CUNHA E SILVA FILHO
A Internet veio para ficar, assim como outras invenções e descobertas
ao longo da história da humanidade e, se levarmos o seu alcance a outros setores
culturais, verificaremos o quanto de
útil tem feito, por exemplo, no universo da literatura e das artes em geral. Usuário e observador atento
do que se posta nessa rede social, também vejo com imensa alegria algo que
não seria possível em outras
mídias: alguém poder expressar o seu
pensamento, divulgar suas ideias sobre fatos diversos e contribuir para o
aumento de informações e do
conhecimento.
Fiquemos apenas no campo da literatura. Pensemos em qual foi a maior vantagem que nos trouxe o Facebook. Foi a possibilidade de uma pessoa
que gosta de escrever poder postar seus
poemas, suas crônicas, seus contos,
seus comentários, sua crítica,
suas teorias, enfim, fazer isso tudo sem o beneplácito de um conselho
consultivo que vai avaliar se o seu texto é bom ou
ruim. Ora, isso é uma conquista
da individualidade e um forma de alguém
realizar-se à sua maneira num
dado empreendimento cultural e criativo.
Foi essa oportunidade que o Facebook
ocasionou aos seus usuários. Para mim,
esse dado positivo só trará progresso
e aperfeiçoamento ao indivíduo
dedicado ao cultivo da literatura em
todas as suas formas.Com essa oportunidade única o Facebook
realiza sonhos, torna mais visível os menos conhecidos (o que não quer
dizer os menos dotados intelectualmente).
A
minha própria experiência como usuário
do Face me trouxe mais contentamento do
que aborrecimentos e eu os tive algumas
vezes assim como posso novamente
ser “agraciado” com alguns
prepotentes que se arvoram em donos do
conhecimento humano e em todas
as áreas. Pobre coitado que não sabe o quanto a suas limitações estão muito abaixo do que imagina a sua vã sofomania. Para eles, o silêncio sepulcral e a indiferença dos que lhes foram vítimas da vaidade e da soberba.
É óbvio que
se pode discutir com elegância e educação, mas longe do complexo de
superioridade e da arrogância de alguns
que se julgam maiores e melhores
do que outros sem conhecer
o passado dos que são
levianamente criticados sem conhecer uma história de vida
intelectual, de lutas e canseiras, de
injustiças e incompreensões flagrantes.
É preciso respeitar o pensamento alheio e até os erros por acaso cometidos por alguém.
Constato, da mesma
maneira, os usuários provenientes do mundo literário brasileiro ainda se dividem em
grupos seletivos, não abrindo
ainda sequer uma janela a quem a eles julgam
não pertencerem. Com isso, vejo
sinais de um certo elitismo ou
estrelismo, que não leva a nada e é improdutivo à história da literatura brasileira.
Descontando esse
lado melancólico da rede social, o que
permanecerá como uma característica construtiva
são as contribuições de alguns
usuários que, no locus de dimensão
além-fronteiras, põem suas produções
literárias de forma democrática e autônoma, sem arestas de impedimentos de pareceres absolutistas e inconfessáveis de quem quer que seja. É essa independência
no trato da coisa literária que mais
me impressiona e me surpreende,
pois é uma das grandes conquistas atuais da produção literária brasileira ou internacional que se originou na era digital.
Dar oportunidade a quem não pode
publicar um livro, ainda que seja
por conta própria mas
recusado por razões de linhas editoriais do pais, é uma avanço na produção de novos valores
em todos os campos da literatura. Essa lacuna deplorável que há anos tem
impedido tantos talentos de serem
lidos pelo grande público, agora, começa a ser preenchida. Os jornais, as editoras, as revistas não sabem o
que poderão perder em termos de competição, no futuro, com as redes sociais, notadamente o Facebook.
É graças à Internet
que, através de redes sociais como o Facebook,
amizades intelectuais se estão
dilatando, tanto no país quanto no exterior.
E esse dado é relevantíssimo, já que o Facebook pode congregar escritores praticamente em grande
parte do mundo. Realizar debates, simpósios,
trocas de informações instantâneas, ler poemas, ficção, artigos, ensaios de autores brasileiros não
devidamente conhecidos no pais, ler produção de autores
estrangeiros, isso tudo redunda num ativo
cultural de inegável valor.
Outros elementos que vêm se acrescer a essa mudança de hábitos de leituras
e de escrita (a rede social hoje
força o usuário a se comunicar por
escrito e instantaneamente). Assim, vai
desenvolvendo a sua habilidade de
articular o pensamento no espaço da sua página,
bem com é impelido a ler mais, qualitativa e quantitativamente: a) na página do Face podem
ser anunciados lançamentos de livros,
de exposições, de palestras, de postagens de poemas, crônicas,
contos, partes de novelas,
romances, artigos, pequenos
ensaios etc.; b) comentários sobre a produção literária de
escritores feitos por críticos, professores, linguistas,
filólogos, gramáticos, leitores
etc.; c) troca de opiniões e pontos de vista entre escritores; d) recurso
disponível de usar tradução eletrônica que, se não é perfeita, pode ser melhorada e muito auxilia a quem não conhece a língua na qual um texto está escrito; e) chamadas a visitas a
sites, blogs, vídeos etc.; f) maior incremento
de interações entre usuários, colegas, amigos, amigos de amigos e espaços privados
para conversas e informações que não devam ser publicadas.
Como se pode
ver, o espaço virtual do Facebook tem, sim, seu
lado saudável e de utilidade
pública. É claro que há muita
frivolidade ainda, um certo narcisismo
de cunho romântico que não deixa de interessar algumas pessoas. Entretanto, guardadas
as precauções contra pessoas perigosas
e navegantes indesejáveis,
o Facebook, no âmbito da difusão
da literatura, tem seu lugar
garantido no universo digital.
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