Cunha e Silva Filho
Numa entrevista de televisão
feita com o já saudoso
ator José Wilker, a certa altura de suas respostas à entrevistadora, o ator,
refletindo sobre o que pensava do país,
confessara que, nas suas andanças
por dever do ofício de artista,
passando por vários estados brasileiros, sentia
ser o Brasil um lugar dividido
em quatro países.
Cada um desses países
singularizava-se por suas diferenças,
costumes, cultura, níveis
sociais etc. Pouco tempo depois, - acrescentou - com as mudanças grandes
operadas na estrutura da
nação, com mais progresso,
melhoria de comunicações, entre
outros aspectos novos, sua opinião
era outra, i.e., já pensava
no país como um todo, porém não um todo
que lhe viesse dar satisfação e alegria.
O país era um só, mas o ator não via
no horizonte nenhuma possibilidade definida
de uma estado de melhoria das
condições diversas do país. Havia em
suas palavras o tom de sinceridade e ao
mesmo tempo de perplexidade no que diz
respeito a um caminho mais definido para
a solução dos problemas nacionais. Para Wilker, não havia o mínimo vislumbre de
uma saída, de uma via
em direção a uma realidade futura
e de bem-estar para o povo. Percebi que o ator
não estava contente com o país e
o tom de suas palavras era de permanecer por enquanto
na indagação, na dúvida, na expectativa de
não divisar um horizonte.
Foram suas palavras
inquiridoras, inteligentes, lúcidas que me inspiraram a escrever
esta crônica. E, pegando
aquele gancho indefinido
do que falara Wilker, também aqui me dirijo a tantas perplexidade diante do que vemos
no país contemporâneo.
Sem fazer nenhuma previsão geral
quanto ao destino que está
reservado ao meu país, não posso
deixar de repisar questões que cada vez mais me
deixam indignado, sendo a
primeira delas a da insegurança, na qual vive o país. Continuo a afirmar que
nosso problema nº 1 é a violência
contra as pessoas no país afora, e não serão as Forças
Armadas que darão cabo dessa
anomalia onivora que está matando
o resto da esperança do povo brasileiro.
As Forças
Amadas, por melhor boa vontade que tenham, ora incumbidas de proteger uma
parte das favelas cariocas, com
data até julho deste ano, apenas atenderão a razões mais
da imagem do pais com as
proximidades da Copa Mundial.
Quando as tropas se retirarem, os velhos hábitos do crime
retornarão com toda a força e
perversidade nas favelas temporariamente monitoradas. Pouco ou
quase nada vão fazer os militares para
minimizar os massacres cometidos
pela criminalidade, principalmente
porque as Forças Armadas não
têm experiência e know-how
nessa área de atuação. Não é sua seara específica e constitucional.
Ontem
mesmo, às oito horas da manhã, um
professor de educação física, no
bairro da Tijuca, foi mais um número fatal da estatística de uma país de altíssimo nível de violência. Depois de tomar um cafezinho numa
padaria perto da academia em que
trabalhava, na saída, foi
surpreendido na calçada por dois meliantes adultos, um deles magro e baixo e o outro um homem grande e massudo. Usavam bicicletas. Exigiram-lhe um relógio e um cordão de ouro (“Perdeu! Perdeu!," a macabra expressão usada
por criminosos), que usava no pescoço.
O professor, de
cinquenta e cinco anos,
respondeu-lhe com um palavrão e
avançou contra os facínoras, um dos
quais lhe atirou à queima-roupa no peito, ou no pescoço. Levaram o professor a um
pronto-socorro mais próximo, porém era tarde. Já
estava morto. Uma câmara, certamente a da padaria, filmou toda a cena assustadora e covarde e, assim, pudemos constatar que, enquanto o adulto magro anunciava o assalto com uma arma de fogo em punho, o homem grande e massudo veio por detrás atacar o professor tentando dar-lhe um golpe no pescoço.
Não há um só
dia, leitor, em que a TV
brasileira não reporte uma agressão, um assalto, um
homicídio, acontecido no eixo Rio - São Paulo ou em outras regiões do país.
Grande parte dos assassínios é cometida
por menores, que ficam impunes e
voltam a matar outras pessoas, outros
brasileiros, jovens, adultos, velhos e até crianças.
O país exige
reformas urgentíssimas no Código Penal e
da mesma maneira exige dos
legisladores aprovação de leis que
diminuam a maioridade penal a fim
de que tirem o país
dessa fase espantosa de crimes e de impunidades. O país exige
que se implante a prisão perpétua para crimes hediondos.
O povo não
mais suporta tanta
sangue derramado por inocentes na
rua, em casa, em qualquer parte. Urge
dar-se, com rigor, um freio
nessa deplorável passividade do poder
público diante do que está
ocorrendo em todo o território
nacional. Não é bom para o estrangeiro que veja toda essa carnificina cometida
em nosso país.
Os nosso
legisladores em Brasília precisam
entender de uma vez que o
Brasil não é terra de ninguém, que tem
condições de impor leis severas contra quem é
bandido, seja de menor idade, seja adultos.Todos os brasileiros
conscientes estamos esperando
uma posição da Presidente da República a fim de que ela se
sensibilize cm o inferno em que se
transformou o país nessa escalada interminável
de violência contra inocentes, cujo número de mortes equivaleria
a verdadeiras guerra civis.
Que não venham
os sabichões do direito, da sociologia e da antropologia com discursos elitistas, segundo o qual a
violência tem causas assim e assado. O discurso
esotérico de especialistas não
pega mais nem convence a ninguém.
Desejamos, sim, ações
concretas, palpáveis e decisivas
que alterem o status quo da
legislação penal no combate à
criminalidade e que revertam com
políticas de segurança pública viabilizadas, dando
satisfação aos anseios do povo
clamando por justiça, justiça, justiça
contra o crime.
Desejamos, enfim, que o cidadão em casa ou na rua, em qualquer parte do país, na cidade e no campo, nas megalópoles ou
“monstrópoles,” palavra cunhada recentemente em notável e patriótico artigo publicado em
O Globo (“Concerto
das cidades”) pelo ilustre senador Cristóvão Buarque para designar
estas grandes urbes infernais em
que se transformaram São Paulo,
o Rio de Janeiro e outras capitais. Somente desejamos que o povo tenha sossego, paz e confiança em que
este país melhore, ou se não, vai cair
no poço do caos
e da anarquia.
Ao pé da página
Cunha e Silva
“Os
representantes federais do PDS, no Congresso Nacional, são atuantes na tribuna
parlamentar e nos trabalhos das Comissões
Técnicas da Câmara e do Senado Federal. A tarefa deles não passa daí.
Não se movem, entretanto, no Palácio do
Planalto, nos Ministérios e Autarquias para tratarem de assuntos referentes aos
Estados que representam, ganhando gordos subsídios e vantagens outras” (...)
Nota
do Blog: Artigo publicado no jornal Folha do Piauí, s.d., Teresina, PI. (Editoral,
de título “Bate o Recorde”)
“
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