Cunha
e Silva Filho
De volta, agora, à estrada com destino a Foz do Iguaçu. Foi
um longo
percurso. Estradas e mais estradas,
com a natureza de dia vista em sua paisagem bela, colorida e diversificada. A manhã,
linda e ensolarada, com nuvens
brancas, parecendo, conforme a
perspectiva e a imaginação de cada
um, tomando formas humanas ou não. Pelo menos era isso
que traduzia a imaginação de Elza olhando para elas: anjos, Moisés com
a Tábua dos Dez Mandamentos. As nuvens, pra mim, semelhavam as barbas de Papai Noel ou montanhas de neve no céu, ora meio paradas,ora
movimentando-se e metamorfoseando-se em
outras figuras, dando-me a impressão de um mar azul profundo com margens de rochedos escarpados. Tudo, porém,
tinha uma configuração que se esgarçava e assumia novas contornos,
novas formas difíceis de se
distinguir com nitidez.
Algumas paradas que ninguém é de ferro: ir ao banheiro
ou esticar as pernas.Novamente,
pegamos a estrada que parecia não
ter fim, no movimento de carros, caminhões, carretas, em direções contrárias
de pistas em mão dupla ou mão única.
Chegamos, à tardinha, em Foz do Iguaçu debaixo de
chuva, com algumas hesitações em
encontrar o caminho correto do hotel em
que ficaríamos hospedados durante a permanência ali
No mesmo
dia nessa cidade, fomos atravessar a fronteira, em direção à Argentina. Antes de
passarmos pela Aduana, entramos no Duty Free Shop. Elza, Harley
e Marisa queriam comprar alguma
coisa. Assim o fizeram. As netinhas se
deliciavam com tantas coisas a escolher num ambiente onde o
castelhano era o idioma mais
falado.Aproveitei o ensejo pra praticar um pouco o meu
enferrujado espanhol mais lido do
que falado.
Primeiro, passamos
pela Aduana brasileira sem protocolos. Ninguém nos deu por nós. Em seguida, fomos passar pela Aduana argentina. Agora, era
tempo de apresentarmos nossas identidades e
dizer o que iríamos fazer em
território estrangeiro. Havia uma fila de
carros em nossa frente. Esperamos a
nossa vez. Documentos conferidos,
registrados no computador. “Adelante!”, disse-nos o funcionário da Aduana. Estávamos
em pleno solo argentino, no estado de Misiones, na cidade Puerto Iguazú.
Olhava para as
placas, os avisos, cartazes, posters. Não
via mais minha língua escrita. Passou a
soberano o castelhano e era com ele que tínhamos que agora lidar na comunicação
e tudo. Nosso objetivo era jantar
num restaurante sugerido pela Harley, chamado “La rueda,” que
ela dizia ser bom .Não tínhamos la
dirección certa dele e tivemos que
procurar,parando aqui e ali, nas ruas estranhas pra mim. Deixamos os carros “aparcados” Perguntamos, em espanhol,a um e outro pedestre, pelo local do restaurante.
Afinal, um deles nos indicou
o lugar certo.
Era um restaurante
típico argentino, lugar simpático,
convidativo à música e à comida. Fomos recebidos por um
moço com cabelos longos presos em forma de rabo. Indicou-nos
uma mesa que ficava no canto de uma das
divisões do restaurante. Nada ali me
parecia o Brasil. Havia muitos
clientes, numa das mesas um pouco perto da nossa, conversavam em inglês um grupo de pessoas, provavelemente americanos, novas e idosas, mas nem tanto.
O “camarero,” falava
português com fluência e era
simpático. Perguntei-lhe em
espanhol, só para praticar a conversação,
se era brasileiro e ele me disse
que não; era argentino e já tinha trabalhado
no Brasil e em outros países de fala espanhola. A comida era boa, mas veio em quantidade
pequena e o preço era alto.
Regressamos ao hotel em Foz de Iguaçu. No dia
seguinte, fomos de micro-ônibus ao Paraguai. Atravessamos a Ponte da Amizade (Puente de la Amistad )
em direção à Ciudad del Este. Lá fomos a
um shopping, amplo e bem movimentado.
Novamente a parte feminina de nosso
grupo foi olhar as vitrines,
fazer compras. O interessante é que as
vendedoras, na maioria, falam português. São moças bonitas e gentis.
Não ficamos, Elza e eu, para almoçarmos na cidade. Estávamos cansados. Viria o micro-ônibus nos apanhar de volta pro hotel em hora determinada.
Uma outra vez, voltamos à Argentina para almoçar em outro
restaurante.A comida era boa, contudo,
mais uma vez achei que vinha pouco e o preço
também não era baixo. Fomos,
depois do almoço, a um supermercado, onde compramos alguns
produtos. Harley comprou vinho e outros
itens alimentícios. O vendedor também
falava português, que aprendera
com uma namorada brasileira.
Passamos por
muitas ruas da cidade, olhando e fazendo compras. Foi numa dessas ruas de comércio que conheci um jovem argentino de dezoito anos, de nome
Daniel, com quem conversei longamente em
espanhol. Ele me dissera que tinha
uma imensa vontade de falar português. Contara-me que tinha chegado havia uns três meses àquela cidade para
trabalhar na loja de um tio que vendia artigos diversos, uma espécie de armarinho,
com objetos de souvenirs. Confessara-me que estava com saudades da
namorada, uma quase “novia”que deixara em Buenos Aires. Ele
morava em Buenos Aires
com os país e tinha terminado um curso
técnico de nível médio. Falamos sobre música brasileira, de que gostava.
Observei que alguma coisa que ele me dizia me
escapava, pois o meu espanhol, por falta de
prática, ficou mais reduzido a leituras de livros e de ensaios. Além disso, o argentino me dá a
impressão de falar
muito rápido. Regressamos ao
hotel em Foz do Iguaçu, hotel, aliás,
muito bom e confortável, situado em recanto
lindíssimo cercado de muitas
árvores.(Continua)
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