Cunha
e Silva Filho
1. Uma criança de aproximadamente cinco
anos entra por alguma razão numa casa velha de corredor assombrado.
A criança entra correndo e sai da mesma forma correndo quando se choca com uma mulher de idade difusa. Com
o choque, a criança derruba a mulher que estava no seu caminho. Como a era pequena, passou praticamente por entre as pernas da mulher. A
criança ouve palavras
grosseiras ou, como disse um gramático
tradicional, intraduzíveis na
linguagem educada.
2. Uma criança estava lá fora de casa, não muito afastada. No
momento estava tentando brincar com um jumento de rua. A criança puxou-lhe o rabo uma vez, duas vezes; na
terceira vez, de repente leva um coice
da alimária que a deixa tonta, quase caindo. A dor era aguda e de
imediato volta pra casa
chorando e procurando pela mãe.
3.Era uma zona rural, onde se podiam ver tratores, jeeps
e pessoas. A criança estava com o pai e dois
irmãos maiores. O lugar era bonito,
talvez uma fazenda para onde foram
colegas do pai da criança a passeio. A criança se aproxima de um
carro em movimento. O carro, um jeep americano, de repente para. A
criança de olho no carro. Ela está parada no descampado por onde passam carros e pessoas. A criança avança em direção ao carro. Ela, por ser pequena, não pôde ser vista pelo motorista, que resolveu dar uma marcha à ré logo no momento
em que a criança desejou subir por detrás do carro. Sua testa levou
uma pancada forte que a derrubou.
Gritos de toda a parte foram ouvidos. O
motorista deu uma freada, mas a criança
já estava estendida no chão quente de um calor
tropical. Um homem a colocou nos
braços e a levou para dentro da casa da
fazenda. Colocaram-lhe gelo na testa, que
continuava doendo e ficara inchada. O pai da criança, os irmãos ficaram
atônitos, preocupados, sem saber
o que fazer. Seus colegas pediram
calma. Não tinha sido coisa tão séria a ponto de ter que
leva o menino a um hospital.
4. Estava tudo combinado. Eles,
inclusive a criança, iriam à
Praça no centro de Teresina
pedir esmola só de brincadeira. Assim o fizeram. Postaram-se num canto de uma esquina e começaram a desempenhar
o papel de mendigos pedindo
moedas por amor de Deus.
5. O pai da criança recebeu uma
visita de um conhecido. O pai apresentou
os filhos àquele senhor
ainda novo. “Este se chama fulano, este beltrano, este
sicrano e assim sucessivamente. O
visitante ficou calado olhando para cada
uma das crianças e começou a fazer
elogios : “Esta é bonita, esta
também, até chegar a vez da criança (a
mesma da relação desses fragmentos), esta é feia.” A criança, sem
vacilar, na velocidade de um raio, deu uma
tapa na cara do visitante, que nunca, supõe-se, esperaria tal reação.Constrangimento geral. O pai da
criança não sabia onde meter a cara de tanta vergonha. O visitante, idem.
7.Estavam armando um circo improvisado num terreno baldio, perto da casa da criança. Eram
todos colegas, um deles era primo da criança e mais velho uns seis anos. Iam brincar de circo naquele lugar, bem perto da
casa do menino que havia batido na criança sem motivo
algum.Estavam todos alegres com o
que estavam preparando. O primo mais velho
procurava fixar uma estaca alta no chão do terreno. A criança olhava
para o que o primo estava fazendo e, num dado momento,
a estaca caiu e foi atingir
a parte posterior da cabeça da
criança. Era uma estaca grossa e pesada.
A dor foi lancinante e da cabeça da
criança começou a jorrar sangue, muito
sangue. A criança voltou correndo para a
casa e a mãe, aflita diante do
sangue, do jeito que estava, levou o menino
a um médico famoso da cidade, que era, por sinal, parente da família. O médico cuidou dos ferimentos e prescreveu um remédio
para compar na farmácia.
8. Naquele dia abençoado,
o pai da criança levou-a uma procissão
no tempo em que
Nossa Senhora
de Fátima visitava Teresina. Usando terno completo, de cor
clara, o pai acompanhou a procissão. Assistiu a uma missa, orou, acendeu vela. Fizera uma promessa para que
deixasse de lado um comportamento que só estava prejudicando ele mesmo e a família, sobretudo
a mãe da criança. Cumpriu a promessa e tudo
melhorou dali a diante. Nunca mais
desagradara à mãe da criança e a vida em família reinou em paz para sempre.
9.A criança estava
passando por uma calçada onde havia, em
frente a uma casa de classe média,
senhoras sentadas (costume da época) conversando alegremente e observando o que
se passava na rua. Vem a criança de volta da redação
de um jornal importante de
Teresina e, ao passar pela calçada, ouvira de uma das senhoras: “Este
menino parece um príncipe, olha
como anda. Que elegância, que porte!”
10. Foi terrível aquele dia em
que a mãe da criança, na cozinha,
preparava um alfinim quando, por descuido, caiu-lhe por um lado da fronte o tacho com a
rapadura derretida. Mamãe
chorava em desespero e logo a levaram ao
pronto-socorro da Avenida Frei Serafim. Foi um alvoroço para a toda a família
e aquela foi uma das vezes que mais sofrera a criança preocupada
com a saúde da mãe.
12. Algumas vezes, em
tempo muito quente, a mãe da criança ia visitar uma tia que morava pelos lados dos fundos do Liceu Piauiense. A criança costumava voltar sem a roupa, andando
como veio ao mundo.
14.A criança sempre atenta ao que o pai fazia : preparar aula falando em voz alta. O pai, os livros, as
leituras de jornais, a atividade
escrita para os jornais
durante toda a vida..A ida às escolas, sempre a pé de um lugar para outro, o dia todo, a
noite também.
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