Cunha e
Silva Filho
Escrever sobre um obra de estreia de um
jovem ficcionista torna a
responsabilidade do crítico ainda
bem maior do que escrever sobre um autor já conhecido e bem analisado
pela crítica. Desta vez, tenho diante de mim o livro de contos Paradeiro[1] do piauiense Geovane Fernandes Monteiro.
Segundo breves dados biobibliográficos fornecidos no final do pequeno
volume de contos, o autor, formado em Letras, escreve também
poesia, crônicas, artigos e já
tem a seu favor alguns prêmios conquistados
fora do Piauí. Fez parte de várias coletâneas pelo país afora, o que é bom
sinal de que o ficcionista pretende
mesmo dar continuidade à sua produção
e enfileirar-se ao número elevado de outros jovens
autores que serão
acrescentados à produção ficcional
brasileira. O Piauí, quer-me parecer,
já vai aumentando, ao contrário
do que havia no passado com o predomínio de poetas, substancialmente o número de ficcionistas na contemporaneidade,
de tal sorte que muitos escapam
ao conhecimento de quem faz
crítica literária, o que é, no mínimo,
natural nas condições hoje oferecidas a esta atividade que, no passado, foi muito intensa
em nosso vida literária.
Para um
estreante, devem-se acentuar de
início alguns pontos fundamentais de
construção ficcional nele evidentes: seu domínio narrativo, seu poder descritivo, sua boa dose de imaginação e sua forte tendência de
fundir a prosa e a poesia de molde a
resultar num texto que envolve o leitor
num espaço e tempo tendentes
a um mundo ficcional regido pela força do interioridade do que o mundo
empírico não é capaz de dar conta.
O que a leitura dos seus contos suscita é
aquilo que, em poesia, se chama de estranhamento,
os formalistas russos denominam de ostranenie,[2]i.e.,
desfamiliarização ou desautomatização
dos modos comuns pelos quais
percebemos a realidade e as
situações existenciais. Seu intento é o de impactar
o leitor. O mundo empírico, a partir desse desvio literário, assume uma nova forma de
“realidade” tanto em lidar
com o narrador quanto com a narrativa. Essa estratégia, no passado, já fora usada
por poetas como Wordsworth (1750-1850) e Shelley (1792-1822). A vanguarda, na
ficção e na poesia, da mesma maneira fez
uso desse traço linguístico-literário. O
mesmo diria da nossa poesia modernista
nas suas fases mais radicais.
Em Paradeiro
tal uso do estranhamento ocorre não só
ao nível do narrador mas também
no discurso literário. Ora, ao utilizar-se
de tal estratégia, Geovanne Monteiro não
vai satisfazer o leitor habituado ao romance de corte tradicional, mais focado
no enredo, nas peripécias da narrativa. Desta forma,
o horizonte de recepção da obra se encolhe para certas faixas de leitores e não atinge a maioria. Teoricamente, se elitiza.
Outro componente da linguagem que
logo nos chama atenção é a recorrência do emprego
da oxímoro ou do paradoxo ao
longo dos contos.Vejam-se, por exemplo, “(...) intenso e efêmero,”[3]
primeiro conto, “Paradeiro,” da primeira parte da obra, ou “(...) pequenez
profunda,”[4] ou
estoutro “(...) harmonia da desordem,”[5]conto
“Redescobrindo Teresina,” o quarto da primeira parte. Há também na sua
linguagem, diria na sua sintaxe literária,
um recurso bem original, que é o emprego
de um sintagma no qual o adjetivo e o
substantivo guardam um inusitada combinação de efeito antinômico a fim de configurar um
estado mental ou emocional de uma
personagem, segundo se constata nos exemplos “(...) em difícil doçura,”[6] conto
“Paradeiro”; “(...) severidade paciente;”[7] “(...)
contradição animada;”[8]
“(...) pobre superioridade,”[9] conto
“Redescobrindo Teresina.”
Tal
feição conduz a narrativa a exigir do
leitor uma constante reflexão diante de frases em tom sentencioso,aforístico,
hermetizando o discurso literário da
mesma maneira que,
na poesia contemporânea ou nas antigas vanguardas do início do século passado, a descodificação torna-se antes
mais sentida
do que explicitada, como se estivéssemos em pleno estado característico da
poesia simbolista, guardadas as proporções,com a conhecida recomendação
de Paul Verlaine (1844-1896): “sugerir sempre, nomear nunca.”
A sensação que passam ao leitor os contos
de Geovane Monteiro é a de um
mundo ficcional poetizado ou
metaforizado tanto no sentido dos sentimentos bons
quanto maus ou indeterminados.
O livro, segundo aludi acima, se divide em duas partes, ambas
com intenções bastante desarticuladoras: 1) “Histórias mal contadas ou entre o medo e a saudade”. Esta
se compõe de quatro contos, o primeiro dos quais dá título à obra; 2) “De volta ao esboço ou
fica comigo.” Reúne três contos.
Há que considerar, na compreensão
geral dos contos, o valor das parataxes relativas à primeira parte da
obra, usadas pelo autor, com citações de escritores
universais, Dostoiévski (1821-1881), Lao Tsé (605 a.C-531 a. C.) e Fernando Pessoa
(1888-1935); na segunda parte do volume, são citados, dois brasileiros de peso, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e João Guimarães Rosa (1908-1967) e um
estrangeiro, o famoso Franz Kafka (1883-1924).
O curioso e ao mesmo tempo relevante
é o fato de que em todos aqueles
autores nomeados, sem dúvida um exemplo de “isotopia narrativa”[10] convergindo,
é claro, para a unidade temática da obra por inteiro instaurada pelos termos “caminho,”
“paradeiro”(que aparece mais de uma vez
na obra), ou equivalentes, “regressam, saída,”extraviados,” “chegada,” “retorno,” “travessia” Propositalmente ou
não, esses termos fazem parte dos enunciados dos parataxes ou epígrafes. presentes,
segundo referi antes, no livro. Por
falar em parataxes, não se deve esquecer
que o autor, no início da obra, com sua
maneira desconcertante de escrever, inclui uma nota prévia ao leitor, a
qual corrobora a natureza estético-composicional de seus
contos no livro, sob o título “Aos
outros”:Este
livro esteve melhor escrito quando da falta de história tão fácil de contar.
Apenas leitores inconscientes de sua escrita salvariam minha literatura. Este
livro é minha pior bondade, pois – sem paradeiros – descubro o caminho.[11]
Na análise destes contos, há que
assinalar em todos eles o
componente estrutural do enredo, ou de uma trama, que, na obra,
recebem um tratamento "contra-ideológico"
no que concerne às narrativas
tradicionais lineares ou mesmo
não lineares.
Paradeiro persegue algum enredo?
Conta uma história? Contém ações? Sim, contudo
de forma subvertida. Assim se dá no
primeiro conto, “Paradeiro,” uma história que fala de um homem velho,
já vencido pelo cansaço da vida e do seu passado, Antônio Soares
Monteiro. Seu presente é a sua relação com
os filhos, suas netas. Sua vida
consiste em tentar se equilibrar entre as memórias do passado no sítio e a sua
pálida vida presente de idoso e divorciado.
O narrador deste conto não deseja apenas situar a figura do velho Monteiro no espaço familiar e no espaço exterior, da rua, dos conhecidos, das conversas. O que mais interessa ao
narrador é a vida interior da personagem
nuclear, captar-lhe os anseios na fase de declínio vital, as boas lembranças, as frustrações e o seu destino humano e comum.
Mais um elemento a se acrescer
a esta personagem típica do homem do
interior é a sua forma de aguardar
o derradeiro dia da vida, com a
esperança na vinda de Cristo. A sua
morte não se manifesta direta na matéria narrativa.
Ela vem obliquamente, graças a um recurso
que, no conto se repete, não
agora com a intenção puramente de se valer da fé, mas com o propósito de fundir hedonismo
e alusão bíblica frente à sociedade do espetáculo tendo, por melhor
ilustração o esvaziamento de valores positivos, o Big Brother Brazil que
vai aparecer no derradeiro conto do livro, “Travessia.”[12] Sobre
este conto, voltarei a comentar nas páginas finais deste estudo.
No segundo conto, “Dona Maria,” o narrador-protagonista, na fase adulta, rememora o seu convívio, quando menino,com uma
velha viúva atravessando os anos crepusculares de uma vida simples,
cheia de lições a transmitir ao menino e que decida, depois, mudar
de lugar s fim de morar com os filhos até seus últimos dias. O que flagra
este conto é a questão mais uma vez da
velhice e de seus percalços.
O terceiro conto, “O segredo da vida,”
retrata psicologicamente os momentos decisivos de jovem Ada, pessoa
simples, trabalhadora, habitante de um
bairro periférico. Os instantes do drama
pessoal mais intensos são o de
pagar a passagem ao cobrador. Este
é um ato simples e corriqueiro de uma passageira passar pela roleta, porém, no relato, adquire contornos de ordem pessoal e moral diante da situação psicológica da personagem num ambiente fechado de um ônibus lotado de passageiros e insinuações.
O estar no ônibus era uma forma também de pensar fora daqueles limites do carro e até pensar numa possível maneira de ser feliz dentro ou fora do veículo. Verdadeira sondagem subterrânea na alma de uma jovem pobre. Sobressalto e epifania. Alegria e dor. Fantasias de uma vida melhor, confortável e lembranças passadas.O ônibus como metáfora do mundo interior intenso de uma personagem presa à vida e às suas surpresas e limitações. Ada, o nome da passageira, é, sim, um poço fundo de vida
interior.
Após descer do ônibus, dirige-se para
a sua casa. Toda esse monotonia de um vida sem
horizontes no cotidiano urbano assume um alto sentido do drama existencial
inescapável nos seus segredos e
nas suas finalidades de existir no anonimato.
“Redescobrindo Teresina,” o quarto conto, narra a história de um personagem conhecido apenas pelas iniciais de JS (alusão kafkiana?), esperado por um amigo num bar sem luxo, numa noite de um sábado
teresinense. O evolver da narrativa bate
na tecla da espera do amigo que
nunca chega.
Enquanto aguarda a chegada do amigo, o mundo interior de JS ressurge forte e
avassalador, indo às recordações de Água Branca, cidadezinha piauiense, onde viveram ele e o amigo.
Agora, no presente da narrativa,
estavam ambos em Teresina, um cidade já crescida, desconhecida, que oferecia perigos
e novidades.Já eram
estudantes de universidade. No
meio de um gole de cerveja, o espaço ao redor quebrava
algum silêncio com um música
e os movimentos de um
jogo de bingo.
Todo o conto é essa espera que não chega,mas que desperta a abertura para o insondável da
existência humana e para a solidão.
Até agora, se vê que a atmosfera dos contos de Geovane
Monteiro é invadida pela reflexão de estofo filosófico, de questionamentos e
tentativas de interpretar os sinais da
convivência humana, sobretudo no plano
familiar e da amizade.
São narrativa pontuadas da “vaguidão,”
de silêncios, de medos, de perigos e de
inquietudes abissais. Ao analisar estes contos,me vem à mente algum
modo de narrar e de
olhar para o humano e o existencial
de Clarice Lispector (1925-1977), ficcionista cuja narrativa
mergulha densamente na contemplação e
análise da vida e no destino de seus personagens, segundo a perspectiva de uma certa hesitação, de mistérios, ambiguidades, conceituações metafísicas, silêncios e
indefinições, ou seja, de uma inconclusa procura de caminhos, num movimentar-se sem fim, propiciando ao leitor aquela sensação do
texto beirando o poético e o dramático da condição
do indivíduo no mundo.
Um literatura em desespero, em sofreguidão, em luta interior contra
o vago e o indecifrável.Na ficção de autor piauiense, só consigo
vislumbrar algo parecido em O.G. Rego de Carvalho (1930-2013)
no que tange ao mundo interior, sombrio e indevassável de alguns personagens.
O texto
se faz sensível, ao leitor, mas não se lhe entrega de bandeja.
Nesta direção, é significativo, do ponto
de vista metaficional, o seguinte trecho
que aparece no conto “A chuva,” que, adiante comento:”Há
encantos em não desamparar o
desconhecido, hei de dominá-lo? Se o desafio é a falta de desfecho, o
desconhecido é uma revelação.”[13]
No conto “O alto da montanha,” o tema, de
conotação visivelmente simbólica, faz girar seu eixo no desejo estético da personagem que aspira a
encontrar a “beleza.” Esta é a sua busca: desentranhar o belo no que lhe seja possível. É uma
narrativa plena de sortilégios. Na procura por
nomear o que fosse belo, no seu
deambular pelas ruas, ao mesmo
tempo se misturavam sentimentos de liberdade, de autobeleza só alcançada caso fosse relacionada a outrem, até que uma amiga lhe oferece de
presente uma “pedra.” Ora, de posse desse objeto, a personagem inicia a sua
perquirição existencial cheia de
contradições e de aporias, tanto quanto existem em alguns autores, por
sinal o citado Fernando Pessoa.
Segundo o monumental Dicionário
de símbolos de Jean Chevalier e
Alain Gheerbrant, a pedra, entre outras
sentidos, está relacionada com a alma. A “pedra bruta” se considerava
ainda como "símbolo da liberdade.”[14]
No Arcadismo, o topos da “pedra” está muito presente no poeta Manuel da Costa (1729-1789)). Segundo Antonio
Candido, para aquele poeta:
(...)
a
presença da rocha aponta nele para um
anseio profundo de encontrar alicerce,ponto básico de referência que a
impregnação da infância e
adolescência o levam a buscar no elemento característico da paisagem natal.”[15]
Recorde-se também o controvertido poema de Carlos Drummond de Andrade “No meio
do caminho”[16] aqui
citado apenas na primeira linha do
verso:”No meio do caminho havia uma pedra...”
No conto “A chuva” tem-se, sem
dúvida, o ponto talvez mais evidente da capacidade de o autor construir
uma narrativa sem mácula, uma
pequena obra-prima no meio de bons contos. O que dizer desse conto? Somente
encontro uma definição: é pura poesia. Latejar de sons e palavras
poderosamente tematizando o fenômeno da
chuva ressoando nos poros da existência.O
ritmo frenético,uma enxurrada harmoniosa
de enunciados lírico, num canto
à natureza tendo por elemento
nuclear a “água” – fonte da existência e equilíbrio na Terra.
O eu do narrador se espraia por todos os cantos de um
espaço indefinido. Fala de si e dos multifários
contornos da Natureza-Mãe
abrangendo todo um vasto movimento da
paisagem humana e da força da natureza
no seu dinamismo natural e irreprimível,
construindo um caleidoscópio atravessado pelos corpos, pelos objetos e pelos espíritos
dos homens diante dos fenômenos naturais.
Se
há catarse do trágico pode-se asseverar que o há igualmente no lirismo desta narrativa, na
exaltação assombrosa dos movimentos, das mutações, das ondulações, do solo, do ar,
dos ventos, dos mares, e da “alma,”
termo que aparece reincidente na
narrativa destes contos surpreendentes
e, a meu ver, muito bem elaborados, elaborados com plena consciência estética: “Viu o adeus da amiga no perigo de
uma bondade. Ela obedeceu a seus mistérios.”[17]
Atinge, finalmente, este pequeno volume o derradeiro
conto, “Travessia.” Essa
narrativa retoma, em muitos traços
temáticos a notação autoficcional do primeiro conto, a que, de resto, não fiz
claramente alguma alusão. Suas
referências se alicerçam nas raízes
familiares do autor e no
forte tom rememorativo
da figura do velho Monteiro. Só
que no conto inicial,
o narrador é de terceira pessoa,
ao passo que, no conto final, o narrado
é de primeira pessoa. O conto se
desenvolve em seções, ao todo, nove,
sendo as últimas formadas de
pequenos enunciados.
Entretanto, é uma conto
independente ainda que
retomando aspectos semelhantes do primeiro conto do volume. Tem-se, agora, as lembranças de um adulto que remontam aos treze anos. Fala da infância, do início da
adolescência, do sentimento do amor juvenil, da competição pelo
mesmo ser amoroso, dos
sobressaltos, dos medos, das
incompreensões nunca aclaradas
ainda que pelo distanciamento temporal e
amadurecimento do adulto. Tanto é que o narrador, aqui e ali, recorre à palavra “vagueza” ou suas derivadas
ou sinônimas (e isso vale
praticamente para o livro todo).
O conto oscila entre o passado e o presente do
narrador. Ou seja, as recordações se
tornam novamente vivas na elucidação do
presente do jovem adulto da Teresina
moderna.
Durante o fechamento de um sinal de
trânsito, no seu carro, passa em
revista as mais enternecidas
passagens de sua infância e adolescência no interior, Água Branca, que, a caminho do trabalho, na cidade de
Teresina, já com traços de
cidade grande.
Neste vaivém de reminiscências e
sobressaltos existenciais, o jovem adulto retorna ao presente tão ao
logo abre o sinal de trânsito. Suas
reflexões, sempre pontuadas pelos
elucubrações de natureza existencial e vincadas de frases sentenciosas,
conceituais, se concentra numa espécie de surda denúncia de modos e estilos da vida moderna, vida pautada pelos meios eletrônicos,
pelo sensacionalismo das mídias, pelo
universos virtual. Seu tom é de
franca crítica à vulgaridade
da sociedade de espetáculos, disfarces do marketing
e da publicidade, espaço artístico sem sentido e vazio.
A narrativa reveste, então, ares de montagem,
de fusão de realidades
artificiais. O exemplo mais contundente é sua clara
referência ao programa de TV BBB -
fonte de hedonismo oco e disparatado conduzindo massas amorfas e alienadas. Parte de uma seção, a quinta do conto, com evidentes[18]
vestígios de pós-modernidade, é uma
contundente denúncia a esta nova
modernidade que mistura o profano e o
sagrado. Daí o clamor do narrador invocando figuras de destaque do Velho
Testamento em tempos apocalípticos. É curiosa a inclusão nesta seção de
palavras da língua inglesa que
reforçam o traço globalizante das imitações midiáticas ao mesmo tempo que são
lembradas cenas de horrores de
guerras e mortos, de refugiados. O texto, assim
manejado habilidosamente pelo
narrador, junta objetos difusos e díspares, num caldeirão semântico e conceitual que nos desconcerta
pelo impacto que pode ter o leitor em
termos de comunicação literária.
Não deixa esta seção de ser um belo libelo (valem a rima e o oximoro,
por coincidência em consonância com o
espírito geral deste conto) contra os tempos(templos) atuais em qualquer cidade
contaminada pelos big brothers do capitalismo devorador da multidões
famintas de consumo e de entretenimento que
estiolam a inteligência da massa de espectadores de programas de baixo nível da televisão brasileira, fenômeno que, aliás, não é privativo de nosso país.
Os períodos finais desta narrativa
retomam as lembranças do pai e, como sempre,
as aporias prevalecem, dando
apenas uma posta final na hermenêutica da obra, que não deixa de ser uma
epifania à criação literária: “Retorno a
casas, vivo minha pior bondade, pois – sem paradeiro – descubro o caminho.”[19] Este
epílogo, em parte, já se tinha anunciado naquela nota “Aos outros.” [20]
Uma palavra ao autor
não deixaria por menos: se a
posse dos segredos da ficção aponta para novas
excursões, que o autor, sem se desviar de seu estilo de escrita, saiba
também penetrar no mundo
ficcional por caminhos renovados
que não percam um pouco
da chama ardente das grandes
lições das narrativas da tradição
literária.
Que, não abdicando
da originalidade de sua escrita,
possa seduzir os leitores a veredas que ainda acenam a um bom
enredo a despeito dos experimentalismos
necessários à oxigenação da narrativa contemporânea. Basta descer um
pouco na escala do hermetismo e a estrada do imaginário lhe estará aberta e lhe será bem-vinda.
[1] MONTEIRO, Geovane Fernandes. Paradeiro. Introdução de Perce Polegatto e orelhas do editor.Teresina:
Nova Aliança, 2016, 104 p,
[2] GRAY, Matin. A dictionary of literary terms. 2nd edition. Essex:,
EnglandLongman York Press, 1994, p. 206.
[3] MONTEIRO,
Geovanne Fernandes. Idem, p. 23.
[10] Apud PIRES,
Orlando. Manual de teoria e técnica
literária. 2 ed.rev. . e ampl.Rio de Janeiro: Presença, 1985, p. 288.
[14] CHEVALIER,
Jean e GHEERBRANT. Alain. Dicionário de
símbolos. 8 ed. rev.. e aumentada. Rio de Janeiro: José Olympio
Editora, 1994. Trad. de Vera da Costa e Silva, Raul de Sá Barbosa, Angela Melim
e Lúcia Melim. Verbete "pedra", p. 696..
[15] CANDIDO, Antonio. Formação
da literatura brasileira. momentos decisivos. 6. ed. Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia, p. 88-89..
[16] ANDRADE, Carlos Drummond de. “No meio do caminho”.
In: __. Poesia e prosa. Rio de
Janeiro. Editora Nova Aguilar, 1983, p. 80
[17] MONTEIRO,
Geovane Fernandes, idem, p. 84..
[18] Idem, p. 99-101.