Cunha e
Silva Filho:
Mais de um vez
já falei que tenho um hobby. Não o de cuidar de um cãozinho ou um gatinho
travessos, nem de cuidar de
jardim, de plantas, embora admire quem
faça isso, nem de colecionar
gibis da minha infância ou adolescência, nem de colecionar discos de vinil, nem nada disso.
O meu hobby tem outro objetivo, talvez até menos valioso do ponto de vista humano do que outros passatempos. O meu hobby
é de outra natureza, o de recuperar livros meus da adolescência, já que da
infância praticamente está tudo apagado da minha memória, o que corrobora a atualidade, em grande parte, dessa saudável
e ainda oportuna obra, Idade, sexo e tempo (1938), do pensador católico
Alceu Amoroso Lima( 1893-1983) o Tristão de Athayde, pseudônimo
desse gigante da crítica do
Modernismo brasileiro, escritor de
uma obra imensa e inestimável em
vários campos da inteligência: história
literária, crítica literária, economia, sociologia, direito, psicologia, filosofia, religião, política, teoria literária. Diz Tristão de Athayde
reportando-se à infância: [...] “A infância é a idade sem memória, em que as
impressões são tanto mais violentas quanto mais efêmeras” (op, cit., p. 52-53).
Daí que dos livros meus da infância bem tenra, diria
dos cinco aos oito anos, aproximadamente, já não consigo
lembrar seus títulos. Daí também, por razões de aproximação da fase de vida seguinte, a adolescência, o motivo de tentar recuperá-los no presente.
Sou um pouco avesso aos exageros estatísticos. Por
isso mesmo, não sei ao todo quantos
livros foram, até agora,
recuperados. Uma parte
significativa consegui encontrar no sebo
virtual, o melhor meio agora de
conseguir alguns desses milagres graças à Internet, em edições
diferentes ou até mais antigas. O importante foi que vieram
compor o acervo da minha
biblioteca–hobby, que fica à parte
dos livros mais novos ou novíssimos.
Tem um desse
livro ainda não encontrados que perdi numa confusão que houve num ônibus
que tomei em frente do Palácio do Itamaraty.. Houve uma briga entre passageiros
e, com receio que sobrasse alguma coisa para mim, desci do veículo com uma sacola de livros que
virou no chão. Apanhei rapidamente alguns. Coloquei-os de volta na sacola. Dois ou três possivelmente,
não vi. Era noite. Ao chegar em casa
no Flamengo, onde morei por pouco tempo, verifiquei que um deles
era um livrinho de título Expressões
idiomáticas da língua inglesa, da Melhoramentos. Livrinho útil,
de um excelente autor didático de inglês e francês, o Neif Antonio Alem.
Há anos venho tentando achá-lo nos
sebos do Rio e nos sebos virtuais.
Debalde o encontrei até hoje. Quem
souber de algum exemplar dele que
me queira vender ou
doar, aqui estou disposto
a recebê-lo de braços abertos.
Outros livros
estou procurando encontrar:
a segundas e a terceira séries da La
gammaire
par la langue, de J. de Matos Ibiapina, autor didático famoso, entre outros, nos anos 1920, 1930 e
1940, para os estudos do francês e do inglês. Estou procurando
três livros, um de francês para o
antigo ginásio de um autor ou autora franceses; outro de um autor inglês para o
curso colegial (científico, clássico) que oferece mais dificuldade de encontrar
porque não sei me recordo do título e do autor ou autores. Só se por acaso vir o
título,poderia identificá-lo; outro também de um autor francês para o curso colegial (científico ou
clássico), nas mesmas condições de dificuldades do título e do autor ou
autores.
Sei que o grosso que procurava já
consegui graças à Internet. Contudo,
não me dou por satisfeito. Quero localizar outros ou completar volumes
em série. Está
difícil mas não desistirei. Ele fazem parte do meu espólio rememorativo. Alguém me pode perguntar: “Você
vai relê-los?” Alguns, talvez, sim,
outros vou terminar de
ler, pois os professores
nunca chegavam a dar todas as
lições dos livros. Quantas vezes, eu mesmo as completei por
minha conta.
Agora, me
lembro de um livro didático de inglês, que
ainda tenho comigo do tempo da
Rua Arlindo Nogueira, em Teresina. É um
velho exemplar que me foi
presenteado por um quitandeiro, de nome Ditinho, moço
bom e amigo que o tinha nos seus guardados. Não sei se ele tinha sido aluno de escola marista ou se o exemplar lhe fora dado
por algum amigo. A sua quitanda era perto de minha casa, do lado da Rua São Pedro.
É uma obra da
excelente antiga coleção de inglês da F.T.D. Já,em décadas passadas,
livros dessa coleção continham a chave de exercícios propostos, mas só para uso dos mestres. Caso caíssem nas mãos
de um estudante sério e aplicado, muito ajudariam um estudante
independente como eu. Por muito
tempo, o uso de livros com a chave dos exercícios era criticado por alguns
professores e educadores. Felizmente, esse não é o pensamento atual da pedagogia.
Agora os livros com chaves das soluções dos exercícios voltaram
a fazer parte do volume, conforme
vemos em editoras de livros para o ensino de línguas, como a Disal e outras. Além desse instrumento pedagógico, obras dessa natureza são também acompanhadas do inestimável
auxílio de CDs,
reproduzindo, com a voz de falantes nativos, os diálogos ou textos desses
livros. Até gramáticas e dicionários vêm
acompanhadas de CDs. É uma
revolução notável na expansão do
ensino de línguas pelo mundo.
A Torre de
Babel está, aos poucos, perdendo
sua condição de sinônimo de
confusão entre pessoas
falando diferentes línguas. O meu velho
exemplar daquele livro da F.T.D
está com páginas faltando. É,
pois, um livro mutilado. Vou envidar esforços
a fim de encontrá-lo. É questão
de tempo e de paciência.
Outras obras que estou
no encalço de recuperar, delas
algumas são de referência. São grandes
dicionários de latim, francês e inglês. Que pena que as deixei em Teresina!
Penso que foram extraviadas por negligência de minha família, conforme
relato em detalhes na obra de memórias, que
lançarei brevemente, Apenas Memórias. Não foi por culpa
minha: eram de meu pai e eu não podia trazer para o Rio visto que
eram volumosas, pesadas,
mas o valor, imenso, é de dar
inveja aos bookworms e bibliófílos. Obras de Valdez, por exemplo, em edições
portuguesas.
Outras obras, enfim,
que trouxe já estão tão velhas
que urge tentar encontrá-las em edição
mais recente ou mesmo antiga, não importa,
contanto que estejam inteiraças.
Sou persistente no que faço. Um dia, direi
a mim mesmo: encontrei tudo o que queria,
O hobby cumpriu sua missão. Agora, é cuidar
com amor de pai para que elas não
se extraviem, não envelheçam tanto e não saiam da minha vida. Me lembro, agora, de um enunciado de Camilo Castelo Branco (1825-1890) que há pouco postei na página do Facebook: só me vou utilizar
de apenas uma frase do enunciado, a primeira, do notável romancista português “Um livro
aberto é um cérebro que fala.”
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