quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O Papa tem razão






                                      Cunha e Silva Filho


           Não quero estar na pele do Papa Francisco. Ele já deu  provas mais do que  evidentes  e insofismáveis de que  as alternativas são escassas tanto no que concerne à ausência de solidariedade no mundo quanto no se que se  refere à fome, às guerras e,  por último,  à falta d’água para consumo humano, a chamada  água  potável provinda dos  rios. Suas  advertências  são  firmes  e suas palavras  têm o peso da  sabedoria tanto  no sentido de  observar  os erros  materiais  quanto  no de  perscrutar  os complexos  problemas  que podem  levar  os habitantes do  planeta Terra a um beco sem saída.
           O Papa  Francisco tem os olhos para Deus como  ainda os tem para os males  da vida  leiga,  para o lado prático   desta,   para uma espécie de  conhecimento, digamos,  fora do  epicentro  teológico. Sua visão se me mostra aberta, acessível,  sem  esoterismos   nem excessos  teóricos. Seus pronunciamentos não me parecem  dirigidos apenas aos iniciados, aos eruditos católicos do clero  regular e dos pensadores  laicos mais  afeitos   às abstrações  filosóficas ou teológicas.
           Sua evangelização, suas prédicas  se  dirigem ao homem da rua, aos humildes,  aos famintos, aos ainda milhões  que não têm o que comer  enquanto  outros    se refestelam    no puro  consumismo das sociedades hedonísticas,   principalmente   de natureza capitalista do Ocidente tanto quanto em parte do Oriente.  Ora, tal  exacerbado   modo de vida epicurista,  sibarita, perdulária,  indiferente à sorte dos despossuídos tem suas raízes  na exploração   dos mais fracos,  na acumulação  da riqueza às custas   de meios  ilícitos,  corruptos,  frutos de falcatruas, de conchavos  feitos entre governantes  e  empreiteiras com a intermediação    de  políticos  que venderam alma  e a  dignidade  à diferentes  máfias  das sociedades,  cujo alvo  são o lucro fácil e a  ganância  pantagruélica geradores do individualismo  com  ausência de  parâmetros  de vida  ética e de moralidade  nas ações  do homem contemporâneo.
           Quanto às guerras   que despontam aqui e ali  no mundo,  não antevejo  para elas  melhoras   em direção  à paz  duradoura. Os organismos  internacionais de paz fazem sua parte, contudo  as soluções  concretas,  os conflitos  não dão sinal  de  chegarem  a compromissos  de  pacificação   dos espíritos. Os exemplos  estão aí,  na  Ucrânia,  na Síria,  no Afeganistão,  na Coreia do Norte,  em Israel e na Palestina só para mencionar  uns poucos   exemplos de  regiões conflagradas.
         O pior de tudo  é que  jovens  ingleses, americanos,  franceses ou de outras nacionalidades,   se bandeiam para  o fanatismo   de terroristas  muçulmanos, dos jihardistas,  do  denominado  Estado  Islâmico, com  pretensões  expansionistas de natureza  geopolítico-religiosa. Sem  disporem de amadurecimento ideal  a uma compreensão   equilibrada   dos  problemas  do mundo, esses  mesmos   novos   ocidentais,    escolados   pelos  terroristas   e fanáticos,  se  transformam  em verdugos e  degoladores encapuzados  com sotaque  britânico em cenas humilhantes e   horripilantes vistas pelas tevês mundiais,  com aquelas figuras  mascaradas e vestes  pretas,  prontas a se tornarem   executores das ações covardes   contra    jovens  ocidentais, alguns dos quais   jornalistas.   
       Os pais dos que se  convertem  ao  islamismo deformado  pelo fanatismo,  são deixados  para trás  em desconsolo  pela  opção  religiosa (?) dos filhos; ficam   sem saber o que fazer e procuram   os motivos   que  levaram seus filhos  a conversões  religiosas e ideológicas. Os terroristas que  determinam as  ações de bárbaros contra o ser humano põem a culpa  nos  Estados Unidos, que, segundo eles,   andam  bombardeando  regiões   onde  se   homiziam   grupos terroristas. Homens que se tornam   terroristas  escudados  por  supostos  princípios  religiosos na realidade   não são  verdadeiros   praticantes do islamismo São contrafações  religiosas. O mundo fica, assim, de ponta cabeça.
       O terceiro problema,  lembrado  pelo  Santo Papa,   que  assombra  o mundo,  é  a água. Esse líquido  precioso,  condição  essencial  da vida,  já está dando sinais de escassez, e, aqui no  Brasil,  tem   assustado  a população, sobretudo  a de São Paulo. Todos nos lembramos  do  chamado  polígono das secas,  flagelo  do Nordeste  brasileiro e ao mesmo  tempo  regalo de  políticos    que se aproveitaram  do que se chamou   “indústria  da seca.”  Quem  já imaginou  o grande estado de São Paulo,  a sua capital  e o seu interior  às voltas com   a gravidade  da falta d’água.       Para muitos  politiqueiros de má índole,  a seca do Nordeste  era um  prato  cheio para manter permanentemente sob sua  dependência  e cabresto  político-eleitoreiro,  os flagelados   dessa desgraça   que tanto  assola  aquela região. Foi a falta d’água,  de chuva, com a sua consequência,  a seca,  que, no  Nordeste, inspirou o clássico romance  Vidas secas, de Graciliano  Ramos.
         A saga de Fabiano é a do retirante acossado  pela fome, pela seca e pelo descaso  governamental.  No Oriente, regiões antes desérticas,  se transformaram em  solos férteis. No Brasil, ao contrário,   a falta d’água,   agora se transfere para a “locomotiva do país.”
        Os governos de São Paulo  foram  imprevidentes  e  incompetentes, botando toda a culpa  na falta de chuva, na estiagem, quando se sabe que as razões são mais profundas e estão, pois,  ligadas  à falta de cuidados   com  os rios que abastecem  São Paulo, na capital e no  interior.
         Uma   outra  causa  de  desídia  governamental  é a completa ausência  de  planejamentos   para  salvar  as fontes  hídricas do  Tietê que,  no coração    paulistano,  se transformaram  em vergonha  nacional, com o rio poluído,  lugar de  despejo de sujeira  industrial, de lixo urbano, decorrente da  ignorância  de seus habitantes,   ou seja, de falta de educação e  carinho  para com   o Tietê.
         Como contrasta tudo isso com  os  rios europeus e  norte-americanos e de outros  países!. O  Tâmisa,  o Sena,   o Danúbio,  o Mississipi,  o Nilo,  o Tejo, por exemplo,  são, à vista dos nossos,  modelos de  preservação   de suas nascentes,  são parte  viva  de seus  povos   que  os tratam  de forma  humana, i.e.,  como dádivas  da natureza  em benefício de  povos  civilizados.
          O mesmo  poder-se-ia afirmar do rio  São Francisco, do outrora  famoso Velho  Chico, o  "rio   da integridade  nacional.” O governo  Lula, com  o populismo de sempre,   resolveu   desviar  o curso  desse  rio, não atendendo  aos  apelos de um  defensor, se não me  engano,  um  padre,   da integridade física e navegável  do  grande rio,  fazendo até  greve de fome.
          O objetivo  do governo  era  levar água  para  áreas do  Nordeste secularmente   assoladas  pela seca. Até agora,  a obra não   foi  concluída e o que se fez  resultou  num  gravíssimo     crime,  o de que a nascente principal   do São Francisco  já secou ou está secando. São Paulo,  na capital e no  interior,  hoje está   fortemente  dependente das bênçãos divinas,   da  permissão de São Pedro para que  faça  chover  em São Paulo a fim  de  auxiliar o que pouco  se tem de reservas d’água pressionada por uma   capital  altamente  demográfica  e  sem planejamento   urbano   adequado.
          Do Norte já sinalizam  problemas  da bacia Amazônica. O maior  rio do mundo em  volume d’água já se  ressente com  a criminosa depredação do homem  brasileiro, através das queimadas,  do   desmatamento.  O “pulmão do mundo”  é uma riqueza  inestimável  e responsável  pelo  equilíbrio  do meio ambiente em nível  planetário.
        Durante a recente campanha  presidencial nenhuma  dessas questões   que afligem  a saúde  de nossas  reservas  hidrográficas  se discutiu, o que é muito   grave. As vozes  politiqueiras   se calam  diante  dos magnos  problemas nacionais, pois estão  mais pensando em  macroeconomia,  superávit primário,   divisão  orçamentária, aumento  de salários de deputados e de benefícios  para eles   como  o auxílio moradia   e quejandos. 
        Como aumentar salários  desses políticos  que, mesmo   sem  aumento,  já desfrutam de uma vida   de nababos? É por isso  que, nas redes sociais,   cresce assustadoramente  o número de  cidadãos  brasileiros indignados  contra  os nossos  políticos e os  nossos   governantes, contra igualmente   novas  mordomias  para juízes federais que  estão  pleiteando  auxílio-moradia, eles próprios que já  percebem  altos salários diametralmente   injustos  se comparados aos salários   dos barnabés, dos  aposentados pela Previdência  Social  e de outros   salários  de órgãos  vitais  ao progresso  da nação, com militares das Forças  Armadas, Polícia  Federal,  professores  do ensino fundamental e médio  federal,  médicos federais e outros profissionais do setor  federal. Esses cidadãos, através de coletas de assinaturas  virtuais, estarão encaminhando, por via  judicial,   aos governantes  e  políticos  que  suspendam suas pretensões descabidas  de  fortalecerem  seus  privilégios   em detrimento   do bem-estar do povo brasileiro. 
         Vejam  outra  gritante    injustiça  que se comete  neste país: um funcionário  de uma estatal como a Petrobrás,  e não estou falando  de executivos do alto escalão,  recebe  sessenta mil  reais  mensais, como é exemplo um deles  implicado nos  escândalos  da Petrobrás. Imagine-se o que  não  recebem os   altos funcionários  daquela estatal que,  não satisfeitos com  os  seus salários de marajás, ainda   por cima   se envolvem   em  falcatruas  com  empreiteiras  e  políticos   inescrupulosos. A ganância deles não tem tamanho e o seu  limite são os  milhões  ou bilhões  desviados  para   bancos   estrangeiros e a ostentação  desavergonhada de uma vida-paraíso  aqui  na  Terra.

        Para eles,  só uma  solução:  que mofem  em masmorras sem direito a progressão  da sentença. Desta forma, ajudarão  a  minimizar  a impunidade  brasileira.  

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