terça-feira, 16 de agosto de 2016

E SE DILMA ROUSSEFF, A PRESIDENTA, VOLTASSE?




                                                     Cunha e Silva Filho



            Temer é interino. Todos sabem disso. Já compôs o seu ministério. Inclusive diminuiu uns dez. O seu governo  teoricamente  já está  organizado  e, bem ou mal, dando  seus resultados, ainda  que descontentando   parte  do eleitorado, sobretudo  petista. Somos dilmistas ou somos temeristas Que valham os neologismos. Afinal, a gramática  da língua já entrou  no rol das flexibilizações. Está terceirizada.
         Os usos da língua se tornaram funcionalmente  políticos. Nada a obstar. Nihil obstat,  conforme o figurino dos maristas  na aprovação  de uma obra   a ser editada há décadas, na famosa  coleção antiga da F.T.D.   Os erros,  a agramaticalidade  está  na ordem do dia.  Ela é inclusiva e, neste sentido,  é petistas. Não gosta das tmeses ( vi essa  palavra usada, pela primeira vez,  por um secretário  de um deputado da ARENA) consideradas  hoje  coisa de museu  da norma culta e gozação  dos  novos conhecedores  do vernáculo.
       Uma senadora inova a língua por influxo, analogia ou contaminação  da flexão empregada  por Dona Dilma, a presidenta, embora  isso não seja  um  erro, mas passou  a ser  estranho  que  a  política  partidária  mudasse a língua no seu uso mais consagrado.  Nunca vi uma ideologia  política ser tão  linguística. Penso: o que é capaz de fazer  uma  esquerda tupiniquim servida  a caviar e com temperos  à la propina.   
       Contudo,  essa introdução já vai me cansando e, quem sabe, cansando  igualmente o leitor. A minha “narrativa”  (esse termo  está na moda.  Hoje, tudo se resume a “narrativas.”) versa sobre a hipótese de Dilma  voltar  do afastamento  legal. Primeiro, constato uma premissa: a volta de Dilma,no mínimo, seria  o maior  evento  piadístico   que o  Brasil  poderia introduzir nos anais  da história  política brasileira.
     O leitor já imaginou  a situação  excêntrica  de,  mais uma vez,   reforçar-se   a ideia cristalizada no inconsciente  brasileiro   a partir da célebre  frase  de De Gaulle 1890-1970): “Brésil n’est pas un pays sérieux.” Como iríamos enfrentar essa reviravolta  digna de uma comédia  de Martins  Pena (1815-1848)? Gargalhadas gargantuanas  se espalham, reboando  pelos quatro  cantos do planeta: “Dilma voltoooooou!” Tudo vai   ser revertido  para a estaca zero. Um furdunço, uma embrulhada geral,  um país  às avessas, um povo   entre o espanto  e a alegria  do populacho -  epicentro da desordem político-social-econômica. Manchetes de jornais  estrangeiros morrendo de rir. A piada universal.
    Eis o leit-motif:  os senadores, no último instante,   viraram a casaca e deram um voto  de confiança à presidenta. Temer  seria destronado, assim como seus ministros. O Meireles, então,   sairia cabisbaixo,  sem aquele  modo de, friamente,  dizer que, se precisar,  vai  aumentar impostos, tudo  por amor  ao emblemático “ajuste fiscal” -  a pedra  de toque   da administração  Temer.   
     Dona presidenta baixou o primeiro decreto: “Tudo vai ser como  sempre foi: ajudar os pobres e ao mesmo tempo   enriquecer mais  os ricos.” As migalhas ( “Minha Casa, Minha Vida,” o bolsa-família,  o bolsa-estudo  no exterior, as cotas, a Lei Rouanet,  a bolsa-gás e quejandos)  ficarão imunes  a retrocessos. Serão  causas pétreas em sua nova fase  de governo. “O salário mínimo -  prossegue a primeira mandatária -,  não se preocupem com ele,   vou aumentar, já para este segundo  semestre, por decreto,  para  R$3.000,00 (Três mil reais).
  Os empresários  que se virem para pagá-lo.” E as pedaladas, senhora presidenta: “Ora,  darei  continuidade e até  a  intensificarei.” E a dívida pública? “Essa é o que de menos  me preocupa. Vou mandar  fazer  dinheiro  na Casa da Moeda sempre que necessitar.  Não tenho que dar  contas ao Tribunal de Contas”. E a  Previdência, os altos juros, os maiores  do mundo,  a educação pública,  a saúde em pandarecos, presidenta, a insegurança das pessoas nas ruas, em casa,  em qualquer lugar? “Isso não são  grandes problemas, darei conta  de tudo isso  com uma canetada só.”
   Só para finalizar, mais uma pergunta,  presidenta: como enfrentará a  oposição  agora mais raivosa, indignada e humilhada do que antes tendo que, legalmente,  interromper  o brevíssimo   tempo  de interinidade do Temer?  “Isso  é o de menos,  pois agora vou  mesmo  agir   como o Maduro, o bigodudo.  Tudo será conseguido  na marra, para isso tenho as   Forças Armadas de unhas e dentes. Ninguém me manda e eu sou a “cara”( mais uma neologismo  dílmico que vai  repercutir  às gargalhadas entre os brasileiros  da  oposiição).
   Faria voltar todos os  ex-ministros,  inclusive o  José Dirceu para a direção da Casa da Moeda. Todos os implicados no “Mensalão”, no Petrolão e em outros  escândalos  serão readmitidos com cargos do primeiro escalão. O primeiro a ser cogitado foi Lula. Para onde? Para a Casa Civil e ponto final.  As afirmativas de Lula  “Eu sou o Brasil. Não  posso ser preso”  tornar-se-iam o bordão  do  ex-sindicalista e,  hoje,  um cidadão  bem endinheirado, assim como sua família  nuclear.
    A Polícia  Federal,  o Ministério Público, os incriminados e  tornados réus, por pior que fossem,  seriam   beneficiados com a anistia  geral e irrestrita.
    O Nordeste, sobretudo,   faria um carnaval   durante uma semana  celebrando a volta da presidenta  Dilma. Tudo  é consumado.  “Vou  engarrafar  o vento. Vou falar  como  bem quero a ‘última flor do Lácio, inculta e bela” e vou continuar a viajar  com largas comitivas (incluindo sempre o Mercadante) e me  hospedar nos melhores  hotéis  do mundo. Continuarei a ajudar  os médicos cubanos. Darei apoio ao Irã”.
  “Darei apoio ao ditador  Maduro e, se possível, ao  Estado  Islâmico.  Só  terá vez comigo, seja para que for,   se for pobre ou rico. Classe média, nem  que a vaca tussa.Ninguém, de agora em diante,   terá o topete de me enfrentar. Sou ilibada.  Vou cumprir inteirinho o que me falta e aviso: Lula, alegria do povo e dos intelectuais  da esquerda, no pais e fora dele,  voltará  eleito, como meu sucessor,  em 2018.É só ver para crer.  Quem manda aqui (traduza-se Palácio do Planalto) sou eu” (soltando uns palavrões).
   Com o retorno de todos os ministros  da primeira fase do  seu segundo mandato de  governo, Dilma  recriou  todos os  inúmeros  ministérios   anteriores. Fez mais: aumentou  em mais cinco do antigo ministério, um deles com o nome de Ministério  da Propina, incluindo  os Departamento  de  Vigilância  contra a Honestidade,  e  criou  um outro departamento, o Departamento  contra  as Investigações    do tipo  Lava-Jato.
 O ministério Público se calou, assim como outros  órgãos da Justiça.  O Supremo  teve um desfalque. Aquele ministro  que denominou o governo  petista   de  “governo da cleptocracia”  foi destituído para o bem do serviço público.
  O empresariado vinculado aos maiores escândalos contra a economia  brasileira foram  todos    regiamente beneficiados  com uma lei de anistia sine diem..
   Declarou Dilma: ao lhe ser devolvido  o mais alto cargo da nação: “Tudo que faço é pensando   no bem  do Brasil e da  felicidade  geral  da Nação. Todos são livres para fazerem  o que bem quiserem.Se fui  afastada por pedaladas  fiscais,  outros, que me precederam,  inclusive o FHC,  já haviam  feito o mesmo e ninguém  piou, muito menos o Tribunal de Contas.
  Não sou  alegre nem sou triste, sou  presidenta com “a” mesmo e que se lixem  os gramáticos que nem estou  aí. Vou continuar   cometendo  meus  solecismos, silabadas, flexionais,  léxicos, semânticos e o escambau,   e tudo o mais que me dê na telha. Minha língua é minha pátria. A educação faz o  ladrão. No entanto, a pátria continua educadora. Lula,  bem  posto no cargo da Casa Civil,  com foro  privilegiadíssimo, blindadíssimo e, numa voz  entre  estentória e rouquenha,  esbraveja, furioso,  aos quatro ventos: “Ninguém me manda. Sou o segundo pai dos pobres” ( e eu com os meus botões, acrescento: e dos ricos também). Viva o povo brasileiro! [Este é um texto ficcional (quase uma crônica à clef. Qualquer dessesemelhança é quase uma mera incoincidência.]


        

Nenhum comentário:

Postar um comentário