e
Cunha e
Silva Filho
Desde os esforços
de Martin Luther King (1929-1968), nos anos de 1960, o maior líder negro da história norte-americana, com a sua luta, com a sua oratória convincente, carismática e portentosa, a favor dos direitos civis, sobretudo dos
negros, que eram tratados como
gente de segunda classe, a pátria de Lincoln precisa reavaliar
de forma urgente o que se poderá
fazer, nos poderes Executivo
Legislativo e Judiciário, para melhorar
a situação ainda presente, que é injusta e
discriminatória contra os
negros no país. Sabemos que a morte de MLK não foi em vão. Seu legado
foi construtivo se comparado com
a situação em que se viam os negros americanos antes da atuação
desse grande líder, um
verdadeiro apartheid plantado
em solo americano
Seria conveniente
reler os seus escritos, os seus
discursos, o seu ideário a fim de que
possamos, em tempos atuais levar adiante o que
ele conquistou para o bem do
povo americano. Seu famoso pronunciamento “I have a dream,” serve como excelente material
para reflexão sobre o tema do racismo
e dos direitos de cidadania
não só do povo americano mas de
qualquer povo que
aspire a alcançar os inalienáveis
direitos civis em situação de igualdade, ou seja, sem
nenhuma pretensão de
daquela ideia absurda de
“iguais tratados como desiguais,” tão .comum em alguns países, inclusive o Brasil.
Os confrontos decorrentes de crimes de policiais americanos
brancos contra negros e pobres,
sendo exemplos os de 1989, 1992, 2012 e, agora, 2014,
constituem casos flagrantes
da ainda frágil posição
em que se situa o
homem negro americano, sobretudos adolescentes.
Ora, quem há de
acreditar nas afirmações de
policiais brancos que,
respondendo a perguntas da imprensa confessam que teriam agido da mesma forma se a vítima
fosse um branco? Como explicar o fato
de que o policial atire
não sei quantas vezes contra alguém
que está desarmado. Por si próprio, o
policial já tem um treinamento de um candidato para uma atividade cujo perfil seja o
de prontidão à violência e, no caso de ser um policial
mal treinado e desequilibrado,
essa predisposição ainda é bem
maior, tanto no Estados Unidos
quanto em qualquer parte
do mundo. Pessoas pacíficas em geral não
procuram a carreira de policial.
O cinema americano mostra essa faceta de alguns
policiais, quer dizer, o seu lado
violento, agressivo, sem falar da
dimensão corrupta de alguns. Qualquer pessoa bem informada, sabe que, no cinema, na
literatura, no teatro, nas
novelas, o bad side de parte da
polícia não é mera coincidência, mas relatos fictícios fundamentados
na realidade empírica.
O Presidente
Obama, ele mesmo detentor de um Nobel de Paz,
não pode ser leniente quanto aos acontecimentos de natureza
racista que estão ocorrendo nos EUA. Não é preciso apenas de “calma” para aquietar os ânimos exaltados dos
afro-americanos diante da injustiça do homem branco.
Compete ao
líder americano, que é negro,
ter uma posição mais firme e corajosa
concentrando seu prestígio junto à
comunidade negra americana no
sentido de provocar mudanças nas leis
americanas levando em conta
pontos cruciais dos quais
apontaria primeiro, humanizar o
treinamento de seus policiais
tornando-os não inimigos
entre os negros, mas pessoas mais sensibilizadas e mais equilibradas
diante de situações
de conflito, usando a arma de
fogo só em última
instância.
Segundo, fazer
pesada campanha
publicitária de pacificação
dos ânimos entre negros e brancos para que
os dois lados se tornem indivíduos
e cidadãos ligados por um sentido de
fraternidade, de respeito
recíproco pelas diferenças meramente
epidérmicas.
Finalmente,
urge que os EUA invistam na melhoria das condições do negro americano, reduzindo as situações
de abandono, de miséria, de falta de habitação
adequada, de aperfeiçoamento de suas escolas públicas,
preparando os seus jovens a um
acesso melhor nos estudos e na possibilidade de um emprego decente ou de ingresso
em boas universidades.
Ao
realizarem essa melhoras de cunho
social, de cidadania, evitar-se-ão mortes
covardes contra a população negra e,
em consequência, impedirão os confrontos perigosos
multirraciais que, se
alastrando, só têm a dar prejuízos à nação americana, acumulando desnecessariamente perdas materiais
e principalmente humanas.
Que não se deixe de relembrar as lições
de paz e de união que ainda
ecoam nos espíritos
do nobre povo americano. Não são elas palavras ocas de um líder populista, mas de um pensador que
conquistou novas leis contra a segregação dos
negros americanos, leis de
direitos civis e de possibilidade de os negros
poderem ter direito ao voto e de se tornarem, assim,
cidadão americano. Essas vitórias
conquistadas não podem se perder; elas foram conseguidas
graças ao combate ingente de Luther King desde os meados dos anos de 1950. O seu
assassinato, em 1968, é prova
incontestável de sua
luta corajosa e sobretudo do
seu nível de reação
contra a discriminação racial
nos EUA.
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