domingo, 13 de outubro de 2019

INTERREGNO NÃO PRODUTIVO NA LITERATURA E EM OUTRAS ÁREAS AFINS



                                Cunha e Silva Filho

       Toda escrita, muitas vezes, é circunstancial na extensão e na qualidade. Depois da batalha raivosa (o termo é, agora, muito usado), numa batalha de  trocas de farpas e xingamentos entre esquerdistas e bolsonarista,   ou melhor, entre lulistas e anti-lulistas senti-me  extenuado e  com vontade de dar um longa pausa sem escrever nada, porquanto  julgava que nada valia a pena.  
      As refregas foram  feias e os resultados, para o meu caso  específico, desfavoráveis no campo da amizade. Encontro-me, agora,  como  um outsider na discussão  política,   com um forte sentimento de  enfado da coisa  política,  de melhoras  para nós, brasileiros, cansado que estamos   de imposturas, desídias, crimes financeiros contra o  Erário Público. de perceber  os mesmos  métodos congressistas   da valha política matreira e de seus personagens pícaros, malandros, bruzundangueiros e malazartianos, todos   malandros.  velhos e novos, (estes últimos  de novos só têm a idade) de vana verba.
     O rescaldo que  consegui para mim foi de perda de amizades de pessoas a quem  estimava, de gente que não entendeu que eu jamais seria  prosélito  do  Sr. Jair Bolsonaro por muitas razões de seus mal ajambrados  projetos  (se tanto assim podemos dizer que foram projetos) de governo  num país em  ruína  econômica e financeira,  à frene  o desemprego,  o fechamento de fábricas, de lojas, de negócios, até no campo cultural,  o fechamento de livrarias, até de sebos.
     A última tristeza,  no caso das livrarias,  foi o fechamento  da Saraiva, no Shopping da Tijuca. O Shopping  - confesso a Vocês -   com a ausência dela ficou sem graça para mim. Eu já me acostumara, ao entrar no Shopping,  a me dirigir logo por um dos corredores,   à loja da Saraiva, na qual comprei bons livros  de literatura,  de línguas,  de crítica literária.
   Voltando à questão dos malefícios, ou malfeitos, no jargão hilário da ex-presidente -Dilma Rousself, dos governos  mencionados  e dos descalabro  de muitos outros males que se tornaram crônicos   e insolúveis (violência  inédita em toda a  história do país, criminalidade  altíssima   e um altíssimo nível de  corrupção e sua contraparte,  a impunidade que, da mesma forma, se  espraiou como  metástase   pelo  território brasileiro, necessitando para este último  caso,  da instauração de investigações  sob a denominação de LavaJato e levada  à premente  arrojada e contínua   ação da Polícia Federal. De todos esse males e outro, repito, somos   vítimas e ainda estamos  sendo vítimas  ao longo de, pelo menos, umas duas décadas.
       A eleição foi ganha pelo atual  Presidente que não era  nem tampouco é ou será da minha simpatia. Contraditoriamente, por causa de alguns  artigos que escrevi em jornal no Piauí e,  posteriormente,  em blogs  e sites, contra  os governos do Lula, Dilma e do Temer, observei que muitos desafetos  adquiri tanto pelos escritos jornalísticos como  pelo que  postei  nos mencionados blogs.
  O que me salvou de maiores inimigos foi  a publicação de textos  não necessariamente  vinculados à questão politica, quer dizer, foram textos, por assim dizer, puramente literários, crônicas, pequenos ensaios,  entrevistas,  traduções, versões, alguns artigos  mais antigos originalmente publicados em jornais do Piauí, ensaios mais longos, alguns em inglês e francês postados num site americano e numa revista romena,  a publicação quase na íntegra de três livros meus, Breve introdução ao curso de letras: uma orientação (2009)As ideias no tempo (2010)  e Apenas memórias (2016)
  Este sentimento  algo romântico de spleen extemporâneo  do século XXI tem de alguma forma  me afastado  de minha  produção  nova que deveria  ter sido continuada (só o foi muito  esparsamente) após  o vendaval das eleições  travadas  entre votantes que se tornaram  inimigos e irmãos divididos da pátria amada Brasil. Contudo, não me darei  por vencido,  tentarei retomar o elo perdido, encontrar o méthodos    dos meus  interesses maiores  pelas questões que  mais me agradam: as relacionadas à literatura e a temas nacionais e internacionais, estes mais do que  aqueles, sempre torcidos, usando esse verbo  no sentido em que foi empregado  em relação  a um tendência de um escritor  piauiense  de talento  para a ficção,  mas  desviado, pelas vicissitudes  da vida, para os temas da política brasileira.
        Na produção  literária,  ou não,  há que se fazer certas renúncias pessoais   a fim de não se perder  o bonde da história. Restaurar todo esse tempo  perdido  leva algum tempo, necessita de paciência  e reformulação  de  planos  de estudos e de metas para serem  colimadas.    
       O escritor que ficou no meio do caminho, ou seja, desistiu de escrever fez um opção que poderá ser  correta, ou  não. Haverá sempre aqueles dois caminhos  a trilhar, um dos quais  deve ser escolhido, como no  poema famoso de   Robert Frost  (1874-1963), de título “The road not taken”(1916),  a  não ser que, por infelicidade,  surjam  mais outras  alternativas, uma   imposta pelo destino  e provocada por doença (caso de poeta piauiense  Da Costa e Silva (1885-1950) e do ficcionista piauiense  O.G. Rego de Carvalho (1930-2013).
      Ou por motivo de foro  íntimo (caso de Hemingway (1898-1961)). Ou mesmo por desistência deliberada  (caso de Radauan Nasser) e podia-se citar também o caso de um escritor famoso norte-americano  que  confessou  ter escrito tudo  o que pretendia (caso De Philip Roth (1933-2018).
      As fase de interrupção de novos   textos em nossa  especialidade de estudos avançados  está   ligada a fatores  igualmente de ordem pessoal,  de doença,  de  falta de  clima  e sobretudo  de falta de  determinação   do próprio autor  de se deixar  vencer  pelos desfoques    nos  seus estudos,   na sua  continuada  preparação   e realimentação de novos  saberes  no âmbito de sua área  principal de  desempenho  literário.
       Por outro lado, há que se fazer aí um mea culpa, visto que a literatura e quaisquer outros saberes  devem se orientar por um ordem  lógica e impessoal,   não permitindo  uma interferência  da vida  individual do escritor  na  sua produção  enquanto  possibilidades  físicas e de lucidez  estiverem  dentro de parâmetros da normalidade criativa.
    O mais elevado  compromisso de quem escreve é o de não desistência desses propósitos   ainda que  impedimentos  tentem   abortar  suas pretensões e  acalentados sonhos   de mais realizações. Para isso, são sempre válidos  a disciplina nos estudos,  as   pesquisas  e a determinação   de não desistir nunca  de seus  desejos  muitas vezes traçados  na juventude, continuados  na maturidade e  concluídos   nos anos mais avançados  de sua existência limitada. Até onde houver  fontes de saberes,   de aquisição  de conhecimentos  e de  disposição  ao trabalho,   posto que reconhecendo  ,   o ato desgastante (conforme, certa feita,    reconhecia  a ficcionista Raquel de Queirós (1910-2003)   da escrita,  deve  o autor   prosseguir  nos seus objetivos. 
        

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