Cunha e Silva Filho
Nem os escândalos do mensalão, do petrolão, nem
tudo que se faz de autoritarismo no poder conseguem derrotar
o grande partido do povão, do povinho e de parte da elite econômica e
intelectual brasileira. Estamos num mato sem cachorro, numa
ciranda de ambiguidades
que só interessa aos que estão
mandando e desmandando no poder. Vivemos o mais agudo
momento de embustes e mistificações em toda a nossa história política.
O país
não é unido, antes é cordial, ordeiro,
bonzinho, sem personalidade nítida. Somos camaleônicos, macunaímicos, bruzundanguenses, porquemeufanistas. Gostamos da memória curta e saboreamos, álacres, uma cervejinha no boteco, um
partida com preço de ouro no Maraca, e, lá fora, somos ainda conhecidos como o
país do Pelé, do futebol, das
mulheres de ancas largas e bumbuns empinados que valem ouro
aos olhares cúpidos - regalo
para os turistas branquelos que aqui
aportam com olhos lascívios para uma
mulata, morena ou branca de
belas curvas niemeyerianas. Somos um página de O cortiço, de Aluísio Azevedo (1857-1913) ou um outra pagina lúbrica de A carne de Júlio Ribeiro (1845-1890),
zombeteiramente chamada de A carniça pelo sarcástico e arguto Agripino Grieco(1888-1973)
Fomos
governados por um presidente entre
pícaro e malandro, detentor de honrarias mil até no
estrangeiro, doutor sem nunca ter
sido, cantado em verso e prosa por escribas de todos
os níveis intelectuais, aqui e lá fora. Somos degaullianos, somos também
eternamente "futuristas." Somos a picardia em pessoa e o pior é que uma parcela
bem grande defende todas
essas artes pedromalazatianas.
Ora,
se somos toda esse amálgama de
traços psicológicos e morais, delegamos toda essa “qualidades” aos nossos políticos e por isso confiamos
neles piamente, temos sempre
esperança de dias melhores que
nunca, na realidade, nos chegam,
terra prometida mas não cumprida. Fica tudo para as calendas gregas
e brasílicas, planaltistas,
alvoradense, aulicianas, luloptetistas com “bases aliadas, confundidoras
da massa ignara, iletrada, sem brios, meros Judas vendendo
a Cristo por migalhas.
Heróis sem caráter da pós-modernidade, cúmplice de todas as patifarias e conluios,
Somos ópera-bufa, bucha de canhão,
vítimas passivas dos engodos das discurseiras neo-sebastianistas temperadas com o
pior figurino demagógico-eleitoreiro-nacionalista-messiânico.Somos
os soldados sonolentos que aparecem no grotesco "paço imperial" joanino do picaresco/malandro
romance Memórias de um sargento de milícias,
de Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)
As cenas histriônicas até hoje nos provocam boas
gargalhadas. (Ver na obra "O Pátio dos Bichos").
O presidencialismo todo-poderoso dílmico com
chumaços de realeza britânica às avessas
vem, agora, não bastassem
todas as estrepolias de gastança e regabofes
do Erário Público, tapar o
rombo por ele provocado, ressuscitando a publicamente execrada CPMF criada, talvez com boa intenção de seu idealizador, para
melhorar a saúde pública, mas com
aportes desviados para outras
finalidades, tanto assim que a saúde brasileira, ao invés de
melhorar, foi para o fundo do poço e hoje é
ainda vergonha nacional, a
despeito da publicidade enganosa paga a
peso de ouro para enganar
trouxas.
Deterioraram as contas públicas por incompetência
aliada à corrupção e ainda nos vêm pôr goela abaixo por decreto
a mencionada CPMF e mais
impostos, e mais arrocho salarial, com o anúncio agora de
congelamento de salários. Como
assim? Se querem congelamento de salários do funcionalismo federal,
seria uma malvadeza enorme
deixar que os preços dos
alimentos, dos remédios, dos aluguéis e
de todos as tarifas públicas subam encolhendo nossos suados salários.
Não é
lícito congelar salários com alta de preços. Então, que se
“decrete” o congelamento dos preços. Então, vão passar por cima do Congresso medidas tão drásticas e antidemocráticas
determinadas por uma governante sob cuja
responsabilidade recaem os desregramentos de gastanças de uma administração pródiga e perdulária? Não será diminuído o tamanho dos trinta e nove ministérios? Por que não
eliminar uns vinte? Se a Câmara, o Senado e a sociedade não repudiarem tudo isso, não hesitarei em concluir este
artigo com o título que lhe dei: O povo tem o governo
que merece, escusando-me pela pobreza
oportuna do lugar comum
do enunciado.
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