terça-feira, 29 de novembro de 2011

O país é violento

Cunha e Silva Filho


A esta altura da vida – e eu já vivi um bom pedaço dela ¬¬ - não temo expressar uma opinião, a de que o Brasil é violento em muitos aspectos da sua vida social: no trânsito, nos transportes, na rua, na política, na vida comunitária, no trabalho, na escola, na universidade, nas repartições, nos relacionamentos interpessoais, na família, entre famílias, entre religiões, nas prisões, no campo, na cidade. A lista é, pois, imensa. Violência que explica ser o país um dos que mais detêm prisioneiros no mundo. Nossas cadeias estão entupidas, nossos presídios, idem.
Imagine o leitor que o número de presos aqui ainda seria muito maior se não houvesse a impunidade nos seus vários segmentos sociais e em suas diversas instâncias do governo. A impunidade – terrível contradição - está às avessas até prestando um “auxílio” ao sistema carcerário, já que não existem vagas suficientes para milhares de criminosos soltos espalhados por aí.
Ao mesmo tempo em que esta contradição na qual a impunidade atualmente “evita” o crescimento de presos nas delegacias e presídios, a violência tende a crescer assustadoramente. Ante esta realidade complexa, a sociedade brasileira se vê encurralada e refém dos delinquentes de todos os tipos, de tal sorte que o Estado brasileiro se encontra encalacrado, quase impotente na tentativa de buscar formulações inovadoras para atacar a questão de frente. O que os meios de segurança fazem são apenas remendos que não servem para solucionar os graves dilemas de um país atravessado pelo seu mal maior: a violência.
Quem acompanha os programas de televisão que se dedicam a fazer reportagens sobre a violência brasileira sabe a quantas anda este flagelo nacional.
Afirmar que nosso povo é pacífico, cordeiro, cordato, ordeiro seria encobrir a realidade dos fatos de nossa história social. Diariamente, somos bombardeados por notícias nos jornais, televisões, rádios e outros meios de comunicação relatando atos cruéis, covardes e hediondos praticados por brasileiros de tal maneira que hoje em dia, por qualquer motivo fútil, um individuo assassina friamente um outro, foge e transforma frequentemente o seu ato homicida em impunidade. Outras vezes, um criminoso em potencial, dirigindo irresponsavelmente seu carro, atropela inocentes e, na delegacia, paga fiança e é liberado.Outra vezes ainda o criminoso nunca é descoberto mesmo após investigações policiais.
Um psiquiatra ou sociólogo, não me lembro bem, na televisão, admitia que o recrudescimento da violência brasileira atingiu níveis tão elevados e com altíssima frequência que já se poderia falar que estamos vivendo uma fase intolerável de “patologia social.”
Esta realidade social deformada que se criou por diversas razões – negligência do poder público, impunidade, conivência entre deliquentes e instituições de segurança, polícia corrupta e homicida de braços dados com a criminalidade, trafico de drogas, armamento contrabandeado através de nossas frágeis fronteiras com os países vizinhos, entre outros - é que tem que ser objeto prioritário da segurança nacional através de seus principais órgãos públicos, desde os Ministério da Justiça, Polícia Federal, delegacias estaduais, polícia civil até organizações privadas que se interessam pelo bem-estar da sociedade civil. Nessa luta pela diminuição da violência no país todos os brasileiros devemos estar profundamente envolvidos.
O Estado brasileiro não resolverá sozinho esta questão crucial porquanto na violência estão embutidas outras questões decisivas e complementares no processo de encaminhamento de sugestões, recomendações e estratégias que bem poderão ser buscadas na melhoria de nosso sistema de educação, na melhor qualidade de nossas escolas públicas e privadas e sobretudo no seio da família. Desta célula social muito depende a melhoria de padrões e comportamentos morais e éticos, com dobrada atenção na criação dos filhos, na orientação destes e nos exemplos do bom relacionamento entre os pais de família, sem cujo alicerce sólido, no seu conjunto geral, a “família amplificada,” na metáfora criada por Rui Barbosa (1849-1923) para definir a pátria (Oração aos moços), não terá uma referência digna de ser seguida pelos seus rebentos. Tal comportamento que se exige dos pais nada tem de retrógrado nem está dissociado da contemporaneidade. Sei que vivemos uma realidade bem diferente de décadas atrás. Não é o nível social da família que responderá pelos fracassos dos filhos, pois encontramos felicidade e honradez ainda nas famílias mais desfavorecidas.
“In medio consistit virtu” (“A virtude está no meio”) costumava dizer meu pai, repetindo a máxima latina A família pode viver os tempos atuais cibernéticos em paz se exageros e permissividades não forem consentidos pelos pais. Para que a cadeia entre pais, filhos e netos tenha sucesso do ponto de vista moral, cumpre que os pais cuidem de suas responsabilidades para com os filhos, ensinem a eles o caminho do Bem, das boas virtudes, da solidariedade, do respeito aos semelhantes, aos amigos, aos colegas, aos mais idosos em que qualquer parte ou local em que os filhos puderem ser úteis, cordiais, civilizados. Por isso, considero a família e a escola os dois principais pilares na formação do cidadão de bem, do homem íntegro, do indivíduo pronto a exercer, segundo sua competência e qualificação, uma função, um cargo, uma responsabilidade na sociedade. No binômio família-escola, vislumbro um mundo menos violento para a humanidade

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