sábado, 15 de novembro de 2014

É de estarrecer!








                                  Cunha e Silva Filho


              A coisa anda feia no país.  Hoje, o jornal O Globo surpreende, na primeira página,  o  leitor com  vinte e quatros  fotos  de gente ligada ao  grande  empresariado  e de altos funcionários da Petrobrás  envolvidos  em  negociatas com  partidos  políticos do PMDB, PP e  do  PT. Numa  mega-operação  de uma segunda fase   da Lava-Jato, foram mobilizados 300  policiais da  Polícia Federal,  50 agentes da Receita Federal em diferentes partes do  Brasil. Fundamento  da operação:  corrupção  na Petrobrás com  altos executivos  de empresas  em conluio  com  executivos  da Petrobrás.  Aqueles são acusados de   pagarem  propinas a  executivos  do alto  escalão  da Petrobrás e a  políticos  do PT,  do PP e do PMDB.  Várias  páginas  daquela jornal  são  reservadas  a reportagens   que  esmiúçam os meandros  da roubalheira   nacional    num escândalo, talvez ainda pior do que o do Mensalão e dos  anos sombrios   do governo  Collor.
               Como contraponto aos escândalos  da Petrobrás, o  mencionado  jornal  refresca a memória  do leitor,   lembrando  que os membros  do governo  petista  e de outros partidos que foram  presos no Mensalão, após um só ano  de detenção,   sete  presos   já andam  livres  e fagueiros   distantes  da prisão.                 Ora, ao cidadão  brasileiro que  se depara com  tanta   malandragem   da  politicalha nacional  e com  o que  resultou  de denúncias,  investigações    policiais  e  encarceramento   dos   sentenciados não resta senão   manifestar  sua  indignação  contra  julgamentos   que  resultaram  praticamente  em flagrante  impunidade.
             Como se há de confiar num  governo  que  age  dessa forma  no que  diz respeito  a práticas  reconhecidamente  identificadas como   delituosas   e nocivas ao  dinheiro  público, i,e,  terminam num simulacro de  penalidades   que recebem o nome  de  “prisão domiciliar”? Onde fica o peso da Lei, onde  fica a Justiça   que deveria dar  exemplo  de  sua  imparcialidade e de sua  obrigação  de   fazer  valer  a essência da Lei e o respeito  à Constituição?
            O que mais  me   causa   espécie  é o fato  de que  os prosélitos   do  PT fecham os olhos  a todo esse quadro  de  quebra de decoro   político  e faz ouvidos de mercador   a todas  as  maquinações,   imposturas  e mentiras   do governo federal.   
           Reconhecer realizações importantes do governo federal, a partir das administrações  do Lula e da Dilma em alguns   setores pontuais,   melhorando   a vida   de  parte da pobreza  brasileira através   de  benefícios  sociais ainda que   populistas   nas suas motivações,   ou  constatar-se a multiplicação   de   cursos  superiores    federais  e  escolas   técnicas, com  algum  ganho  salarial  bem mais significativo do que  era no  governo   FHC,  que  deixou  o funcionalismo  federal   por mais de uma  década  sem  nenhum aumento, é algo que não  podemos   omitir. 
          Mas,  a melhoria   de  setores   da  estrutura  governamental  federal  não  pode nem deve  ser  um biombo   com o qual  possamos   esconder os   problemas  cruciais e de  alta  gravidade que afligem hoje  o  Estado   Brasileiro:  a violência  sem precedentes  na história da  criminalidade   brasileira,   a precariedade dos  transportes de massa,   o sucateamento de hospitais,  a impunidade generalizada  pondo em descrédito as intenções e os  planos do governo em   quererem  efetivar  reais  mudanças  nos  pontos mais críticos   de sua governança.
        Nenhum brasileiro  sensato  e  avisado  pode desejar  para o  país   rupturas  do  sistema democrático  posto que  este ainda  se apresente lamentavelmente  com  tantas falhas não só no  Poder    Executivo,  mas também no  Judiciário e  Legislativo. Daí a necessidade  premente de  reformas  nos  três e reformas que venham  a  fortalecer   o  regime democrático,   modernizando-o  deveras,  tornando-o atuante, capaz de  minimizar  as  tremendas    mazelas  da sociedade brasileira. 
      O salto  maior de qualidade  para   aperfeiçoar   a democracia  brasileira  somente  será   dado  quando  os nossos  políticos  forem  outros, ou seja,  forem  homens  compenetrados   profundamente com o bem-estar  do povo  brasileiro. Esses novos homens, o que não quer dizer simplesmente que sejam  novos  só na idade, porquanto  existem   políticos  jovens que  já  abraçam  a carreira pública com vícios  ancestrais,  com  formação  viciada e corrompida. Sendo  assim,  de nada adianta dizer-se como é lugar-comum: "Têm  sangue novo". Ora,  isso nunca foi   atestado  de integridade moral para ninguém. A ética não  se conta  pela idade.    O homem  digno  para exercer  um cargo  público é fruto de uma solida formação  moral,  combinada  com  competência    e espírito   cívico e uma boa dose de liderança, amor  à causa  pública,  respeito  à Lei.  É  desses componentes formadores   de  grandes  homens que  o  país tanto   precisa e com  urgência
    Em que  terreno   poder-se-ia semear homens  desse quilate? No da educação integral,   nos estudos sérios,  na prática do  humanismo. Daí   depender essencialmente esse terreno  do sistema educacional modernizado,  feito  com   plena convicção   de que  somente o conhecimento profundo e contínuo,  desde o  ensino  fundamental e médio   até à universidade,   aliado  a princípios  éticos e morais, é capaz de .levar adiante  a melhoria do país. Ao  empreender  essa mudança  modernizadora,  a Escola   será sempre  o grande  instrumento  da formação  de homens  sérios,   leais,  humanos  e sensíveis às  agruras  da sociedade e sobretudo  dos mais  necessitados. O político  ideal pode,  sim,  não ser apenas  uma utopia, porém um fato concreto. O pilar principal da  Política e do  político  depende dessa  condição inestimável  e inarredável. A felicidade de um povo   pressupõe  a existência de homens de caráter que, no exemplo brasileiro,  não passa atualmente de  um wishful thinking.
   Sem um  sistema de educação   visto  pelo  político como  um investimento  tão ou mais importante que  o crescimento   econômico de um país, não se há de  conseguir  vencer a batalha  da  politicalha, da corrupção  e da impunidade.  Sem educação aprimorada, o  país continuará a  renovar  o que de pior  possa    nos representar  no  Congresso e  na Casa Legislativa e o mesmo vale para os outros dois  poderes. A unidade  e grandiosidade dos poderes   de uma Nação  é produto  do tipo de  formação   educacional  e familiar  que tiveram seus  membros.
      Por que nos   surpreendemos  tanto  quando   nos  decepcionamos  com  um  jurista, um  professor,   um  engenheiro, um advogado, entre outras   atividades,  que  dão mau  exemplo  de atitudes  no exercício de suas  função. Por isso,  não é só a competência,  a formação   austera   intelectual  que faz  de um indivíduo  uma   pessoa  justa,   correta,  digna e  honesta. É preciso  que  o indivíduo tenha  na sua  mente e nas sua alma  o compromisso  com  a  verdade que seja o  instrumento   do bem  e a serviço da comunidade. É necessário  que  a competência   seja   regulada  pela grandeza  das ações,  das atitudes  e do  respeito  ao outro, que pode ser  uma  só  pessoa,  uma grupo,  uma   sociedade,  uma  universalidade  de  povos.
   Não se quer   significar com isso que   eu esteja  advogando  um  tipo de governança feita na base de um elitismo  de competência, mas  de um  elitismo  de  indivíduos   respeitados    e respeitadores   numa sociedade  livre  e pacífica.




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