Cunha e Silva Filho
Há pouco tempo o Papa Francisco
esteve em Jerusalém, na Terra Santa.Teve encontros com líderes religiosos judeus. Orou junto ao Muro das
Lamentações. Encontrou-se também com Mohmoud Abbas, Presidente da Autoridade
Nacional Palestiniana, e Shimon Peres, Presidente de Israel, detentor
do Nobel da Paz em 1994, num diálogo a
três seguramente com o objetivo
mais almejado, que é o de alcançar a paz
entre palestinos e judeus.No entanto,
não basta uma conversa
protocolar, um diálogo formal, mais para gentilezas diplomáticas.É claro que o Sua
Santidade deseja, no fundo da sua alma, a paz entre
os dois povos, a paz entre os
homens da Terra.Enquanto os espíritos não se desarmarem, os riscos
das rivalidades entre a Palestina
e Israel continuarão.
Hoje ou ontem, um adolescente palestino
foi morto por balas do Exército de Israel em Dura, perto de
Hebron, Sul da Cisjordânia.”Um tiro no
peito,” informou o jornal
O Globo na seção Mundo.
Os soldados israelenses
estavam procurando por três jovens israelenses sumidos. O jovem palestino só tinha
14 aos e se chamava Mohamed Dudin. Houve confrontos e a morte de Mohamed
foi decorrente deles.
É assim a imagem que se pode ter de
povos que não se entendem e por isso são hostis entre si. É assim o
cenário internacional do mundo
contemporâneo, tão avançado nas ciências e tecnologias e tão bruto na convivência
entre os povos. Onde ficam os
princípios religiosos, onde fica a prática de fazer o bem e de amar o próximo. Não é certo nem humano que
religiões e ambições materiais, políticas, étnicas não acertem o
passo. Maomé, Cristo, só para citar
dois exemplo de elevação espiritual,
de amor ao ser humano, de exercer o bem não estão
valendo pelo que representam. As religiões só têm validade
se puserem em prática os seus valores espirituais. Por isso, as chamadas guerras santas não têm sentido e são uma contradição da alma humana.
Os conflitos em várias partes do mundo continuam ceifando vidas, desarticulando famílias,
provocando fome, miséria,
mutilações, mortes de crianças,
deslocamentos de povos para
outras regiões em que possam ter mais
sossego. Tudo em nome do
fanatismo, das diferenças religiosas
e da ambição do poder.
É assim no Egito, agora novamente no Iraque quase em pé de
guerra civil entre grupos xiitas,
sunitas e curdos. É assim na Síria, com um governo autoritário,
com uma país semi-devastado e um
ditador que se perpetua,
ganha novamente as eleições e sua
nação prossegue na carnificina, na divisão
de seus irmãos da mesma pátria, inimigos, com uma população se deslocando como refugiados, indo para a Turquia, o Líbano, a Jordânia, o
Iraque, sendo que este último se encontra, agora,
em estado de desespero com a própria população correndo, amedrontada com os jihardistas.
Às vezes, me pergunto se valeu a pena os americanos terem
permanecido por tanto tempo no Iraque após a queda de Saddam Hussein. Tudo voltou à tona. Parece uma sina. Como não bastasse, estão ainda em
conflitos sérios, com mortes e
massacres, além de Israel e a Palestina, países como a Ucrânia,
a Colômbia, a República
Centro-Africana. O número de refugiados de regiões conflagradas já atingiu 51,
2 milhões e, segundo a imprensa, é o
mais elevado desde a Segunda Guerra
Mundial. São, até agora, dez países que
têm suas populações se refugiando em outros
países.
Nem as Nações Unidas conseguem
dar apoio especial
a tanta gente esperando ajuda em todo os sentidos da vida: moradia, alimentação,
educação, saúde, emprego etc. O Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (Acnur).
É difícil que esse órgão das Nações Unidas consiga
dar conta de tantas necessidades
das populações em êxodo decorrente
de guerras civis,
bombardeios, fome e miséria.Admirável Novo mundo
é esse que estamos vendo. E, o que é pior,
as nações mais ricas estão também
com problemas financeiros,
o que reduz as possibilidades de auxílios e doações aos
refugiados que se espalham por várias
partes do Planeta.
Este
retrato de um mundo em crise e no
caos limita as nossas esperanças no ser humano
e as possibilidades de recuperação da crença de que haverá melhoria no comportamento das sociedades
humanas, pelo menos a médio prazo.Mas, um culpado existe de forma explícita:
o descompasso entre os princípios
religiosos e sua prática, entre o que se escreve nos livros sagrados e o que se faz na vida privada e na vida coletiva,
entre os valores éticos e a brutalidades das ações do homem.
De que valem as pregações religiosas, seus rituais, suas orações, seu aprendizado se, na
vida em sociedade, não são postos em execução. Se
as religiões se transformam em fanatismos e anacronismos contra
a dignidade humana, contra a vida e os sentimentos de amor e paz, elas
perdem sua razão de ser.
Diria mais: se as religiões, a educação e os sistemas de governos não conseguirem reduzir
os excessos de ações desumanas em
que o mundo contemporâneo está afundado,
dificilmente iremos atingir uma fase de paz duradoura, na qual o
homem não veja o seu semelhante como um inimigo e sim como alguém que está disposto a lhe estender a mão amiga e solidária. O ser humano, com todas as
diferenças culturais, étnicas, religiosas e políticas, não
pode desmerecer a sua dimensão humana e pacífica na vida em sociedade.
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