Cunha e Silva Filho
O país da contemporaneidade se mantém
funcionando graças à diversidade de sua estrutura social-trabalhista. A divisão interna do trabalho é o que o salva de uma revolução mais radical e traumática.
Aqui há um parcela de ricos que não
estão nem aí para a casa do vizinho
infeliz. Por pior que esteja a nossa economia,
o país não parou.
Se há muito desemprego na
iniciativa privada, há os que ainda possuem trabalho,
recebem seus salários e tocam a vida. Entretanto, há uma parcela menor, que é formada de
funcionários públicos, os das esferas
estadual, os quais estão vivendo dias de inusitadas aperturas
financeiras com os salários atrasados
ou pagos em minguadas
parcelas. Os da esfera municipal, na qual alguns municípios, em situação
de falência, estão
sacrificando seus funcionários, também
sem receberem normalmente seus vencimentos.
Toda essa situação de calamidade
financeira se deveu aos desatinos
provocados por governantes
inescrupulosos, por espertalhões,
cuja lábia eleitoreira consegue
alçar-se ao poder e, a partir daí, vão
praticar atos de
administração fraudulentos, o que os levam a locupletar-se do dinheiro público
e logo infernizar as vidas
principalmente dos barnabés, os primeiros a pagarem o pato pelas leviandades desse gestores desonestos.
O mais grave é que eleitores ingênuos
ou pouco politizados
os elegem e mesmo elegem alguns candidatos que, antes de tomarem posse nos seus cargos, já estão sendo procurados
pela órgãos policiais
com pedidos de prisão para eles.
Inclui-se neste caso, conforme foi noticiado
pela imprensa falada e escrita, um grupo de vereadores e um prefeito
recém-eleitos numa cidade
brasileira. É de se perguntar: onde está
a lei da ficha-limpa? Parece uma
piada de mau gosto que, de tanta
corrupção em que o país se vê atolado,
essa tragédia política
assuma uma natureza cômica.
Tem-se aí exemplos de programas
de humorismo em que a figura do
político brasileiro é carnavalizada, não só nos dias de hoje mas até em tempos pretéritos. A arte cênica e a vida real se misturam
às maravilhas. A politicagem
permanece. A comédia a imita e a
figura do político oportunista e venal
se banaliza, se naturaliza, ou seja,
o eleitor continua a votar mal e idiotamente. Ai , então, me lembro da
frase de Pelé pela qual foi criticado
muitas vezes e injustamente.
A famosa frase de Sêneca (4 a. C.- 65 d. C.),
célebre autor da Antiguidade latina “Castigat
ridendo mores” há muito perdeu a sua força
edificante, porquanto o cinismo
deslavado dos políticos nacionais, com raras exceções, pouco ou nada
se importa com o
enxovalhamento de seus brios
morais. O povo acha até engraçada
a comédia nacional da baixa politicagem e, assim, vai
vivendo uma Nação feita de conchavos, de patranhas, de brechas,
de redução de sentenças, de “prisão domiciliar
(que comédia grotesca, ausência de
seriedade de nossas leis, sempre tendentes a relativizações!) e sobretudo de imoralidade escancarada. Os maus políticos mantêm-se no poder pelo voto indireto ou mesmo por nomeação
autocrática? Não,
simplesmente com o aval ingênuo ou
feito de cinismo, cumplicidade vergonhosa, extrema ignorância e
malandragem do próprio
eleitor brasileiro.
Ora,
um comportamento social da
sociedade por estas vias transversais, em que as partes da pirâmide
social estão ainda fortemente consolidadas,tal qual castas,
hierarquizadas, repartidas injustamente, pouco podem avançar em direção a um país sério, unido e que tenha
sentimento cívico. Longe disso.
Enquanto os ocupantes do poderes constituídos
não se esforçarem por
mudanças na fisionomia do suposto
estado democrático que todos almejamos, haverá uma simetria, um estado analógico entre o comportamento do vértice da pirâmide (motivo
de execração pública) e o comportamento das partes intermediárias, com o seu habitual
individualismo, futilidades e convencionalismo vazio
de ideias nobres, até chegar à
base geométrica onde
se homiziam bandidos e assassinos. tão
impunes quanto a elite política
e imoral que grassa em todo o território do país.
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