terça-feira, 8 de abril de 2014

Para onde vai o Brasil?



                     Cunha e Silva Filho



              Numa entrevista  de televisão  feita com  o  já saudoso  ator  José Wilker,  a certa altura de suas  respostas à entrevistadora, o ator, refletindo sobre o  que pensava  do país,  confessara que, nas suas andanças  por dever do ofício de artista,  passando  por vários  estados brasileiros,  sentia  ser o Brasil um lugar  dividido em  quatro  países.
           Cada um desses países singularizava-se  por suas    diferenças,  costumes,  cultura, níveis sociais  etc. Pouco tempo depois,  - acrescentou -  com as mudanças  grandes  operadas  na estrutura   da nação,  com mais   progresso,   melhoria de comunicações, entre  outros aspectos novos, sua opinião  era outra, i.e.,  já  pensava  no país  como  um todo, porém  não um todo  que lhe viesse dar  satisfação  e alegria.
            O país era um só, mas o ator  não via  no horizonte  nenhuma    possibilidade  definida  de uma  estado de melhoria das condições diversas  do país. Havia em suas palavras o tom de  sinceridade e ao mesmo tempo de perplexidade  no que diz respeito a um caminho  mais definido para a solução dos problemas nacionais. Para Wilker, não havia o mínimo vislumbre de uma  saída,  de uma via  em direção  a uma realidade  futura   e de bem-estar  para o  povo. Percebi que  o ator  não estava contente com  o país e o tom  de suas   palavras era de permanecer  por enquanto  na indagação,  na dúvida,  na expectativa  de  não  divisar  um horizonte.
Foram suas palavras  inquiridoras,  inteligentes,  lúcidas que me inspiraram  a escrever   esta crônica. E, pegando  aquele  gancho  indefinido  do que falara  Wilker, também aqui  me dirijo a tantas  perplexidade diante do que  vemos  no país contemporâneo.
Sem  fazer  nenhuma previsão  geral  quanto ao destino  que  está  reservado  ao meu país, não posso deixar de repisar  questões  que cada vez mais  me  deixam  indignado, sendo a primeira delas  a da insegurança,  na qual vive o país. Continuo a afirmar que nosso  problema  nº 1 é a violência contra  as  pessoas no país afora, e não serão as Forças Armadas que darão cabo  dessa anomalia  onivora que está   matando  o resto  da esperança  do povo brasileiro.
 As Forças Amadas, por melhor boa vontade que tenham, ora  incumbidas de proteger  uma  parte das favelas cariocas,  com data até julho  deste ano, apenas  atenderão a razões  mais  da  imagem do pais com as proximidades da  Copa  Mundial.
Quando as tropas  se retirarem, os velhos hábitos  do crime  retornarão com  toda a força e perversidade nas favelas   temporariamente monitoradas.  Pouco  ou quase nada  vão fazer os militares  para  minimizar  os massacres cometidos pela criminalidade, principalmente  porque as Forças Armadas não  têm  experiência  e know-how nessa  área de atuação. Não é sua  seara específica e constitucional.
 Ontem mesmo,  às  oito horas da manhã,  um  professor de  educação física, no bairro da Tijuca,   foi mais um número  fatal da  estatística  de uma país  de altíssimo nível de   violência. Depois de tomar um cafezinho   numa padaria  perto da academia em que  trabalhava, na saída,  foi surpreendido na calçada  por  dois  meliantes adultos, um deles magro  e baixo e o outro um  homem  grande e massudo.  Usavam bicicletas. Exigiram-lhe  um relógio e  um cordão de ouro  (“Perdeu! Perdeu!," a macabra expressão  usada  por criminosos), que usava no pescoço.
 O professor, de cinquenta e cinco anos,  respondeu-lhe  com um palavrão e avançou contra  os facínoras, um dos quais  lhe atirou à queima-roupa no peito, ou no pescoço. Levaram  o professor a um pronto-socorro mais  próximo, porém  era tarde. Já  estava morto. Uma câmara,  certamente a da padaria, filmou toda a cena  assustadora  e covarde e, assim, pudemos constatar que, enquanto  o adulto magro anunciava o assalto com uma arma de fogo  em punho, o homem  grande e massudo veio  por detrás atacar  o professor  tentando dar-lhe  um golpe no   pescoço.
 Não há um só dia, leitor,  em que  a  TV brasileira  não  reporte uma agressão, um assalto, um homicídio, acontecido no eixo Rio - São Paulo ou em outras regiões do país. Grande parte dos assassínios é cometida  por  menores, que ficam impunes e voltam a matar outras pessoas,  outros brasileiros, jovens,  adultos,  velhos e até crianças.
O país  exige reformas  urgentíssimas no Código Penal e da mesma maneira  exige dos legisladores  aprovação de leis  que  diminuam a maioridade  penal a fim de que  tirem  o país  dessa fase  espantosa  de crimes e de impunidades. O país  exige  que  se implante  a prisão perpétua para  crimes  hediondos.
O povo  não mais  suporta  tanta  sangue derramado  por inocentes na rua, em casa,  em qualquer parte. Urge dar-se,  com rigor,  um freio  nessa deplorável   passividade  do poder  público  diante  do que está  ocorrendo  em todo o território nacional. Não é bom para o estrangeiro que veja toda essa carnificina   cometida  em nosso  país. 
Os nosso  legisladores  em Brasília  precisam  entender  de uma vez que o Brasil  não é terra de ninguém, que  tem  condições de impor  leis  severas contra  quem  é bandido, seja  de menor idade, seja  adultos.Todos os  brasileiros  conscientes  estamos   esperando  uma  posição  da Presidente da República a fim de que  ela  se sensibilize cm  o inferno em que se transformou  o país   nessa escalada  interminável  de violência  contra  inocentes, cujo  número de mortes  equivaleria  a verdadeiras   guerra civis.
Que não venham  os  sabichões do direito,  da sociologia e da antropologia  com discursos   elitistas,  segundo o qual a violência  tem causas   assim e assado.  O discurso  esotérico  de especialistas  não  pega mais nem convence a ninguém.   
Desejamos, sim, ações  concretas,   palpáveis e   decisivas  que alterem o status quo da legislação penal  no combate à criminalidade e que  revertam  com   políticas de segurança pública viabilizadas,  dando  satisfação aos anseios  do povo clamando  por justiça, justiça, justiça contra  o crime. 
Desejamos, enfim, que o  cidadão em casa ou na rua,  em qualquer parte do país,  na cidade e no campo, nas megalópoles ou “monstrópoles,”  palavra cunhada  recentemente em  notável  e patriótico artigo publicado  em O Globo (“Concerto das cidades”) pelo ilustre  senador   Cristóvão Buarque  para designar  estas grandes urbes  infernais em que  se transformaram  São Paulo,  o Rio de Janeiro e outras capitais.  Somente desejamos que o povo tenha  sossego, paz e confiança  em que  este país melhore, ou se não,  vai cair  no  poço  do caos  e da  anarquia. 






Ao pé da página

                  
             
               Cunha e Silva

“Os representantes federais do PDS, no Congresso Nacional, são atuantes na tribuna parlamentar e nos trabalhos das Comissões  Técnicas da Câmara e do Senado Federal. A tarefa deles não passa daí. Não se movem, entretanto,  no Palácio do Planalto, nos Ministérios e Autarquias para tratarem de assuntos referentes aos Estados que representam, ganhando gordos subsídios e vantagens outras” (...)
Nota do Blog: Artigo  publicado no jornal  Folha  do Piauí, s.d., Teresina, PI. (Editoral, de título  “Bate o Recorde”)




        


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Fragmentos da infância




                                               Cunha e Silva Filho


1.  Uma criança de aproximadamente cinco anos  entra por alguma  razão numa casa velha de corredor assombrado. A criança  entra   correndo e sai  da mesma forma correndo quando  se choca com uma mulher de idade difusa. Com o choque, a criança derruba a mulher que estava no seu caminho. Como a  era pequena,  passou  praticamente por entre as pernas da mulher. A criança  ouve  palavras  grosseiras ou, como disse um gramático  tradicional,  intraduzíveis na linguagem educada.

2. Uma criança  estava lá fora de casa, não muito afastada. No momento estava tentando brincar com um jumento de rua. A criança  puxou-lhe o rabo uma vez, duas vezes; na terceira vez,  de repente leva um coice da alimária que a deixa  tonta,  quase caindo. A dor era aguda e de imediato  volta  pra casa  chorando  e  procurando  pela mãe.

3.Era  uma zona rural,  onde se podiam ver tratores,  jeeps e pessoas. A criança estava com o pai e dois  irmãos maiores. O lugar era bonito,  talvez uma fazenda para onde foram  colegas do pai da criança a passeio. A criança se aproxima de um carro  em movimento.  O carro, um jeep americano, de repente para. A criança de olho no carro. Ela está parada no descampado por onde passam  carros e pessoas. A criança avança em direção  ao carro. Ela, por ser pequena,  não pôde ser vista pelo  motorista, que resolveu dar uma marcha à  ré logo no momento em que a criança  desejou  subir por detrás do carro. Sua testa  levou  uma pancada forte  que a derrubou. Gritos de toda a parte   foram ouvidos. O motorista deu  uma freada, mas a criança já estava estendida no chão quente de um calor  tropical. Um homem a colocou  nos braços e a levou  para dentro da casa da fazenda. Colocaram-lhe  gelo na testa, que continuava doendo e ficara inchada. O pai da criança, os irmãos  ficaram  atônitos,  preocupados, sem saber o que fazer. Seus colegas   pediram calma. Não tinha sido  coisa  tão séria a ponto de ter que  leva o menino a um hospital.

4.  Estava tudo combinado.  Eles,  inclusive a criança,   iriam à Praça  no centro  de Teresina  pedir esmola só de brincadeira. Assim o fizeram. Postaram-se  num canto de uma esquina e começaram  a desempenhar  o papel de mendigos pedindo  moedas  por amor de Deus.

5. O pai da criança recebeu uma visita de um conhecido. O pai apresentou  os filhos  àquele senhor ainda  novo. “Este se chama fulano,  este beltrano,   este  sicrano e assim  sucessivamente. O visitante ficou  calado olhando para cada uma das crianças e começou a fazer  elogios : “Esta é bonita,  esta também, até chegar a vez  da criança (a mesma  da relação   desses fragmentos), esta é feia.” A  criança, sem  vacilar,  na velocidade de um  raio,  deu  uma  tapa na cara do visitante, que nunca,  supõe-se,  esperaria  tal reação.Constrangimento geral. O pai da criança não sabia onde meter a cara de tanta vergonha. O visitante, idem.

6. A criança, uma vez, saindo de casa,  toda bem vestida,  com uma  camisa  de  jérsei  usada pela primeira vez, encontrou  pela frente um colega  da vizinhança. Com ele,  conversou por alguns  instantes e, inopinadamente,  o  colega acertou-lhe um  tapa  na cara. O colega,  da mesma idade, era bem mais forte e mais alto. A criança nunca  soube por que  razão o colega  tinha feito aquilo. Fora um absurdo,  uma covardia, pensava a criança.

7.Estavam armando um  circo improvisado num  terreno baldio, perto da casa da criança. Eram todos colegas, um deles era primo da criança e mais velho uns  seis anos. Iam  brincar de circo naquele lugar, bem perto da casa do menino que  havia  batido na criança sem  motivo  algum.Estavam todos  alegres com o que estavam   preparando. O primo mais velho  procurava  fixar uma estaca alta no chão do  terreno. A criança  olhava   para o que  o primo  estava fazendo e,  num dado  momento,  a estaca  caiu e foi  atingir  a parte  posterior da cabeça da criança. Era uma estaca grossa  e pesada. A dor foi  lancinante e da cabeça da criança  começou a jorrar sangue, muito sangue. A criança  voltou correndo para a casa e a mãe,  aflita diante do sangue,  do jeito que estava, levou  o menino  a um médico  famoso  da cidade, que era, por sinal,  parente da família. O médico  cuidou dos ferimentos e prescreveu  um remédio  para compar na farmácia.

8. Naquele dia  abençoado,  o pai da criança   levou-a  uma procissão  no tempo em que  Nossa  Senhora de Fátima  visitava  Teresina. Usando terno completo, de cor clara,  o pai acompanhou  a procissão. Assistiu a uma missa,  orou, acendeu vela. Fizera uma promessa  para que   deixasse de   lado um comportamento   que só estava  prejudicando ele mesmo e a família, sobretudo a mãe da criança. Cumpriu a promessa e tudo  melhorou  dali a diante. Nunca  mais  desagradara à  mãe da criança e a vida em família    reinou em paz para sempre.

9.A criança  estava  passando  por uma  calçada onde havia,   em frente a uma  casa de classe média, senhoras sentadas (costume da época) conversando alegremente e observando  o que  se passava na rua. Vem a criança de volta  da redação  de um jornal  importante de Teresina  e, ao passar  pela calçada, ouvira de uma das senhoras: “Este menino parece um  príncipe, olha como   anda. Que elegância,  que porte!”

10. Foi terrível aquele dia em que  a mãe  da criança,  na cozinha,  preparava um alfinim quando, por descuido,  caiu-lhe por um  lado da fronte o tacho com  a  rapadura   derretida. Mamãe chorava em desespero e logo a levaram   ao pronto-socorro da Avenida  Frei  Serafim. Foi um alvoroço para a toda a família e  aquela foi  uma das vezes   que mais sofrera a criança   preocupada  com  a saúde da mãe.

12. Algumas vezes,  em tempo  muito quente,  a mãe da criança ia visitar uma  tia que morava pelos lados   dos fundos do Liceu Piauiense.  A criança costumava  voltar sem a roupa,  andando  como veio  ao mundo.

13. A mãe da  criança  tinha  dado à  luz um filho. O pai, bem moço ainda,  depois  da jornada  de trabalho, ia fazer algumas tarefas  domésticas. Por exemplo,  encher os potes d’água e outros afazeres  mais pesados, uma vez que  não  tinha um empregada para o  dia todo e que dormisse em casa. Só de dia  havia alguém  para  cuidar  do almoço da família e do preparo da galinha   guisada, de sabor  delicioso, sem tempero e com pirão para a mãe de resguardo. Todos os irmãos  queriam provar um pouco  da galinha e do pirão  

14.A criança sempre atenta ao que o pai  fazia  :  preparar aula   falando em voz alta. O pai, os livros, as leituras de jornais, a atividade  escrita  para os jornais durante  toda a vida..A ida às escolas, sempre  a pé de um lugar para outro, o dia todo, a noite também.



quinta-feira, 13 de março de 2014

Das amargas, sim!




                                   Cunha e Silva Filho


              Não vou na onda dos que   se recusam a ver o lado  áspero,  injusto   e violento da vida. Não, disso não levarei a  culpa  de ninguém. Absolutamente  irei fazer  o papel  ingênuo  do Cândido, ou O Otimismo ((1759) de Voltaire (1694-1778). A realidade  que  nos rodeia  tem que ser  observada em seus  muitos aspectos,  nos doces,  nos amargos,  nas injustiças e nas prepotências  de pessoas, sociedade,  políticos,  governos e tudo o mais.
Como silenciar  o  barulho da vida com todas as suas teias  de aranhas  tentando  nos entretecer  de pílulas  de otimismo   de baixa  qualidade.   Como silenciar o Holocausto,  os malfeitos de Hitler e do  nazifascismo,  os horrores do general  Franco, de  Mussolini, de Stálin,  as ignomínias  de Salazar,  dos ditaduras  militares pelo mundo afora? Não,  o silêncio é capitulação  da condição  humana. Os crimes contra a Humanidade  têm  que ser  repassados  pelas gerações novas a fim de elas  avaliarem  até que ponto a barbárie  foi capaz de chegar. Como silenciar as bombas lançadas  na Segunda Guerra Mundial no Japão? E as guerras fratricidas,  as guerras religiosas (que paradoxo das ações  humanas!), as atrocidade  da política  norte-americana na guerra do Vietnã,  a manutenção de Guantánamo  ainda  em nosso dias,
Como silenciar  os preconceitos de todas  os tipos  que só  levam  às  dissensões  entre as pessoas, tal como  há poucos dias  aconteceu com um jogador nosso  porque  é negro? Que  povo é esse que ainda mantém  hipocritamente o preconceito de cor num pais  mestiço que, se medido  etnicamente  pelos  padrões norte-americanos,  não sobraria nele  praticamente  nenhum branco “puro”, ariano,  alto,  bonito,  de olhos azuis e cabelos  louros e lisos?
Sair  do corpo-a-corpo da vida como dizia  o  grande contista  João Antônio (1937-1996), jamais!  O poeta  Carlos Drummond  de Andrade (1902-1987), em versos  célebres, diz: “Chegou  um tempo em que não adianta morrer,/Chegou um tempo em que a vida é uma ordem,/A vida apenas, sem mistificação.”
Fugir do social, da  situação  do país, com suas qualidades, suas muitas misérias (morais,  política,  sociais, religiosas etc) não é certo e me soa  uma atitude  de desesperada  ignorância,  indiferença  e  insolidariedade. O mundo,  o país procuram  por nós em face de suas  carências,  de seus  mil problemas,  de suas  injustiças, de sua desesperança. Isolar-se somente se for para a solidão  à procura de inventar  a Arte          Solidão apenas  aparente, porque  em seu momento  todo o universo está  contido  na  plasmação  de uma obra artística, seja na ficção, na poesia,  no teatro, em todas as artes, tão necessárias  ao sentido do viver, já que  a  força  dos elementos  convocados para  a feitura  de um  objeto artístico   se encontra na  própria  experiência  da vida,  sendo tais elementos  “transfigurados,” como  diria  o crítico literário   Álvaro Lins (1912-1970)
Jamais pensarei  em  me isolar  da condição de ser social,  de “animal  político’, através do que faço, do que escrevo e do que, dentro das limitações  pessoais,   posso  comunicar  a outrem. 
Não seja egoísta, leitor,  fugindo  da sua condição   de cidadão desse país e do mundo.  O mundo não se resume a um único país. Não somos  o umbigo  do mundo.  Somos todos  partes do Universo e, ipso facto,   cabe-nos  uma parcela de responsabilidade e de participação de alguma  maneira, ou seja, na  prática política  séria, no serviço  voluntário, na   consideração  e respeito  pelos  direitos  dos outros, na convivência dos  prédios,   na sua atividade  profissional,  no seu comportamento  na rua,  dentro de um carro, num trem, num metrô, no avião  no navio. Em todos esses lugares  há que  praticar   atos  de boa vontade  e de cooperação.
Mas nunca  subestimar  a condição  gregária,   o encontro entre amigos,  uma palavra  de conselho a quem  está  sem esperança. Pascal (1623-1662) esta  extraordinária  figura de gênio  nunca perdia  a oportunidade para  falar   da importância da caridade. E como estamos longe  desse ato  de  doação do que não nos falta, do que nos sobra  da matéria da vida. A vida moderna, na sua pressa cada vez mais  agressiva,  nos  faz esquecer  tantos  atos  bons que poderíamos  executar sem  nenhuma  perda ou prejuízo  para  nós. O olhar  do ser para fora,  para o exterior,  que nos faz sair  de nosso  bolha de proteção  interior, é a manifestação  mais viva de exclamar sem medo : “Das amargas, sim!”




AO PÉ DA PÁGINA,

 Dois gigantes

                                     Cunha e Silva


“Dois gigantes da democracia – Sobral Pinto e Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima) – com justiça merecem o respeito e a admiração do povo brasileiro; Tristão de Ataíde, já falecido há pouco tempo, aos oitenta e nove anos de idade, ainda era  lúcido, e Sobral Pinto há pouco completou noventa anos de idade, está no gozo da mais perfeita lucidez e vivacidade de espírito. Tristão de Ataíde e Sobral Pinto foram  defensores intransigentes do Estado  de Direito, da democracia e das liberdades jurídicas, impertérritos baluartes em defesa dos direitos humanos e opositores corajosos aos regimes  de força, de arbítrio, quer através de pronunciamentos  memoráveis, quer através da imprensa.  Tristão de Ataíde escrevia no “Jornal do Brasil”, do Rio de Janeiro, até quando morreu. Era um dos homens  mais cultos deste país, escritor,  emérito,  humanista,crítico literário, líder e pensador católico, um dos luminares da Academia Brasileira de Letras, autor consagrado de vários livros de valor, inclusive estudos literários. Nunca transigiu diante dos poderosos do dia,  propagando as suas  ideias, o seu pensamento político, religioso e filosófico com destemor e bravura cívica. Sobral Pinto é advogado dos mais notáveis do Brasil, conhecido pela coragem  indômita com que se prontificou a ser o advogado de Luís Carlos  Prestes, por solicitação  da ordem dos Advogados  do Brasil quando o país estava em ESTADO DE GUERRA em consequêcia da intentona comunista de novembro de 1935.” ( Nota do colunista do Blog: Este fragmento do artigo, recorte de meus arquivos, não traz a data nem o nome do jornal. Creio que foi  publicado no jornal  Estado do Piauí, Teresina,PI)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Salada mista






                                   Cunha e Silva Filho




1.. Crimeia:  A Crimeia faz parte da Ucrânia, com  um povo  de maioria  russa e que, ao que parece,  deseja  ficar pró-Rússia. Mas há uma pedra no meio do caminho, a Península  autônoma é também constituída de tártaros muçulmanos,  contrários à Rússia. Aí vem, a Rússia disfarçada em  soldados milicianos  e toma conta do aeroporto,  invade o Parlamento e  dá as ordens. A barafunda  se instalou. Qual vai ser o outcome de tudo isso? Estranho mundo  de irmão  divididos e com  visões do mundo e da política diferentes. Quem vai  entender  esse Planeta  terra? O fato de Putin  anexar a Crimeia na marra é ato de força e  truculência  política. Não estamos mais nos tempos  de Stálin et caterva  de outros  poderosos  russos que tiveram  suas estátuas  derrubadas  pelos ucranianos nas sangrentas  manifestações  já ocorridas  recentmenete em Kiev.

2 Tio  Sam: John  Kerry me parece um  Secretário  de Estado  sério e competente. Talvez ainda seja  Presidente dos  ianques. Obama  soube  bem escolhê-lo para o cargo e tudo leva a crer  que  Os EUA não  podem se calar  diante das  ameaças   russas(soviéticas?) nem   temer Putin, a não ser em luta  corporal, porque, se não me engano,   Putin  é  atleta   de  lutas  marciais, ou não ?  O certo é que neste imbróglio todo há um  fato  decisivo  entre as nações  envolvidas e os organismos que as representam:  o econômico,  o gás vendido para a Europa pelos russos. Tudo, hoje no mundo,  se resume nas conclusões e desfechos  monetários, traduzido-se – no dinheiro,  no euro, no  dólar -  o mais poderosos  fetiches da Pós-Modenridade.


3..  Venezuela: Com manifestações, sobretudo de estudante,  os venezuelanos  desejam  reformas urgentes e até a cabeça do  Presidente, aquele altão bigodudo  que  substituiu o  Hugo Chávez, considerado  por alguns  nacionais como  herói da nação .O certo  é que Caracas se tornou uma das mais violentas  cidades do mundo e seu  povo, assim como de todo o país,   enfrenta  problemas  de  abastecimento de alimentos e inflação  tentacular, caos  político,  mortes  de civis  , segundo  diz a imprensa internacional,  provocadas  por forças do governo  federal. No meio de tudo isso,  o país tem  muito  petróleo e um  povo dividido, mais uma divisão entre  irmãos  patrícios.

4.  Brasil:  Ora bolas(sem trocadilho com a  Copa), no    Brasil,  aqui a coisa está feia: os mensaleiros, ao que tudo indica,  não estão rigorosamente  presos; um   teatro se instalou nos bastidores  dos poderes  da lei e das togas. Em votações pr-s e contras há sempre uns gatos pingados que são contra a prisão, a comutação  e até a liberdade  plena, livre de quaiquer máculas  morais e  pecuniárias. Um  distinto  jornalista da velha guarda, ontem, em entrevista na televisão,  afirmou que, num pleito à Presidência  da República,  Dilma  pode  conquistar um segundo mandato. Contudo, se alguma coisa der  errado,  Lula  entra em cena,  em estilo  apoteótico  de populismo  sul-americano, e  pleiteia  mais uma mandato. 
O jornalista  assegura : “É imbatíve!”. Realmente,  Lula é o sujeito que mais teve sorte na política brasileira contemporânea. Além de ter-se tornado  Doutor Honoris  Causa de várias universidade  importantes do mundo,  tem bastante   gás político-eleitoral-empático  para abiscoitar um terceiro mandato,   completando um círculo  sem precedente na História  brasileira,,  ou seja,   vinte anos de petismo, ou lulismo,  como quiserem.
Lula, diante dos  candidatos como Eduardo Campos,  Marina,  Aécio Neves ou outro que venha  se enfileirar  na  disputa  presidencial,  se agiganta e tudo isso  porque, no país,  não surgiram, nos últimos anos,   grandes  lideranças  de  elevada  estatura moral,  competência  política e, o que muito vale para a vitória  política de um candidato,  de  magnetismo,  sebastianismo,  populismo  inteligente e manha, jogo de cintura e boa  malandragem, espírito  piucaresco. Onde se há de encontra  um homem que reúna assim tantos atributos  para se  ombrear  com o Lula  e vencer o político  brasileiro   que sempre negou  qualquer   envolvimento  no  famigerado  Mensalão meio pizza.. Só não convenceu  alguns  brasileiros e o brilhante, corajoso e saudoso   jornalista,  Fausto Wolff.
 Lula é tão sortudo que até  sociólogos franceses ou americanos  o têm na conta (santa  ignorância dos scholars  estrangeiros) de esquerdista, quando, na verdade, não o é. Ele está mais  paras delícias  do capitalismo com todas as  facilidades e conforto  propiciados  por este  sistema de livre mercado. 
 Hoje ele e sua família  vivem bem e não mais comem  feijão  com arroz  ou  rapadura com farinha, ou   para ser mais  preciso, segundo  o próprio Lula  falou numa entrevista  pela televisão, acabaram-se os  ásperos dias de  trabalho na  ainda pacífica   urbe  paulistana,  quando  levava,  na marmita,  feijão  arroz e ovo,  que  ainda lembravam   os magros  tempos de  secura     nordestina.. Lula é o Milagre brasileiro (não confundir com o Milagre Econômico do Delfim Neto da ditadura   militar  de priscas eras)  do  populismo e de um  país .há séculos entregue  aos bruzundungas  aperfeiçoados  de  macunaíces.



AO PÉ DA PÁGINA

                                                     Cunha e Silva 

"Há democratas sinceros que admitem executivo forte, mas não autoritarismo, que traz os demais  poderes do Estado em subalternidade, como é exemplo  o executivo brasileiro, em que se vê o homem da papada, o gorducho  Delfim Neto, cantar de galo, falar mais alto  do que o Presidente da Republica no Palácio do Planalto. Os assessores do presidente Figueiredo tremem diante dele, como o ministro  Ueaki se tremia  diante de Geisel, Executivo forte, mas no bom sentido,  isto é, no sentido de moralizar a administração  pública e de punir no duro os ladrões da República, que são muitos em todo  o País, de afastar dos cargos os incompetentes, os corruptos e os inoperantes". Artigo “Executivo  Forte”(Jornal  Folha do Piauí, s.d., Teresina,PI)

quinta-feira, 6 de março de 2014

Uma cidade abandonada no lixo






                                               Cunha e Silva Filho



               É incrível  que  o Rio,  uma das cidades  mais lindas do mundo, esteja, logo após a farra do carnaval, com uma greve de garis -  estes abnegados limpadores   da cidade sem o trabalho dos quais  a cidade para,  perde o brilho,  choca  a  população e, aos  olhos do turista,  provoca   indignação, desrespeito a quem, vindo de outras cidades ou de outros países, espera encontrar  um lugar   bem conservado,  com ruas  limpas,  varridas,  sem toneladas  de lixo espalhadas por todos os bairros. Que belo  cartão de visita de uma cidade  que se prepara para receber  os torcedores  nacionais e estrangeiros na Copa  Mundial de Futebol!
A culpa não é dos garis, é do prefeito que paga  salários  miseráveis a quem, até de madrugada,  vem  recolher  lixos das ruas. Uma função  altamente   relevante  ao funcionamento  da cidade, tanto  quanto outros abnegados, como os bombeiros. Os últimos governos  têm  tratado mal  seus bombeiros, seus garis e  um dos piores  descasos de que são vítimas   estes últimos,  repito,  são,  para mim,   os  vencimentos  que  a prefeitura  lhes dá.
O bom governante,  responsável,  é aquele  que fica atento às condições de trabalho  de seus  funcionários, de seus servidores em todos os setores  da máquina administrativa. Pagar   o que pagam  a esses homens  é abastardar-lhes  a dignidade  de funcionários, é esquecer que têm  famílias  e precisam  viver  com  dignidade.
Esta censura  faço a todos  os  níveis de  governaça: municipal,   estadual  e federal. O Brasil provavelmente seja um dos países que  pior remuneram  alguns setores  da  máquina do Estado,  ao passo que mantém, no Congresso,  burocratas  cm salários de marajás.
Ao saber que A  própria   Justiça  do Trabalho considera a greve dos garis   uma ação  ilegal me parece  uma atitude  de  covardia  para com  os humildes  garis  cariocas. Mas, os  juízes do trabalho  ganham  altos salários,  não têm problemas de  sobrevivência, de aperturas  financeiras, têm vida confortável  e têm poder. Os garis, não. Quem há de socorrê-los senão  o   recurso extremo da paralisação  a fim de chamar a atenção da sociedade e principalmente da Prefeitura  para  os aviltantes  salários que lhe são  pagos. 
O prefeito Eduardo Paiva  está agindo  autoritariamente,  demitindo  sumariamente  seus  garis. É fácil para ele  que dispõe de  regalias, viagens  ao exterior,  ótimo salário e tantos  outros  benefícios do cargo. Não é chamando de “delinquentes e  vagabundos” a um grupo de liderança    grevista  que  o prefeito  vai  conseguir  indispor os cariocas  contra os garis. Não vá o prefeito Eduardo Paiva querer  fazer carreira  política no estado do Rio de Janeiro maltratando e   usando  agressões verbais incompatíveis ao seu cargo  ao se dirigir  publicamente aos garis  em greve. Um  político  trata bem  os seus servidores e os garis  têm, ao longo dos anos,  provado  o quanto são   fundamentais e vitais para  a vida saudável do Rio de Janeiro. Os garis,  por conseguinte,   merecem todo  o nosso  apreço.
Não me venha  o  alcaide  bon vivant dos espaços  londrinos,  parisienses  ou  nova-iorquinos,  à custa do  dinheiro  público, posar de  grande  moralista  e  bom administrador que não é  e está   gastando  rios de dinheiro da  prefeitura  explodindo a Perimetral sem consultar a  população e, ainda por cima,  provocando  atualmente  transtornos sem precedente  e caos  no centro da cidade com engarrafamentos diários,  e  confusões  de linhas de ônibus, atrasando  os usuários de ônibus, de carros na passagem  pelo Centro  do Rio e Janeiro em direção  `Zona Sul e vice-versa, ou,  da mesma forma,  em relação  ao subúrbio, Zona Oeste,  Baixada Fluminense.
Resolva,  senhor alcaide,  de imediato  a situação dos garis  do Rio,  reajustando-lhes os salários, não com  porcentagens  de migalhas que não irão sair do lugar, mas com um  salário  decente que lhes permita  viver  como cidadãos  úteis que são à sociedade  carioca. Faça o mesmo com   respeito a outras  categorias, senhor alcaide, se quiser mesmo,  porque é ainda jovem,  ser um  político  digno  da admiração  do  povo carioca.



PÉ DE PÁGINA



“Ainda estou  sentindo  o prazer intelectual da última carta que V. me escreveu, Que carta  bonita! V., meu filho, é um estilista admirável, antológico.  Tudo o que sai da sua pena tem  muita coisa de elevada expressão,  correta na forma, brilhante nos conceitos e agradável  no amanho  das palavras bem ajustadas.Em sua missiva, meu filho, se vislumbra logo o fulgor duma inteligência incomum.” (Cunha e Silvacarta de 06/11/1984, Teresina, PI).  Comentário do colunista do Blog: “- Desculpe-me, leitor,  pelo excesso de  efusão  afetiva de meu pai.”

quarta-feira, 5 de março de 2014

UMA NOVA SEÇÃO NO MEU BLOG

 


                                                       CUNHA E SILVA FILHO




         Leitores, a partir de hoje, além dos meus artigos e outros  textos de minha autoria,   segundo venho fazendo desde o  início deste Blog, inaugurarei, uma seção  de título Ao pé da página em homenagem a meu  pai, o  professor  e escritor Cunha e Silva (1905-1990) com fragmentos de artigos dele, antigos e menos antigos.   
       Os textos, todos  publicados em jornais do estado do Piauí,  se constituirão, além dos fragmentos de   textos,  fragmentos  epistolares dele para mim, pois  lamentavelmente  não disponho da minha correspondência com ele durante trinta e seis anos,  que suponho tenha sido  extraviada  por falta de melhor organização de meu pai ou de familiares.
      Segue abaixo o primeiro fragmento de um artigo intitulado “O panorama é outro.” O  recorte não traz data nem  o nome do jornal, que presumo seja O  Estado  do Piauí, no qual  meu pai  colaborou e foi  redator durante  oito anos:


AO PÉ DA PÁGINA

“José Serra é economista notável, apesar de muito moço ainda, formou-se na Europa e tem curso nos Estados Unidos. Com admirável competência e descortino, sanou as finanças paulistas no governo  construtivo de Franco Montoro. Seria bom que Tancredo Neves o aproveitasse para o Ministério do Planejamento, não se esquecendo também de Celso Furtado para ocupar posto de destaque na área econômica.” (Cunha e Silva, Teresina, PI)





segunda-feira, 3 de março de 2014

Kiev, capital da Ucrânia






                                      Cunha e Silva Filho



   Naquelas  horas do café da manhã, sentados à mesa de nossa  casa na Rua Arlindo Nogueira,  em Teresina, Piauí,  todos  falavam, nós meninos e as  meninas, mamãe e também  papai. Talvez fosse um dia de fim de semana,  um sábado ou um domingo. Não importa o detalhe exato. O importante é a emoção,  o sentimento, o resíduo da memória e – por que não? – da saudade.
Chega a vez de papai falar – estávamos, não todos,  falando  de países  do mundo. Meu  pai, professor também de geografia,  era rígido sempre que a conversa se transformava em  improvisada sala de aula. e  por vezes até  me constrangia quando,  por exemplo,  testando  a todos,  perguntava de repente: “Qual  a capital da Rússia, da Polônia, da Alemanha Ocidental, Oriental? " e assim  por diante.
Chegara a minha vez de responder à pergunta sobre a capital da Ucrânia. Respondi-lhe errado. Deu-me  um quinau severo.  “Como é,  logo você, filho de um professor de geografia?"
Fiquei calado e  envergonhado. Papai era assim em casa no que dizia respeito à competência dos filhos, não de todos, mas provavelmente daqueles que ele percebia eram os mais  dedicados aos estudos, como eu. Contudo,  a severidade dele me ajudou muito na vida, me fez compreender  para sempre o valor de ser estudioso, de ser aplicado e bom  na escola. Assim o fiz pela vida afora, com a  exceção, naqueles tempos de ginasiano do Domício, de algumas matérias nas quais era um tanto fraco ou para as quais, melhor dizendo,  não tinha  tão grande  interesse.
Mal sabia eu que, tantos anos mais  tarde,  Kiev seria um  preocupação minha na vida de adulto. Tão longe estava do tempo em que a política  internacional, mesmo a nacional, ou a estadual, ou a municipal. Aqui tem alguma coisa de um poema de   Carlos  Drumond de Andrade. Deixo que o leitor faça a correlação intertextual.
Não está nada bem a condição  atual de Kiev e, por extensão, da Crimeia. O mundo político  não quer, ou não deseja, que  os povos, as nações  pensem  por si  mesmas, ou seja,  tenham  voz  coletiva para  saberem  o que melhor seja para seu  povo. 
Os ucranianos, ou parte  ponderável da nação,  são  favoráveis  a ter relações com  a União Europeia, outra parte é favorável ao alinhamento  político-econômico-ideológico com a Rússia. O presidente Viktor Yanukovich, segundo  reportou a imprensa  internacional,  foi quem  determinou  o covarde ataque contra os civis, provocando  os sangrentos confrontos entre as tropas do governo e a população civil, com um saldo de  mortes de cem manifestantes.
A coragem e  a bravura da oposição civil  se fizeram  sentir e até com  o apoio de alguns  militares que se   bandearam para o lado da oposição diante  certamente  das agressões  homicidas do governo   ucraniano. Por fim,  não suportando a pressão do destemor  demonstrado  por um  povo varonil,  o presidente ainda  acenou com algumas  mudanças para atender à sociedade, mas,  tais  mudanças não  atingiam  o cerne das reivindicações  da nação, que era estabelecer  relações com a União Europeia.
A pressão popular  se intensificou  com  novas manifestações  que resultaram na  deposição  de Yanukovich, sendo este obrigado a deixar Kiev e se homiziar  numa parte da Rússia. Instalou-e um governo interino, sob a liderança de Oleksander Turchinov.
Vale  ressaltar que o descontentamento  do povo ucraniano  tem  um motivo mais  fundo e mais  definitivo: os povos, sob  regimes de governo ditos  democráticos,   embora com   promessas  de  agir  democraticamente e  desenvolver  o  país,  de repente mostram a que vêm:  apertar o povo,  aumentar seus poderes   presidenciais e frear as pretensões  justas  da sociedade civil. Por último,  vem à tona  o imbróglio da Crimeia,  sendo  invadida, de repente,  por  militares não identificados, provavelmente  a mando do Kremlin. Outra região com ameaças geopolíticas e de  confrontos  bélicos. Ali se encontram  tártaros muçulmanos,  a minoria,  e  russos, a maioria.  Estarei atento ao desdobramento da crise que, espero,  não seja  sangrenta. Que se entendam os dois lados.
O caminho  mais acertado  para os governos  de todas as nações é um só e o mais  justo: a democracia   praticada  com   seriedade de propósitos e visando ao interesse da nação e da sociedade com liberdade  de ir e vir, de imprensa, de livre expressão do pensamento  dos cidadãos,  de respeito   aos direitos universais  de todos os povos,  direitos  civis  plenos,  eleições  honestas e periódicas, respeito  às suas Constituições,  combate ao terrorismo  e defesa por parte dos organismos   internacionais contra nações  que agridem a sociedade civil.
Precisamos de governos  abertos e favoráveis a consultar os anseios  da sociedade na eventualidade de  fazer  mudanças  que  terão  consequências na vida das pessoas, como as efetivadas  nos setores da economia,  do câmbio,  da ciência,  da tecnologia, do comércio e da indústria internacional, dos intercâmbios  culturais com pesquisas nas mais diversos áreas do conhecimento   e da   diplomacia  com sensibilidade e injeção de humanismo que  possa  diminuir e mesmo  resolver,  através de negociações regidas pelo direito  internacional e da soberania dos  Estados, os mais  graves  problemas enfrentados  hoje  por  muitas  nações.
 Países, de resto,  com  gravíssimas disparidades  de vida   social, com  extrema  miséria convivendo com extrema  riqueza, não poderão  nunca solucionar  questões prementes da atualidade  como  a violência urbana e do interior,  as drogas e a delinquência  juvenil.
A paz internacional  só será  atingida  pela via democrática, pela Educação  integral aliando  respeito às diferenças e eliminação   de tantos  preconceitos, seja étnico, seja sexual, seja  religioso. A  tão sonhada paz entre as nações  se concretiza pelo  respeito aos direitos  das  diferenças. Abaixo os extremismos,   os fanatismos, a violência,  as hipocrisias sociais  planetárias!