Cunha e Silva Filho
(IN)DECISÃO
Cai o sereno
nas notas da noite
e o coração do
sol se assombra.
Cai sobre a
máscara do mar
e a face cega
do amor
canta uma
canção de despedida.
Cai sobre as
pálpebras da boneca
despenteada
pelo calor dos olhos.
Cai sobre as
mãos
que acenam o
adeus.
Poemas
há que se dirigem diretamente a uma realidade palpável, ainda que
subjetiva.Poemas outros existem apenas para exprimir sensações indizíveis, nas
quais as palavras valem por si mesmas. Os últimos são da linha de poemas feitos
dos impulsos estéticos, ou seja, de criar uma realidade que, sem declinar de
ser humana, sem desdenhar a sensibilidade de atos comunicativos, se ocultam,
criam imagens sinestésicas e visam a um estado d'alma de uma geografia humana
universal. São os que estão mais próximos dos velhos simbolistas.
Ao primeiro tipo pertencem os românticos do século 19. Ao segundo tipo se filiam os poemas modernos, já completamente despojados da métrica e da rima tradicionais.
Desta forma, diria que os modernos, aqui usando o termo num sentido bem elástico, sem as muletas dos traços distintivos da métrica clássico, são de fatura distinta,em que o poema assume outros modos de expressão poética, seja na forma, seja na sua materialidade física e na sua capacidade de traduzir os tempos de hoje pela palavra, pela construção e ousadias das imagens, embaralhamento dos planos dos sentidos e das sensações estranhas provocadas pelo poeta.
Ao primeiro tipo pertencem os românticos do século 19. Ao segundo tipo se filiam os poemas modernos, já completamente despojados da métrica e da rima tradicionais.
Desta forma, diria que os modernos, aqui usando o termo num sentido bem elástico, sem as muletas dos traços distintivos da métrica clássico, são de fatura distinta,em que o poema assume outros modos de expressão poética, seja na forma, seja na sua materialidade física e na sua capacidade de traduzir os tempos de hoje pela palavra, pela construção e ousadias das imagens, embaralhamento dos planos dos sentidos e das sensações estranhas provocadas pelo poeta.
O
poema moderno comunica-se por
caminhos transversais, onde a busca da mensagem tem como epicentro a aparente incomunicabilidade entre o emissor, “eu
subjetivo”e o receptor – elemento este que, de fora da realidade do poema, torna-se
um dado relevante de apreensão
dos seus sentidos e de suas múltiplas
formas de leituras.
Isso não significa que o verso moderno seja
de elaboração mais fácil ou mais
complexa, pois suficiente seria enunciar frases dando-lhes a
espacialização grafica de um poema nos moldes antigos. Esta aparente facilidade
de compor um poema como se fosse enunciados ou afirmações da prosa é
a sensação que se tem ao lermos
uma poema contemporâneo.
Aí, porém, reside o risco, já que o verso moderno se apoia num ritmo nascido das necessidades rítmicas do poeta, semelhante ao conceito "Cria o teu próprio ritmo" da lição dos modernistas de 1922.
Pura ilusão: seria hipoteticamente mais complexa a composição de um poema moderno por múltiplas razões que não me caberia aqui nomear.
O poema de Dílson Lages "In(decisão)" exemplificaria bem o alcance do poema moderno. Não se enquadraria nunca num poema de corte clássico e não seria este, no meu juízo, o propósito do poeta.
Já pelo título, feito à maneira dos concretistas, quebra-se qualquer alusão de cunho conservador.
O vocábulo bipartido sinaliza para o duplo sentido, quer dizer, há dois conceitos aqui levados em conta tanto pelo "eu subjetivo" quanto pela eu receptivo. Este fato já coloca sua leitura em dois polos , em duas saídas para interpretação ou leitura mais funda do poema, visto que o leitor ou intérprete é senhor de tomar um dos caminhos hermenêuticos, o que o coloca no impasse dos sentidos potencializados na estrutura geral do poema.
Visualmente, o poema forma-se de três estrofes de dois versos e de uma só estrofe de três versos. Entretanto, há semelhanças de natureza estilístico-fônico-sinestésica que se harmonizam no todo do poema e lhe dão consistência de forma, i.e., lhe dão unidade própria e, ipso facto, valorizam o resultado da estética do poema.
A anáfora verbal "Cai", repetida quatro vezes no poema, não lhe é gratuita. Reduplica o sentido da queda do fenômeno natural "sereno." Veja-se que o "sereno" contrapõe a "noite" ao "dia" representado pelo "sol", mas um sol "assombrado," humanizado.
Aí, porém, reside o risco, já que o verso moderno se apoia num ritmo nascido das necessidades rítmicas do poeta, semelhante ao conceito "Cria o teu próprio ritmo" da lição dos modernistas de 1922.
Pura ilusão: seria hipoteticamente mais complexa a composição de um poema moderno por múltiplas razões que não me caberia aqui nomear.
O poema de Dílson Lages "In(decisão)" exemplificaria bem o alcance do poema moderno. Não se enquadraria nunca num poema de corte clássico e não seria este, no meu juízo, o propósito do poeta.
Já pelo título, feito à maneira dos concretistas, quebra-se qualquer alusão de cunho conservador.
O vocábulo bipartido sinaliza para o duplo sentido, quer dizer, há dois conceitos aqui levados em conta tanto pelo "eu subjetivo" quanto pela eu receptivo. Este fato já coloca sua leitura em dois polos , em duas saídas para interpretação ou leitura mais funda do poema, visto que o leitor ou intérprete é senhor de tomar um dos caminhos hermenêuticos, o que o coloca no impasse dos sentidos potencializados na estrutura geral do poema.
Visualmente, o poema forma-se de três estrofes de dois versos e de uma só estrofe de três versos. Entretanto, há semelhanças de natureza estilístico-fônico-sinestésica que se harmonizam no todo do poema e lhe dão consistência de forma, i.e., lhe dão unidade própria e, ipso facto, valorizam o resultado da estética do poema.
A anáfora verbal "Cai", repetida quatro vezes no poema, não lhe é gratuita. Reduplica o sentido da queda do fenômeno natural "sereno." Veja-se que o "sereno" contrapõe a "noite" ao "dia" representado pelo "sol", mas um sol "assombrado," humanizado.
O "sereno", "tênue vapor
atmosférico noturno" (Aulete) é a força-motriz que propicia
a realização do poema.
No
conjunto dos versos, há um ambiente físico - suave - que reforça outros elementos naturais e
humanos do poema, formando um todo de metáforas bem originais, tais como "
coração do sol", "máscara do mar", que acentuam essa
característica de afastamento, de
partida, de sentimento de solidão(amorosa)
Constelado de fonemas sibilantes, de
fricativas alveolares surdas, a musicalidade da peça poética salta à vista e
robustece a ideia da própria natureza da poesia, ou seja, faz do poema uma canção, à qual está com frequência tão ligada a criação
poética.
O título corresponde, dessa maneira, ao significado do poético que não é unívoco, mas se alimenta das hesitações tanto existenciais, sentimentais e afetivas quanto da própria criação de um poema, um ato sempre suscetível aos sentidos plurais, às abstrações, ao enigmático da natureza poética e, portanto, humana.
O título corresponde, dessa maneira, ao significado do poético que não é unívoco, mas se alimenta das hesitações tanto existenciais, sentimentais e afetivas quanto da própria criação de um poema, um ato sempre suscetível aos sentidos plurais, às abstrações, ao enigmático da natureza poética e, portanto, humana.
Nota do
colunista: Esses comentários,
numa versão aqui melhorada e um pouco ampliada, foram
feitos na seção Comentário” do
blog do poeta Elmar Carvalho.
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