Por Gilvaldo Quinzeiro.
O escritor, ensaísta e crítico literário
Cunha e Silva Filho concedeu uma entrevista a Sky Culture e-Magazine. Nesta entrevista, Cunha e Silva Filho, que
também é Pós-Doutor em literatura brasileira, fala, além do seu mais recente
livro; de Ferreira Gullar, Adailton Medeiros, da literatura piauiense e da
atual conjuntura política brasileira.
Cunha e Silva Filho é piauiense de
Amarante, mas hoje reside no Rio de Janeiro. Confira a entrevista.
Sky
Culture e-Magazine: Quem é Francisco da
Cunha? Fale-nos também da sua atividade cultural.
Cunha
e Silva Filho: Sou um escritor nascido em Amarante, Estado do Piauí, que,
atualmente, vive de escrever sobre gêneros
diferentes: crônicas, ensaios,
crítica literária, resenhas, traduções de poesia, memórias e temas relacionados à política nacional e
internacional. Uso o nome literário Cunha e Silva Filho na minha produção
acadêmica e fora da academia.
Por influência paterna, fui, ainda
adolescente, levado a escrever sobre literatura em jornais de Teresina, capital
do Estado do Piauí. Em 1964, deixei Teresina para estudar Medicina no Rio de
Janeiro, mas logo mudei meus planos e decidi ingressar no curso de Letras
(Português-inglês) da antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do
Brasil, hoje UFRJ. Paralelo a isso, continuava a enviar artigos para jornais de
Teresina. Ingressei por concurso de provas e títulos no magistério municipal e estadual do Rio de
Janeiro, lecionando português, literatura brasileira e inglês. Mais tarde,
voltei à Universidade Federal do Rio de Janeiro para fazer Mestrado em Literatura Brasileira,
em seguida, Doutorado em Literatura Brasileira e, finalmente,
Pós-Doutorado em
Literatura Comparada.
Fiz novamente concurso de provas e títulos para a disciplina de língua Inglesa do centenário
Colégio Militar do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, fui lecionar Literatura
Brasileira e Língua Inglesa no curso de Letras e de Comunicação e Jornalismo da
Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro. Foram longos anos de magistério
médio e uma década de superior. Atualmente, estou aposentado da atividade
docente, mas, sempre que possível, publicando livros, prefácios, traduções,
crônicas, artigos em blogs, sites, jornais e revistas culturais .
Sky
Culture e-Magazine: Qual o seu gênero literário? Quais obras publicadas?
Cunha
e Silva Filho: Segundo afirmei na
pergunta anterior, utilizo mais de um
gênero literário na minha atividade
escrita.. Além de outros livros coletivos, tenho as seguintes obras
publicadas: Da Costa e Silva:
uma leitura da Saudade. Teresina: Academia Piauiense se de Letras/ Universidade
Federal do Piauí, 1996; As ideias no
tempo (Teresina: Gráfica do Senado Federal/Academia Piauiense de Letras,
2009); Breve introdução ao curso de
Letras uma introdução (Rio de
Janeiro: Litteris Ed: Quártica, 2009); Apenas
memórias (Rio de Janeiro: Quártica,
2016). Por outro lado, devo
assinalar que disponho de um vasto
número de textos publicados em jornais, revistas no meu Blog “As ideias
no tempo” e no site de literatura
“Entretextos”, coluna “Letra Viva”, que,
organizados, me renderiam pelo menos
mais alguns livros.
Sky
Culture e-Magazine: Atualmente, o Senhor está se dedicando a escrever algum
livro? Se sim, fale-nos um pouco a respeito. Tem previsão de lançamento?
Cunha
e Silva Filho: A par dos livros publicados referidos atrás,
tenho quase prontos, faltando
apenas organização final, as
obras: As duas face da literatura: ensaios
de literatura brasileira), Poemas
traduzidos, Ensaios de literatura de autores piauienses, Poliedro de insânias (crônicas e artigos). Pretendo também publicar
Tese de Doutorado, de título O conto de João
Antônio: na raia da malandragem, meu ensaio de pesquisa de Pós-Doutorado, de título Álvaro
Lins e Afrânio Coutinho: dois críticos e uma polêmica (2014). Não obstante
estar escrevendo sempre no meu Blog “As ideias no tempo” e no
site “Entretextos”, direção do
escritor Dílson Lages, coluna
”Letra Viva,” alguns textos postados
nesses dois espaços virtuais são postados também
no site www.academia.edu., - Francisco da Cunha e Silva Filho.
Obviamente,
todos os livros inéditos já referidos estão esperando
para serem editados.. Não sei se
serão editados. Por outro lado, nutro o desejo de escrever mais
ensaios sobre literatura
brasileira ou mesmo de literatura estrangeira, assim como continuar
fazendo mais traduções de poesia. Não vou parar por falta de editores. Ficaria, sim, regozijado se essas
obras viessem à luz. É impensável a ideia de parar de escrever, que é o que
conta para qualquer escritor.
Sky
Culture e-Magazine: Como o Senhor
vê a atual produção literária
brasileira? Há algum autor ou obra que o Senhor destacaria?
Cunha
e Silva Filho: O país está em crise
financeira, porém, apesar
disso, a literatura continua sendo produzida e muito, seja custeada
pelos autores, seja editada pelo mercado, instituições culturais, convênios,
fomentos, editoras universitárias e outros meios, dentro os quais os blogs, os e-books, os sites. Sei que o número
é grande, no entanto,
posso afirmar ser, em muitos autores, de alta
qualidade.
.Os autores se multiplicaram por toda a parte do país. São muitos e muitos jovens
escritores com projetos de manter-se em
atividade, seja na ficção, na
poesia, no ensaio. Nesta
entrevista, vou puxar a brasa para a
minha sardinha. No Piauí, por
exemplo, estamos assistindo a uma movimentação
intensa e jamais vista de novos
autores, poetas, romancistas, contistas,
ensaístas e críticos literários. Muitos deles incursionam por mais de um gênero literário. Este impulso formidável que os
autores piauienses tiveram
deveu-se, em grande parte, à
criação das universidades federal, estadual e privada, espalhando-se por campi
fora da capital e aumentando, desta maneira, o número de alunos que ingressam no ensino superior e, por
consequência, aumentando o quadro de
professores contratados ou concursados, muitos vindo até de outros Estados brasileiros.
Ademais,
com a criação local
de cursos de pós-graduação lato sensu e stricto
sensu, a melhoria da qualidade do ensino se fez notar
com o tempo. Outro fator
determinante do avanço no campo da literatura piauiense foi o surgimento de
editoras locais que
começaram a editar livros
dos autores piauiense, tanto
obras literários quanto ensaios e, em
menor número ainda, livros didáticos para o ensino médio e
universitário. Citaria, por exemplo, da
atualidade os poetas Luiz Filho de Oliveira, Nathan
Sousa, o ficcionista Rivanildo
Feitosa, o contista Milton Borges, o ficcionista, poeta e ensaísta Dílson Lages Monteiro, o ficcionista e ensaísta
Halan Silva, as ensaístas
Terezinha Queiroz, Raimunda Celestina Mendes da Silva, os poetas
e ensaístas Wanderson Lima, Ranieri Ribas, o poeta Adriano
Lobão, o ensaísta João Kennedy Eugênio, a romancista
Socorro Abreu, a ficcionista Lara
Larissa, o contista Geovane Fernando
Monteiro, o poeta, cronista e jornalista
Zózimo Tavares, o poeta Élio Ferreira de
Sousa, entre os mais moços ou pouco menos moços..
Dos mais velhos ou menos velhos podem ser
nomeados o veterano e nacionalmente
respeitado Assis Brasil,
romancista notável, crítico
literário, historiador da literatura brasileira, dicionarista
teórico, autor didático da literatura brasileira, com vários livros
de literatura infanto-juvenil, o
ficcionista O. G. Rego de Carvalho, o
romancista Fontes Ibiapina, o contista Magalhães da Costa, o ficcionista e
ensaísta Esdras do Nascimento, o
ficcionista Castro Aguiar (
infelizmente, abandonou a carreira literária), o contista,
romancista e memorialista José
Ribamar Garcia, o ficcionista e crítico
literário Humberto
Guimarães, a romancista Rita de
Cássia Amorim Andrade, o romancista Homero Castelo Branco (também memorialista), o romancista, dicionarista
literário, historiador, autor didático, poeta, contista, cronista Adrião Neto, o ficcionista Oton Lustosa, a
contista e romancista Rosa Kapila, entre
outros.
Dos poetas menos novos, contudo ainda não
velhos, mencionaria, entre outros, Herculano Moraes (também poeta e conhecido historiador literário), o poeta e cronista e divulgador
de autores mais novos Cineas Santos, Elmar Carvalho (também ficcionista, cronista, contista e
memorialista), o poeta, teatrólogo e divulgador cultural Virgílio Queirós, o poeta, contista e ensaísta José Bezerra Filho, o poeta, ensaísta,
crítico literário e historiador
literário Alcenor Candeira Filho, o poeta tropicalista Torquato Neto, Rubervam Nascimento, Carlos Alberto Gramoza, Paulo Machado, Carvalho Neto, a poeta Graça Vilhena, o incansável pesquisador cultural Kenard Kruel, entre muitos outros autores dignos de estudos
Entre os mais velhos ou não tão velhos,
ainda se encontram em atividade, maior
ou menor, o ensaísta (geralmente de viés filosófico), jurista e
memorialista Celso Barros Coelho, o
crítico literário M. Paulo Nunes, o jornalista e ensaísta Carlos Said (incansável divulgador da literatura piauiense), o ensaísta, poeta e ficcionista Francisco Venceslau dos
Santos, o ensaísta Fabiano de Cristo
Rios Nogueira, o ensaísta Jose Carlos de Santana Cruz,
a ensaísta Maria do Socorro Rios Magalhães, a ensaísta Maria Gomes de Figueiredo dos Reis,
o ensaísta, ficcionista, cronista,
e autor didático sobre
língua latina, Carlos Evandro
Eulálio (grande estudioso do poeta Mario Faustino) o poeta e ensaísta Hardi
Filho (falecido não faz muito tempo), o poeta,
cronista, contista, romancista,
crítico literário e historiador literário Francisco Miguel de Moura, entre outros.
Quanto a
novos ou menos jovens autores que
já foram
consagrados nacionalmente, a
minha primeira intenção era não mencionar nenhum
por enquanto, já que parte das
minha pesquisas se volta mais
para autores mais velhos, bem velhos ou já falecidos. Contudo, entre os
novos e um pouco menos novos, a
literatura brasileira pode contar
com um grande número de nomes
já com sucesso ou a caminho do
sucesso.
Entretanto,
para não dizer que não mencionei alguns autores com maior
reconhecimento nacional na ficção, teríamos, entre outros, os nomes
Godofredo de Oliveira Neto, romancista e
ensaísta, Bernardo Carvalho, João
Gilberto Noll, Milton Hatoum, Luiz Rufatto, Patrícia Melo, Michel Laub,
Marcelino Freire, Ana Miranda,
Cristovão Tezza, Paulo Lins, Adriana Lisboa,
entre muitos outros que aí
estão experimentando novas linguagens, novos temas, novos desafios e caminhos
para a literatura brasileira.
Na poesia, sendo a quantidade de autores
muito grande, novas vozes poéticas se
cruzam com vozes mais experientes num profusão de nomes, muitos bons ou ótimos,
outros apenas desejosos
de parecerem poetas mas que não trazem nenhuma novidade nem originalidade a seus
versos.
Contudo,
podemos pensar em nomes como os
de Alexei Bueno, Armando Feitas Filho, Ana Cristina Cesar, Cacaso, Glauco Mattoso,
Paulo Leminski, Torquato Neto, Bráulio
Tavares, Francisco Alvim, Geraldo
Carneiro, Chacal, Sebastião Uchoa Leite, Lélia Coelho Frota, Nelson Ascher,
Ivan Junqueira, Adélia Prado, Bruno
Tolentino, Regis Bonvicino, Paulo
Henrique Britto, Duda Machado, Age
de Carvalho, Salgado Maranhão, Eucanaã
Ferraz, e tantos outros poetas, cada qual fazendo
a sua própria caminhada poética
e indiferentes aos antigos grupos,
manifestos, teorias poéticas, novas vanguardas, quer dizer, uma poesia
que pode permanecer a despeito
de marcos temporais, além dos ismos.
Porém, sem perder o pé consciente no
legado da tradição literária
constituída pelos grandes
poetas brasileiros do passado, tradição
esta que, por sua vez, está associada
à grande tradição literária universal, sobretudo do Ocidente..
Sky
Culture e-Magazine:
Recentemente perdemos o poeta Ferreira
Gullar, sobre o qual o Senhor escreveu. Qual a importância de Ferreira Gullar?
O que significa a morte de Ferreira Gullar para a literatura brasileira?
Cunha
e Silva Filho: Depois de alguns
livros consagrados (A luta corporal, O poema sujo)
pela crítica especializada, o
poeta Ferreira Gullar, no meu
juízo, passou a ser conhecido
nacionalmente por dois
motivos fundamentais: o primeiro motivo por ter sido o
principal teórico e mentor do chamado
movimento neoconcretista (1959) da poesia brasileira; que foi a dissidência
diante do Concretismo
de 1956, quando retomou para a poesia
a valorização do discursivo e não
do meramente vanguardismo subversor
do verso de corte tradicional da geração de 45.
O
geometrismo, o espacialismo, a
atomização ou desarticulação vocabular, o trinômio verbo-voco-visual
concretista já apresentava o desgaste desse tipo
de poesia
espácio-visual-semântico, que - não se pode omitir
este fato -, deixou algumas
marcas, sobretudo, no espaço da
página em branco das formas poéticas que se lhe seguiram. Gullar soube
discernir uma forma de poesia
renovadora que poderia dar
certo sem se submeter
aos poemas gráficos e geométricos. Não se poderia permanecer indefinidamente imitando
o espaço branco da página
lembrando formas figurativas,
tipográficas. A poesia é também sintaxe,
sentido e vida. Alia as formas de
desvios semânticos, sonoros e rítmicos,
sem necessariamente ficar presa ao visual-espacial-geométrico.
O
que importa é o poema bem
realizado e esteticamente inovador.
Daí também ter sido Gullar
um crítico ácido a tudo aquilo que, nas formas da pintura, por exemplo, ou nas artes
plásticas em geral, se
apresentasse ao público como objeto artístico, como obra de Arte, como foi o exemplo do urinol e Marcel Duchamp exibido
no Salão dos Independentes em Nova Iorque (1917).
O segundo motivo fundamental na sua
atividade de escritor, de crítico de arte e de cronista se assenta na sua visão
política, a qual sofreu igualmente
um processo de mudança, de um
esquerda na mocidade, passou
a ser, na maturidade e velhice, um crítico
corrosivo e implacável da esquerda
brasileira, mas sem aderência e submissões aos
exageros e danos do capitalismo selvagem ou às falácias de uma direita
contra qual também dirigiu sua
crítica e desta mostrou seus erros e vícios crônicos
sempre com coragem e uma certa rebeldia. Que tanto me agradavam
como leitor cativo de sua crônicas.
Não
houve nele retrocesso nem no campo
ideológico nem no das
artes em geral. Talvez,
conforme insinuou na última crônica tratando da questão da arte publicada na
sua coluna de domingo da Folha de São Paulo, estivesse esperando por
uma nova arte, uma nova
linguagem, não simulacros ou contrafações sem valor algum do prisma artístico..
Procurou a beleza das formas bem
arquitetadas, sem, entretanto, negar
a tradição, que ensina, e sem
se render à mesmice
no domínio do poético.
Sky Culture e-Magazine: O Senhor foi amigo do poeta Adailton
Medeiros? O que o Senhor tem a nos dizer sobre Adailton Medeiros?
Cunha
e Silva Filho: Francamente, diria que conheci o poeta Adailton
Madeiros, nascido em 1938, em Angical,
Caxias, Maranhão, mais do ponto
de vista da amizade do que
mesmo como poeta lido
em
profundidade.. Era meu intento pelo menos
estudar sua poesia em trabalho de maior
fôlego. O que li dele como poeta
e como ensaísta foi suficiente para
reconhecer-lhe os méritos.). Adailton
Medeiros se distinguia também
como um
dicionário ambulante da vida literária brasileira. Conhecia os bastidores de muita gente, sobretudo dos
mais velhos da vida literária nacional.
No
entanto, sua participação nos movimentos de vanguarda se deu por ter
aderido ao movimento
poesia-práxis (ou praxismo) proposta
poética revolucionária que, a partir de 1962, ano de seu aparecimento, no geral, se
opôs a todo o passado da poesia
brasileira, sem, é claro, descartar
alguns traços das outra
vanguardas precedentes. Seu
teórico maior foi o poeta Mario Chamie, com o livro-chave do movimento, Lavra lavra (1962) Sua orientação teórica
se fez em torno da revista Práxis,
a qual publicava os poemas do grupo.Como o Neo-concretismo, teve viés social e
popular. Aproveitou as
contribuições advindas dos mass media, mas recusa
a armadura mecanicista do
Concretismo..
Emprega amiúde
os vocábulos dispostos em
forma de linhasignos (ou linossignos),
os recursos da teoriada nformação.Seus poemas,visualmente, procuram
uma disposição gráfica do poema numa leitura horizontal, vertical, cruzada,
necessitando para tanto da colaboração do leitor. A poesia-práxis
não subestimou o valor do verso, da semântica.Assim, não perdeu
seu valor estético, emotivo,
significativo e humano..Adaílton
Medeiros publicou os seguintes
livros de poesia: O sol fala aos
sete reis das leis das aves ( (1972); Cristó-vão
Cristo: Imitações (1976); Lição do
mundo ( Rio de Janeiro: Edição-7, 1992); Bandeira vermelha ( Editora
Caetés, 2001), Poema Ser Poética e mais oito Pré-Textos ( Rio de Janeiro: Achiamé,1982), com introdução de Francisco Venceslau dos Santos. Em prosa: Braçadas de palmas (discurso, 1981), Floração de Minas (discursos, 1982), Quatro ensaios, in SAMUEL, Rogel. (org.). Literatura básica. Petrópolis,RJ.: Vozes, 1985, v.1) Na ficção:
escreveu a novela Revoltoso Ribamar Palmeira (Rio de Janeiro:
Matacavalos, 1978).
Da
sua biografia intelectual é curioso
acrescer que Medeiros
escreveu em poesia sua dissertação de Mestrado, sob o
título Poema Ser Poética
e mais oito Pré-Textos submetida à Faculdade de Letras da UFRJ e por esta
aprovada. Dele verti para o
inglês um poema “Sinos,” extraído do livro Bandeira vermelha (p.78) atrás
mencionado. A minha versão foi, posteriormente, publicada na IX Antologia
internacional palavras no 3º milênio (São Paulo: Phoenix Editora,
11, Homenagem póstuma, 2010).
Sky
Culture e-Magazine: O Senhor esteve
recentemente no Piauí, fazendo o lançamento do seu mais recente livro. Fale-nos
desse lançamento e do seu livro.
Cunha
e Silva Filho: O livro em
consideração tem o título de Apenas memórias 1.ed. (Rio de Janeiro: Quártica, 2016, 304 p.). O
seu lançamento, primeiro, se deu no Rio de Janeiro, depois, o lancei em Teresina, Piauí. Foi um lançamento festivo,
em memorável noite de autógrafo,
com amigos, escritores e
familiares com direito à entrevista
concedida ao jornal Diário do Povo, Teresina, Piauí,
e entrevista filmada
concedida ao jornalista e ficcionista
Rivanldo Feitosa da TV
Meio-Norte. A apresentação do meu
livro ficou por conta
do escritor Dílson Lages Monteiro, que
escreveu uma substancial
introdução lida num momento
do lançamento.
Foi o terceiro livro
que lancei em Teresina. A obra dá conta de considerável parte das
minhas memórias, desde os primeiros anos da minha infância
em Amarante, depois relatos do
final da infância da adolescência em Teresina
até à minha mudança para o Rio de Janeiro a fim de cursar uma universidade. Nessas
memórias, que não são rigorosamente cronológicas, repasso aos olhos do leitor
como se deu a minha formação
intelectual, iniciada em Teresina
e continuada no Rio de Janeiro.
O
mais importante nas memórias foi
traçar os tumultuados e aflitivos anos
dos meus estudos de Letras
na UFRJ realizados durante a ditadura militar
enfrentados com coragem,
determinação e vontade
de sair vitorioso. A minha vida pessoal, em alguns lances que alvitrei
escolher como fundamentais ao relatos
na obra, adquire toda uma carga de
emoção, momentos engraçados e situações desagradáveis, relatos escritos com
passagens às quais pudesse
imprimir um clima
poético com o objetivo de não entediar o leitor com
textos demasiado áridos. Suponho
que alcancei meus objetivos e oxalá que o leitor
tenha fruído com prazer
o meu texto.
Elaborei
a obra me utilizando de
relatos novos de mistura com textos
já publicados em jornais do Piauí, no meu Blog “As ideias no tempo” e
em sites que republicavam
os textos. Basicamente, pois, é tudo isso
que reuni num volume misturando passado presente e futuro. Acredito que o saldo foi positivo, principalmente porque,
num estreito círculo de leitores e amigos, o livro
mereceu elogios e, até
agora, sobre ele saíram quatro resenhas da obra feitas
por três especialistas em Literatura. e uma
por um experimentado jornalista
piauiense. Confesso que Apenas
Memórias foi um dos livros que, até à data presente, mais me deu prazer de
escrever e organizar.
Sky
Culture e-Magazine: O Senhor escreve
também sobre política. Como o Senhor ver o atual momento político do Brasil?
Cunha
e Silva Filho: Não é que desprezo a política brasileira, mas, quando sobre ela medito, só vejo à minha frente um cenário
sombrio, desesperador, onde campeia
sobretudo, além da politicagem,
o grave problema da corrupção
que ronda quase cem por cento dos políticos, não só dos que estão em Brasília, mas em cada
Estado da Federação. Por isso, só posso admirar
o que a Operação Lava Jato tem feito a fim de
punir efetivamente e afastar
de nossa
vida pública os maus
governantes, os ladrões que
infestam o nosso sistema político
e os nossos governos. Por tais motivos é que meus artigos têm, em geral, um cunho
polêmico, rebelde, satírico, irônico.
Não poderia ser de outra forma, já
que estão aos olhos perplexos dos cidadãos
de nossa Pátria as marcas
de desgoverno e da alta corrupção
de que foi vítima a sociedade
brasileira, pelo menos, de uns quinze
anos até à data presente.
Sinto, todavia, um pouco de alívio quando
os políticos, com todos os seus
defeitos e com todo um comportamento censurável,
depuseram a Sra. Dilma
Rousseff do poder e praticamente
liquidaram com a hegemonia do
lulopetismo que não podia mais governar
o Estado Brasileiro.
Vejo o
novo governo Temer, a despeito de nele ainda persistirem políticos que apoiaram
o lulopetismo, com a chamada base
aliada do PT, com alguma esperança de
que os atuais ocupantes do poder repensem
os malfeitos e procurem vias
de soluções democráticas com uma
nova forma de governar
menos contaminada de
falcatruas e desídias tão
recorrentes durante a era
petista.
Só espero que as mudanças que deseja implantar o novo governo não prejudiquem a geração de jovens que ingressaram e ingressam no mercado do trabalho e no setor público.
Só espero que as mudanças que deseja implantar o novo governo não prejudiquem a geração de jovens que ingressaram e ingressam no mercado do trabalho e no setor público.
No plano
internacional, tem sido um
objetivo primacial dos meus
artigos denunciar os crimes
cometidos por ditadores no mundo
inteiro, chamar a atenção
dos organismos internacionais responsáveis
pela segurança dos povos
oprimidos, das nações que não respeitam
sua sociedade civil, de governos que cometem
atrocidades em guerras civis que ceifam
milhares de inocentes pelo mundo
afora.Enfim, pelo uso da palavra, continuarei a deblaterar contra
os crimes contra a liberdade de expressão, contra o
terrorismo mundial, contra os genocídios praticados em pleno século XXI, contra os preconceito de toda
espécie, ou seja, meus artigos visam
ao desejo de ver o mundo, quer
ocidental, quer oriental, com mais
harmonia, paz e prática
do humanismo – único caminho para
se evitar o mal maior repugnado pela consciência dos homens de bem em qualquer parte e em qualquer
época.
Sky
Culture e-Magazine: Deixe o endereço do seu blog ou site, caso
tenha para que os nossos leitores possam acessar.
Cunha
e Silva Filho: Meu blog : “As ideias
no tempo”
Sky
Culture e-Magazine: Faça as suas
considerações finais.
Cunha
e Silva Filho: Quero agradecer ao
entrevistador, escritor Gilvaldo
Quinzeiro, pela oportunidade que me propiciou a falar um pouco da minha vida de escritor e de outras facetas resultantes
dessa atividade que requer
tanto desprendimento e tremendos
sacrifícios num pais onde é espinhoso um
intelectual conseguir, hoje mais do que
no passado, ser visível,
sobretudo quando não pertence
a grupelhos, igrejinhas ou
nichos que, em cada época,
tornam mais dificultosa a
penetração de alguns autores nos meios editoriais
mais mobilizados para os lucros
em produções que estejam afinadas com os vários tipos de obras de qualidade, muitas vezes, duvidosa. Não obstante todos
esses percalços enfrentados pelo escritor
brasileiro, ele não desiste. Sua
afirmação como produtor de obras
literárias ou de estudos teóricos
e críticos se situa acima das mesquinharias próprias
do ser humano.
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