sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Brasília: a farra dos salários e Natal dos neo-marajás

      



                                                            Cunha e Silva Filho


         Quem me disser que o Brasil é uma democracia,  está  definindo uma meia-verdade, ou  um  verdade no plano do realismo  mágico.
         Antes das eleições para presidente e governadores, senadores  e deputados, o discurso dos candidatos a presidente da República eram meramente  marqueteiros,  sobretudo do  PT,  pois não  se   reportaram  ao que, depois do resultado das  eleições, já sabiam antecipadamente o que  se reservava ao povo que  elegeu a D. Dilma a um segundo  mandato, embora com   vitória  apertada, o que quer dizer com a reprovação  de praticamente a metade do número de eleitores  que votam.Tira-se daí uma  conclusão:  o eleitor brasileiro  é secularmente   esbulhado  pelo discurso politqueiro, de aparência , só para  inglês ver
      Ora, nos discurso  de D. Dilma o país semelhava a um  quase paraíso, um   “ilha da fantasia,”  onde não havia  inflação,  não havia  pobreza,  sem-teto e   hospitais,   escolas,   segurança  pública   sucateados,  enfim, todo  o  lodo ou lixo ou o que o valha foi  posto  debaixo do  tapete do cinismo e da  empulhação  deslavada. Além disso,  o chamado  déficit  público, i.e., a dívida  pública  foi   também  escamoteada  das discurseiras estéreis  e  enganosas   de palanques  mambembes. Tripudiaram  sobre os eleitores cordeirinhos  da classe média ou "mérdea" da “patuléia”, conforme costumava   definir  o  contista  João Antônio (1937-1996) ao  aludir  à massa ignara  de “humilhados e ofendidos.”  
       Passadas as eleições,  retomando  os  antigos assentos para mais um mandato, aí  incluindo  da presidente aos  deputados, o país “mostrou outra cara.” Os indicadores  econômicos  começaram a falar  em  inflação  em alta,  em  dívida interna   cavalar,  em  falta de  dinheiro,   desvalorização do real,   enfim, em tantas outras    revelações  que  a mágica da  Presidência  não queria  tirar  do colete. Em outras palavras,  o  Brasil,  agora,  ficou,  num piscar de olhos, transparente ao seu povo, antes  anestesiado e ludibriado  pelas   arengas  solertes e midiáticos  de D. Dilma e de  sua entourage,  contumazes  bajuladores  palacianos, cuja única sinceridade  é o bifrontismo até para a própria  Presidente Dilma.
       Paralelamente a esse Brasil  real  e  envergonhado, explodiram  as sucessivas    denúncias  das falcatruas  de altos  funcionários  da Petrobrás  em negociatas   com  empreiteiras, mancomunados com alguns   políticos, inclusive, do PT,  dentro e fora  do  país,   com objetivo  bem   planejado e de caso  pensado  de   vampirizar  o sangue – digo melhor -  o dinheiro da  Petrobrás – a maior estatal  brasileira. O quadro ficou  dantesco ou, para outros,  mefistofélicos  nas suas    tramas e no  enredo da  tragicomédia  nacional. A Polícia Federal,  dando exemplo de  alto  sentido  público,   não  economizou nas investigações aos tubarões  e predadores  do Erário  Público. Foram fundo, descobriram  cobras e lagartos  do bas-fond  da  estrutura  administrativa    do país. Mandados foram expedidos para prender falsários e  dilapidadores   do povo   brasileiro.  A máfia e seus  componentes,  pouco a pouco,  vão sendo  desvendados.
        O instrumento   da delação premiada, se ajudou  um pouco,  não  é o bastante  para se   avaliar  o quanto ainda  está submerso  no lodaçal  da impunidade da máquina  estatal   do país.
       Dadas  tantas   danças e contra-danças  no rodamoinho da   politicagem  nacional,  percebo que  as CPIs, de parte em  parte,  ou seja,  do governo e da oposição,   procuram  fazer o seu papel  de  co-adjuvante   da Polícia  Federal e   do Ministério  Público;  não desejam, contudo,   tocar na ferida,  ou seja,  evitar ao máximo que  os escândalos da Petrobrás  apontem   figuras  políticas   de alguns   partidos, o que   sinaliza para um   certo  cuidado de preservar  a declinação   de  nomes de políticos que sabemos  estar  envolvidos até os dentes com as maracutaias petrolíferas...
       Todavia,   toda  essa digressão  se  imbrica num   outro   fato  digno  da  indignação   brasileira, sempre cordeirinha,  bem-comportada,  bem classemediana ou mesmo  aburguesada, amiga  inseparável dos bares, da cervejinha , vinhos ou mesmo  para os mais afortunados,  do whisky e das comidas   apetitosas temperadas   dos  fins de semana nacional. Bares cheios,  todo mundo  comendo  à farta,  com seus carros   atravancando  as cidades,   as ruas, os estacionamentos  que não mais comportam   tantos  veículos    dos   adeptos do epicurismo  sem peias e  dos shoppings refrigerados,  com  seus usuários  fugindo  do calor do verão.  Todos  desfrutando da dolce  vita. “Que importam  os famintos,   os  pobres,  os  baixa renda?” “Eu quero  é viver a vida na  plenitude  dos valores  hedonísticos,   do viver ao máximo  todas  os prazeres físicos  e gastronômicos. Viva o prazer!”
         Tudo isso,  leitor,  pensado e refletido, foi um expediente   para este articulista  reclamar contra a farra dos   aumentos,     aprovados agora,   para os  donos do poder: ministros,   políticos,   área da Justiça, numa reação em cadeia que  seguramente  passará para o setor público  estadual e  municipal.  D. Dilma, da sua governança  provisória  no Mercosul,   com seu novo   salário   polpudo e seu cartão  corporativo  que   as más línguas  dizem  superar  os gastos  pessoais da  rainha da  Inglaterra, a tudo isso  assiste  soberana  e  bem avaliada  pelo IBOPE, ou seja, em ascensão  no gosto  brasílico. País dos contrastes!
         Enquanto isso,  os  funcionários  públicos federais da ativa  e inativos, tais como professores, burocratas,  médicos,   enfermeiras, engenheiros  e de outras categorias    permanecem sem  aumentos salarial  há pelo menos  três anos! D. Dilma, existe   maior    desfaçatez  e  descaso  do governo federal  para com  esses  servidores  da União  com  os salários  praticamente  congelados, que estão sendo  corroídos pela  inflação que a Sra. negou  nas campanhas  quando afirmava  estar sob  controle?
      O país,   quanto aos direitos  de cidadania,  está  assim,  clivado no que concerne aos vencimentos  de seu funcionalismo: os  altos   cargos  da República autoproclamando  seus   aumentos  anuais com índices  de porcentagem   de neo-marajás. O resto da Nação,   que se dane! Os parlamentares  e os outros altos  escalões  calados ficam,   antegozando as delícias do poder  reinol.Vou usar um chavão  histórico:  De Gaulle  tinha  razão.




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