quinta-feira, 6 de março de 2014

Uma cidade abandonada no lixo






                                               Cunha e Silva Filho



               É incrível  que  o Rio,  uma das cidades  mais lindas do mundo, esteja, logo após a farra do carnaval, com uma greve de garis -  estes abnegados limpadores   da cidade sem o trabalho dos quais  a cidade para,  perde o brilho,  choca  a  população e, aos  olhos do turista,  provoca   indignação, desrespeito a quem, vindo de outras cidades ou de outros países, espera encontrar  um lugar   bem conservado,  com ruas  limpas,  varridas,  sem toneladas  de lixo espalhadas por todos os bairros. Que belo  cartão de visita de uma cidade  que se prepara para receber  os torcedores  nacionais e estrangeiros na Copa  Mundial de Futebol!
A culpa não é dos garis, é do prefeito que paga  salários  miseráveis a quem, até de madrugada,  vem  recolher  lixos das ruas. Uma função  altamente   relevante  ao funcionamento  da cidade, tanto  quanto outros abnegados, como os bombeiros. Os últimos governos  têm  tratado mal  seus bombeiros, seus garis e  um dos piores  descasos de que são vítimas   estes últimos,  repito,  são,  para mim,   os  vencimentos  que  a prefeitura  lhes dá.
O bom governante,  responsável,  é aquele  que fica atento às condições de trabalho  de seus  funcionários, de seus servidores em todos os setores  da máquina administrativa. Pagar   o que pagam  a esses homens  é abastardar-lhes  a dignidade  de funcionários, é esquecer que têm  famílias  e precisam  viver  com  dignidade.
Esta censura  faço a todos  os  níveis de  governaça: municipal,   estadual  e federal. O Brasil provavelmente seja um dos países que  pior remuneram  alguns setores  da  máquina do Estado,  ao passo que mantém, no Congresso,  burocratas  cm salários de marajás.
Ao saber que A  própria   Justiça  do Trabalho considera a greve dos garis   uma ação  ilegal me parece  uma atitude  de  covardia  para com  os humildes  garis  cariocas. Mas, os  juízes do trabalho  ganham  altos salários,  não têm problemas de  sobrevivência, de aperturas  financeiras, têm vida confortável  e têm poder. Os garis, não. Quem há de socorrê-los senão  o   recurso extremo da paralisação  a fim de chamar a atenção da sociedade e principalmente da Prefeitura  para  os aviltantes  salários que lhe são  pagos. 
O prefeito Eduardo Paiva  está agindo  autoritariamente,  demitindo  sumariamente  seus  garis. É fácil para ele  que dispõe de  regalias, viagens  ao exterior,  ótimo salário e tantos  outros  benefícios do cargo. Não é chamando de “delinquentes e  vagabundos” a um grupo de liderança    grevista  que  o prefeito  vai  conseguir  indispor os cariocas  contra os garis. Não vá o prefeito Eduardo Paiva querer  fazer carreira  política no estado do Rio de Janeiro maltratando e   usando  agressões verbais incompatíveis ao seu cargo  ao se dirigir  publicamente aos garis  em greve. Um  político  trata bem  os seus servidores e os garis  têm, ao longo dos anos,  provado  o quanto são   fundamentais e vitais para  a vida saudável do Rio de Janeiro. Os garis,  por conseguinte,   merecem todo  o nosso  apreço.
Não me venha  o  alcaide  bon vivant dos espaços  londrinos,  parisienses  ou  nova-iorquinos,  à custa do  dinheiro  público, posar de  grande  moralista  e  bom administrador que não é  e está   gastando  rios de dinheiro da  prefeitura  explodindo a Perimetral sem consultar a  população e, ainda por cima,  provocando  atualmente  transtornos sem precedente  e caos  no centro da cidade com engarrafamentos diários,  e  confusões  de linhas de ônibus, atrasando  os usuários de ônibus, de carros na passagem  pelo Centro  do Rio e Janeiro em direção  `Zona Sul e vice-versa, ou,  da mesma forma,  em relação  ao subúrbio, Zona Oeste,  Baixada Fluminense.
Resolva,  senhor alcaide,  de imediato  a situação dos garis  do Rio,  reajustando-lhes os salários, não com  porcentagens  de migalhas que não irão sair do lugar, mas com um  salário  decente que lhes permita  viver  como cidadãos  úteis que são à sociedade  carioca. Faça o mesmo com   respeito a outras  categorias, senhor alcaide, se quiser mesmo,  porque é ainda jovem,  ser um  político  digno  da admiração  do  povo carioca.



PÉ DE PÁGINA



“Ainda estou  sentindo  o prazer intelectual da última carta que V. me escreveu, Que carta  bonita! V., meu filho, é um estilista admirável, antológico.  Tudo o que sai da sua pena tem  muita coisa de elevada expressão,  correta na forma, brilhante nos conceitos e agradável  no amanho  das palavras bem ajustadas.Em sua missiva, meu filho, se vislumbra logo o fulgor duma inteligência incomum.” (Cunha e Silvacarta de 06/11/1984, Teresina, PI).  Comentário do colunista do Blog: “- Desculpe-me, leitor,  pelo excesso de  efusão  afetiva de meu pai.”

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