sexta-feira, 29 de julho de 2016

REVEZAMENTO DO MUNDO ATUAL: TRISTEZA E ALEGRIA


                                                     

                                                 Cunha e Silva Filho


GUERRA CIVIL (só para citar um  exemplo).   A Síria continua sem jeito. Ninguém detém o ditador   Bashar Al-Assad. Milhares de mortos em cinco anos de guerra civil, fratricida, com o país estilhaçado, paisagens urbanas  viradas ruínas. Allepo, Homes e outras cidades  são só  destroços,  desolação, mortos e feridos, com a sua  população  tentando  evadir-se através  da Turquia (esta, internamente, agora,  em conflito e em  estado  de autoritarismo contra a imprensa e os  acusados de desejarem dar o golpe no  presidente Erdogan que, ao que tudo  indica,  deseja  dar continuidade   do seu governo, agora com   mão de ferro.
             Onde ficará a democracia na Turquia? Só Deus sabe. Quem  podia  minimizar  tanta  desgraça seriam os EUA, a Rússia e os órgãos  internacionais    em defesa da paz mundial. Aqueles dois países, contudo, fingem  que resolvem, mas só atrapalham;o primeiro mandando drones  que podem matar inocentes e cair em lugares  que devem ser preservados: hospitais maternidades, templos religiosos,  patrimônio histórico; o segundo  manda armas ao ditador  sírio  sob a alegação de que vai  impedir  o avanço  do Estado Islâmico. A Rússia, agindo assim, mantém  a guera civil    contra  forças do Estado Islâmico e, de quebra, contra  os rebeldes - a oposição – ,   esta  derivada  da Primavera  Árabe. Geopoliticamente,  as duas grandes potências,    cada uma a seu modo,   evitam   brigar  entre si, numa espécie de guerra fria e quem sai perdendo  é  a população civil síria no meio do fogo  e da destruição de que resulta  a continuidade da onda de refugiados deixando a sua pátria para  trás.Quanta insensatez das duas  grandes potências!

A ONDA DOS REFUGIADOS. Sem casa, sem emprego,  com fome,  os sírios fogem  do seu país natal, atravessam a Turquia, dirigem-se, em barcos  inflados,  frágeis, apinhados de imigrantes  pelo  Mediterrâneo à cata de um país que lhes abra as portas. Pode ser a Itália,   a França,   a Inglaterra,  a Rússia,  a Holanda,   a Polônia.                Todos querem  correr  da fome e da guerra,  todos querem salvar suas  vidas e as vidas de seus entes queridos: crianças,  adolescentes,  jovens,  adultos e velhos. As imagens  nos lembram, mutatis mutandis,   filas  de  judeus  a caminho  do Holocausto. Mas isso  é só, graças a Deus, uma imagem  rápida que nos passa pela memória visual, como  num  fita de um filme  em preto e branco sobre  os   escombros,  as cinzas e horrores dos crematórios  da Segunda Guerra Mundial.

O MEDO ALASTRADOCom o mundo  amedrontado   com  o terrorismo do Estado  Islâmico na Europa, com ataques em Paris, Nice, Munique e em outros continentes, nenhuma lugar do mundo parece estar ileso  de um atentado, sobretudo  o lado  ocidental. Os inimigos  do Ocidente podem  aparecer em qualquer parte, inclusive no  Brasil, agora,   com  a proximidade  da abertura dos Jogos Olímpicos. Ora,  esses jogos   que visam à aproximação pacífica entre os povos, gerando alegria  multirracial, vai ter que conviver  com  o medo dos praticantes da covardia, fruto da barbárie,  do obscurantismo e da cegueira  ideológica  que não admite  as diferenças  culturais  e  religiosas  de um mundo  livre  e civilizado.
     A  imagem do mundo atual, pode-se afirmar,  muito se aproxima, em suas características principais, das exibidas num filme-catástrofe. Quer dizer, há uma espécie de sentimento universal de  “ficcionalização”  da realidade concreta, de uma construção de um imaginário do medo   dominando as mentes  do homem  civilizado. Seja o maior problema  de hoje enfrentado pelo  civilização ocidental: a violência em todas as suas formas, - crimes, tiroteios disparados de repente por  psicopatas,  guera do narcotráfico,  estupros,  radicalização do  preconceito em todo os seus matizes,  terrorismo  jihadistas, dos vários grupos de terror  em escala global, corrupção  política,  autoritarismo  policial,   deterioração do meio-ambiente, entre outras mazelas sociais, urbanas,  do interior,  a rurais. 
     Em suma, barbárie e civilização, com culpados de ambos os lados.  Está nos faltando  aquilo que um velho pastor americano,  Herbert Armstrong,  fundador da importante  revista  The Plain truth,  há muitos anos  extinta, falou:  a dimensão  espiritual ( the missing dimension)  que deve ser  cultivada na práxis  da vida cotidiana, principalmente em tempos  tão tormentosos  planetariamente. 
       Em outras palavras,  um  mundo sem perspectivas   transcendentais,  que elevem o  indivíduo  a amar  seus semelhantes e a entender  as diferenças  entre pessoas,  etnias,  religiões e culturas.  Enquanto nos    fale o abraço apertado, olho no olho,   físico,  cresce , em dimensão  estratosférica,   a amizade virtual,  o carinho virtual, o beijo virtual,  enfim, o relacionamento virtual, compreensível,  até certo modo,  pelas distâncias  que  amiúde  nos separam.Isso vale para  quem também   assina   este blog., mas não deixa de ser um defeito,  uma carência,  uma ausência    que nos  podem  prejudicar  profundamente   como seres  humanos. 
    A presença   física é sumamente  necessária  à vida  saudável e concretamente  gregária. Com isso    se está perdendo o nosso velho humanismo, os encontros  ao céu aberto, nas praças,  nos jardins,  nos bares,  no cinema. Uma advertência: não nos robotizemos. Isso seria um salto  no escuro e com prejuízo para todos  nós. Não impessoalizemos  por demais  a nossa  humanidade,  o calor  de nossa amizade. Lutemos pela volta dos tempos mais simples e acolhedores.
   Por esse motivo, a sensação que se internaliza em nós - sobreviventes  dessa contemporaneidade -, é visivelmente  a  de  um estado  de quase paranoia coletiva, percebida por alguns  indivíduos mais do que outros, dependendo  do nível de consciência da gravidade do contexto cultural-político-religioso mundial. As pessoas ignorantes, menos   envolvidas com  os problemas  enfrentados  pela humanidade de hoje, talvez não percebam  tão  lucidamente   esses perigos e talvez por isso sofram menos, no meu entender.
    O que nos vem logo à mente, nas metrópoles  vitimadas  pelos atentados terroristas, é  uma imagem apocalíptica de pessoas civis  e  soldados  fortemente armados, como se, a qualquer  momento,  fosse  explodir  alguma   bomba  de um terrorista  ou de um  tresloucado  fanático  de facções  terroristas  fuzilando  um monte de inocentes. Somos ou não um  simulacro  ficcional?
   Aquilo que de mais  sangrento e destrutivo  vemos em alguns filmes   americanos  como que se mistura  a esse mundo  civilizado e ao mesmo   tempo barbarizado  nos dias que correm. Somos vítimas do que  nós mesmos construímos em termos  de armamento letais a partir do descobrimento da dinamite.
   Ou seja, a civilização, aperfeiçoando ao cubo as armas  mortais, a bomba atômica, a bomba de hidrogênio as armas químicas, os mísseis  inter-continentais,   é a mesma que está sendo vítima de suas próprias criações frankensteinianas, dos seus monstrengos. Ironia dos  civilizados.
   É  sempre atual a frase de Bertrand Russell (1872-1970) em relação  a um  conflito   mundial: a vida ou a destruição.Não há meio termo.Depende de nós  a alternativa  primeira. E os homens, até hoje,  ainda não  assimilaram  bem essa advertência. Não faltou  nem falta que  os alerte. Dois caminhos, um destino por todos desejado com exceção dos criminosos terroristas, e um destino   sem volta Que os Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil  sejam o do primeiro caminho,  o da vida,  sinônimo    de alegria
      

         



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