Cunha e Silva Filho
Já foi tarde 2015. Agora, é pensar no que vem e, como não sou tão
otimista nem tão pessimista, quero vislumbra um ano novo melhor, pelo menos nos
meus desejos explícitos, ou seja,
que o pais saia do atoleiro político-financeiro em que se encontra. O melhor é pensar
positivamente para não atemorizar o espírito dos brasileiros que não anda nada bem com tantas desgraças acontecidas no ano passado. Não vou repeti-las porque, na
realidade, elas não deixaram de
ocorrer. Não é uma página virada do calendário
que vai nos tirar do desassossego.
Se há recesso no Congresso, não há recesso nas novas
determinações do governo federal
de aumentar os impostos,
as contas de água, luz, esgoto,
IPTU, gasolina, passagens de
ônibus, trens, metrôs, barcas e o
escambau. Até me parece que a entrada do ano
só tem um motivo maior: o aumento
das tarifas como se o povo humilde ainda pudesse aguentar os impostos e os juros mais altos do mundo, com o salário
minguado e por vezes sem nenhum
reajuste, como no caso do governo federal, cujos barnabés há tempos não veem um
sinal de aumento de salários.
Entretanto, para o Executivo, o
legislativo e o Judiciário e outros
órgãos públicos os aumentos
obedeceram à norma de sempre:
foram reajustados regiamente, inclusive porque são eles mesmos que se
concedem os gordos aumentos e
outros colaterais que vêm encher mais ainda os bolsos já cheios do acumulados
em anos anteriores. Oh, como é bom ser deputado ou membro do Judiciário, ou presidente da República! Por si só, isso já configura
uma elite de profiteurs do oficialismo
brasileiro. E o povo? Que povo?!
Que estes vão arranjar um
outro meio de complementar a renda familiar
desmilinguida, achatada, com
bicos ou assemelhados. Se não
puderem suportar o tranco, diria como o
crítico literário Álvaro Lins
(1912-1970): “... suje-se gordo.”
Venho meditando há tempos sobre a rede
social Facebook. Descontando algumas
frivolidades que apresenta, a meu ver,
o Face como é mais conhecido dos
seus usuários, se tornou a maior
forma de pessoas comuns ou menos
comuns expressarem suas ideias a respeito do que se passa no país se no mundo.
Já escrevi que ele virou um autêntico fórum de
debates e de trocas de ideias e
informações jamais vistas na a comunicação
brasileira.a não me importava
muito com o Face, mas, à medida que começava a usá-lo, fui constatando que ele tem
muita utilidade social, política, histórica e cultural. Ninguém pode negar-lhe
essas vantagens.Ninguém, que eu
saiba, se abalançou a fazer um
estudo sobre a importância dessa rede.O
seu alcance é de largo espectro, vai
além fronteiras. Nele se veem mensagens
em algumas línguas, notadamente, inglês,
espanhol, italiano e espanhol.Até tradutor eletrônico tem, se bem que ainda deixam muito a desejar.
Se é fato
que alguns usuários cometem erros
de português, isso não invalida a
mensagem, pois há mensagens corretíssimas que não têm o conteúdo e
a profundidade de outra escrita com alguns senões
de gramática.
Mais importa é a opinião sincera e o
nível de consciência de cada usuário. Por isso,
vejo o Face como uma espécie
de ágora virtual, na qual cada um tem a
sua independência, sua visão, ainda que
não seja a nossa. E esse multifário
conjunto de opiniões presta um
serviço enorme ao desenvolvimento da escrita
ao correr do teclado, i.e., a
escrita das mensagens mais longas, médias ou apenas de uma pequena a frase,
sinaliza pontos de vista que só
vão agregar in formações ou novos ângulos
sobre determinadas questões vividas pelo
brasileiro ou questões que afetam o mundo
inteiro. É incontestável a
dimensão social do Face.
Cada página de um usuário termina por
formar uma espécie de diário ou
de correspondência entre pessoas que se tornaram amigas e querem
continuar sendo amigas. Só vejo um
perigo no uso exclusivo do Face: o meu medo que as relações entre amigos deixem para segundo plano, no tocante ao estreitamento em
profundidade, aquelas travadas pessoalmente.
Se se mantiverem apenas ao nível do espaço
virtual, tenderão a perder
sustentação e até mesmo se perderem em virtude da monotonia de falar
somente à distância, sem o olho no olho,
o aperto da mão, o braço físico, o volume da voz, a gestualidade, a
linguagem viva – que é um meio dos mais
eficazes no diálogo entre amigos. Sei,
ademais, o quanto é difícil hoje em dia marcar-se um encontro com um grupo de amigos que estejam disponíveis em
dia e hora certos. Todavia, todo
esforço deve ser feito no sentido de que
ao Face, grande veículo social e virtual, seja adicionado esse tempero indispensável ao encontro presencial de amigos.
Se nosso governantes auscultassem o que
afirmam as mensagens postadas no Face e em outras redes sociais, eles teriam farto material crítico
muito proveitoso para reverem suas
posições, seus modos de lidar com a sociedade e verificar em que
medida são aceitos ou repudiados.Governantes que não ouvem as reclamações da população e se encarapitam nas torres de marfim - o resultado
temos visto tantas vezes -,
tenderão a perder credibilidade, a honradez,
o respeito dos concidadãos.
Um governante, em qualquer nível de
mandato ou de cargo, verá que a sua imagem não é aquela que ele vê no espelho
em sua casa ou no palácio, tendente ao narcisismo. Será antes uma imagem disforme
à semelhança do que ocorreu com o
personagem Dorian Gray, de Oscar Wilde (1854-1900).
Essa imagem desfigurada, horrorosa, feia, caricata, seria a verdadeira imagem que o dirigente político, caso desse atenção aos gritos da
sociedade, teria de si junto
aos milhões de usuários do Face e de outros meios de comunicação virtual ou mesma impressa, por exemplo, as das Cartas ao leitores do jornais de grande
circulação.
Seria a imagem do que pensam os que lhe apontam erros, não a dos que teimam em lhe dizer e
aos outros que não está nu, quando, na
verdade, está nu, segundo relata um
conto de Hans Christian Andersen (
1805-1875). Nada se ajustaria melhor
como fábula ao atual cenário político nacional do que
esta contrafação de um rei, um imperador que desfilava sem roupas, enquanto os seus
súditos e áulicos confirmavam (falsamente e por interesse subalterno) que estava, sim, nu, ao contrário de uma criança
que, no desfile, despojada
de hipocrisia, dizia com toda a
espontaneidade de sua idade: “O rei está
nu.”
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