terça-feira, 5 de janeiro de 2016

2016: o ano que se inicia




                                                   Cunha e Silva Filho


       Já foi tarde 2015. Agora,  é pensar no que vem e, como não sou tão otimista nem tão pessimista, quero vislumbra um ano novo melhor, pelo menos nos meus desejos  explícitos,  ou seja,  que  o pais saia do atoleiro  político-financeiro  em que se encontra. O melhor   é pensar  positivamente para não atemorizar o espírito dos brasileiros   que não anda nada bem com  tantas desgraças acontecidas no ano  passado. Não vou repeti-las porque, na realidade,  elas não  deixaram de ocorrer. Não é uma página virada do calendário  que vai  nos tirar do  desassossego.
    Se há recesso no Congresso,  não há recesso  nas novas  determinações  do governo federal de  aumentar  os impostos,   as contas de água, luz, esgoto,  IPTU, gasolina,  passagens de ônibus,  trens, metrôs, barcas e o escambau. Até me parece que a entrada do ano  só tem um motivo  maior: o aumento das tarifas como se o  povo  humilde ainda pudesse aguentar  os impostos e os juros mais altos do mundo,  com o salário  minguado e por vezes sem  nenhum reajuste, como no caso do governo federal, cujos barnabés há tempos não veem um sinal  de aumento de salários. 
     Entretanto,  para o Executivo,  o  legislativo e o Judiciário e outros  órgãos públicos os aumentos  obedeceram    à norma de sempre: foram reajustados regiamente, inclusive porque são eles mesmos que se concedem  os gordos aumentos e outros  colaterais que vêm  encher mais ainda os bolsos já cheios  do acumulados  em anos  anteriores.  Oh, como é bom ser deputado ou  membro do Judiciário, ou  presidente da República!  Por si só, isso  já configura  uma elite  de profiteurs do oficialismo   brasileiro. E o povo? Que povo?!  Que estes vão  arranjar um outro  meio de complementar a renda  familiar  desmilinguida, achatada, com   bicos  ou assemelhados. Se não puderem suportar o tranco,  diria como o crítico literário  Álvaro Lins (1912-1970): “... suje-se gordo.”
    Venho meditando há tempos sobre a rede social Facebook. Descontando  algumas   frivolidades  que apresenta,  a meu ver,  o Face como é  mais conhecido dos seus  usuários, se tornou  a maior   forma de   pessoas comuns ou menos comuns  expressarem suas ideias  a respeito do que  se passa no país se no mundo.
   Já escrevi que ele virou um autêntico  fórum de  debates e de trocas de  ideias e informações jamais vistas na a comunicação  brasileira.a não me  importava muito com o Face, mas,  à medida que começava  a usá-lo, fui constatando que ele tem muita  utilidade social, política,  histórica e cultural. Ninguém pode negar-lhe essas  vantagens.Ninguém, que eu saiba,  se abalançou a fazer um estudo  sobre a importância dessa rede.O seu alcance  é de largo espectro, vai além fronteiras. Nele se veem  mensagens em  algumas línguas, notadamente,  inglês,  espanhol, italiano e espanhol.Até tradutor  eletrônico tem,  se bem que ainda deixam muito a desejar.
   Se é fato  que alguns usuários cometem  erros de português,  isso não invalida a mensagem, pois há mensagens corretíssimas que não têm  o conteúdo e  a profundidade de outra escrita com alguns  senões  de gramática.
   Mais importa é a opinião  sincera e o  nível de  consciência  de cada usuário. Por  isso,  vejo o Face como uma espécie de ágora virtual, na qual  cada um tem a sua  independência, sua visão, ainda que não seja a nossa. E esse multifário  conjunto  de opiniões presta um serviço  enorme ao desenvolvimento  da escrita  ao correr do  teclado, i.e., a escrita  das mensagens mais longas,  médias ou apenas de uma pequena  a frase,  sinaliza  pontos de vista  que só  vão  agregar  in formações ou  novos ângulos  sobre determinadas questões vividas pelo  brasileiro  ou  questões que afetam  o mundo  inteiro. É incontestável  a dimensão social  do Face.
   Cada página de um usuário  termina por  formar uma espécie de diário  ou de correspondência  entre  pessoas que se tornaram amigas e querem continuar  sendo amigas. Só vejo um perigo no uso exclusivo do Face:   o meu medo que   as relações  entre amigos deixem para segundo plano, no tocante  ao estreitamento em profundidade,   aquelas   travadas pessoalmente. 
    Se se mantiverem apenas ao nível do espaço virtual, tenderão  a perder sustentação  e até mesmo  se perderem em virtude da monotonia de falar somente à distância, sem o olho no olho,  o aperto da mão,  o braço  físico, o volume da voz, a gestualidade, a linguagem viva – que é um meio  dos mais eficazes no diálogo entre  amigos. Sei, ademais, o quanto é difícil hoje em dia marcar-se um encontro com  um grupo de amigos que estejam disponíveis em dia e hora certos. Todavia,   todo esforço  deve ser feito no sentido de que ao Face, grande veículo  social e virtual, seja  adicionado esse tempero  indispensável ao encontro presencial  de amigos.
   Se nosso governantes auscultassem  o que  afirmam as mensagens  postadas no Face e em outras redes sociais,  eles teriam farto material   crítico  muito proveitoso  para reverem suas posições,  seus modos de  lidar com a sociedade e verificar em que medida  são aceitos  ou repudiados.Governantes que não ouvem  as reclamações da população e  se encarapitam nas torres de marfim  - o resultado  temos visto  tantas vezes -, tenderão a perder  credibilidade,   a honradez,  o respeito dos concidadãos.
    Um governante, em qualquer nível de mandato ou de cargo, verá que a sua imagem não é aquela que ele vê no espelho em sua casa ou no palácio, tendente ao narcisismo. Será antes uma imagem disforme à semelhança do que ocorreu com  o personagem Dorian  Gray, de Oscar Wilde (1854-1900).
     Essa imagem desfigurada,  horrorosa, feia, caricata,  seria a verdadeira imagem que o dirigente  político, caso desse atenção aos gritos da sociedade,  teria de si  junto  aos milhões de  usuários do Face e de outros  meios de comunicação  virtual ou mesma  impressa, por exemplo, as das Cartas ao leitores do jornais de grande circulação.
   Seria a imagem do que pensam  os que lhe apontam  erros, não a dos que teimam em lhe dizer e aos outros que não está nu, quando,  na verdade,  está nu, segundo relata um conto de  Hans Christian Andersen ( 1805-1875). Nada se ajustaria melhor  como  fábula ao  atual cenário político nacional  do que   esta  contrafação de um rei, um imperador  que desfilava sem roupas, enquanto os seus súditos e áulicos confirmavam (falsamente e por interesse  subalterno) que estava, sim,  nu, ao contrário de uma  criança   que, no desfile,  despojada de  hipocrisia, dizia com toda a espontaneidade  de sua idade: “O rei está nu.”

                                           

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