Cunha e Silva Filho
Poder-se-ia invocar aqui
aquela frase da velha esfinge do Egito:
“Decifra-me ou devoro-te.” Quer dizer, a
frase é duríssima e põe diante de nós duas possibilidades, também desafiadoras e temerosas. Ou fazemos de tudo para que consigamos os nossos objetivos na vida cotidiana, ou
seremos antropofagiados pela
máquina mortal e
gélida que não se teme sobretudo dos que estão com as forças debilitadas pelos anos de sofrimento
e de ver tanta miséria num planeta
só.
Há alguns dias li num jornal uma
notícia informando que o
escritor Umberto Eco
havia chamado as redes
sociais de “imbecilidades” dos
tempos atuais. Não li a reportagem
referente ao que proclamou o
estudioso da linguagem humana.
Contudo, , pensando mais
detidamente no que afirmou o
autor italiano, e amadurecendo sobre
o assunto, não posso
concordar completamente com ele.
Nas redes sociais, existem exageros e baboseiras, ostentação,
inverdades e oportunismos
para todos os gostos. Essa seria
a dimensão negativa e
maléfica, além ser nociva a mentes que dirigem suas vidas com
inteireza e vontade
de fazer o bem.
Por outro lado, não se pode
sonegar o lado bom
das redes sociais: os saudáveis contatos que podemos manter com amigos e conhecidos que,
por um motivo ou outro, não
podemos ter contato direto,
pessoal, o que seria a melhor opção
no relacionamento humano.
Pessoas há que não utililizam, por exemplo, o Facebook porque nele veem um uso
subalterno,, inferior, digno mais
de contato para mexericos e fofocas estéreis. Não seria bem visto pelos bem
pensantes, por uma elite
intelectual. No entanto, sem ser
um ardoroso usuário do
Face, tenho
olhos para ver que nele gente de muito saber, de
grande inteligência e conhecimento fazem hoje largo e utilíssimo uso
desse espaço democrático e instantâneo no seu alcance universal.
Só não percebe quem de moto próprio deseja se omitir
a essa realidade
comunicativa dos tempos nossos. É pena que, congregando tanta gente,
tantos fatos, tantas
notícias, tanto comentários enriquecedores de nosso
“horizonte de perspectiva,” em diversas áreas do saber humano, da cultura regional, aciona, planetária,
desse “mundo, vasto mundo,” nos apequena
como usuários diante
do gigantismo das redes sociais
e, portanto, diante da impossibilidade
de abarcarmos todo
esse incalculável repertório da humanidade. Teríamos que ter dias
maiores, semanas maiores, mais
anos de
lucidez a fim de que pudéssemos dar conta
desse universo infinito de
trocas de ideias, de conhecimentos , de experiência , de múltiplas possibilidades de acesso
a toda essa maravilha da tecnologia contemporânea.
Mas nem tudo é céu, paraíso, delícias terrestres. Há um componente,até diria, diabólico,
que nos pode “devorar” nesta nova realidade virtual de
quebra de privacidade ou de desrespeito
às pessoas. Esse componente a que quero
me referir é justamente o uso de
dados virtuais que, a qualquer
momento, podem querer
infernizar tranquilidade dos
indivíduos.
Veja um exemplo ao acaso: uma firma
pode exorbitar dos seus deveres de tratamento amistoso dispensado a seus
clientes que, por descuido, deixaram de pagar tempos
atrás alguns boletos de uma dívida, não por culpa do
usuário do “objeto comprado” em
forma de plano de saúde, ou seja, do uso
da medicina mercantilizada.
Aí,
então, é que a tecnologia, no caso via telefone, que é um instrumento já bem antigo
de comunicação, entra em cena
para fazer terrorismo com os seus
clientes com ligações insistentes feitas de maneira desonesta
e aviltante, que é
a de telefonar para um cliente e, no
instante em que este levanta o
aparelho e diz “alô,” do outro lado da
linha fica acintosamente
muda a pessoa que discou o nome do cliente. Isso é puro, deslavado e
covarde “terrorismo” do uso da telecomunicação de hoje. Que tratamento mais brutalizado é
esse dado aos clientes, exatamente parte fundamental dos ganhos
da empresa sem compostura
ao lidar com a sua clientela?
O
Ministério das Comunicações deveria
agora se empenhar em dar moldura jurídica para
punir duramente esse tipo de “terrorismo” de comunicação por telefone. A própria Polícia Federal seria um órgão bem instrumentalizado para dar suporte a reclamações
desse nível de ações criminosas que só
estão provocando
transtornos aos clientes.
Cumpre ao governo federal estar atento
a esses atos de “terrorismo”
contra o consumidor e procurar dar
soluções antes mesmo que o
consumidor constitua um advogado
para representar contra uma empresa que se comporta como
um traficante do PCC.
Ameaçar o consumidor com um comportamento de natureza mafiosa é dar atestado
de incapacidade de uma empresa que aspire a prestar serviços
à sociedade civil.
Firmas que
empreguem esses meios escusos
deveriam ter seus alvarás
cassados pelas autoridades competentes.Esse recurso violento contra o consumidor é muito mais prejudicial
do que a afirmação de Umberto
Eco ao
definir as redes sociais como
“imbecilidades” dos tempos que
correm.
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