domingo, 8 de junho de 2014

De repente, o Brasil vira uma bola




                                            Cunha e Silva Filho


              É claro, leitor, que ninguém  do meu país   vai tratar mal  os turistas, nacionais ou  estrangeiros. Todos são  bem-vindos ao meu pais que agora, se torna uma pátria-mundo, tendo como  motor de funcionamento a bola com B maiúsculo -  significante-significado do signo  da pátria acolhedora. Ninguém há de querer  tisnar a festa do maior esporte  do mundo, o futebol,  o footbal, o soccer, la pelote, la  pelota,  ou seja,  tudo que seja conduzido pela bola, até mesmo a nação. 
Dizem os entendidos ( não me venham  interpretar essa palavra com  outro significado que serve de combustível para preconceitos) em dinheiro e em economia  que a Copa  do Mundo, cujo símbolo mais  emblemático é a FIFA, hoje,  sigla que virou moeda corrente   empregada  até como  bordão ou lema  de trabalhadores em greve ou  na iminência de greve, trará  uma  imensidão de dólares ao país, beneficiando  outras tantas  quantidades de pessoas direta ou indiretamente.
 Mas, essa linha de pensamento econômico tem como contrapartida outra pergunta que se torna necessária: a quem realmente vai beneficiar,  no cômputo geral,  a invasão dos dólares: o  povo,  os pobres, a classe média,  os ricos, os miliardários,  os mega-empresários, incluindo,  entre eles,  os médios e micros, os hospitais públicos, a educação pública, a segurança pública do cidadão na rua, na sua residência, no seu bairro?   Vai diminuir  o nível insuportável da violência extrema nas megalópoles e pequenas cidades, espalhada nos quatro cantos  do território nacional? Quem sou eu para deslindar  tal conjunto de problemas  da responsabilidade dos governos  municipais, estaduais e  federal?
Todos  queremos torcer pela vitória de nossa seleção – é uma fato inquestionável. Contudo,  o país, traduzindo-se,  o governo federal,  nos seus deveres de casa,  não está com esta bola  toda, e a população,  por menos consciente que seja, sabe bem. disso.  Estamos, assim,  atentos para as  empulhações e  as anestesias  vindas dos ventos demagógicos em tempo de pré-eleições.
Os bares andam  cheios,  os restaurantes, os shoppings, idem. Mas, a classe média não é o todo e o Brasil  da baixa política funciona por metonímia Sabe que a parte,  a grande parte,  faz parte do todo.Este depende da parte e vice-versa. A bola  vai rolar  em vários estádios, em cujas construções foi injetado o dinheiro  do povo, com montantes em  bilhões de reais, muito acima  do que era previsto de gastança do Erário,  pois a Presidente não é rainha nem tampouco   autocrata,  se bem  que o regime presidencialista  enfeixe poderes  quase imperiais.
Viramos, agora, uma bola no mapa brasílico.O país se unirá por algum tempo e, mesmo assim,  só por amor à bola, que rolará nos gramados. O objetivo da bola é fazer gol. Contudo, a bola,  esse objeto  redondo,  fetiche das multidões de torcedores e fanáticos, aqui e no estrangeiro, mais aqui talvez do que lá,  tem  lá seus caprichos. Do que ela fizer nos gramados país  afora é que muito coisa  dependerá,  inclusive os humores da política  brasileira.
             Os vigilantes dos estabelecimentos  bancários há mais de um mês estão em greve e um dos seus lemas ou bordões diz : “Estamos  em greve. Basta de escravidão. Queremos salários  padrão FIFA.” Ora, nunca a FIFA se imiscuiu tanto em negócios no país. Ela manda, ela fiscaliza, ela exige, ela aprova ou desaprova. A FIFA virou  zona   aérea, ou melhor, terrestre neutra, com poderes  de  reivindicações de alto padrão em diversos setores  da infraestrutra  do país, sobretudo,  aeroportos,  hotelaria,  meios de transporte,  segurança, tudo por conta  de verbas do governo federal, sobretudo. Quem manda na bola, agora tornado   este objeto  divino e milagroso,  é a FIFA. Manda e desmanda e, quem sabe, seu poder  de decisões avança Alvorada adentro.Eu nunca  pensei que chegasse a tantos poderes dentro de uma nação  supostamente soberana.
Como o Brasil  mudou, ou parafraseando  Machado de Assis – mudou ou mudamos nós?, e para, talvez, pior em coisas de política e de governabilidade.  Pior, porque a corrupção  ainda se encontra entranhada no solo político  da pátria, nos três poderes. Não somente corrupção, mas também  o seu corolário, a impunidade  que não quer  deixar o osso como cachorro faminto.Corrupção,  impunidade e violência  são faces da mesmo  problema. Ia dizer da mesma moeda,  mas a frase ficaria maluca.
Leis idiotas e inócuas, na prática, não funcionarão, pela impossibilidade de fiscalização e de subjetividade no que concerne à vida privada das famílias, como foi a aprovação  da “Lei da Palmada,”  algo que beira o ridículo e  a falta do que fazer  de deputados federais que estariam, sim, prestando um bem ao país se modificassem, ou melhor, endurecessem as leis   que  regulamentam  a punição de menores  infratores e de crimes  hediondos, até mesmo  podendo se estender à implantação da prisão perpétua para  crimes abomináveis.
Naturalmente, sem  as contumazes brechas  das leis, os jeitinhos “legais”  com  diminuições de tempo  de  prisão ou em razão de “bom comportamento”(outro  expediente  hipócrita e astucioso de “meirinhos” para   livrar  criminosos  e  malfeitores da prisão integral),  e indultos presidenciais  a  reconhecidos  bandidos de colarinho branco de todos  os níveis e profissões, como foi  exemplo paradigmático  o   do juiz Lalau.

A bola  rola nos amistosos por enquanto, mas vai rolar  de verdade nos jogos  decisivos dos quais   espero aquela  integridade  moral  do fair play tão   necessária à seleção brasileira quanto às demais  seleções  estrangeiras. Oxalá esse comportamento  de fair play  se infiltre nos espíritos de quem  deseja  ver um  Brasil  de verdade e exemplo  de civilização. Que role, soberana e verdadeira,  a bola  da nossa seleção rumo  à conquista   tão almejada  Taça.”Viva o  povo brasileiro!"

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