quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Os dois lados da comunicação atual





                Cunha e Silva Filho


              
            Poder-se-ia invocar  aqui  aquela frase da velha esfinge do  Egito: “Decifra-me ou devoro-te.” Quer dizer,  a frase é duríssima e põe diante de  nós duas  possibilidades, também  desafiadoras e  temerosas. Ou fazemos  de tudo para que  consigamos os nossos  objetivos na vida  cotidiana, ou  seremos  antropofagiados  pela  máquina  mortal  e  gélida que não se teme sobretudo dos que estão  com as forças debilitadas pelos anos  de sofrimento  e de ver tanta miséria num  planeta só.
          Há alguns dias li num jornal  uma  notícia  informando que  o  escritor  Umberto  Eco  havia  chamado  as redes  sociais de  “imbecilidades” dos tempos atuais. Não li  a reportagem referente ao que  proclamou  o  estudioso  da linguagem humana. Contudo,  , pensando mais detidamente  no que  afirmou o  autor italiano,  e amadurecendo sobre o assunto,   não  posso  concordar  completamente com ele.
        Nas redes sociais,  existem exageros e baboseiras,  ostentação,   inverdades   e oportunismos  para todos  os gostos. Essa seria a dimensão  negativa  e   maléfica, além ser nociva   a mentes que dirigem suas vidas  com  inteireza  e   vontade  de fazer o bem.
       Por outro lado,  não se pode  sonegar  o lado  bom  das redes sociais: os saudáveis contatos   que podemos manter com  amigos e conhecidos  que,  por um motivo ou outro,  não podemos   ter contato  direto,  pessoal, o que seria  a melhor   opção  no relacionamento   humano. Pessoas há que não utililizam, por exemplo, o Facebook porque nele veem um uso  subalterno,, inferior,  digno mais de   contato  para mexericos e fofocas  estéreis. Não seria bem visto pelos bem pensantes,  por uma  elite  intelectual. No entanto,  sem ser um   ardoroso   usuário do  Face,  tenho  olhos  para ver  que nele gente  de muito saber,  de  grande inteligência e conhecimento fazem hoje largo e utilíssimo  uso  desse espaço democrático  e  instantâneo no seu alcance universal.
     Só não percebe quem  de moto próprio deseja  se omitir   a essa realidade   comunicativa  dos tempos   nossos. É pena que, congregando  tanta gente,   tantos fatos,    tantas notícias,  tanto comentários   enriquecedores  de nosso    “horizonte de perspectiva,” em diversas áreas do saber  humano, da cultura  regional, aciona,   planetária,  desse “mundo, vasto  mundo,”  nos apequena  como    usuários   diante  do gigantismo  das redes sociais e, portanto, diante da impossibilidade  de  abarcarmos  todo  esse  incalculável repertório  da humanidade. Teríamos que ter  dias  maiores,   semanas maiores, mais anos  de  lucidez a fim de que  pudéssemos   dar conta   desse universo  infinito  de  trocas de ideias, de conhecimentos , de experiência ,  de múltiplas possibilidades de  acesso  a toda essa maravilha da tecnologia contemporânea.
   Mas nem tudo é céu,  paraíso, delícias  terrestres. Há um  componente,até diria,  diabólico,  que  nos pode  “devorar” nesta nova  realidade virtual  de   quebra de privacidade ou de desrespeito  às pessoas. Esse componente a que quero  me referir é justamente  o  uso  de dados virtuais  que, a qualquer momento,  podem  querer  infernizar  tranquilidade   dos indivíduos.  
    Veja um exemplo ao acaso: uma  firma  pode exorbitar dos seus deveres de tratamento  amistoso dispensado   a seus clientes que, por   descuido,  deixaram de pagar   tempos  atrás alguns boletos de uma dívida, não por culpa  do  usuário do “objeto comprado”  em forma de plano de saúde, ou seja,  do uso da medicina  mercantilizada.
    Aí, então, é que a tecnologia, no caso via telefone,   que é um instrumento  já bem antigo  de comunicação, entra em cena  para  fazer terrorismo com os seus clientes com ligações  insistentes  feitas de maneira   desonesta  e  aviltante,  que  é a de telefonar  para um cliente e, no instante em que este levanta  o aparelho  e diz “alô,” do outro lado da linha  fica  acintosamente  muda a pessoa que  discou  o nome do cliente. Isso é puro,  deslavado e   covarde   “terrorismo”   do uso da telecomunicação  de hoje. Que tratamento mais brutalizado é esse dado aos clientes,  exatamente   parte fundamental   dos ganhos  da empresa   sem  compostura   ao lidar com a sua clientela?
     O Ministério das Comunicações deveria  agora  se empenhar em  dar moldura jurídica  para  punir  duramente  esse tipo de “terrorismo” de comunicação  por telefone. A própria  Polícia Federal  seria um órgão bem  instrumentalizado  para dar suporte  a reclamações  desse nível   de ações criminosas que  só  estão    provocando    transtornos  aos clientes.
    Cumpre ao governo federal  estar atento  a esses atos  de “terrorismo” contra  o consumidor e procurar   dar  soluções   antes mesmo  que   o consumidor   constitua   um advogado  para   representar contra  uma empresa que se comporta  como   um  traficante do PCC. Ameaçar  o consumidor   com um comportamento   de natureza mafiosa é dar  atestado  de   incapacidade  de uma empresa  que aspire a prestar  serviços  à sociedade civil.
    Firmas que  empreguem   esses meios   escusos  deveriam  ter seus   alvarás   cassados  pelas autoridades  competentes.Esse recurso  violento contra  o consumidor é muito mais  prejudicial  do que  a afirmação de Umberto Eco   ao  definir  as redes sociais   como  “imbecilidades” dos tempos  que correm.
          


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