Cunha
e Silva Filho
Existem dois lados da situação da
política brasileira, o da comédia e o da tragédia. Este último, diga-se assim,
representa o imprevisível, o da iminência de uma reviravolta. Um e outro não
aparecem na clareza de que o povo
necessita saber a fim de se posicionar politicamente ante os acontecimentos
sombrios do gigantesco surrupio do Erário Público escandalosamente provocado
pelas sucções contínuas via propinas do
Mensalão e da Petrobrás em conluio com
os partidos aliados ao governo federal e
empreiteiras inescrupulosas. A meu ver,
os responsáveis pela rapinagem, os dois lados, governo federal e iniciativa
privada, merecem punição igual. Não há anjos e demônios, mas apenas demônios.
A sequência de operações da Lava Jato tem o
dever patriótico de chegar ao poderoso
chefão, doa a quem doer. O povo brasileiro, pelo menos os esclarecidos, já sabe
quem é o culpado, ou seja, onde está a
raiz dos males da crise que atravessamos
e dela já sentimos os estragos.
Na campanha da presidente Dilma, no seu
último discurso, ela omitiu o que já sabia, quer dizer, Dilma não agiu
corretamente ao esconder a gravidade da
situação financeira que, estrategicamente, só foi revelada após estar segura de que tinha
conquistado, a duras penas, um segundo mandato presidencial.
A verdade oculta veio logo à tona com
toda a força de sua crueza e de seus
desdobramentos nocivos à vida da população
brasileira. Todos os males da caixa de Pandora foram soltos e tomaram conta do
Brasil e, à semelhança da mulher de
Epimeteu, no fundo da caixa ficara a esperança. Esse é o lado trágico do atual governo onde reinam
todos os males e no qual não há alguma perspectiva de esperança. Se não se
pode vislumbrar alguma nesga de esperança, é porque se está atingindo o fundo
do poço.
O lado cômico é simbolizado pelos
desentendimentos e fraturas dos que apoiam o governo e dos seus opositores, nos
quais a população também não confia. O impasse se instalou entre os
congressistas e o Executivo, ainda mais agravado agora que o PDT e o PTB já estão dando as costas ao
governo. A presidente está numa sinuca
de bico.
Assim, balançando entre a comédia e a
tragédia, vive o Palácio do Planalto. E o pior, o país já em plena crise
financeira. Com suas ações impopulares nada na praia perdido com a
possibilidade de não ver o seu propalado
ajuste fiscal ser votado pelos congressistas que, se depender da parte dos partidos da
oposição, não vingará. E, no caso de ser aprovado, trará no seu bojo todas as suas insidiosas sequelas: recessão,
juros estratosféricos, desemprego e todo o conjunto de mazelas daí surgidas
violência em altíssimo grau, impunidade,
greves pipocando nas
universidades públicas e outros graves
problemas que atravessamos impotentes e
sofridos.
O governo do PT perdeu toda a sua confiabilidade no meio do povo. O
ex-presidente, nem com todos os seus títulos de doutor honoris causa outorgados por universidades no exterior conseguidos
no auge da sua popularidade, também caiu em desgraça em virtude do apoio que
deu ao José Dirceu agora novamente encalacrado
em decorrência de novas denúncias de ligações dele com empreiteiros que, agora, se
encontram na condição de réus.
Dois questionamentos somos obrigados a fazer
diante da gravidade da situação política: a) quem é o responsável primeiro por
todas essas mazelas atuais?; b) por que a Polícia Federal não rastreou o
responsável maior pelo desencadeamento de todos os esquemas de organização de
ações delituosas envolvendo o emprego de propinas no jogo tácito entre políticos
corruptores e e empresários corrompidos? Ou vice-versa.
Se a mídia tem sugerido nomes a quem se possa
atribuir responsabilidades pelos desvios dé dinheiro, por que razões as
investigações não chegaram ao comando geral da roubalheira que é, em última análise,
o seu ponto de partida?
A quem interessa proteger os verdadeiros culpados pelos rombos financeiros e causa primeiraa crise econômica
brasileira nos últimos anos? A Polícia
Federal, com todo o peso de sua responsabilidade e de sua alta missão em prol
de um país livre de bandidos de colarinho branco, não pode deixar de ir a fundo
em busca dos elementos-chave de todos os crimes cometidos contra o povo brasileiro. É esta resposta que a
sociedade está há tempos esperando das investigações sob o comando do intrépido
juiz Sergio Moura.
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