quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

BRASIL: UMA REFLEXÃO




                                                  Cunha e Silva Filho

         O país da contemporaneidade se mantém funcionando  graças  à diversidade de sua estrutura  social-trabalhista.  A divisão interna do  trabalho é o que o salva  de uma revolução mais radical e traumática. Aqui há um parcela  de ricos que não estão nem aí  para a casa do vizinho infeliz. Por pior que esteja a nossa economia,  o país não parou.
       Se há muito desemprego na iniciativa  privada,  há os que ainda possuem  trabalho,  recebem seus salários e tocam a vida. Entretanto,  há uma parcela menor, que é formada de funcionários públicos,  os das esferas estadual, os quais estão vivendo dias de inusitadas  aperturas  financeiras  com os salários atrasados ou pagos  em  minguadas  parcelas. Os da esfera municipal, na qual alguns municípios,  em situação  de falência, estão  sacrificando  seus funcionários,   também  sem receberem  normalmente  seus vencimentos.         
        Toda essa situação de calamidade financeira se deveu   aos desatinos provocados por governantes  inescrupulosos,  por espertalhões, cuja lábia   eleitoreira  consegue  alçar-se ao poder e, a partir daí, vão  praticar  atos  de  administração  fraudulentos,  o que os levam a locupletar-se do dinheiro público  e logo infernizar as vidas principalmente dos barnabés, os primeiros a pagarem o pato  pelas leviandades desse  gestores desonestos.   
       O mais grave é que eleitores  ingênuos  ou  pouco  politizados  os elegem e mesmo  elegem alguns candidatos   que, antes de tomarem  posse nos seus cargos,  já estão sendo  procurados  pela  órgãos   policiais  com  pedidos de prisão para eles. Inclui-se neste caso, conforme foi noticiado  pela imprensa falada e escrita,   um grupo de vereadores  e um prefeito  recém-eleitos numa cidade  brasileira. É de se perguntar: onde está  a lei da ficha-limpa?  Parece uma piada de mau gosto que, de tanta  corrupção em que o país  se vê  atolado,  essa tragédia  política assuma  uma natureza  cômica.
        Tem-se aí exemplos de  programas   de humorismo  em que  a figura do  político  brasileiro  é carnavalizada, não só  nos dias de hoje mas até em tempos  pretéritos. A arte cênica e a vida real  se misturam  às maravilhas. A politicagem  permanece. A comédia  a imita e a figura  do político oportunista  e venal  se banaliza, se naturaliza, ou seja,   o eleitor continua a votar mal e idiotamente. Ai , então, me lembro da frase  de Pelé pela qual foi  criticado  muitas vezes e  injustamente.
        A famosa  frase de Sêneca (4 a. C.- 65 d. C.), célebre  autor da Antiguidade latina “Castigat ridendo mores” há muito perdeu a sua força  edificante,  porquanto  o cinismo  deslavado  dos políticos  nacionais, com raras exceções,   pouco ou nada  se importa com  o enxovalhamento  de seus  brios  morais.  O povo acha até engraçada a comédia nacional da baixa politicagem e, assim,  vai  vivendo  uma Nação   feita de conchavos, de patranhas, de brechas, de redução de sentenças, de “prisão domiciliar      (que comédia grotesca,  ausência de seriedade de nossas leis, sempre tendentes a   relativizações!) e sobretudo  de imoralidade   escancarada. Os maus políticos  mantêm-se no poder pelo voto  indireto ou mesmo  por nomeação  autocrática? Não,  simplesmente  com  o aval ingênuo  ou  feito de  cinismo, cumplicidade  vergonhosa, extrema  ignorância e  malandragem do próprio   eleitor  brasileiro.
       Ora,  um comportamento social  da sociedade  por estas  vias   transversais, em que as partes da pirâmide social  estão ainda fortemente  consolidadas,tal qual castas, hierarquizadas,  repartidas  injustamente, pouco podem avançar  em direção a um país sério, unido e que tenha sentimento  cívico. Longe disso. 
     Enquanto  os ocupantes do poderes  constituídos  não se esforçarem  por mudanças  na fisionomia  do suposto   estado democrático  que todos  almejamos, haverá uma simetria,  um estado analógico  entre o comportamento do vértice da pirâmide (motivo de  execração  pública) e o comportamento  das partes intermediárias, com o seu  habitual   individualismo, futilidades e convencionalismo   vazio  de ideias nobres, até chegar  à base  geométrica  onde  se homiziam bandidos e assassinos. tão   impunes quanto  a elite  política  e imoral que grassa em todo o território do país. 
      
     
    


                 

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