Cunha e Silva Filho
Já se está falando que a Operação Lava-Jato vai ter o mesmo destino da italiana Mãos Limpas. Não direi que sim, mas também não direi que não. Mas a novela da impunidade, da corrupção e da violência sem freios já mostrou a sua resistência às leis, à democracia plena, às soluções que delas esperamos sem o passo de tartaruga, sem as protelações, sem os jogos das instâncias jurídicas, sem empurrar a barriga.
O povo quer
conclusões, justiça feita contra
malversações do dinheiro público que, em
parte, escorreu pelo ralo das propinas
milionárias, aqui e fora do país, pois a corrupção nacional
se internalizou para grande
vexame dos homens de bem desta Nação vilipendiada
nos seus fundamentos básicos: seu sistema político desmoralizado, suas instituições desacreditas, sua falta de rumo para a
sucessão do novo presidente
da República. Um mato sem cachorro. Um caminhar nas trevas do imponderável.
O quadro político brasileiro mostra-se sombrio. O país
se encontra dividido em várias classes sociais, o povão, “bestializado” em
sua grande parte, pouco se importa com
os graves problemas que
atravessamos. Para suavizar seus males e sua carência encontra um meio de entrar num
botequim, preparar-se para o próximo carnaval e assistir a um jogo
de futebol num boteco próximo de sua casa, ou ainda participar de uma roda
de samba de fundo de quintal na periferia
das grandes cidades. Seu
único gesto é o da sobrevivência, do salve-se quem puder, com medo só da falta de emprego, preocupado
só com o sustento da família,
e com a desenfreada violência urbana ou mesmo interiorana, à frente, a bala perdida, o desespero de mortes anunciadas, que se banalizam com a sua recorrência sem fim.
No
entanto, as reais causas primeiras, o fundo das questões que levaram à crise econômico-financeira estão muito longe de
sua compreensão. Penso mesmo que os políticos
maus do Brasil jogam com essas carências, com essa ignorância, com
as ideias embaralhadas do uomo qualumque sem estudo,
o analfabeto, analfabeto funcional, sem horizontes, sem metas
definidas. E, por falta de inclusão cultural-econômica, vão se
reproduzindo por anos a fio. São o que o
crítico Eduardo Portella (1932-2017), definia como
assimetrias de modos de vida sociais
dos brasileiros, numa convivência secular entre o arcaico e o moderno, à semelhança
daquela imagem culturalmente grotesca de mansões luxuosas ao lado da extrema penúria dos favelados.
Enquanto isso, a sociedade civil letrada ou
semiletrada e socialmente dividida, conduz suas vidas presas a um
individualismo exagerado, com os
seus membros afastados uns dos
outros, vivendo cada um o seu exclusivismo em níveis
melhorados social, cultural e financeiramente. Aqui se situam a classe
média, média alta, da burguesia e da elite
econômica. Não existe, assim, homogeneidade ou interpenetração, mas compartimentação visível e previsível.
Por outro
lado, já no caso das investigações da
Lava-Jato, no julgamento da chapa Dilma-Temer,
o vaivém das notícias veiculadas pela mídia e por notícias que saem em áudios, nas redes sociais, essa
espécie de 5º poder que está se constituindo
no cyberspace, acrescidas de comentários e opiniões
divergentes ou convergentes, a
depender da posição ideológica do usuário, os fatos que vêm à tona vão se
acumulando vertiginosamente ao ponto
de deixarem algumas pessoas entediadas
da mesmice da questões.
Essa explosão de
fatos do mesmo teor sobre decisões
tomadas pela Justiça, pelos Tribunais, pelo Ministério Público e
pela Procuradoria Geral da União são muito
maiores na sua quantidade do que a nossa capacidade de assimilação de muitas
delas.
Já uma vez, em
artigo, chamei às desastrosas e multiformes formas do comportamento político
do país de “poliedro de insânias.” Constato, infelizmente, que ainda penso de igual maneira. Pouco se alterou o que era de ruim na política
nacional, nos nossos males
renitentes, nas nossas crises, quer morais, financeiras, econômicas,
quer no setor de segurança
pública, na educação, no ensino
universitário, na saúde, nos transportes, no meio-ambiente, na mais aguda
onda de violência de que já se teve notícia na história da sociedade brasileira. Assim como na
impunidade diante de todos esses aflitivos
problemas que vêm maltratando o nosso povo. Ainda que tentemos
ser um pouco esperançosos, a realidade
do país ainda se mostra inquietante,
arriscada, perigosa,
Quando Dilma
foi destituída do poder no seu segundo
mandato, por via do impeachment, ainda
cheguei a pensar que teríamos águas
menos turbulentas. Qual nada! Mudou-se o governo, mudaram-se os ministros,
e lá veio o vendaval de novos
escândalos, desta vez envolvendo
o vice-presidente do governo Dilma, o
atual presidente Temer. Investigações novas vieram
comprometer o seu mandato que parecia, a princípio, estar dando alguns passos certos, porém
polêmicos, como reformas
intempestivas na Previdência Social, nas leis trabalhistas e na condição das finanças federais, procurando, segundo
o próprio Temer proclamara, “pôr
a economia nos trilhos.”
No entanto,
as investigações da Polícia Federal
levantaram o véu da fantasia da
sisudez do Temer e causaram um nova reviravolta no seu
instável governo, tendo ele na berlinda de ser
mais um membro do governo considerado como suposto
beneficiário das práticas de propinas e dinheiro oriundo de Caixa 2 durante
campanhas políticas ao lado de Dilma Rousseff. A espada de Dâmocles agora paira sobre a
cabeça do ex-professor de Direito
Constitucional, de um político culto,
inteligente, diplomático.
O Brasil não vai
bem das pernas. Há algo que não dá
certo quando uma pequena luz
surge no fim do túnel. Pode-se
afirmar que quase ninguém escapa das manchas deletérias da propina,
da corrupção passiva ou ativa, da
lavagem de dinheiro, de enriquecimento
ilícito, do conluio fétido entre
políticos influentes e parte do grande empresariado brasileiro, em tal
magnitude que praticamente todas as esperanças na figura dos nosso políticos
parecem nos levar à condenação geral.
O país,
rico por natureza, quase não aguenta mais de tanta pancada que
lhe dão homens inescrupulosos, ávidos tanto do poder quanto do vil mental. Lembro-me agora de um
artigo de Leandro Konder (1936-2014) publicado há tempos no antigo Jornal
do Brasil em que ele faz uma pequena e lúcida análise acerca
do dinheiro e da morte. Sobre o
dinheiro, me recordo de que ele o considerava o corruptor de todos os valores.
Posso finalizar
essas reflexões dizendo que a raiz de
toa essa falta de vergonha nacional tem como
núcleo central o endeusamento do dinheiro a qualquer custo, ainda que fira moralmente uma Nação toda ou um Estado inteiro, como no caso do Rio de Janeiro, com o Sr. Sérgio Cabral,
já preso pela suas desídias e maracutaias
cometidas contra os cariocas e
fluminenses. Todos os que praticaram
ilegalidades e crimes financeiros abomináveis perderam a dignidade, ou seja,
perderam tudo. E não há volta nem perdão,
nem reabilitação para criminosos do Erário Público.
👏👏👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirMuito grato pela atenção. Cunha e Silva Filho
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