quinta-feira, 4 de agosto de 2016

RELUZ MAS NÃO É OURO




                                          Cunha e Silva Filho



        Moro pertinho do Maracanã, o mais famoso  estádio  de futebol do mundo. Com as reformas   ficou  majestoso, solene, digno do respeito que merece por uma longa folha  de serviços prestados ao país e ao nosso futebol. Só uma vez  nos deixou  tristes: em 1950, com a derrota do  Brasil  para o Uruguai na Copa do Mundo. Gol de Ghiggia.Costuma-se dizer que o Brasil, nessa derrota em casa, silenciou de tristeza. Eu estava com  5 anos na época, menino  em Teresina.
      Agora, perto do Maracanã, que será o centro das atenções amanhã, dia da abertura dos Jogos Olímpicos,  tudo no entorno desse estádio virou  medida de segurança, a quadra de esporte do centenário  Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ)  está fazendo o papel de lugar de pouso  de   helicópteros do Exército. Nas principais  ruas que dão  acesso ao grande estádio estão  postados  homens do Exército,  guardas municipais, Polícia Militar. Polícia Civil. Guarda Naional.
   De vez em quando,  da minha janela,  vejo  muita coisa e escuto o barulho ensurdecedor dos helicópteros. Me lembra um  estado de guerra.Ainda bem que é só uma lembrança.Alguns caminhões cobertos  do Exército e outras viaturas estão estacionados  no campo de hipismo do Colégio Militar.  Os soldados do Exército, desde pelo menos a semana  passada, já  estão em pontos estratégicos, bem armados, da Rua São Francisco Xavier,   num ponto da qual se localiza  o velho  Colégio, que é parte também de minhas lembranças  por ter exercido a docência  de língua inglesa nessa  prestigiada   instituição  educacional, modelo de ensino-aprendizagem no país com um corpo docente de primeira grandeza. 
   Na semana passada, passando por dois militares fazendo a segurança em frente do portão principal  do Colégio Militar, vendo que um deles tinha  um semblante  simpático,  lhe fiz uma pergunta só  por cortesia e ele me  tratou  com  muita  atenção . Na rápida conversa, me disse que tinha vindo do Rio Grande do Sul  somente  para   fazer parte da segurança da Olimpíada de 2016. Com ele estava uma colega militar,  que era de Curitiba, um moça discreta  e também  cordial.
  Se me perguntassem  se estou feliz com  os Jogos Olímpicos, eu diria  que sim  e não. Sim, porque não é qualquer tempo em que um país é anfitrião de um megaevento tão importante. Um país que sedia um acontecimento destes torna-se foco das atenções do mundo inteiro e, principalmente,   propicia  o encontro  dos povos que,  pelo inestimável  valor  dos esportes,   se vê congregado,   unido, trazendo alegrias  e um sopro de esperança  de paz entre as nações no momento em que a nossa  Terra está tão  conflagrada e tão  sofrida em  tantas regiões dos continentes. 
  Na essência, sim, os Jogos Olímpicos são alvissareiros,  bem-vindos. O melhor, o certo  é tratar bem  os que aqui  chegam  como desportistas competidores ou como turistas  estrangeiros  e nacionais. Em suma, é um período de confraternização, de uma pausa que se dá a divergências variadas  entre  os povos.  O seu cerne é a alegria do fairplay, a vitória dos grandes atletas, o fortalecimento dos valores humanos, como a paz, a concórdia,  a troca de experiência entre culturas  diferentes  ou semelhantes,  a consagração  de alguns competidores. Seria uma  festa ecumênica, um encontro  universal entre  povos, a continuidade de um elo  que teve sua origem  na admirada Grécia antiga. Seu símbolo maior  é a  decantada  tocha  olímpica que,  percorrendo o país inteiro,  chega ao  centro  irradiador  dos  Jogos – a bela cidade de São Sebastião.  Não poderia ser outra.
    Por outro lado, diria que não estaria alegre pelos  Jogos  Olímpicos no Brasil   dado o fato de que o momento em que  vai ocorrer  o megaevento, por um desses infortúnios da vida,  é aquele  em que o país  não vai  bem na mente e no corpo.
   Oscilando entre um governo interino e um governo  afastado, o país  é caudatário dos muitos  desmandos  do governo  anterior e, a par disso, não está sendo, em alguns aspectos  de  sua nova administração  federal, bem recebido por parte da sociedade civil. Ambos me parecem resultar de uma espécie de simbiose  entre   o fracasso  do governo  anterior e as incertezas de um governo  que já está  tomando  medidas  impopulares pelas quais o povo  vai   ter  pagar  a conta.    
   Ou seja,  o governo afastado  dilapidou  as finanças do país com  o acúmulo de   desvios do dinheiro  público que foram  parar nas mãos  dos beneficiários das propinas  milionárias   responsáveis pela grave crise  econômico-financeira.
  Esta constatação não foi uma quimera  inventada pelos que não desejavam  a continuidade do governo Dilma.Foi a incompetência combinada com  a rapinagem do governo Dilma que   a afastou  do cargo. A Operação Lava-Jato não nasceu ex-nihilo. Fundamentou-se das investigações das  diversas   operações  implementadas  em consonância com  a Justiça e com  a resposta  da sociedade civil que manifestou seu repúdio a um governo  que estava se despedaçando pelos seus  malfeitos,  desmandos, desídias e sobretudo  corrupção generalizada  conluiada com  parte do alto empresariado   e com a impunidade que  o governo  afastado não combateu  de vez que ele era parte  intrínseca  desses desvios de conduta de  administração pública, cujo ponto mais alto  do desastre  financeiro  foi justamente  uma estatal  do porte da Petrobrás – pivô dos maiores escândalos da história política brasileira.
  Num país assim assolado pelo desemprego,   inflação,    violência, criminalidade galopante, falência de alguns Estados  brasileiros, Rio Grande do Sul,  Rio de Janeiro,  por exemplo, sucateamento   de setores  vitais  à normalidade  do funcionamento  das cidades, como  saúde,  educação,   segurança, transporte,  pensar-se em  gastos  faraônicos com  a preparação   dos Jogos  Olímpicos  seria uma temeridade pra o Erário. Quer dizer, os  gastos  com o megaevento esportivo  acentuaram  as já combalidas  finanças  dos Estados da Federação  e do governo  federal.  Tudo junto,  resultou e tem resultado  no agravamento  da crise financeira   do país.  
   O governo  interino, já desde o início de sua composição ministerial,  não deu  bom exemplo de contenção de gastos. Veio logo o anúncio de  aumento de salários das categorias  de cargos   do mais alto escalão  do governo: presidente da República,  ministros,   membros do Supremo, deputados, senadores e, por efeito  cascata,   os  outros cargos    ligados  ao Poder Judiciário, seguido, por sua vez, pelo aumento de salários   da cúpula governos estaduais nos três poderes. 
   Ora,  leitor,   que pior exemplo deu  o novo  presidente ao permitir  tudo isso? Por que privilegiar  primeiro os que mais   têm salários  elevados no pais? O funcionalismo  público federal de outras  categorias, mormente os chamados barnabés,   não mereciam também  reajustes, sobretudo porque, desde o governo  Dilma não tem sido  beneficiados  por reajustes   salariais?
   Não se justifica  uma discriminação  destas  para com o funcionalismo público que, faz  uns cinco anos,  não tem aumento. Contudo, o atual governo   permitiu e autorizou   aumentos nos preços de tudo, elevando   o custo de vida e arrochando, desta forma, mais uma vez  os assalariados   em larga escala em itens  que têm impacto no bolso  dos consumidores das classes médias e mais onerosamente os menos aquinhoados:  taxas de luz, telefone,  gás, IPTU, os preços dos  remédios, dos  alimentos em geral,  dos  planos de saúde, dos setores de serviços etc. Um governo que mal começa e age assim  não está dando  prova  de que  assumiu o poder para  melhorar  a vida das pessoas.
   Além disso, o que os três poderes em Brasília gastam daria  bem  para melhorar muitos problemas enfrentados pela  população sofrida do país.As mordomias  palacianas neles continuam soltas e fagueiras. Os gastos  continuam astronômicos até parecendo que estamos  vivendo num  país  sem  crise  financeira e no melhor dos mundos  possíveis..  Como poder confiar  numa Estado   brasileiro que muda de partido mas não muda   as suas práticas   nefastas: o nepotismo,  os mesmo  donos do poder   e da política,  a herança  política  familiar  em cargos-chave.

  Para concluir esta crônica, volto à minha ambiguidade inicial, entre a alegria  da sedução da Olimpíada e a decepção  dos desmedidos  gastos  públicos do governo  federal e os  de alguns  estaduais e municipais. A pátria amada idolatrada é mesmo uma mistura. Não é pura, mas causa dor, espanto e indignação.       

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