Fernando Pessoa: “Sonnet XXIV”
SOMETHING in me was born before the stars
And saw the sun begin from far away.
Our yellow, local day on its wont jars,
For it hath communed an absolute day.
Through my Thought’s night, as a worn robe’s heard trail
That I have never seen, I drag this past
That saw the Possible like a dawn grow pale
On the lost night before it, mute and vast.
It dates remoter than God’s birth can reach,
That had no birth but the world’s coming after.
So the world’s to me as, after whispered speech,
The cause-ignored sudden echoing of laughter.
That’t has a meaning my conjecture knows,
But that’t has meaning’s all it meaning shows.
Soneto XXIV
ALGO em mim antes das estrelas surgiu
E viu das grandes distâncias do sol o nascer.
Com seus cântaros costumeiros nosso dia amarelo na terra
Se fez perfeito num dia absoluto o encontro.
Tal qual uma cauda sentida de um manto gasto
Que jamais vi, pela noite do Pensamento arrasto este passado
Que viu o Possível semelhante a uma alvorada empalidecida
Antes dela na perdida noite, muda e vasta.
Mais remota é sua origem do que de Deus o nascimento
Que sequer data tem, salvo o futuro do mundo,
De sorte que pra mim o mundo é, após a língua sussurrada,
O repentino eco de uma gargalhada cuja causa mistério é.
Bem posso imaginar que ele tenha um sentido
Negá-lo impossível é, pois sentido tem e o demonstra.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
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