Cunha e Silva Filho
É claro, leitor, que ninguém do meu país
vai tratar mal os turistas,
nacionais ou estrangeiros. Todos são bem-vindos ao meu pais que agora, se torna uma
pátria-mundo, tendo como motor de
funcionamento a bola com B maiúsculo - significante-significado do signo da pátria acolhedora. Ninguém há de
querer tisnar a festa do maior
esporte do mundo, o futebol, o footbal,
o soccer, la pelote, la pelota, ou seja,
tudo que seja conduzido pela bola, até mesmo a nação.
Dizem os entendidos ( não me venham interpretar essa palavra com outro significado que serve de combustível
para preconceitos) em dinheiro e em economia que a Copa
do Mundo, cujo símbolo mais
emblemático é a FIFA, hoje, sigla
que virou moeda corrente empregada até como
bordão ou lema de trabalhadores
em greve ou na iminência de greve, trará
uma
imensidão de dólares ao país, beneficiando outras tantas
quantidades de pessoas direta ou indiretamente.
Mas, essa linha
de pensamento econômico tem como contrapartida outra pergunta que se torna
necessária: a quem realmente vai beneficiar,
no cômputo geral, a invasão dos
dólares: o povo, os pobres, a classe
média, os ricos, os miliardários, os mega-empresários, incluindo, entre eles,
os médios e micros, os hospitais públicos, a educação pública, a
segurança pública do cidadão na rua, na sua residência, no seu bairro? Vai diminuir
o nível insuportável da violência extrema nas megalópoles e pequenas
cidades, espalhada nos quatro cantos do
território nacional? Quem sou eu para deslindar
tal conjunto de problemas da
responsabilidade dos governos
municipais, estaduais e federal?
Todos queremos
torcer pela vitória de nossa seleção – é uma fato inquestionável. Contudo, o país, traduzindo-se, o governo federal, nos seus deveres de casa, não está com esta bola toda, e a população, por menos consciente que seja, sabe bem.
disso. Estamos, assim, atentos para as empulhações e as anestesias
vindas dos ventos demagógicos em tempo de pré-eleições.
Os bares andam
cheios, os restaurantes, os
shoppings, idem. Mas, a classe média não é o todo e o Brasil da baixa política funciona por metonímia Sabe
que a parte, a grande parte, faz parte do todo.Este depende da parte e
vice-versa. A bola vai rolar em vários estádios, em cujas construções
foi injetado o dinheiro do povo, com
montantes em bilhões de reais, muito
acima do que era previsto de gastança do
Erário, pois a Presidente não é rainha
nem tampouco autocrata, se bem
que o regime presidencialista
enfeixe poderes quase imperiais.
Viramos, agora, uma bola no mapa brasílico.O país se
unirá por algum tempo e, mesmo assim, só
por amor à bola, que rolará nos gramados. O objetivo da bola é fazer gol.
Contudo, a bola, esse objeto redondo,
fetiche das multidões de torcedores e fanáticos, aqui e no estrangeiro,
mais aqui talvez do que lá, tem lá seus caprichos. Do que ela fizer nos
gramados país afora é que muito
coisa dependerá, inclusive os humores da política brasileira.
Os vigilantes dos
estabelecimentos bancários há mais de um
mês estão em greve e um dos seus lemas ou bordões diz : “Estamos em greve. Basta de escravidão. Queremos salários padrão FIFA.” Ora, nunca a FIFA se imiscuiu
tanto em negócios no país. Ela manda, ela fiscaliza, ela exige, ela aprova ou
desaprova. A FIFA virou zona aérea, ou melhor, terrestre neutra, com
poderes de reivindicações de alto padrão em diversos
setores da infraestrutra do país, sobretudo, aeroportos,
hotelaria, meios de
transporte, segurança, tudo por
conta de verbas do governo federal, sobretudo. Quem manda na bola, agora tornado este objeto divino e
milagroso, é a FIFA. Manda e desmanda e,
quem sabe, seu poder de decisões avança
Alvorada adentro.Eu nunca pensei que chegasse a tantos poderes dentro de uma nação
supostamente soberana.
Como o Brasil
mudou, ou parafraseando Machado
de Assis – mudou ou mudamos nós?, e para, talvez, pior em coisas de política e
de governabilidade. Pior, porque a
corrupção ainda se encontra entranhada
no solo político da pátria, nos três
poderes. Não somente corrupção, mas também
o seu corolário, a impunidade que
não quer deixar o osso como cachorro
faminto.Corrupção, impunidade e
violência são faces da mesmo problema. Ia dizer da mesma moeda, mas a frase ficaria maluca.
Leis idiotas e inócuas, na prática, não funcionarão,
pela impossibilidade de fiscalização e de subjetividade no que concerne à vida
privada das famílias, como foi a aprovação
da “Lei da Palmada,” algo que
beira o ridículo e a falta do que
fazer de deputados federais que estariam, sim, prestando um bem ao país se modificassem, ou melhor, endurecessem as
leis que regulamentam
a punição de menores infratores e
de crimes hediondos, até mesmo podendo se estender à implantação da prisão
perpétua para crimes abomináveis.
Naturalmente, sem
as contumazes brechas das leis,
os jeitinhos “legais” com diminuições de tempo de
prisão ou em razão de “bom comportamento”(outro expediente
hipócrita e astucioso de “meirinhos” para livrar
criminosos e malfeitores da prisão integral), e indultos presidenciais a
reconhecidos bandidos de colarinho branco de todos os níveis e
profissões, como foi exemplo
paradigmático o do juiz Lalau.
A bola rola nos
amistosos por enquanto, mas vai rolar de
verdade nos jogos decisivos dos quais espero aquela integridade
moral do fair play tão necessária à
seleção brasileira quanto às demais
seleções estrangeiras. Oxalá esse
comportamento de fair play se infiltre nos
espíritos de quem deseja ver um
Brasil de verdade e exemplo de civilização. Que role, soberana e
verdadeira, a bola da nossa seleção rumo à conquista tão almejada
Taça.”Viva o povo brasileiro!"
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