só.

Irmãos somos,” acrescentou.



Desta maneira, como Irmãos, com uma Noite nos deparamos.

Entre as Salas conversamos

Até que o Musgo nossos lábios haviam alcançado
E para sempre nossos nomes sepultados.



                                                                                          (Trad. de Cunha e Silva Filho)





domingo, 11 de novembro de 2012

São Paulo e a violência: uma pequena Síria







Cunha e Silva Filho



Não escrevo só para agradar o leitor com boas notícias, ou com o lado glamuroso ou paradisíaco do meu país. Sou mais atraído por aquilo que espera ser consertado, ou seja, os problemas graves ou gravíssimos que clamam por soluções responsáveis e visíveis aos olhos do brasileiro. Longe de mim, esconder as mazelas da minha terra, do meu povo, de quem mora e adotou o Brasil como sua segunda pátria e onde aqui é ou foi feliz.

Por isso, tantas são as minhas recorrências a temas sobre os quais escrevo, não como especialista, mas como cidadão que só aspira ao bem comum de todos nós que vivemos, nos alegramos às vezes e sofremos duramente pelo que há de mais condenável no país: a corrupção, a impunidade, a violência, enfim.

São Paulo, esta cidade gigantesca, está vivendo talvez o mais sanguinário período de violência de que se tem notícia . Não só na capital, mas também no interior.

Na fase presente, que está ao alcance de qualquer pessoa mais ou menos informada, São Paulo, sobretudo a capital, esta urbe que,  nos primeiros anos do século passado, era tão agradável de nela se viver, de repente se tornou um pandemônio, um furacão de matanças, de execuções, de jovens, de inocentes confundidos com marginais, de balas perdidas, de policiais sérios sendo executados, de policiais que não honram a farda que envergam, de cumplicidade de milícias com policiais, de repente, repito, estamos no fogo cruzado , reféns, a qualquer momento, de banidos de todos os lados e de todas as origens.

O governo paulista está se mostrando incompetente porque não vivemos só de retórica de um governante que publicamente faz declarações de que medidas têm sido e serão tomadas e que qualquer ajuda logística do governo federal será bem-vinda. Entretanto, na prática, no cotidiano dos paulistanos e paulistas a realidade não bate com as medidas que alega, alto e bom som, estarem sendo implementadas. Os depoimentos colhidos pela imprensa escrita e televisiva, bem como programas especializados em notícias sobre criminalidade, demonstram à saciedade e à sociedade (sem intenção de trocadilho) que a dura realidade na capital de São Paulo é muito grave mesmo, um caso de polícia (ainda sem intenção de trocadilho).
 Leitor, não é possível que cada dia da semana sete, oito ou mais pessoas são mortas a tiros, ou executadas, ou por outros motivos ainda não bem claramente explicitados pelos órgãos de segurança competentes. Estão morrendo em São Paulo brasileiros em número e frequência tão grandes que mais parecem estarmos vivendo o pesadelo de uma guerra civil em escala menor. Ainda por cima, em meio a mortes contínuas e misteriosas, há a presença dos incendiários de ônibus, que é uma forma de terrorismo sem dúvida e que têm provocado mortes e ferimentos graves nas pessoas.

Não é possível que tenhamos que assistir a toda essa carnificina sem gritarmos por justiça, por providências urgentíssimas e pela ajuda imediata de tropas do governo federal, da polícia federal. É preciso debelar o mal pela raiz em forma de Lei Seca contra o crime e as execuções sumárias. Fosse em outro país com um povo mais patriota e unido, a sociedade, em todos os níveis de estratificação, já estaria nas ruas protestando pacifica e continuadamente contra a incompetência e a falta de autoridade do governo paulista.

Assassinos devem ir para a cadeia, policiais criminosos que desonram a sua corporação devem ser exemplarmente punidos e expulso de suas funções. Os órgãos de segurança deveriam ser mais céleres na erradicação desse tsunami de violência que devora a tranquilidade dos habitantes de São Paulo.

Ressalte-se que a violência não tem endereço. Ela pode atingir até os mais poderosos, o próprio governo e sua imagem junto à sociedade. O governador de São Paulo deveria saber que ele mora cercado da proteção de policiais, assim como os milionários são protegidos por um batalhão de seguranças. Entretanto, a violência tem tantos tentáculos que ela consegue até mesmo quebrar essas barreiras de aparente segurança oficial ou privada. Isso, então, é gravíssimo.

Sabemos que a violência envolve diversos componentes, atores e suas singularidades, onde se imbricam vários tipos de crimes e práticas delituosas e comportamentais da própria sociedade: as drogas, os traficantes, os viciados, os aliciadores, níveis sócias elevados de usuários, contrabando  de armas, de entorpecentes, miséria, desemprego, desagregação familiar, psicopatias sociais, enfim, um somatório que deságua num rio, a princípio, pequeno e estreito e, depois, se alarga num mar profundo de criminalidades multifacetadas.

Quem porém, mais sofre as consequência dramáticas desse vagalhão de violência é a massa, o povo, os indefesos, os trabalhadores sacrificados, as famílias humildes, os que mourejam no trabalho no Centro da cidade, os comerciantes, os bairros periféricos, as favelas, as residências e aqui, façamos um parêntese, o criminoso ataca indiscriminadamente todas as classes sociais se para isso se lhes abrirem brechas ou oportunidades.

A presidente da República e todos as autoridades brasileiras não podem ficar indiferentes à dura realidade do crime e das matanças em São Paulo. O estado de São Paulo, locomotiva econômica do país, metrópole–chave da América Latina, grande centro cultural do país, não merece pelo que está atravessando. Como importante cidade do mundo, com esta criminalidade galopante, só tem a perder aos olhos de outros países e isso economicamente é altamente prejudicial ao Brasil, sobretudo porque sua maior cidade está clamando por socorro e pelo apoio do povo brasileiro. O país não aceita protelações de nossos dirigentes. Os paulistanos, os paulistas em geral, hão de vencer os governos inoperantes. Salvem São Paulo!





quarta-feira, 7 de novembro de 2012

José Ribamar Garcia: uma quase antologia de contos piauienses






Cunha e Silva Filho





José Ribamar Garcia é um ficcionista piauiense bastante conhecido e bem recebido pela crítica no estado do Piauí, com uma obra que já chega, agora, ao décimo livro, não contando com reedições e atualizações ampliadas de parte de sua produção. No entanto não é tão devidamente conhecido no Rio de Janeiro, onde reside há muito tempo. Garcia acaba de lançar a coletânea Contos da minha terra (Livraria Editora Nova Aliança, Teresina, 2012, 196 p.). Traz capa de Andréia Galvão e Imagem capa de Moisés Rego, além de uma apresentação do escritor, poeta, ficcionista e editor piauiense Dílson Lages Monteiro.

A quem, como este resenhista, tem lido e comentado a produção de Ribamar Garcia nos gêneros crônica, novela, conto e romance, desde a sua estreia em 1981, com um opúsculo de apreciadas crônicas memorialísticas, narrando o que ele originalmente chamou como subtítulo na capa de “Depoimentos” sobre a cidade de Teresina, Imagens da cidade verde, edição do autor, impresso pelo Carimbão – Ind. e Com. De Carimbos Ltda, Rio de Janeiro, RJ., a coletânea ora publicada vale como uma espécie de antologia dos melhores contos do autor, porquanto resultou de uma seleção de contos na sua quase totalidade, já que este conjunto de textos inclui dois outros que não se encaixariam com rigor no gênero conto, i.e., os de títulos “A capital do Delta” (p. 57-60) e “Duas cenas” (p.61-62). Ainda no grupo selecionado de contos, há dois contos inéditos, “A tentação de Nazaré” (p.180-185) e “Cadê o carro?”(p. 186-192).

A obra consta de trinta e três textos ficcionais, incluindo as mencionadas duas crônicas. Todos os contos (e crônicas) tem como cenário e enredo o Piauí, seja representado por histórias situadas em Teresina, seja em cidades do interior. Convém assinalar que outro  destacável espaço  físico e humano de sua ficção ( romances, contos,  memórias,  crônicas),    é a vida urbana  e suburbana carioca como palco as  suas paisagens,seus enredos.  Por este prisma,, lembra escritores como Lima Barreto(1881-1922) e João Antônio (1937-1996) para ficarmos com dois escritores brasileiros bem apreciados por Ribamar Garcia e que, em determinados ângulos, provavelmente o tenham influenciado,sobretudo pela temática preferencialmente voltada para as camadas menos favorecidas da sociedade. Vale registrar o que já afirmei alhures sobre a ficção do autor, quanto a  um dado estilístico – a frase enxuta, o sentença curta, ágil, viva, objetiva e de natureza máscula por vezes lembra também o escritor Ernest Heningway (1899-1961), de quem Ribamar Garcia é assíduo leitor. Este dado estilístico se imbrica com algumas preferências temáticas de Hemingway, a inserção nas histórias de lutas, brigas, de ações violentas de alguns personagens, até mesmo a referência ao boxe que aparece tanto no escritor americano quanto em algumas passagens de Garcia.

Garcia é da linhagem dos escritores que não se contentam com a estagnação no plano estético na composição de suas histórias, De livro para livro seus recursos retóricos de linguagem cada vez mais se tornam visíveis naquele aspecto pelo qual a obra de criação literária se pode caracterizar como de qualidade, cuja porta de entrada e de saída é o cuidado com a linguagem, com a adequação da palavra ao tema, espaço, enredo, ideologia, esquema temporal, cortes, ou seja, com o conjunto dos elementos estruturais íntimos indissociáveis da engenharia de construção ficcional, cuja base de sustentação é o processo de ficcionalização da linguagem. Não há ficção sem a trama da linguagem, como bem advertiu recentemente em palestra o crítico e teórico Eduardo Portella. Uma história não pode ser contada somente com o recurso da língua, que é a manifestação geral do pensamento, mas não da emoção estética só fruída pela linguagem como criação e mimesis, tomando este último termo no sentido aristotélico.

É o que Ribamar demonstra na feitura destes contos: linguagem literária a serviço de uma variada temática na qual situações da vida de pessoas simples ou menos simples são flagradas com uma verossimilhança tão convincente que seus protagonistas, adultos e crianças, velhos e jovens, brancos, mulatos ou pretos, íntegros ou canalhas, valentes e covardes parecem saltar vivos na configuração físico-visual e moral, enfim, cúmplices no estabelcimento do pacto com o leitor. Estes flagrantes dramatizam situações do cotidiano de uma galeria de personagens enfrentando os momentos de alegria, tristeza, desencanto, dor e agruras da vida severina, mostrando-nos suas fraquezas, seus segredos e suas emoções, seu sensualismo, suas traquinices infantis, suas vilanias e também sua amizade, sua solidariedade. Seus desfechos,  plenos de humanidades, por vezes são inesperados, trágicos, humorísticos, tragicômicos.

Li   este conjunto de histórias, excetuando os dois contos inéditos já citados, em diferentes tempos, contudo,  não me deixaram  agora  com  a sensação do déjà vu e, desta maneira, me pareceram praticamente como se fossem lidos pela primeira vez, pelo menos a maioria. Reunidos num só volume, os contos ganharam uma unidade geográfica e regional, ao convergirem para o mesmo espaço e para o tempo das histórias no passado, aproximadamente remetendo às décadas de quarenta, cinquenta e sessenta. Talvez só escape desses tempos recuados, o conto “Cadê o carro?”(p.186-192), a se ver por algumas indicações pontuais presentes na narrativa.

Daí terem alguns desses contos um traço diferenciador na sua construção : o viés memorialístico ou autobiográfico (de resto, bastante explorado por alguns ficcionistas contemporâneos, juntamente com o filão do romance histórico) implícita ou explicitamente definidos no discurso ficcional.confirmado pelo narrador em primeira pessoa, em treze contos, em contraste com vinte contos com narrador em terceira pessoa. Neste grupo podemos citar contos como “Ao lado do Velho Monge” (43-47), no qual o narrador-autor é protagonista da história, aliás, uma história relatando a saga do avô do autor, homem destemido, aventureiro, íntegro, que ficou ao lado dos maragatos contra os “chimangos” ou “pica-paus” na Revolta Federalista do Rio Grande do Sul, no período do governo de Floriano Peixoto (1891-1894). Este dava apoio aos chimangos.Em outro conto, o mais extenso da coletânea, “Outro cavaleiro - do dia e da noite”(p.140-160), a história fala das peripécias do pai do autor, seu ídolo de todos os momentos. Este conto talvez seja o ponto alto de todos os textos do livro, sendo a narrativa exemplo de elaboração formal-técnico-estilística .

As aventuras do Seu Assis, um pai batalhador, corajoso, homem de bem, é relatada com mão de mestre pelo escritor. Narrativa movimentada, percorrendo vários espaços do interior do Piauí através de uma viagem de vapor com destino a Teresina, lugar que se tornará seu destino fixo e onde desenvolverá a atividade de comerciante como dono de uma garapeira. De resto, a saga de Seu Assis se encontra bem desenvolvida com mais aprofundamento na obra Entardecer ( Litteris Editora, Rio de Janeiro, 2007), sobre a qual escrevi um ensaio à época de sua publicação.

Para o leitor que não conhece o Brasil literário, esta é uma oportunidade de conhecer os costumes, a flora, a fauna, os meios de produção urbana e rural, a natureza diversificada, os relacionamentos sociais e familiares, enfim, a paisagem física e humana piauiense, a riqueza léxica do linguajar local, suas notações fônicas, expressiva, empregadas não ao modo de Guimarães Rosa (1908-1967), que não é este o objetivo estético do autor cuja narrativa tem como núcleo formal o componente de narrar histórias, de contar experiências de vidas e conflitos humanos, seja pelo imaginário, seja pela via memorial ou autobiográfica segundo  já acentuamo.
 Daí em suas obras, assim como nesta coletânea, usar o autor de digressões de fundo histórico, literário, sociológico, de registros de épocas do passado piauiense. Nos contos há profusão de referências a tipos de moradia, a descrições precisas da paisagem natural e cultural urbana ou interiorana, a nomes reais, lugares reais, anotações pitorescas do folclore, incluindo adágios, canções populares, frases sentenciosas, mitos, assombrações etc. Por outro lado, não se pense que o autor seja apenas aquele bom contador de histórias e causos, tão frequente  na literatura do país. Ribamar Garcia tem plena consciência de seu trabalho literário, de seus meios expressivos, de suas estratégias de narratividade. Haja vista aquela passagem do conto já mencionado, “A tentação de Nazaré”, na qual o narrador-memorialista fez alusão à sua própria atividade, a prováveis motivações de ter se tornado escritor, raízes da memória da infância que surgiram a partir do talento da negra Nazaré para contar histórias que deslumbravam a imaginação e a curiosidade infantil. O escritor nunca é um ingênuo do ponto de vista de seu aprendizado técnico.

Se a linguagem literária é o carro-chefe da produção estética, seja pela composição sintático-estilística, seja pelo influxo poético-lírico que lhe permeia alguns contos com maior intensidade, seus relatos concisos, dinâmicos,  nos quais o autor dá testemunho de ser criativo na arte de narrar curiosas, irônicas, humorísticas situações embaraçosas da vida com espontaneidade, como no último conto do livro, “Almoço de domingo”(193-196), com aquela história da galinha que serviria de almoço para a família e que caiu na latrina da casa.  Nem o mau cheiro de merda impediu de, depois de limpa, ser servida como almoço em tempos de falta de carne na cidade. Uma das linhas de força do autor está na capacidade de montar seus enredos e em criar personagens verossímeis.

Outro fator determinante do bom nível destas narrativas reside no complexo e difícil uso do tempo ficcional – pedra de toque da ficcionalidade. Nele Ribamar Garcia lida com desembaraço, especialmente pelo recursos das anacronias e bem assim do meticuloso cuidado com os cortes indicativos das mudanças de cenários ou de espacialidade,  esta última um traço forte de sua obra.Um narrador não bem informado sobre o que o cerca, um narrador não observador, não  atento a todas as referencialidades físicas, humanas, visuais, sonoras, tácteis, jamais se torna um bom escritor. O que não é o caso de Garcia, um homem ávido de viagens, de movimentos, de informações, de convívio social, de observador da rua e do mundo. Não procurou os meandros da literatura de ousadias formais. Procurou, no entanto, encontrar os meios da linguagem transparente mas cheia de virtualidades de quem aprendeu a escrever ficção.







sábado, 3 de novembro de 2012

Alguns mosaicos globais, não esquecendo o Brasil











Cunha e Silva Filho







No Paquistão, a tentativa de calar o direito à educação  da mulher  defendido pela  adolescente Malala. Na Síria, o acordo de cessar-fogo desrespeitado pelos dois lados e inclusive desrespeitando o representante oficial da ONU. Nos Estados Unidos, a violência das águas e do ventos sob o nome geral de Furacão Sandy.

Em Veneza, as águas subiram e o que já era uma cidade nas águas, virou uma cidade-água. Oxalá que os homens contenham as inundações da bela cidade das gôndolas e que as lembranças do glamuroso Casanova (1725-1798) não se apaguem para sempre!

Em outros países da Europa, o miserê da população, com salários cortados e, paradoxalmente, com o governo decretando aumentos de impostos! Na Argentina, o Estado tomando ares de censor da imprensa livre, dando péssimo exemplo de democracia às Américas.

Novamente, nos Estados Unidos, constamos que cidades importantes não estão preparadas para cataclismos mais potentes, digamos, um tsunami daquele que atingiu o Japão. Os americanos perderam vidas, estão com racionamento de gasolina, falta de energia, de alimentos. Quem já imaginou a poderosa Nova Iorque sofrendo as mazelas de cidadezinhas pobres de várias partes do planeta? Quem já imaginou os nova-iorquinos com fome, com sede, sem transportes, andando a pé ou de bicicletas? Não há país poderosos econômica ou belicamente falando diante da fúria da Natureza. Somos nanicos metidos a besta, que pensam apenas na ilusão de que estamos protegidos, temos dinheiro, temos exércitos e influência sobre os outros, os menores, os desprotegidos, os miseráveis.

Nenhum país está ileso de toda espécie de desgraça, de injustiças contra as populações, de corrupção espalhada pelos quatro cantos do mundo. Todos nós humanos devemos repensar em mil e um coisas a fim de tornar mais respirável este mundo pós-tudo vivendo da indiferença entre o Bem e o Mal, ou seja, resultando numa mistura de práticas de vida coletiva e individual com valores éticos de ponta cabeça.

O nosso Brasil não é exceção, nem bom exemplo em vários prismas, o primeiro sendo o da impunidade contra malversações do Erário Público.Os homens de bem estamos aguardando o gran finale do julgamento do Mensalão. Estamos aguardando a dosimetria - jargão  jurídico com  sonoridade médica -  e sua aplicação real no que tange aos considerados ladrões dos cofres públicos. Em outras palavras, estamos esperando, ansiosos, por resultados concretos, quer dizer, por cadeia para larápios dos contribuintes, tanto no sentido ativo da corrupção quanto no passivo.

O brasileiro quer ver com os próprios olhos que figuras consideradas réus estarão por detrás das grades como os presos brasileiros que infestam nossas presídios. Na fala de alguns ministros ouvi a palavra  “benefícios da lei”. Que diabo é isso? Como falar em abrandamentos de sentenças quando se trata de réus reconhecidamente venais? O Supremo Tribunal Federal deve evitar o pior i.e., a desmoralização da Corte se não mandar para a cadeia alguns indivíduos-chave que cometeram crimes de lesa-pátria. Leniência contra criminosos de colarinho branco é uma palavra que não pode ser utilizada pelos magistrados da Corte Suprema, que rege a Justiça brasileira. O país exige a imparcialidade dos Ministros da Corte. Nada mais do que a aplicação do princípio da dura lex sed lex. Só assim agindo o país dará exemplo de plena maioridade democrática. A era do “Acabou em pizza” deve ser sepultada de vez dos anais da vida política brasileira. Confio na palavra e ação dos Supremo. Data  venia.