sábado, 28 de abril de 2018

DOIS ESTUDOS PRÁTICOS PARA O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL




                                                                         Cunha e Silva Filho


      Abstract: This paper  analyses two functional  studies  of Portuguese Language, respectively, Aprenda a falar e a escrever corretamente, by Luiz A, P. Victoria, and O poder das palavras, by Walmírio de Macedo,   i.e.,  grammar studies  intended  to teach a language for practical  purposes, with a method quite different  from  the ones used in writing    scholarly advanced grammars  which  are mostly read by specialists and not perused by the common reader who only wants to learn  the basics  of his own language and so is not  interested  in  going deep into the realms  of  intricate grammars   couched  in a   difficult exposition out of  the average  reader’s  reach. This kind of studies in Brazil may be roughly  traced back to 1960s, 1970s and 1980s with  books   that were chiefly  published by  Edições de  Ouro and a  couple of  other Brazilian  publishing  companies. Moreover,  these works (generally thin books) have some  traits similar to the approach used by the  so-called self-taught grammars and practical studies, mainly  in the United States.
Keywords: Language – Portuguese – practical – functional – grammars –  academic - self-teaching.
   Resumo: Este ensaio analisa dois estudos de Língua Portuguesa, i.e., estudos gramaticais destinados ao ensino  de uma língua com finalidades práticas e com método bem diverso daqueles usados nas gramáticas  avançadas e acadêmicas, as quais  são, na sua maioria,  lidas por especialistas e não compulsadas pelo leitor comum que apenas deseja aprender os fundamentos básicos de sua língua materna e, por isso mesmo não se interessam por  aprofundar-se  nos   domínios  intrincados de gramáticas vazadas numa exposição difícil fora do alcance desse leitor   comum. Este tipo de estudos aproximadamente  remonta   às décadas de 1980, 1970 e 1980 com obras  que foram na sua grande parte publicadas pelas Edições de Ouro e por algumas outras editora nacionais. A par disso, essas obras (geralmente livros  breves)  têm  características similares às chamadas  gramáticas ou estudos  autodidáticos, sobretudo de origem norte-americana.
Palavras-chaves: Lígua – Português – prático – funcional – gramáticas – acadêmico – autoestudo.

      Neste ensaio emprego a expressão sintagmática “Gramáticos  funcionais” inspirado num título e abordagem funcional  de um   autor norte-americano, George C. Cevasco que  publicou uma  breve gramática  inglesa intitulada   Grammar self-taught. [1]     
      Nos EUA, ao longo do tempo,  se editaram  numerosíssimas obras  mais ou menos  enquadradas  nos termos   propostos por  Cevasco, ou seja,  uma gramática  simplificada,  visando, antes de tudo, à facilidade de  exposição de  usos funcionais ou pragmáticos da língua  inglesa, longe da  complexidade terminológica de gramáticas  acadêmicas,  mais destinadas estas últimas  aos estudantes   do ensino  superior  de Letras e professores  universitários, distantes, assim,   dos interesses  de outros  usuários  de gramáticas, seja por não terem   ainda nível  de conhecimentos  linguísticos suficientes   como  os alunos do junior and senior high school, seja porque tais gramáticas  simplificadas  atendiam a um  público  muito mais amplo e  diversificado de profissionais de comunicação, jornalistas, vendedores, homens de negócios, apresentadores,   radialistas, oradores,  advogados,   médicos, engenheiros,  enfim,  um  público-alvo  para o qual  uma exposição avançada   de uma gramática  não teria   muito  proveito imediato.
        Daí que minhas  reflexões sobre modos de escrever gramáticas me levaram a divisar duas espécies de gramática  de uma língua: a) gramáticas acadêmicas,[2] com apresentação somente de conteúdos teóricos  avançados e endereçadas  a especialistas (professores e estudante de Letras); b) gramáticas mistas,[3] as que  visam  a  expor tanto  conteúdos  teóricos em níveis médio e superior quanto  aplicação destes através de exercícios  discursivos,   testes objetivos, de múltipla escolha,  inclusão de questões  de vestibulares e concursos públicos  em geral, servindo a um  leque de leitores, como estudantes, professores do ensino fundamental e médio de Língua Portuguesa e a especialistas (professores e estudantes   do ensino superior de Letras e o público indistintamente.
          Esse segundo tipo de gramática, em algumas obras, como é o caso  da gramática do Professor Manoel P. Ribeiro (vide nota de rodapé  3 abaixo),   presta-se a ser uma obra também de referência, à semelhança dos dicionários,  para consultas a inúmeras questões gramaticais, desde  aspectos gramaticais de dificuldade mediana a temas   mais complexas   e resultantes das mais recentes investigações no estudo da língua, como linguística do texto, teoria da comunicação, análise  de textos, sociolinguística,  semântica, estilística, redação argumentativa. Os estudos práticos sobre questões gramaticais  - tema nuclear deste  ensaio - estão mais próximos da segunda espécie de gramática.
       No Brasil, nos anos 1960 a 1970, aproximadamente,  esse mesmo  tipo  de estudos funcionais  esteve muito em voga, principalmente  a partir  das publicações  de bolso das Edições de Ouro, muito  voltadas aos chamados  livros de autoestudo tanto  para os primeiros passos do ensino de línguas modernas como os voltados  a esse tipo de gramática  funcional ou estudos temáticos  sobre aspectos práticos gramaticais -  objeto do presente estudo. Sempre assaz  curioso, naquele tempo,   por esse tipo de  estudos,  comprei   alguns livros dessas coleções ainda no Piauí e, depois,  no Rio de Janeiro onde fixei  residência.
      Devo  registrar  que eu próprio   me incluiria entre  esses leitores não só no tempo  em que era universitário de Letras  mas ainda pela  vida afora. Não vou negar que elas me foram proveitosas na aprendizagem geral do vernáculo e não conto as  vezes em que a elas recorri  para consultas imediatas e mesmo subsídios às minha aulas de língua portuguesa em cursinhos do ensino médio,  particular  e  público.
     Algumas dessas obras vinham com uma novidade -  a chave dos exercícios  propostos -, novidade que  não era só de então,  nem  tampouco de agora, pois, nos idos dos  anos 1920, a velha editora  F.T.D., de excelentes  obras didáticas  para as várias disciplinas dos currículos de então, já  incluía a chave de exercícios  para uso  só dos docentes. Por outro lado, o emprego da chave de exercícios, incluída no livro ou em edição em separado,  hoje ainda é amiúde   usado, não somente no país como  em publicações  do exterior, principalmente nos  EUA e na  Inglaterra.
        A chave de exercício se tornou  um  instrumento generalizado nos  livros didáticos  brasileiros,   a qual, a meu ver, é sempre bem-vinda tanto para docentes  como  para   discentes.
      Não tendo  como  objetivo aqui  desenvolver  um   estudo mais    minucioso  dessas  obras práticas,  no entanto,    seria  lícito  levantar alguns dados  sobre o assunto que, de outra forma,  poderiam  permanecer  esquecidos da  atenção  dos estudiosos  e produtores  de gramáticas  na atualidade, inclusive   tendo em  vista  que  essas obras, ventilando tópicos gramaticais,  fizeram  história  na produção  bibliográfica do gênero no país. Por conseguinte,   cabe-nos    tecer alguns  comentários    sobre  duas obras  desta bibliografia  didática escrita à margem da  produção acadêmica e especializada.
      Escolhi como corpus  das minhas  análises não apenas autores editados  pelas Edições de Ouro (hoje, Ediouro) mas autores  que deram a lume obras gramaticais deste tipo em outras editoras.   Para fins desta  pesquisa, elegemos dois autores e uma obra correspondente a cada um. Para a discussão do tema, desenvolveremos  a nossa exposição segundo os capítulos  seguintes: 1) Considerações sobre os autores; 2) A organização das obras e seu conteúdo; 3) A importância desse tipo de obras e seu alcance junto aos leitores.
     



Autor:                                                                 Obra examinada):

Luis A. P. Vitória                                            Aprenda a falar e a escrever
                                                                         corretamente a sua língua [4]
Walmírio de  Macedo                                     O poder das palavras com  um
                                                                        vocabulário rico [5]



1.A organização das obras

1.1           Consideração sobre os autores


        O entendimento deste ensaio  só se torna pertinente   quando  pensamos nos estudos gramaticais sem preconceitos, seja acadêmicos, seja por motivos  pessoais. Assim o fizeram os países mais avançados do mundo civilizado. Não faz sentido  subestimarmos a priori  alguns estudos gramaticais por motivos  meramente  elitistas só  explicados pela falta  de perspectiva do  contexto cultural do estudioso  diante  da história da nossa educação e, em particular,  dos  estudos de linguagem no Brasil. Cumpre entender que a produção  didática ou especializada   no campo da gramática, dos estudos  filológicos e linguísticos   só adquiriu um  nível de eficiência e atualização após o surgimento  dos cursos superiores de Letras no  país  a partir do final   anos 1930.[6]
      Por outro lado,  a formação dos professores de língua portuguesa, por exemplo, atravessou  duas fases distintas: a de professores sem a devida  formação acadêmica nos estudos literários, quer dizer,    via   Faculdade de Letras e os docentes  graduados  por esta última. Desta maneira,  durante alguns anos,  professores  de  áreas que não a de Letras, principalmente  oriundos do curso de Direito,  supriram a ausência  de  professores licenciados  em Letras.
      É neste  contexto histórico que muitos estudiosos de questões de linguagem, amparados em leituras de  grandes gramáticos brasileiros, por autodidatismo  foram-se  aprofundando e  alguns deles  começaram a  produzir  obras   relacionadas  à  gramática dirigidas ao público em geral não especializado. Neste grupo se encontram nomes  como  Luis A. P. Victória, Osmar Barbosa, José Perea Martins, entre outros, ao lado de mestres do ensino médio e superior  como  Walmírio de  Macedo,[7]  entre outros.
      Na maioria eram autores produtivos, com muitas obras práticas acerca de temas  da linguagem  normativa, obras pautadas no “certo” ou  “errado” da sintaxe  portuguesa. Aliás,  no país vem de longe essa prática,  hoje  não bem aceita  por alguns novos gramáticos e linguistas, devido aos excessos de ortodoxia  no uso  sintático, em suma,  na prática da gramatiquice que tanto foi  combatida  pelos  escritores  modernistas, principalmente da  primeira  fase  inicial, a de 1922. Seriam emblemáticos o  opúsculo Regras práticas para bem escrever, de Laudelino Freire[8], membro da Academia Brasileira de Letras, e, em Portugal,  os volumes de O que se não deve  dizer, de Candido de Figueiredo, gramático e filólogo  português).   A antiga crítica gramatical,  praticada entre nós por um Osório Duque Estrada e, em Portugal,  por um Gomes de Amorim[9] que, segundo  a afirmação de Hênio Tavares, “mutilou Camões  no leito de Procusto da sua estreiteza gramatical.”[10]
     Antes mesmo do Modernismo brasileiro, no período convencionalmente  chamado de Pré-Modernismo,  o escritor  Lima Barreto já era bem  criticado por utilizar uma linguagem literária  muito  próxima do uso oral, reproduzindo  o falar  de pessoas  do povo. O que  seria um avanço  no emprego da linguagem  literária  era menosprezo de críticos gramaticais que não atentavam para a dimensão “estético-social”[11] da sua obra renovadora por lhes faltarem, a meu ver,   ampla  visão estética.
       A circunstância de me cingir apenas  aos  quatro autores   citados, sinaliza mero  ponto de  referência  a um  número de outros  autores  que  desenvolveram  obras  semelhantes e que podem  ser   tema  para outras pesquisas mais  completas voltadas a esse tipo de  estudos funcionais,  tratando   de questões  gramaticais   sem propósito algum de    apresentar  hipóteses de teses sobre  partes da gramática normativa, geralmente,  sem  aparato bibliográfico nem terminologia  científica.
       Constituem obras sem viés erudito, prontas a atender aos usuários  em consultas rápidas, conforme  presenciei,  numa redação de jornal,  um apreciado  jornalista  afirmar para um  colega meu de vida literária. O jornalista  retirou de um gaveta de sua  escrivaninha  um  pequeno  livro prático sobre dúvidas na arte da escrita:  “Sempre que estou inseguro,  recorre a este livrinho.”  Não preciso de mais nada,” concluiu ele.
       As gramáticas  funcionais  são livros que, seguramente fundamentadas  em boas gramáticas  mais conhecidas e  de autores de peso, nas mãos de um  autor não acadêmico e erudito,  são assimiladas em formas mais  simplificadas  de  elucidar  o leitor  comum. Isso não quer dizer que algumas não tenham sido bem  organizadas, bem redigidas e com  boa  contribuição pessoal  e habilidade de formular exercícios  bem   elaborados.   Daí serem estudos de aplicação gramatical, que  pesquisam   as “miudezas” gramaticais, cuidando mais de  morfologia e de alguns  aspectos sintáticos: relação exaustiva  de  coletivos, vozes de animais, femininos  menos  conhecidos,  nomes  gentílicos,   plurais  de compostos,   substantivos  nos graus aumentativo e diminutivo, uso dos numerais,  uso da crase  com dicas  práticas, plurais de adjetivos  compostos, uso de pontuação,  de abreviaturas, de pronomes relativos regidos de preposição, de  concordância verbal, nominal, uso do  infinitivo  pessoal ou  impessoal, de sinonímia, paronímia,  antonímia,  silabada,  ortoépia/ortoepia.


2. A organização das obras e seu conteúdo.   

2.1 Luis A. P. Victória e sua obra Aprenda a falar e escrever  corretamente a língua portuguesa()


        Autor  muito conhecido  por suas obras  endereçadas  a estudos  sem mestre de Língua Portuguesa relativos ao ginásio e ao  segundo grau, lançados pelas Edições de Ouro, também escreveu  uma   pequena história da literatura francesa e um livro   para o ensino  prático da língua inglesa, um dicionário  de mitologia e um    dicionário da origem das palavras, entre outras obras, em geral  para quem deseja melhorar sua cultura geral.  É o próprio autor dessa obra que, no prefácio, admite ser ela endereçada ao povo, ao leitor comum e não ao aprofundamento  erudito em questões de Língua Portuguesa. As explanações são feitas de maneira clara, reduzidas ao mínimo, sem citações de autores e  abonações de obras literárias, sem igualmente  nenhum aparato  bibliográfico  remissivo. Como  outras  obras  congêneres, a edição de que me valho data de 1953, ou seja, sua  exposição ainda segue  a terminologia gramatical   antes  da introdução da NGB, em 28 de janeiro de 1959, Portaria Nº 36.
     Da mesma maneira que  outras obras do mesmo feitio,  não inclui  capítulo sobre fonética e fonologia. Não segue,  portanto, a divisão clássica (fonética,  morfologia e sintaxe) das gramáticas normativas tradicionais mais  conhecidas. Tendo  por objetivo  o uso  funcional da língua,    aborda  aspectos   pontuais da morfologia, da sintaxe e  ortografia. Por outro lado,  vejo  como  aspectos  positivos  nessa espécie de gramática e estudos alguns  itens, muito úteis  a qualquer  usuário da língua materna, os quais se fazem presentes  em  obras congêneres:

- Concordância verbal
- Concordância  nominal
- Colocação pronominal
- A crase
- Verbos irregulares
- Particularidades sobre verbos
- Verbo haver
-Uso do imperativo negativo
- Uso de  pronomes de tratamento
- O pronome se (partícula apassivadora),
 -Verbos  irregulares
- Sistema ortográfico (incluindo pontuação, acentuação, abreviaturas)
- Emprego do infinitivo  impessoal
- Regência de alguns verbos de “uso mais frequente;”
- “Generalidades”:
 A partícula  que, as expressões  porque e por que (grifos do autor em exame)
-Adjetivos  pátrios ou gentílicos “que apresentam dificuldades”
- Os coletivos mais  usados
- Barbarismos gráficos
- Barbarismos prosódicos
 -Parônimos

       É lícito acentuar que toda a exposição  gramatical obviamente  se estriba  nas leituras  implícitas dos nosso gramáticos  mais  abalizados. A contribuição de Luiz A. P. Victória foi a de  resumir,  organizar, de selecionar  os aspectos  gramaticais que - suponho ter  pensado  o autor -, não podem ser  omitidos em estudo gramatical    de natureza  funcional, conforme já frisei mais de uma vez  neste  ensaio. Entretanto,  a grande contribuição  de Luiz A. P. Victória, a meu ver,  reside  não apenas na explanação clara e simples do conteúdo mas igualmente  nos bem elaborados exercícios  sobre os assuntos  ventilados  no  livro e acompanhados da chave no final do volume.
       Recordo que há um outro  tipo de exercício de aplicação, de nome  “Textos a corrigir,” que segue uma tradição  também  muito  comum  em  obras análogas de autores estrangeiros e mesmo brasileiros, muito difundido  em obras de décadas atrás. Ou seja, uma  prática de ensinar  uma língua  estrangeira  ou  nativa  na base do “certo “ e “errado.”  Esse   exercício também  vem com a chave  para consulta  do leitor.    
    Alguns linguistas hoje em dia  repudiam essa forma de  approach no ensino  de língua,   alegando  que  ela se  destina aí somente  ao uso  escrito  culto  da língua  e não leva em conta   os demais  níveis  da língua     estudados pela sociolinguística .O tema é polêmico e deve permanecer  em aberto. 



2.2. Walmirio de Macedo e seu livro O poder das palavras com um vocabulário rico.


     Respeitado filólogo, linguista e gramático, faleceu recentemente. Foi membro ilustre da Academia Brasileira de Filologia e lecionou  Língua Portuguesa no ensino médio,  na  Pós-graduação da Universidade Federal Fluminense e na Universidade  Santa Úrsula, autor de várias obras nas suas especialidades. Walmirio de   Macedo é desses estudiosos  que, a par de  obras  mais complexas  no campo  dos estudos da linguagem,   enveredou  igualmente por estudos  práticos  da Língua  Portuguesa, alguns publicados pelas Edições de Ouro. Dentre outras obras práticas,  optei  por um  livro bem diferente em sua natureza  didática e  temática, o qual lemos nos anos 1960, da Coleção “Aprenda a tua língua.”[12] É evidente, desde o conteúdo  dos itens gramaticais  desenvolvidos na pequena obra, que o autor sinaliza logo a sua formação acadêmica, sobretudo  no  elucidativo prefácio, que passamos  a comentar.
      O objetivo de O poder das palavras é   conscientizar os usuários do vernáculo para a importância que o vocabulário desempenha na comunicação  escrita ou falada, despertar no leitor   o hábito de adquirir  maiores   possibilidades de comunicação e maior domínios de recurso  vocabulares e  estilísticos a fim de  torná-lo  mais  competente linguisticamente. Indivíduos com  um repertório vocabular  pobre, segundo  Walmírio de Macedo,  tendem a “insucessos na vida.”  Citando  o historiador e crítico literário  português Fidelino  Figueiredo, lembra que a “conversação” entre pessoas seria uma espécie de “luta pela expressão,”  título de uma das obras do crítico  português.[13] Recorda, ademais, que o êxito  das pessoas na profissão muito  depende  do referido domínio do vocabulário   e recursos  expressivos  de que a língua dispõe, tais como  sinonímia, homonímia, domínio  da conjugação verbal etc.
    Walmírio de  Macedo   argumenta que, ao conversarmos,  temos   por  finalidade um  “aspecto tríplíce da linguagem”: a) informar; b) solicitar; c) convencer. O sucesso da comunicação entre os indivíduos depende  do  bom desempenho  desses três aspectos. Refere que a competência linguística  se realiza  plenamente quando  a informação  se combina com a “precisão,”  a solicitação   com a adequação vocabular  e o convencimento  se torna eficaz e se realiza  com “facilidade.”
    O objetivo do autor é, pois,  prover o usuário  da língua com  uma orientação, exposta em  linguagem “simples, visando a equipar o leitor em geral com  “lições”  de um professor de língua  portuguesa contando, na época, com onze anos  lecionado, em todos os níveis de ensino,  e amparado em leituras  nos mais  “renomados”  estudiosos da Linguística(assim grafado pelo autor), tais como Saussure, Matoso Câmara,  Bally, Vossler, Spitzer, Lázaro Carreter, Georges Galichet, Meillet, Marouzeau, Amado Alonso, Dámaso Alonso entre outros.
   Além do conteúdo temático exarado pelo autor e que, em geral,  se encontra  em  obras  práticas  ou funcionais, como homônimos,   formação de palavras,  verbos, femininos, nomes gentílicos, há que salientar-se os seguintes pequenos capítulos, os quais  por si mesmos,   evidenciam  as novidade  e atualização da obra em exame: 

 - O símbolo linguístico ( capítulo I);
 -Alterações de significados em consequência de fatores tais como
associação de ideias (capítulo V);
- O vocabulário e as classes sociais (capítulo VI);
 -“Eufemismo” (capítulo VII);
 -“A psicologia e os vocábulos” - Estrangeirismos (capítulo VIII);
  


       Se o propósito do gramático tem como  núcleo  desse pequeno livro demonstrar  até que ponto  o  domínio de vocábulos  e seus significados será útil e proveitoso  ao leitor  desejoso de  aperfeiçoar sua habilidade escrita e oral da Língua Portuguesa enriquecendo  seu vocabulário e aprendendo na leitura dessa obra a segura  orientação  a fim de conseguir  seu intento,   alguém, todavia,  poderia argumentar que  se não seria melhor e mais rápido consultar  os grandes e mais conceituados dicionários de que dispomos em Língua Portuguesa, lendo, com  critério  e meticulosidade,  cada  verbete e  abonações várias, cujas acepções não conhecemos bem. Não, exatamente,  dado que, no estudo  de O poder das palavras,  o  autor adentra  aspectos  dos vocábulos   tendo em vista   o seu  contexto linguístico,  a variação estilística  e a sua seleção semântica  qualitativa e quantitativa  dentro dos limites   traçados pelo recorte específico de suas pesquisas.
       Ora,  não é aleatória  essa escolha  do vocabulário   examinado e ilustrado em exemplos e em  testes  objetivos ( no livro são 16 testes  bem elaborados seguidos de uma chave  de exercícios)  a fim de que o leitor  se beneficie  e possa  ter segurança de que  assimilou bem  as lições  desenvolvidas  no livro.  A seleção do vocabulário  analisado pelo autor  tem sempre em vista  a sua  pertinência  no uso da língua  escrita  e oral e a sua praticidade  em benefício  do usuário de amplo espectro. Vejamos, a seguir e  em resumo,  como o autor  trata cada um dos  itens dos capítulos  acima-elencados.

2.3 O símbolo linguístico.

        Para os estudantes dos antigos ginásio, científico, clássico e técnico, que pertenceram à minha geração, no final das décadas de 1950 e inícios de 1960, pelo menos,  nos  conteúdos dos livros didáticos oficiais, o conceito de símbolo linguístico (ou signo linguístico) era para nós  desconhecido.
      O autor deste ensaio só foi  estudar  esse conceito nos estudos do  eminente  Matoso Câmara,  de quem foi aluno, no início da   segunda metade dos anos 1960, através da leitura, para a época,  obrigatória e, hoje, um clássico no gênero,  de Princípios de linguística geral,[14] obra, de resto,  difícil a muitos estudantes da minha geração, alguns dos quais não gostavam  do estilo  “barroco” ( segundo  opinião bastante subjetiva e algo ingênua de algumas colegas da graduação  de Letras) do  famoso  linguista brasileiro.
    Walmírio de Macedo, no  início do capítulo de sua pequena obra,  informa e ensina, sempre com a simplicidade  e clareza de exposição,  o que  seja o símbolo linguístico, os dois elementos que o constituem - ,  o significante e o significado -,  a arbitrariedade do signo linguístico, o conceito de palavra, resultante da “associação” de vocábulo com a ideia. O autor   refere  que, ao contrário da palavra, sempre um símbolo,   vocábulos  há que não são arbitrários, i.e., aqueles que definimos  como  as onomatopeias, cujos sons lembram  logo o que representam. Dá como exemplos os vocábulos “au-au,” “fon-fon,” os quais  de imediato  sugerem   o que simbolizam    o cão e o automóvel. [15]
     Voltando ao conceito de palavra, Walmírio  de Macedo  recorda que a palavra é forma e ideia, sendo a  forma o “conjunto fonético” e a ideia, o “conteúdo psíquico”[16] Prosseguindo em sua  exposição, o estudioso   chama a atenção  para o fato de que, na comunicação,  a palavra sozinha  não se realiza  como mensagem, porquanto  só na frase  ela adquire   valor comunicativo, de enunciado e de “simbolismo  linguístico.”[17] Fora da frase,  segundo  ele,  a palavra é mera “abstração.” Argumenta  que, no dicionário,  a palavra pode, em alguns casos,  ser até “perigosa,”  dado que, no verbete,  ela oferece  muitos sentidos, os quais só podem ser  particularizados  quando no “conjunto fraseológico.” Ele ilustra, com exemplo, a palavra  “cabeça,” contextualizada  em frases extraídas da conhecida obra Estilística da língua portuguesa, de  Rodrigues Lapa.[18]
     Adverte o autor que o emprego correto de uma vocábulo  merece todo o cuidado do usuário da Língua Portuguesa. Por último,  faz referência  a escritores (poetas, oradores)  que se comprazem no uso do que se chama “harmonia imitativa,”  recurso fonético-semântico a fim de  estabelecer  nexos de sentido  graças ao emprego de vocábulos nos quais os fonemas  iniciais de cada  um, numa espécie de quebra da arbitrariedade linguística, provocam, no conjunto do enunciado,   uma ideia  pretendida por um autor. Como exemplo,  recorre àquela conhecida frase: ”O rato roeu o rol da roupa do rei de Roma.” Ou, nas palavras do gramático, filólogo e linguista: [... com sua sequência de erres procura dar ideia do ruído provocado pelo rato quando rói.] (negrito do autor).[19]

    2.3. Alteração de significados em consequência de fatores  tais como ‘Associações de Ideias.’

            No capítulo V,  Walmírio de Macedo enfoca  a questão da mudança do     significado de um vocábulo quando  seu emprego  resulta de uma associação de ideias.  Para ele, ao  alterar  um significado, uma palavra pode resultar numa metáfora., definida por ele  como “... a alteração de sentido de uma palavra sem que se lhe  seja alterada a forma.” 
        Adianta que, na criação da metáfora, o processo de alteração semântica  ocorre  por  analogia e “contiguidade”. Justifica  seu argumento  com a  frase proferida  pelo homem ao dirigir-se galantemente a um mulher: “ É uma flor.” Por associar traços da flor, como  beleza,  delicadeza,  perfume ou levado  por uma afetividade votada à flor e a uma mulher  que lhe despertou  uma admiração, surgiu  aquela  metáfora. Reforça que entre a flor e a mulher não existe uma “semelhança entre a cor, a forma e a estrutura,”  A semelhança  está assente na “ideia”  veiculada pela  flor e pela mulher.
            A analogia se efetiva também  no campo afetivo  ou disfêmico utilizado  por um emissor, o que  o leva reconhecer dois tipos de metáforas: a fundamentada na “semelhança ” e a “estritamente afetiva.” Como  ilustração da primeira,  cita os “apelidos,”   nas expressões vocabulares seguintes:  “Girafa”,  para  designar um pessoa muito  alta; “Cara de  Lua Cheia”, pela semelhança da forma física  do rosto de alguém  com  o satélite da Terra; “Onça” para significar  uma “mulher  valentona”; “Víbora” em decorrência de uma mulher ser “linguaruda” e em virtude do  sentido comum do veneno da cobra e o da  “língua da mulher.”
           O professor Walmírio  de Macedo ainda refere a metáforas  empregadas com apoio  em adjetivos. É o caso do sintagma “música saborosa.” Tem-se aqui, segundo ele  elucida,  um determinante   com “sentido inaplicável,” de vez que “saborosa”  não poderia ser   utilizado   a fim de qualificar  “música.” Esse emprego só cabe  mesmo   como expressão  sinestésica ( de largo uso  no estilo  literário  do movimento  simbolista) ou como ele pondera, como “transposição de sentido.”[20]
           O autor menciona mais dois exemplos nos quais o adjetivo  transmite acepções  diferentes:  “conta salgada” e comédia salgada” (negritos do autor).
           O filólogo  tece, em seguida,  considerações em torno de outro  “fator” de alteração de sentido: a afetividade. Daí surgirem  um quantidade de expressões  nascida   do impulso afetivo, tais como vistas nos exemplos seguintes: “meu chuchu”,  “minha joia”, “meu torrão de açúcar”, “meu tesouro,” “meu anjo”, “minha flor,” entre outras.   
           Para Walmírio de Macedo a metáfora é um “fator” na língua “necessário e indispensável.” Aduz ainda que a metáfora não deve ser  entendida  como  um “desvio” de “uso idiomático normal,” porém  como  um fato  da língua que deve merecer  toda atenção pela importância que assume no campo da expressividade.
         O autor  conclui o capítulo ensinando que, certas metáforas,  por serem  tão usadas, perdem a antiga característica  de metáforas. A elas o autor chama de “metáforas  mortas ou gastas” (negritos do autor). Dá como exemplo desse tipo de metáfora os seguintes: “pé do monte,” “barriga da perna,” “braço da cadeira.” O abuso de metáforas, segundo o autor,  provoca  o surgimento de gírias, as quais são  provêm de uma  “associação de ideias”, à semelhança das metáforas.






2.4. O vocabulário e as classes sociais: gírias


        Neste capítulo, o filólogo discute a questão da gíria na Língua Portuguesa. De início, se observa claramente  um posição  crítica  e até dogmática do autor  no que concerne ao uso da gíria.  Não nega o fenômeno da gíria, mas  taxativamente não o aceita, pelo menos ao tempo em que  escreveu a obra em tela –  princípios dos anos 1960  -, consoante se pode depreender da citação  seguinte, logo na introdução do capítulo VI: “É preciso que nos policiemos a todo instante para não dizermos gírias.”[21]  
     Quer dizer,  sua posição de gramático, posto que reconheça a realidade  linguística da gíria,  tende a ser bem conservadora no campo da política do idioma. Mostra-se um  vigilante,   um defensor  da pureza do vernáculo e, assim, se mantém  até ao final  do capítulo.
     Nesta posição  defensiva  é evidente e incisivo  o tom edificante  com que se posiciona no tocante ao ensino da língua portuguesa, seja na oralidade, seja na escrita. Não obstante, por se tratar de um  estudioso da linguística, ele divisa seis traços  distintivos  no emprego da gíria, os quais, a meu ver,  constituem   o fundamento  de sua reflexão sobre o vocabulário e a gíria:[22]

1)   Ausência de significação própria;
2)   Significação conforme a situação;
  3)  Malícia;
 4)  Associação de ideias;
 5)  Sentido de classe
 6)  Transitoriedade.

           Os  traços enumerados acima falam por si mesmos. O filólogo reconhece a   realidade linguística   da gíria, mas nelas não vê nenhuma  “significação própria”  acrescentando que  a significação só se potencializa quando  numa determinada situação aliada à “malícia do sujeito falante.” Esse aspecto psicológico é que o leva a afirmar ser a gíria inadequada às pessoas de “bom-tom.” Ora,   ao longo do capítulo,  assume uma atitude de fundo estético-moralista em relação ao emprego das gírias.
          Ele lembra, com primeiro exemplo de uma palavra da gíria  o verbo “sassaricar” surgido no Rio de Janeiro, dando-lhe os sentidos que o mesmo  exprimia desde o seu  surgimento: namoriscar’, amolar a paciência alheia, fazer que quer e não querer uma coisa, estar vagabundando, não cumprir com  suas obrigações, entre outros,  Acresce ainda que, por ser  um vocábulo da gíria,  ele serviria  para  expressar  “qualquer coisa que se quisesse”.
              Chama atenção para  outro exemplo gírico da época da escrita de O poder das palavras: “Naquela base.” Logo argumenta que  essa locução não  expressa  nenhuma “lógica.” Argui que a locução terá o sentido ditado  pela malícia do falante. Em outras palavras,  o filólogo  confirma a  sua desaprovação do emprego de gíria.
               Observa que a gíria,  criada por alguém  resulta de uma “associação de ideias” “por semelhança ou algum ponto de contato.”
              O ilustre gramático, na sequência de  aspectos discutidos e ilustrados sobre as gírias,  lembra um outro  tipo  desse uso de vocabulário, ou seja, a gíria dos malandros, a qual para   o autor tem pontos comuns às gírias em geral. Chega mesmo a denominá-la  de “língua especial.”   Aduz, ademais,  que, em alguns casos,  para entender a gíria dos meliantes, faz-se necessário recorrer ao concurso de policiais  com  experiência em lidar com  a fala de  “malfeitores. Para exemplificar,  relata que o famoso  “facínora” Cabeleira, ao depor para a autoridade policial,  falava de  modo “incompreensível, sendo  então necessário a ajuda de “uma comissão de policiais” para traduzir o que  criminoso   dizia.
         Ao referir-se às gírias  resultantes de uma associação de ideias. O gramático  cita alguns exemplos, como, entre outros,  a expressão otário de braço”, usado parasse referir ao “relógio”, um objeto que “trabalha de graça,”  ou por uma  outra palavra, “bobo,”  por razões similares. Por tais motivos é que a gíria define, segundo o autor, o indivíduo  quanto a seu estrato social. Um outro aspecto para o qual  o autor  chama a atenção do leitor é que as gírias  têm pouca duração. Muito poucas  palavras ou expressões gíricas  desaparecem,  não “vingam” e isso para ele é um motivo de alegria, de vez que, segundo já afirmei,   para ele a gíria só “degrada”   o falante que a use  e o  receptor que possa ouvi-la, retirando da comunicação oral ou escrita toda  a  “real e consistente beleza” da língua.”
          O fato é que ao final do capítulo,  tira algumas conclusões  que, segundo ele,   ajudariam  os leitores que desejem  aprimorar  o seu desempenho  do idioma nacional. Em resumo, seriam essas:

 a) Evitar as gírias;
 b) A gíria empobrece a língua; 
 c) Estudantes  do ensino médio devem igualmente  evitá-las, pois, consoante o autor,  nessa fase, tendem a  ser atraídos pelas gírias.
       
                No último parágrafo do capítulo, o ilustre professor faz referência a  um dia em que, num ônibus,  ouvira  de dois colegiais  que, animados,  falavam  certamente sobre  a estética do físico  de uma jovem. Um deles dissera: ‘Ela  não é bonita mas é ‘enxuta’. O professor arremata: ”O que me consola é que dentro  de seis meses já não se falará em tal termo.”[23] Nota
               Numa obra como a que estou  comentando, é bem compreensível que o   autor tome uma posição - diria -,  não acadêmica nem erudita, mas sim norteado pelos propósitos que tinha em mira  ao escrever O poder das palavras: uma obra didática e prática,  sem  muita profundidade, ressaltando, contudo,   alguns aspectos dos estudos da língua  que qualquer  leitor comum teria   curiosidade de  ler e sobre eles  ter uma noção  geral dos mecanismos  expressivos  e estilísticos  da língua portuguesa. Sendo assim, é compreensível que o filólogo pautasse  sua posição sobre os temas  abordados  sob uma perspectiva  conservadora.
           Por outro lado,   vejo que,  a não  dar relevância alguma ao estudo da gíria,   ele almejasse apenas  guiar  o leitor não especializado  e o jovem leitor  secundarista  para a uma  consciência linguística voltada aos estudos  da norma  culta,  da rigidez gramatical, internalizando  nesses leitores o valor  da correção gramatical, do uso do certo e do errado, tão hoje repudiado  por alguns  linguistas  contemporâneos.
                Entretanto,  essa obra de Walmírio  de Macedo   marca uma fase  do pensamento do estudioso sobre questões da língua. Seria preciso ler as obras  de natureza acadêmica do autor para sabermos até aonde foi modificado ou não  o seu   pensamento acerca, por exemplo,  do tema ventilado nesse capítulo. Entretanto,  no Dicionário de gramática[24]  escrito anos depois, ao definir o  verbete gíria, o autor se mostra bem objetivo sem laivo  algum  de subjetividade subjetivo   de cunho estético-moralista que revelara ao tempo da escrita de O poder das palavras, decerto por se tratar de uma obra   de natureza acadêmico-científica, onde a objetividade  se torna um   imperativo do estudioso).

 2.5   Eufemismo


               Walmírio de Macedo, no capítulo VII, foca sua atenção para o uso do eufemismo. Para ele, empregar eufemismos é evidência de respeito não são aos usos socialmente  adequados  da língua, mas também  demonstração de gentileza,  polidez e respeito  aos outros. Desta maneira,   rejeita o uso de  expressões  disfêmicas, as quais abastardam  quem as emprega e tem um efeito comunicativo  quase tão  nocivo quanto algumas  gírias ou expressões de baixo  calão. A importância do que se poderia chamar  a estética da palavra, o uso de expressões que suavizam ou modalizam  sentidos  iguais que, de outra forma,  mostrar-se-iam  grosseiros  ou “ásperos”( palavra do autor)  na interlocução na sua modalidade  oral ou  escrita; Segundo ele,  “E preciso saber usar expressões condignas, bonitas embora a verdade seja a mesma. Não chocam.”[25]  Mais uma vez,  tem-se a revelação da perspectiva do autor em assuntos de estudos linguísticos: o zelo pelas formas  normativas,  pela correção, pela estética  comunicativa e assim se porta ao longo  da exposição  sobre  aspectos  vocabulares e frasais da Língua Portuguesa.   Era, pois,  um vernaculista, como ainda veremos no capítulo  VII de seu pequeno  livro ora   analisado.
              O gramático  não perde azo para  reiteradamente vincular  os usos da língua com  a psicologia  humana voltada para comportamentos sociais sublinhados  pela  civilidade e respeito ao falar ou escrever. A linguagem,  ensina  ele,  “... é a exteriorização de sua personalidade, meu leitor.” Acrescenta que há casos  em que os psicólogos, examinando  clientes,  observam que muitos deles, pela linguagem, revelam sintomas de “anormalidades psíquicas.”
              Vejam-se  alguns exemplos  que  nos apresenta  a fim de  ilustrar   o seu  pensamento sobre  o eufemismo  e seu  oposto, o disfemismo:

  Maria fechou os olhos no dia tal...(eufemismo)
 Maria morreu.(disfemismo)
 Risoleta é uma senhora respeitável (eufemismo)
 Risoleta é uma velha (disfemismo).
   Uma gentil  companhia (eufemismo):  alusão a uma moça que acompanha um casal  de namorados
   Pegando vela (disfemismo)
 Ninho de amor (eufemismo)
   Casa de meretrício (disfemismo).
      
              Finalmente, o professor Walmírio de Macedo chama ainda a atenção  para outro aspecto da língua que deve ser  evitado. Da mesma maneira que nos disfemismos, há indivíduos que se excedem ou exageram  o sentido atribuído a certas palavras ou expressões. É o que se chama de hipérboles. (negrito do autor). Ele chega a considerar a hipérbole na linguagem  comum um vício, que, segundo ele,  pode até  redundar em ridículo, quando não “deselegante.” E, para fundamentar sua posição,  refere o caso de uma pessoa com nariz  grande: Ele tem o nariz do ‘tamanho de um bonde.’ Ou essoutro de um pai  elogiando a inteligência do filho: ‘Ele é um Rui, um verdadeiro Rui Barbosa.’ Para o eminente gramático,  tais expressões  não devem ser imitadas, são “antipáticas.” Naturalmente,  aqui o autor não se refere ao uso literário de hipérboles que,  tem uma função expressiva,  na condição de figura do pensamento. Ou seja,  pertence ao domínio da estilística.

    2.6    A psicologia e o vocábulo


              Para Walmírio de Macedo a língua não está dissociada da psicologia   humana. O individuo sofre as influências do que o  circunda nas situações  sociais diversas com que se depara na vida. Para este gramático a lógica da língua é diversa da lógica da matemática. Recorrendo ao linguista George Galichet,   pondera que a lógica da língua é psico-lógica.[26] (negrito do autor).
                Observa ainda que, ao falarmos,  cada palavra sofre o efeito de uma “carga psicológica do  sujeito falante.” Salienta que a língua  não é somente   o vocabulário, porém  uma construção, sinalizadora de uma sensibilidade e afetividade, de uma emoção a todo instante, posto  que, acrescento eu, seja   comunicada de forma  objetiva, num plano   impessoal.
                 Segundo ele,  o indivíduo quando afirma que “faz frio” ou  “chove” não só vai  apenas transmitir  uma  dada  sensação de frio ou de condição meteorológica. Na sua  gestualidade  o fator psicológico  acompanha a mensagem  linguística pela “inflexão de voz,” a “expressão de prazer ou desprazer” além da manifestação  ou não aliada  à “ideias de calor ou frio ou de chuva.(negritos do autor).
                Explica ao leitor  o que seja “afetividade” na linguagem e a conceitua: “A afetividade é o sinal exterior do interesse pessoal que sentimos pela realidade.”[27] Em seguida, lembra que há sufixos “afetivo-pejorativos” e dá como exemplo o vocábulo ‘gentinha,”  o que não significa  neste caso ‘gente pequena,’  quer  dizer,  não se lhe está dando uma ideia de diminutivo apenas, porém de “gente má” e eu completaria: gente de condição social muito baixa, gente desprezível. Menciona ele outro exemplo  semelhante  com o vocábulo “gentalha,” com a acepção de gente de baixo  estrato social, desprezível. Adiante,  fornece outros exemplos com sufixos diferentes, explicando-lhes o significado:

 ‘Valentão’ – não é um ‘valente grande’ mas ‘um falso valente,’ um arruaceiro.
   ‘Barbudo’– não é apenas   ‘o que tem barba,’ porém o que tem uma barba feia,   ou  suja ou qualquer coisa de ruim.

                 Mais adiante,   informa que o sufixo “asto,” ou “astro” denota “coisa ruim” além de significar aquilo que não é “castiço,” bom, legítimo”: Poetastro– um mau poeta; Medicastro – um mau médico. E assim nos exemplos:
        Padrasto – mau pai; madrasta – mãe ruim; ‘mulheraça’ – “mulher masculinizada,” ao contrário, acrescento eu, de mulherão – uma mulher grande e de atraentes qualidades  físicas
             Walmírio de Macedo aproveita o tema em questão para narrar uma bem urdida e até cômica historieta por ele mesmo  inventada de uma moça  recém-casada, cujo relacionamento amoroso vai-se esboroando com o passar do tempo e à medida em que o marido vai dando sinais de modificação de comportamento não condizente com o da vida de um casal feliz.
            Para ilustrar o efeito semântico  que tem um  vocábulo palavra, no  caso, “palavra,” grafada primeiro no diminutivo, “palavrinhas,” em seguida,  “palavras” e finalmente “palavrão.” Ou seja, a deterioração dramática da vida da esposa vai-lhe modificando o que pensa do marido  e, nessa modificação,   se pode ver como a língua  também acompanha  o estado  psíquico de uma pessoa traduzido na modificação de sentido e da forma  de uma  vocábulo: “palavrinhas” > “palavras” > “palavrão.” A situação dessa historieta evidencia  que ela tem um desfecho que se avizinha do trágico na trama e bem assim no  seu desfecho metalinguístico.[28]
               Mais adiante, o filólogo aponta  o emprego da afetividade e seu efeito na concordância verbal. Para ilustrar recorre aos exemplos abaixo:

  Como vamos de saúde’ ?,   em vez de Como vai de saúde?’
 ‘Com estamos de negócios, ó Antônio’?
 
                Nos dois casos,  explica o autor: “Quando indagamos de alguém  a quem queremos bem como vai, como está etc., geralmente empregamos a 1ª pessoa do plural. É um sinal de afetividade.” [29]
               O professor traz à baila mais um caso de afetividade, desta vez relativo à   sintaxe de  colocação e, por conseguinte,  acarretando modificação semântica: Veja nos exemplos  dados por ele:

   Filho meu, onde andas?,   Ó mãe minha, como choro a tua ausência!

             Rematando o capítulo,  o autor anda inclui na afetividade linguística  a figura do anacoluto, também denominada “frase quebrada.” Produto da afetividade,  o emprego do anacoluto, a meu ver,  é mais comum no discurso oral e, para  Walmírio  de Macedo,   nele está  embutido  um “reflexo  da afetividade, do sentimento de quem escreve  ou fala.”[30]  A palavra na frase resulta solta,” “sem lógica” e,  assim mesmo,  damos  continuidade à construção fraseológica. O autor reconhece aí a interferência psicológica, afetiva, emotiva no discurso,  provocando, assim, uma alteração da ordem (lógica) das palavras na frase. Refere a uma situação em que alguém,  se lhe dirigindo,  emite um  julgamento moralmente  desfavorável  de  outrem, por exemplo,  Carlina.
               O autor, diante da “decepção e “surpresa” com o mau comportamento ético de Carlina, preso pelo impulso afetivo,  faz esta afirmação: “Carlina, nunca pensei que ela fosse desse tipo de gente.”  (negrito do autor). No entanto,   para o gramático, o emprego bem eficaz do anacoluto, “sem exagero,”  propicia  uma “elegância” na construção  frasal.

 2.7 Vocabulário que se deve evitar: estrangeirismos

          Sendo, conforme já  acentuamos páginas atrás, um vernaculista,  um cultor rigoroso  da Língua Portuguesa, Walmírio de Macedo, no tocante a questão dos estrangeirismos, mais uma vez  manifesta-se a  favor de uma regra de ouro: usar sempre as palavras portuguesas  e, só em alguns casos,   específicos,  utilizar-se de  um vocábulo correspondente  em língua estrangeira, coma condição, segundo ele, de que os estrangeirismos sejam adaptados  à grafia  portuguesa.
           Neste caso, cita a palavra de origem inglesa futebol, que provém de “foot-ball”  e que, para ele,  é “insubstituível.” Embora em nossa língua se tenham criado vocábulos  para denotar a mesma ideia, eles não “vingaram,” como são exemplos “balipodo e ludopédio. Com leve ironia,  o  filólogo faz a seguinte pergunta  ao leitor: “Por acaso, meu gentil leitor, ouviu você alguém dizer: Vou ao balípodo no Maracanã?”[31]
        É bem  verdade que o autor não se mostra intransigente com a contribuição de vocábulos  provindos de outras línguas cujos povos  mantêm contatos com outras nações por motivos diverso; comerciais, culturais, científicos etc. Desta maneira,  alguns  são adaptados ao português e outros são substituídos. O professor Walmírio de Macedo relacionou alguns exemplos  de estrangeirismos das línguas francesa (a maior parte da lista apresentada) e inglesa, aos quais chamamos, respectivamente,  galicismos e anglicismos, não obstante se sabe que, no português do Brasil e certamente  europeu ou nas  ex-colônias outras línguas tenham aumentado nosso léxico pelos motivos já mencionados acima.
         Da lista de estrangeirismos é lícito  citar aqueles vocábulos que, sem nenhum problema,  podem ser substituídos por  palavras vernáculas ou se serem adaptados à grafia  portuguesa em virtude de haver dificuldade de substitutos. Vejam-se alguns  exemplo mencionados pelo autor:
   
a)     Do francês:

Pivô < pivot, que melhor seria substituí-lo por “eixo,” “base,” “essência”.
Placar <  placard, melhor seria usar “cartaz.”
Gare -  poderia ser substituído por “estação.”
Greve <  greve, embora muito empregado ( pelo menos no tempo da escrita de O poder das palavras), coexistia com  o vocábulo “parede.” Hoje,  pelo que  se vê,  é muito  mais frequente  o termo de origem  francesa adaptado apenas com a omissão do acento grave em francês.

b)      Do inglês:

Match:   é substituído pelo  vocábulo “partida, “jogo.”
Reide: adaptação do inglês “raid”. Pode ser trocado por “excursão.” “exercício violento.”
Recital: pode ser substituído por “audição,” “concerto.”
Récorde: adaptação de ‘record.’ Difícil de ser substituído.

3) A importância  desse tipo de obras e seu alcance  junto aos leitores


         Com a exceção das gramáticas normativas que denominei de mistas, dificilmente o leitor comum teria acesso  a estudos funcionais  da Língua Portuguesa e julgo que não estou   exagerando a relevância  da natureza dessas obras. Primeiro,  porque esses estudos são escritos  para atenderem  às suas  necessidades básicas no que  tange à melhoria  de seu conhecimento  do vernáculo. Segundo,  porque a complexidade  da linguagem dos estudos  nas gramáticas acadêmicas ou formais   de que dispomos, em algumas questões  não está ao alcance  das pessoas  não  especializadas em exposições  avançadas e eruditas. O leitor-alvo dessas gramáticas avançadas seriam   alunos de Letras,  os professores de língua e literatura do ensino médio e os  professores do ensino superior de Letras.
        No entanto, para os usuários em geral, que necessitam  de conteúdos gramaticais   de consulta  imediata  e sem hermetismo nem  pretensão de se tornarem linguistas, gramáticos ou filólogos, é que se escreveram  e ainda  se escrevem obras gramaticais  para concursos,    revisão  de estudos de Língua Portuguesa,  quer dizer,  estudos do Português para fins  práticos.
    Outra razão para consultas a essa  obras explicadas em linguagem  clara,  simples e didática se deve a uma especificidade que nelas se patenteia: são, na maioria,  obras de referências,  que fazem às vezes  de dicionários, notadamente em itens gramaticais tais como: coletivos,  nomes gentílicos,  aumentativos e diminutivos,  sinônimos, antônimos, homônimos, parônimos, vozes de animais. Ora,  esse espectro de palavras a muito  custo  se encontra reunidos nas diversas listas   em que se apresentam à disposição do  leitor.  Sou testemunho de frequentemente  ter me valido  dessas facilidade de consulta rápida.   É exatamente nessa direção de objetivos   que vejo a importância dessas obras ou gramáticas práticas.



Conclusão


        Este ensaio  teve por escopo  prestar uma  homenagem a muitos  autores   didáticos que, no país,   se dedicaram  a ensinar  a Língua Portuguesa ou  a escrever de forma  simplificada  acerca de   questões gramaticais  que, na opinião deles,  iriam  tornar o ensino do vernáculo  menos complicado e propiciar aos  leitores  de inúmeras  atividades  profissionais uma oportunidade de ter acesso  a essa maneira  praticamente informal   de melhorar  o repertório  linguístico  desse público.
      Por saudável coincidência,  um estudioso  da Língua  Portuguesa, o professor Walmírio  de Macedo,  do meio acadêmico universitário,   foi  também  um tempo  um autor  que  produziu  alguns  livros  práticos, inclusive em coautoria com  outro autor de obras  funcionais, e por outra feliz coincidência,  o professor Luiz A P. Victoria. Nada me foi mais   agradável  do que juntar os dois autores  a fim de que  constituíssem o corpus deste ensaio e, mais uma vez,   em particular  render meu tributo a ambos  pela dedicação   e amor aos estudos de Língua Portuguesa que ambos,  como outros autores de obras práticas, hoje tão esquecidos,   sempre  demonstraram em vida. 



NOTAS







[1] CEVASCO, George A. Grammar self-taught. New York, N. York: Washington Square Press, Inc., 1963.
[2] Gramáticas acadêmicas de autores brasileiros seriam, entre outras e com níveis diferentes  de aprofundamento teórico, as seguintes: Gramática portuguesa: curso superior, de João Ribeiro; Gramática secundária da  língua portuguesa, de Said Ali; Gramática expositiva, de Eduardo Carlos Pereira; Gramática  da língua portuguesa, de Carlos Góis & Herbert Palhano; Moderna gramática expositiva da língua portuguesa, de Artur de almeida Torres; Moderna gramática portuguesa, de Evanildo Bechara; Nova gramatica do português contemporâneo, de Celso Cunha & Lindley Cintra, sendo este último  autor português; Pequena gramática, de Adriano da Gama Kury. Gramática resumida,  de Celso  P. Luft; Gramática fundamental da língua portuguesa, de Gladstone Chaves de Melo; Gramática normativa da língua portuguesa, de Rocha Lima;  Gramática descritiva do português, de Mário Perini; Nova gramática do português brasileiro, de Ataliba T. de Castilho; Gramática  da língua portuguesa padrão, de Amin Boainain Hauy; Gramática Houaiss da língua portuguesa, de José Carlos de Azeredo; Gramática de usos do português, de Maria Helena de Neves Moura.
[3] Gramática  mistas seriam,  entre outras,  por exemplo,  em diferentes níveis de  aprofundamento de conteúdos e respeitando as épocas de publicação de cada uma e   em virtude de pesquisas mais recentes de outras : Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida; Novíssima gramática da língua portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla;  Gramática  aplicada, de Hamilton Elia; Nossa gramática: teoria e prática, de Luiz Antônio Sacconi; Gramática aplicada da língua portuguesa, de Manoel P. Ribeiro.
[4] VICTORIA,  A. P. Aprenda a falar  e a escrever corretamente sua língua. Rio de Janeiro: Organização Simões,  1953.
[5] MACEDO, Walmírio  de. O poder das palavras. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s.d.
[6] SILVA FILHO, Cunha e.  As Faculdades de Letras. In: __Breve introdução ao curso de letras: uma orientação. Rio de Janeiro: Litteris/ Ed. Quártica, 2009, p. 16-17.
[7] Na verdade,  o presente  ensaio  tinha por meta mais ambiciosa pesquisar   um número bem maior desses estudos práticos de Língua Portuguesa. Reitero, entretanto, que,  me  restringindo a só dois  autores,  com isso apenas  estou  considerando-os como indicações  que seguramente levariam   a outras pesquisas de maior monta sobre o assunto.  
[8] FREIRE, Laudelino. Regras prática para bem escrever. 3. ed .Rio de Janeiro; Livraria Odeon, 1937, 93 p.
[9] Ver o verbete sobre Gomes Amorim in  PRADO COELHO, Jacinto do.  (dir.)  Dicionário de literatura,  3. ed. Porto: Figueirinhas,  1973. 1º volume, A/K, p. 52.
[10] TAVARES,  Hênio.Teoria literária. 8. ed. revista e atualizada. Belo Horizonte:  Itatiaia, 1984, p.154. A referência nessa citação diz respeito ao  poema “Camões” com o qual Almeida Garrett iniciou o Romantismo  em  Portugal.
[11] BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.  38 ed. São Paulo:  Cultrix,  2001, p. 320.
[12]  O poder das  palavras. Op. cit.
[13] FIGUEIREDO, Fidelino.  A luta pela expressão: prolegômenos para uma filosofia da literatura. Coimbra: Nobel,  1944.
[14] MATTOSO CAMARA JR, Joaquim. Princípios de linguística geral. 4. Ed. Rio de Janeiro: Acadêmica,  1964.
[15] Op. cit.,  p. 15.
[16] Idem, ibidem
[17] Idem, ibidem.
[18] Idem, ibidem. Cf. LAPA, M. Rodrigues. Estilística da língua portuguesa.  6. ed., Corrigida e acrescentada pelo autor. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1970, p. 16, na edição  que consultei. Dada a natureza  prática  de O poder das palavras,  o autor não remete o leitor  à fonte da obra citada com os devidos dados de imprenta.
[19] Idem, ibidem, p. 15.
[20] Idem, ibidem, p. 34.
[21] Idem ibidem, p. 37.
[22] Idem,ibidem, p. 37-38.
[23] Idem, ibidem, p. 40.
[24] MACEDO, Walmírio de. Dicionário de gramática. Rio de Janeiro:  Edições de Ouro, 1979.Ver nessa obra p. 122.
[25] O poder das palavras. Op. cit., p. 43.
[26] Idem, ibidem, p. 45.
[27] Idem, ibidem, p. 46.
[28] Idem, ibidem, p. 46-47.
[29] Idem, ibidem ,  p. 47.
[30] Idem ibidem.
[31] Idem, ibidem, p. 56.



Referências  bibliográficas

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Nota: Ensaio publicado na Revista da Academia Brasileira de Filologia. Nº XXI, Nova Fase. Segundo semestre de 2017, p.48-62.


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