segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O povo tem o governo que merece






Cunha e Silva Filho



             Nem  os escândalos do mensalão, do petrolão, nem tudo que  se faz  de autoritarismo no poder conseguem  derrotar  o grande partido  do povão,  do povinho e de parte da elite  econômica e  intelectual brasileira. Estamos num mato sem cachorro,  numa  ciranda  de  ambiguidades  que só interessa aos que  estão mandando e desmandando  no  poder. Vivemos  o mais agudo  momento  de  embustes e mistificações em toda a nossa história  política.
     O país  não é unido, antes é cordial, ordeiro,  bonzinho,  sem personalidade  nítida. Somos camaleônicos,  macunaímicos,    bruzundanguenses, porquemeufanistas. Gostamos  da memória curta  e  saboreamos, álacres, uma cervejinha  no boteco, um partida  com preço de ouro  no Maraca, e, lá fora,  somos ainda conhecidos  como  o país do Pelé, do futebol,  das mulheres  de ancas largas e bumbuns  empinados que valem  ouro  aos olhares  cúpidos -  regalo  para os turistas branquelos que aqui  aportam com olhos lascívios  para uma mulata, morena ou  branca  de  belas curvas  niemeyerianas. Somos  um página de O cortiço, de Aluísio  Azevedo (1857-1913)  ou um outra pagina lúbrica de A carne de Júlio Ribeiro (1845-1890), zombeteiramente chamada de A carniça pelo  sarcástico e arguto Agripino  Grieco(1888-1973)   
      Fomos  governados por um  presidente  entre  pícaro e malandro,  detentor   de honrarias mil  até no   estrangeiro,  doutor sem nunca ter sido,  cantado em verso e prosa  por escribas de  todos  os níveis  intelectuais,  aqui e lá fora. Somos degaullianos,  somos também  eternamente "futuristas." Somos a picardia   em pessoa e o pior é que   uma  parcela  bem grande  defende   todas  essas artes  pedromalazatianas.
     Ora, se somos  toda esse amálgama de traços   psicológicos  e morais, delegamos toda essa   “qualidades” aos nossos  políticos e por isso  confiamos  neles piamente,   temos  sempre   esperança  de dias melhores que nunca,  na realidade,  nos chegam,  terra  prometida  mas não cumprida. Fica tudo  para as calendas  gregas  e brasílicas,  planaltistas, alvoradense,  aulicianas,    luloptetistas com  “bases aliadas,  confundidoras  da massa ignara,  iletrada,   sem brios, meros  Judas  vendendo  a Cristo  por  migalhas.
      Heróis sem caráter da pós-modernidade,  cúmplice de todas   as patifarias e     conluios,   Somos ópera-bufa, bucha de canhão,  vítimas  passivas  dos engodos das discurseiras  neo-sebastianistas temperadas  com  o pior  figurino   demagógico-eleitoreiro-nacionalista-messiânico.Somos os soldados  sonolentos que aparecem  no grotesco  "paço imperial" joanino do picaresco/malandro   romance  Memórias de um  sargento de milícias, de Manuel  Antônio de Almeida (1831-1861) As cenas histriônicas até hoje nos  provocam  boas  gargalhadas.(Ver  na obra "O Pátio dos Bichos").
    O presidencialismo  todo-poderoso dílmico  com   chumaços  de  realeza britânica  às avessas  vem, agora,   não bastassem todas as  estrepolias de gastança  e regabofes  do Erário Público, tapar  o rombo  por ele  provocado, ressuscitando a publicamente  execrada CPMF criada, talvez com  boa intenção de seu  idealizador, para  melhorar  a saúde pública, mas com aportes   desviados  para outras  finalidades, tanto assim que a saúde  brasileira, ao invés de  melhorar,   foi para o fundo do poço  e hoje é  ainda vergonha  nacional, a despeito  da publicidade enganosa  paga  a peso de ouro  para   enganar   trouxas.
    Deterioraram  as contas públicas por incompetência aliada  à corrupção e ainda nos vêm  pôr goela abaixo   por decreto  a mencionada  CPMF e mais impostos, e mais   arrocho salarial,   com o anúncio agora  de  congelamento de salários.  Como assim? Se querem congelamento  de  salários do funcionalismo  federal,  seria  uma malvadeza  enorme  deixar que os preços  dos alimentos,  dos remédios, dos aluguéis  e de todos  as tarifas  públicas subam   encolhendo  nossos  suados salários.
   Não é  lícito  congelar salários com  alta de preços. Então,  que  se “decrete”  o congelamento   dos preços. Então, vão passar  por cima do Congresso  medidas tão drásticas e antidemocráticas determinadas por uma governante  sob cuja responsabilidade recaem  os  desregramentos   de gastanças de uma administração  pródiga e perdulária?  Não será  diminuído o tamanho  dos trinta e nove ministérios? Por que não eliminar  uns  vinte?  Se a Câmara, o Senado e a sociedade não repudiarem tudo isso, não hesitarei em  concluir  este artigo com  o título  que lhe dei: O povo  tem o governo  que merece,  escusando-me pela pobreza oportuna  do  lugar comum  do enunciado.
     
  

  

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