Cunha e Silva
Filho
1.
Nunca duvidei de que, na vida
intelectual, exista uma distância
enorme entre a pessoa do escritor
e a obra que produz, embora tenha a certeza
de que, pelo menos para mim, torna-se
quase impossível poder admirar integralmente um autor
quando, por experiência direta ou
indireta, percebo que este não constitui uma
unidade harmoniosa entre o caráter e sua obra, quer de escritores menores,
quer de médios ou grandes escritores. Julgo até que este
ponto de vista meu não se cinge
somente aos dias que atravessamos mas há muito tempo tem sido uma realidade na vida literária brasileira. Que o digam Humberto de Campos,
Monteiro Lobato, Brito
Broca, Afrânio Coutinho e Álvaro
Lins, servindo estes nomes apenas de meros exemplos
para ilustrar este tópico de vida literária.
2. Ontem, fiz mais um ano de idade. Um pequeno
almoço, para convidados bem escolhidos, me leva
a esta reflexão: chega um tempo em que
as velinhas não mais nos
interessam, nem discurso nem respostas a discurso. O que fica mesmo
são as alegrias de convidados separados
por mesas, falando de tudo :política, vida a alheia, literatura, projetos de vida concluídos, enfim, em cada mesa composta de convidados tudo é festa Constato também
que a comida, a bebida, a sobremesa,
com álcool ou sem ele, completam integralmente o
ritmo da comemoração. O
melhor, contudo, para mim, numa simples festinha entre
amigos, é o meu
hábito de conversar com
todos os convidados, mas, ao fazer isso, há uma falta de habilidade minha
imperdoável: verifico que
converso mais com alguns do que
com outros. Por que será que a
festa é assim? Outra falha minha: sou
sempre o que menos come porque –
é explicável - fico o tempo todo dando atenção
aos convidados. E o pior é que foi sempre assim quando o assunto é a comemoração do meu aniversário.
3.
Estou deveras preocupado:
há uma pilha crescente de livros
que tenho o dever
de ler e, se possível, comentar,
seja em
resenha, seja num artigo-ensaio
mais denso.
4.
O meu hobby é o seguinte:
colecionar livros didáticos de matérias do meu tempo de ginasiano e de aluno do curso científico em Teresina, Piauí, que mais me interessam. Enquanto não completo a coleção de um autor, não sossego. Este hobby me traz alguns
percalços e o espaço físico
do meu apartamento é o nó górdio
da questão.Como não sou um Mindlin, fica
mais problemática a solução
dessa questão.
4.
Fico chateado quando deixo de comprar jornais (são dois apenas, leitores) que sempre
leio cada semana. Mas, pensando
bem, se não li aquele exemplar que deveria comprar, isso
não é o fim do mundo, uma vez que
não costumo ler um jornal
inteiro no mesmo dia.
5.
Por que, numa Academia (traduza-se: de Letras) que não vou aqui nomear ( não
vou dar esse gosto aos intrigantes e fofoqueiros ) há
, segundo um informante,
quatro grupos divergentes ?
Descubro, além disso, que não é
só numa Academia que existem redes de
intrigas, grupos que querem ver os outros pelas costas. O mal é geral e se alastra
insidiosamente em outros setores, públicos
ou privados.
6.
Fato curioso: Mário Quintana tentou entrar para a Academia Brasileira de Letras por mais de um vez, ao passo que Ferreira Gullar, que não
era chegado a essa possibilidade, para o Petit Trianon, foi convidado, tendo uma vitória quase cem
por cento na contagem de votos. Só um não
votou nele. Quem seria?
6.
Renan Calheiros, a quem todo
mundo conhece de priscas eras colloridas,
desrespeitou um pequeno grupo
que estava nas galerias
do Senado protestando contra a
aprovação um projeto de lei relativo à gastança
sem limites da dinheirama do Erário Público. O referido
político, sem educação parlamentar à altura do cargo, chamou o pequeno grupo de indignados
das galerias de “assalariados” sem
nenhuma importância diante das
decisões do Congresso
Nacional. Reduziu, assim, por
metonímia, a pó o eleitorado
brasileiro. Esse é o pensamento elitista, cínico e ao mesmo tempo tacanha
de politicagem coronelista
deste país. Uma vergonha a
mais para a imagem já
moralmente destroçada de
nossos políticos.
7.Com
a globalização e a
crescente inter-comunicação dos povos,
subiu enormemente a produção editorial
de livros para aprendizagem de idiomas, sobretudo do inglês.
8.
O Piauí, no que tange ao mundo editorial,
está dando mostras de crescente
vitalidade, produzindo localmente, seus livros,
com o surgimento de muitos
escritores de vários genros
literários ou não, de novas
livrarias bem equipadas, com
sucessivas noites de autógrafos.
O escritor, professor e editor Dílson Lages Monteiro, com outros companheiros, estão
concorrendo significativamente para que
o Piauí se faça conhecido
pelo país afora. Dílson Lages é um
operoso e jovem intelectual que faz questão
de estar levando a produção dele e de outros autores piauienses ao conhecimento de leitores de outros
lugares do país, através de participação
de Feiras de Livros,
de entrevistas com autores
piauienses. É um escritor
antenado, sem quaisquer ranços de provincianismo ao lidar
com a produção sua e
de outros escritores
do seu estado. Além disso, Dílson
Lages, como diretor de um já
respeitado site de literatura, o Entretextos, abriu, assim, no Piauí, mais uma canal de divulgação de autores
piauienses. Seu trabalho, fruto de
sua vocação para a vida cultural,
merece o respeito dos piauienses
e o seu mencionado site constitui um
amplo espaço virtual, um verdadeiro fórum aberto a discussões de
questões e a reflexões
multifacetadas sobre literatura e outros temas culturais gerais graças à qualidade
de seus colaboradores. O objetivo
primacial do Entretextos, pelo menos para este colunista, visa a
disseminar o conhecimento e a propiciar mais
visibilidade da produção
literária brasileira de forma democrática.
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