segunda-feira, 3 de março de 2014

Kiev, capital da Ucrânia






                                      Cunha e Silva Filho



   Naquelas  horas do café da manhã, sentados à mesa de nossa  casa na Rua Arlindo Nogueira,  em Teresina, Piauí,  todos  falavam, nós meninos e as  meninas, mamãe e também  papai. Talvez fosse um dia de fim de semana,  um sábado ou um domingo. Não importa o detalhe exato. O importante é a emoção,  o sentimento, o resíduo da memória e – por que não? – da saudade.
Chega a vez de papai falar – estávamos, não todos,  falando  de países  do mundo. Meu  pai, professor também de geografia,  era rígido sempre que a conversa se transformava em  improvisada sala de aula. e  por vezes até  me constrangia quando,  por exemplo,  testando  a todos,  perguntava de repente: “Qual  a capital da Rússia, da Polônia, da Alemanha Ocidental, Oriental? " e assim  por diante.
Chegara a minha vez de responder à pergunta sobre a capital da Ucrânia. Respondi-lhe errado. Deu-me  um quinau severo.  “Como é,  logo você, filho de um professor de geografia?"
Fiquei calado e  envergonhado. Papai era assim em casa no que dizia respeito à competência dos filhos, não de todos, mas provavelmente daqueles que ele percebia eram os mais  dedicados aos estudos, como eu. Contudo,  a severidade dele me ajudou muito na vida, me fez compreender  para sempre o valor de ser estudioso, de ser aplicado e bom  na escola. Assim o fiz pela vida afora, com a  exceção, naqueles tempos de ginasiano do Domício, de algumas matérias nas quais era um tanto fraco ou para as quais, melhor dizendo,  não tinha  tão grande  interesse.
Mal sabia eu que, tantos anos mais  tarde,  Kiev seria um  preocupação minha na vida de adulto. Tão longe estava do tempo em que a política  internacional, mesmo a nacional, ou a estadual, ou a municipal. Aqui tem alguma coisa de um poema de   Carlos  Drumond de Andrade. Deixo que o leitor faça a correlação intertextual.
Não está nada bem a condição  atual de Kiev e, por extensão, da Crimeia. O mundo político  não quer, ou não deseja, que  os povos, as nações  pensem  por si  mesmas, ou seja,  tenham  voz  coletiva para  saberem  o que melhor seja para seu  povo. 
Os ucranianos, ou parte  ponderável da nação,  são  favoráveis  a ter relações com  a União Europeia, outra parte é favorável ao alinhamento  político-econômico-ideológico com a Rússia. O presidente Viktor Yanukovich, segundo  reportou a imprensa  internacional,  foi quem  determinou  o covarde ataque contra os civis, provocando  os sangrentos confrontos entre as tropas do governo e a população civil, com um saldo de  mortes de cem manifestantes.
A coragem e  a bravura da oposição civil  se fizeram  sentir e até com  o apoio de alguns  militares que se   bandearam para o lado da oposição diante  certamente  das agressões  homicidas do governo   ucraniano. Por fim,  não suportando a pressão do destemor  demonstrado  por um  povo varonil,  o presidente ainda  acenou com algumas  mudanças para atender à sociedade, mas,  tais  mudanças não  atingiam  o cerne das reivindicações  da nação, que era estabelecer  relações com a União Europeia.
A pressão popular  se intensificou  com  novas manifestações  que resultaram na  deposição  de Yanukovich, sendo este obrigado a deixar Kiev e se homiziar  numa parte da Rússia. Instalou-e um governo interino, sob a liderança de Oleksander Turchinov.
Vale  ressaltar que o descontentamento  do povo ucraniano  tem  um motivo mais  fundo e mais  definitivo: os povos, sob  regimes de governo ditos  democráticos,   embora com   promessas  de  agir  democraticamente e  desenvolver  o  país,  de repente mostram a que vêm:  apertar o povo,  aumentar seus poderes   presidenciais e frear as pretensões  justas  da sociedade civil. Por último,  vem à tona  o imbróglio da Crimeia,  sendo  invadida, de repente,  por  militares não identificados, provavelmente  a mando do Kremlin. Outra região com ameaças geopolíticas e de  confrontos  bélicos. Ali se encontram  tártaros muçulmanos,  a minoria,  e  russos, a maioria.  Estarei atento ao desdobramento da crise que, espero,  não seja  sangrenta. Que se entendam os dois lados.
O caminho  mais acertado  para os governos  de todas as nações é um só e o mais  justo: a democracia   praticada  com   seriedade de propósitos e visando ao interesse da nação e da sociedade com liberdade  de ir e vir, de imprensa, de livre expressão do pensamento  dos cidadãos,  de respeito   aos direitos universais  de todos os povos,  direitos  civis  plenos,  eleições  honestas e periódicas, respeito  às suas Constituições,  combate ao terrorismo  e defesa por parte dos organismos   internacionais contra nações  que agridem a sociedade civil.
Precisamos de governos  abertos e favoráveis a consultar os anseios  da sociedade na eventualidade de  fazer  mudanças  que  terão  consequências na vida das pessoas, como as efetivadas  nos setores da economia,  do câmbio,  da ciência,  da tecnologia, do comércio e da indústria internacional, dos intercâmbios  culturais com pesquisas nas mais diversos áreas do conhecimento   e da   diplomacia  com sensibilidade e injeção de humanismo que  possa  diminuir e mesmo  resolver,  através de negociações regidas pelo direito  internacional e da soberania dos  Estados, os mais  graves  problemas enfrentados  hoje  por  muitas  nações.
 Países, de resto,  com  gravíssimas disparidades  de vida   social, com  extrema  miséria convivendo com extrema  riqueza, não poderão  nunca solucionar  questões prementes da atualidade  como  a violência urbana e do interior,  as drogas e a delinquência  juvenil.
A paz internacional  só será  atingida  pela via democrática, pela Educação  integral aliando  respeito às diferenças e eliminação   de tantos  preconceitos, seja étnico, seja sexual, seja  religioso. A  tão sonhada paz entre as nações  se concretiza pelo  respeito aos direitos  das  diferenças. Abaixo os extremismos,   os fanatismos, a violência,  as hipocrisias sociais  planetárias!




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