segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Fragmentos do cotidiano de um escritor







                                Cunha e Silva Filho



1. Nunca  duvidei de que, na vida intelectual,   exista uma  distância  enorme entre a pessoa  do escritor e a obra que produz, embora  tenha a certeza de que,  pelo menos para mim,   torna-se  quase  impossível  poder admirar integralmente  um autor  quando,  por experiência direta ou indireta,  percebo que este não  constitui uma  unidade   harmoniosa  entre o caráter  e  sua obra, quer de escritores menores, quer de médios ou  grandes  escritores. Julgo até que  este  ponto de vista meu  não se cinge somente aos  dias   que atravessamos  mas  há muito tempo tem sido uma realidade na  vida literária  brasileira. Que o digam Humberto  de Campos,  Monteiro Lobato,  Brito Broca,  Afrânio Coutinho e Álvaro Lins,  servindo estes  nomes apenas de meros   exemplos  para ilustrar    este tópico  de vida literária.

2.  Ontem, fiz mais um ano de idade. Um pequeno almoço, para  convidados  bem escolhidos,  me leva  a esta reflexão: chega um tempo em que  as velinhas não mais  nos interessam, nem discurso  nem  respostas a discurso. O que  fica mesmo  são  as alegrias   de convidados  separados  por mesas,  falando  de tudo :política,    vida a alheia,   literatura, projetos de vida  concluídos, enfim, em cada  mesa composta de  convidados tudo  é festa Constato  também  que a comida, a bebida, a sobremesa,  com álcool ou sem ele,   completam  integralmente   o  ritmo  da comemoração. O melhor,  contudo,  para mim,  numa simples festinha entre  amigos,  é  o meu   hábito de   conversar com todos  os convidados, mas, ao fazer isso, há uma  falta de habilidade minha imperdoável:    verifico  que  converso mais com  alguns do que com  outros. Por que será  que  a festa é assim?   Outra falha  minha: sou  sempre o que menos  come porque – é explicável -   fico   o tempo todo  dando atenção  aos  convidados. E o pior  é que foi sempre assim  quando    o assunto  é a comemoração  do  meu  aniversário.

3. Estou  deveras  preocupado:  há uma pilha  crescente de livros que  tenho  o dever  de ler e, se possível,  comentar, seja  em  resenha, seja num artigo-ensaio  mais  denso.
4. O meu  hobby é o seguinte:  colecionar  livros  didáticos de matérias  do meu tempo  de ginasiano e de  aluno do curso   científico em Teresina, Piauí, que mais me interessam. Enquanto não  completo a coleção de um autor,  não sossego. Este hobby me traz alguns percalços e o  espaço  físico  do meu apartamento  é o nó górdio da questão.Como não sou um Mindlin,  fica mais    problemática   a solução  dessa questão.

4. Fico chateado quando deixo de comprar  jornais (são dois apenas,  leitores)  que sempre  leio  cada semana. Mas, pensando bem,  se não  li aquele  exemplar que deveria comprar,  isso  não é o fim do mundo,  uma vez que não costumo  ler  um jornal  inteiro no mesmo dia.

5. Por que,  numa  Academia (traduza-se:  de Letras)  que não vou    aqui nomear ( não vou dar  esse gosto  aos intrigantes e fofoqueiros ) há , segundo  um  informante,   quatro  grupos  divergentes ?  Descubro, além disso,  que não é só numa Academia  que existem redes de intrigas,  grupos   que querem ver os outros pelas  costas. O mal é geral e se alastra insidiosamente  em outros setores,  públicos  ou  privados.
6. Fato curioso:  Mário Quintana tentou  entrar para a  Academia Brasileira de Letras  por mais de um  vez, ao passo que Ferreira Gullar, que não era chegado  a essa  possibilidade,   para o Petit Trianon,  foi  convidado, tendo   uma vitória quase  cem  por cento  na contagem  de votos. Só um  não  votou nele. Quem seria? 

6. Renan Calheiros,  a quem  todo  mundo  conhece de priscas eras   colloridas,  desrespeitou  um pequeno   grupo   que  estava nas  galerias  do Senado protestando  contra a aprovação  um projeto  de lei relativo  à gastança   sem limites   da dinheirama     do Erário Público. O referido político,  sem  educação parlamentar à altura do cargo,  chamou   o  pequeno grupo de  indignados  das galerias de “assalariados” sem  nenhuma importância  diante das decisões  do  Congresso  Nacional. Reduziu, assim,   por metonímia,    a pó o eleitorado brasileiro. Esse é o pensamento elitista, cínico  e ao mesmo tempo  tacanha  de    politicagem  coronelista  deste país. Uma vergonha  a mais  para  a imagem já  moralmente destroçada    de nossos  políticos.

7.Com a  globalização  e  a crescente  inter-comunicação   dos povos,   subiu enormemente  a produção  editorial  de livros para aprendizagem de idiomas, sobretudo do inglês.


8. O Piauí, no que tange  ao mundo   editorial,   está dando   mostras de crescente vitalidade,  produzindo localmente,  seus livros,   com o surgimento  de   muitos   escritores  de vários genros literários ou  não, de  novas  livrarias  bem equipadas,  com   sucessivas  noites de autógrafos. O escritor, professor  e editor  Dílson Lages Monteiro, com outros  companheiros,   estão  concorrendo significativamente para que  o Piauí  se faça  conhecido  pelo país afora. Dílson Lages é um  operoso e jovem intelectual que   faz questão  de  estar  levando a produção dele e de outros  autores piauienses  ao conhecimento de leitores de outros lugares  do país, através de participação de   Feiras  de Livros,  de entrevistas   com   autores  piauienses. É um escritor  antenado,  sem  quaisquer ranços de  provincianismo  ao lidar  com   a produção  sua  e de  outros   escritores   do seu estado. Além disso,  Dílson Lages, como diretor  de um  já  respeitado  site  de literatura,  o Entretextos,  abriu, assim,  no Piauí, mais uma canal  de divulgação   de autores  piauienses. Seu trabalho,  fruto de sua vocação  para a vida  cultural,  merece  o respeito dos piauienses e o seu   mencionado site  constitui um  amplo espaço virtual, um verdadeiro fórum aberto a discussões de questões   e  a reflexões  multifacetadas sobre literatura e outros   temas culturais gerais graças  à qualidade  de  seus colaboradores. O objetivo primacial do Entretextos,   pelo menos para este colunista,  visa  a disseminar o conhecimento e a propiciar mais  visibilidade da produção   literária brasileira de forma democrática.

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