domingo, 1 de julho de 2012

Salário e custo de vida no Brasil









Cunha e Silva Filho



Me perdoe o leitor o cunho historicista-memorialístico deste artigo. Foi revolvendo velhas cartas de meu pai do tempo de nossa longa e proveitosa correspondência de, pelo menos vinte anos, que me chamou a atenção um assunto que, volta e meia, ele repetia: a carestia, o custo de vida. Estou pensando aqui numa das cartas do tempo do governo Sarney, na qual o jornalista rebelde, em tom de indignação e um tanto de melancolia, se queixava da alta dos preços, o que implicava numa alusão aos baixos salários do brasileiro que não faz parte dos quadros da elite abastada e gastadeira (hoje, diriam “consumista”).

Ora, décadas se passaram desde o final do mandato de Sarney e o tema persiste, renova-se, azucrina a vida dos barnabés (outro termo antigo mas que serve aos propósitos deste artigo). Na carta de meu pai, em tom de ironia, ele faz um comentário, que não vou repetir ipsis litteris, mas que dizia mais ou menos isso: “Esse negócio de ter no país um presidente poeta não dá mesmo certo.”

O cronista não tem compromisso com o economês nem tampouco com a estatística, mas com a sua própria e modesta visão da vida e dos homens. Daí que discutir economia, salário e custo de vida  reflete a percepção leiga, porém, realista de quem sofre na pele todas as dores e aflições oriundas do descompasso entre a remuneração e a subida dos preços de itens nas despesas necessários inadiáveis mensais: alimentos, remédios, prestação da casa própria, plano de saúde, aluguel, lazer, entre outros, já que, do contrário, quem não desfruta do básico nesse conjunto de itens não está vivendo decentemente.

É óbvio que estou falando de uma difusa recém-denominada nova classe média.(?), classe que, a bem da verdade, até hoje não sei ao certo o que é ou com que base de cálculo matemático foi assim definida. Será, por exemplo, que um porteiro da Zona Sul  carioca ou de outros bairros menos nobres esteja agora, na pirâmide social, nessa nova classe média? Que as condições sociais de uma classe mais baixa melhoraram  nos últimos dez anos é um fato que até pode ser levado em conta como uma mudança concreta.

Contudo, o governo, sob a orientação petista, está permitindo, ou melhor, através de suas agências dos diversos setores da economia, está autorizando aumentos no custo de vida e o está fazendo às custas do achatamento salarial do funcionalismo público federal e, por tabela, estadual e municipal. Ora, a injustiça nesse descompasso é fácil de ser percebida mesmo para quem não é dado aos números. O maior indicador de como anda o país econômica e financeiramente está nos aumentos dos produtos de consumo de cada cidadão, informações que qualquer dona de casa sabe com respeito a gastos familiares. Se o custo de vida aumenta nos boletos dos itens já assinalados linhas atrás e o contracheque permanece o mesmo, estagnado, é porque está sendo corroído por inflação ao longo do ano. Os aumentos dos produtos tanto dos governos (gás, luz, Correios, transportes. IPTU, IPVA, pedágios etc), quanto de setores privados são todos determinados pelos governos federal, estadual e municipal. Logo, De quem é a culpa? Claro, desses setores públicos. Na iniciativa privada, tanto no comércio, na indústria, no atacado e no varejo, quem paga a conta é o bolso do povo. Não é preciso ir longe.  No caso dos remédios, é absurda a despesa mensal com a qual o brasileiro tem. que arcar, sobretudo se estiver aposentado  e com baixos proventos. Não é gratuita  a circunstância de que  estão  pipocando greves em universidades federais e  em outros  setores  públicos  ou privados.

Um país dividido em classes, que eu classificaria como alta, média e baixa, na qual esta última se mostra difusa no que tange à renda familiar, à medida que ocorrem aumentos de produtos diversos, e sobretudo os de primeira necessidade, quem mais sofre o arrocho salarial são os de renda média e baixa. Quanto aos ricos, isso pouco monta, de vez que para eles sempre têm de sobra  o que possam gastar e consumir faraonicamente.

As classes dominantes estarão sempre na vanguarda dos lucros e dos gastos, dos frutos das regalias sem medida, sem medo nem pudor, na realeza consumista, na conquista das benesses e do poder, seja, o econômico, de grande peso na estrutura do país, seja o político, os  quais, desde “A República Velha”, mandam e desmandam na sociedade brasileira, sociedade na qual o anacrônico útil, contínuo, e o moderno oportunista confluem como traços singulares do país miscigenado, cordial, solidário e paradoxalmente modelo de honestidade bruzundanguense.

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