quinta-feira, 31 de outubro de 2019

ONDE ESTÃO OS QUE SE FORAM?




                                      CUNHA E SILVA FILHO

          É esta a pergunta que me faço. Porém, mesmo eu, que enfrento  esse novo texto,    não sei ao certo responder plena e satisfatoriamente   a esta pergunta. Foram-se  para sempre de nós? Foram-se porque não mais  a nossa  pessoa  os interessasse? Tampouco saberei  com segurança   responder a esta outra indagação.   Não saberei jamais  porque se foram e  nos  deixaram no meio do caminho onde nem havia a célebre “pedra “  do famoso  verso drummondiano. Simplesmente se  foram e talvez não mais  voltarão.
       Esse é o busílis da história.  O nó cego, que, aliás,  é um título de um romance de Geraldo França de Lima (1914-2003))  aquele ficcionista  de Serras Azuis (1961),  cujo  exemplar me foi  ofertado  pelo  autor   quando me lecionou  literatura brasileira  na Faculdade de Letras  UFRJ.,  nos anos 70 do século passado.
      Foram-se outros  por razões as mais diversas e as mais  intrigantes já que não houve nenhuma rixa  ou  arranhão  na esfera  da amizade      para que partissem   do meu convívio. Foram-se os que  já me vieram   com a alegria   bem-vinda de suas chegadas. Outro também se foram  porque  mudaram de endereço ou por   morarem  longe, sem omitir o fato de que   a grande cidade,  em vez de unir,   separa.
      Resta indagar  um coisa: foram–se por minha causa  ou  porque, como  uma mulher  que  depositava confiança  no homem amado, se decepcionou   com ele e,  segundo a palavra que gosta de usar,  se desencantou  e o desencanto de uma mulher  é coisa séria,  pois vem  acompanhado  de decepção,  certa raiva,  humilhação sofrida   e indiferença, esquecendo tudo  o que havia   dito ao  amado   durante os momentos mais   encantadores  do convívio com  ele. A mulher desencantada  dificilmente voltará, visto que,   ao se desencantar,  tudo que era belo e bom  foi apagado  da parte mais  sensível  dela: o sentimento amoroso.  
      Foram-se  aqueles  que  para eles nos tornamos inúteis,  sem interesse, esquecendo  tudo que havíamos feito  de bom. Feriram-nos por serem  ingratos  conosco. O que foi  feito por bondade e amizade desinteressada  foi também por água abaixo. Ao passarmos por eles, nos viram a cara ou  fingem que nunca tivemos  um  contato  amigável e promissor.
   Mas existem  os que se foram  contra a nossa vontade  e nos deixaram  só lembranças  queridas  e indeléveis. Não podemos culpá-los por nos deixarem,  uma vez  que  nos deixaram  para  viverem numa outra dimensão e jamais  nos voltarão ao convívio  agradável  de uma amizade  perene  ainda que na brevidade  da vida.  Ah, com  sinto por esse grupo  que me deixou  a contragosto um vazio  de mistura  contraditoriamente com a alegria do tempo em que  estavam  comigo em diversos  lugares da mesma atividade! 
     Sei que alguns ainda  estão entre nós, mas será difícil encontrá-los na imensidão da metrópole, pois  cada uma tomou seu rumo   e os contatos  foram-se, pouco a pouco, se diluindo  até se perderam na multidão.
    Há ainda os que se foram,  mas ao mesmo tempo   permanecem. Sabemos onde estão.  Contudo, o diálogo  se vai rareando por vários motivos. Saúde,  distância,    falta  de  motivação,   a idade avançada, entre outros fatores  dissuasivos.  Por outro lado,  a amizade  se mantém  intacta. Bataria acionar   um pouco de nossa inciativa  para  novamente vir à tona  com cansaço, claro, mas com  uma alegria que  ainda  restou  para sempre  nos nossos corações saudosos. 
   Não há  como  retroagir a fases  passadas  na travessia   avassaladora no tempo e no espaço  da vida de cada um de nós. Onde estão os que se foram?
           
     
      

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