Cunha e Silva Filho
Quem me disser que o Brasil é uma
democracia, está definindo uma meia-verdade, ou um
verdade no plano do realismo
mágico.
Antes das eleições para presidente e
governadores, senadores e deputados, o
discurso dos candidatos a presidente da República eram meramente marqueteiros,
sobretudo do PT, pois não
se reportaram ao que, depois do resultado das eleições, já sabiam antecipadamente o
que se reservava ao povo que elegeu
a D. Dilma a um segundo mandato, embora
com vitória apertada, o que quer dizer com a
reprovação de praticamente a metade do
número de eleitores que votam.Tira-se
daí uma conclusão: o eleitor brasileiro é secularmente esbulhado
pelo discurso politqueiro, de aparência , só para inglês ver
Ora, nos discurso de D. Dilma o país semelhava a um quase paraíso, um “ilha da fantasia,” onde não havia inflação,
não havia pobreza, sem-teto e hospitais, escolas, segurança
pública sucateados, enfim, todo o lodo ou lixo ou o que o valha foi posto
debaixo do tapete do cinismo e
da empulhação deslavada. Além disso, o chamado
déficit público, i.e., a
dívida pública foi também escamoteada
das discurseiras estéreis e enganosas
de palanques mambembes.
Tripudiaram sobre os eleitores
cordeirinhos da classe média ou "mérdea" da
“patuléia”, conforme costumava definir o
contista João Antônio (1937-1996) ao aludir
à massa ignara de “humilhados e
ofendidos.”
Passadas as eleições, retomando
os antigos assentos para mais um
mandato, aí incluindo da presidente aos deputados, o país “mostrou outra cara.” Os
indicadores econômicos começaram a falar em
inflação em alta, em
dívida interna cavalar, em
falta de dinheiro, desvalorização do real, enfim, em tantas outras revelações
que a mágica da Presidência
não queria tirar do colete. Em outras palavras, o
Brasil, agora, ficou,
num piscar de olhos, transparente ao seu povo, antes anestesiado e ludibriado pelas
arengas solertes e midiáticos de D. Dilma e de sua entourage, contumazes
bajuladores palacianos, cuja
única sinceridade é o bifrontismo até
para a própria Presidente Dilma.
Paralelamente a esse Brasil real
e envergonhado, explodiram as sucessivas denúncias
das falcatruas de altos funcionários
da Petrobrás em negociatas com
empreiteiras, mancomunados com alguns
políticos, inclusive, do PT,
dentro e fora do país,
com objetivo bem planejado e de caso pensado
de vampirizar o sangue – digo melhor - o dinheiro da
Petrobrás – a maior estatal
brasileira. O quadro ficou
dantesco ou, para outros,
mefistofélicos nas suas tramas e no
enredo da tragicomédia nacional. A Polícia Federal, dando exemplo de alto
sentido público, não
economizou nas investigações aos tubarões e predadores
do Erário Público. Foram fundo,
descobriram cobras e lagartos do bas-fond da
estrutura administrativa do país. Mandados foram expedidos para
prender falsários e dilapidadores do povo
brasileiro. A máfia e seus componentes,
pouco a pouco, vão sendo desvendados.
O
instrumento da delação premiada, se
ajudou um pouco, não é o bastante para se
avaliar o quanto ainda está submerso
no lodaçal da impunidade da máquina estatal
do país.
Dadas
tantas danças e
contra-danças no rodamoinho da politicagem
nacional, percebo que as CPIs, de parte em parte,
ou seja, do governo e da oposição, procuram
fazer o seu papel de co-adjuvante da Polícia
Federal e do Ministério
Público; não desejam, contudo, tocar na ferida, ou seja,
evitar ao máximo que os escândalos
da Petrobrás apontem figuras
políticas de alguns partidos, o que sinaliza para um certo
cuidado de preservar a declinação
de
nomes de políticos que sabemos
estar envolvidos até os dentes com
as maracutaias petrolíferas...
Todavia, toda
essa digressão se imbrica num
outro fato digno
da indignação brasileira, sempre cordeirinha, bem-comportada, bem classemediana ou mesmo aburguesada, amiga inseparável dos bares, da cervejinha , vinhos ou mesmo para os mais afortunados, do whisky e das comidas apetitosas temperadas dos
fins de semana nacional. Bares cheios,
todo mundo comendo à farta,
com seus carros atravancando as cidades,
as ruas, os estacionamentos que não mais comportam tantos
veículos dos adeptos
do epicurismo sem peias e dos shoppings
refrigerados, com seus usuários
fugindo do calor do verão. Todos
desfrutando da dolce vita. “Que importam os famintos,
os pobres, os
baixa renda?” “Eu quero é viver a
vida na plenitude dos valores
hedonísticos, do viver ao máximo todas
os prazeres físicos e gastronômicos.
Viva o prazer!”
Tudo isso, leitor,
pensado e refletido, foi um expediente para este articulista reclamar contra a farra dos aumentos, aprovados agora, para os donos do poder: ministros, políticos,
área da Justiça, numa reação em cadeia que seguramente
passará para o setor público estadual e municipal. D. Dilma, da sua governança provisória
no Mercosul, com seu novo salário
polpudo e seu cartão corporativo que as más línguas dizem
superar os gastos pessoais da
rainha da Inglaterra, a tudo
isso assiste soberana
e bem avaliada pelo IBOPE, ou seja, em ascensão no gosto
brasílico. País dos contrastes!
Enquanto isso, os funcionários públicos federais da ativa e inativos, tais como professores, burocratas, médicos,
enfermeiras, engenheiros e de
outras categorias permanecem sem
aumentos salarial há pelo menos três anos! D. Dilma, existe maior
desfaçatez e descaso do governo federal para com
esses servidores da União com os
salários praticamente congelados, que estão sendo corroídos pela inflação que a Sra. negou nas campanhas
quando afirmava estar sob controle?
O
país, quanto aos direitos de cidadania,
está assim, clivado no que concerne aos vencimentos de seu funcionalismo: os altos
cargos da República autoproclamando seus
aumentos anuais com índices de porcentagem de neo-marajás. O resto da Nação, que se dane! Os parlamentares e os outros altos escalões
calados ficam, antegozando as
delícias do poder reinol.Vou usar um
chavão histórico: De Gaulle
tinha razão.
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