sexta-feira, 26 de março de 2010

Crime de lesa-pátrria

Crime de lesa-pátria


Cunha e Silva Filho



Lendo o artigo-protesto do Alberto da Costa e Silva, “Em defesa de Amarante”, postado em destaque na coluna do site Entretextos, de Díson Lages, a primeira reação que tenho é de absoluta indignação e perplexidade. Parece uma piada de mau gosto de algum mentecapto tecnocrata que não tem nenhuma noção do que seja a existência de uma cidade do nível cultural, histórico, social, paisagístico e arquitetônico, que é o belo município de Amarante. Só a simples idéia de acabar com uma cidade do porte de Amarante vale como atestado de insanidade e de desrespeito pelo país e pelas leis do Estado Brasileiro.
Querer construir uma usina hidrelétrica que implique a destruição de uma cidade-tesouro de tradições do estado do Piauí não passa de uma plano diabólico engendrado por energúmenos sem sentimentos e nem respeito aos direitos de preservação, direitos inalienáveis que não podem ser alterados ou anulados sem o repúdio conjunto de seus habitantes e sobretudo dos filhos que nasceram, cresceram e têm vivido no solo amarantino. Não é possível que a população de Amarante não reaja energicamente contra qualquer ideia estapafúrdia como esta de que estou tendo conhecimento agora.
Quer-me parecer que não estamos atravessando uma fase discricionária por parte dos governantes deste país. Há limites de tolerância para atos criminosos contra o patrimônio público. Os filhos de Amarante devem urgentemente unir-se, através de todos as vias legais e até recorrendo a órgãos internacionais, no sentido de coartar qualquer violência dessa natureza contra a cidade de Amarante. Esse plano nem ao menos pode ser motivo de debate. Sua inspiração é de natureza tresloucada e extrapola todos os limites racionais.
Não é porque seja eu também filho de Amarante, assim como meu pai e meu avô paterno, que esteja me solidarizando com todos os filhos de Amarante. Eu o faria da mesma forma que ideias semelhantes estivessem sendo objeto de cogitação em outras cidades brasileiras.
Conclamo desta minha coluna que o povo de Amarante e de todo o estado do Piauí se una corajosamente contra essa pretensão governamental. Seria – e sei que a ideia não vai vingar - o maior ato de covardia e de ausência de visão político-geográfica que a história do Piauí poderia sofrer sem considerarmos as consequências altamente nocivas para o governo do estado piauiense, para seus legisladores e principalmente para a péssima imagem que os brasileiros de outros estados teriam caso tal ideia se transformasse em ato concretizado.
Fazer desaparecer um município da envergadura cultural de Amarante seria o maior desserviço que o atual ou o qualquer governo futuro governo estadual poderiam estar prestando ao povo de Amarante.
Qualquer proposta neste sentido seria uma ação de lesa-pátria, condenável por todas as formas imagináveis ou inimagináveis, sobretudo se levarmos em conta os valores materiais e culturais de Amarante.
O município de Amarante detém um patrimônio não só do seu espaço físico, mas sobretudo de sua memória histórica, do seu legado literário dos mais férteis do estado piauiense. Amarante não é qualquer municipiozinho criado para atender a interesses meramente politiqueiros. A cidade de Amarante é a cidade de Da Costa e Silva, o maior poeta do Piauí e um dos poucos autores piauienses que ganhou notoriedade nacional, até hoje estudado pelas novas gerações de intelectuais da terra piauiense. Historiadores, políticos de projeção nacional, escritores de grande talento, jornalistas do mais alto conceito e amarantinos ilustres nos diversos campos da atividade humana nasceram em Amarante. Ou seja, a cidade é orgulho dos piauienses em geral, não apenas dos amarantinos.
A cidade tem grande potencial turístico conforme salientou o historiador Alberto da Costa e Silva, filho do poeta-maior piauiense e ele próprio amante da cidade natal de seu ilustre pai. Grandes intelectuais como Odilon Nunes, o jornalista e professor Cunha e Silva, o sociólogo e poeta Clóvis Moura, entre tantos homens e mulheres da intelectualidade amarantina, já falecidos, por certo se vivos fossem estariam na vanguarda censurando e defendendo heroicamente, com unhas e dentes, o direito universal da inviolabilidade físico-espacial-geográfica do município de Amarante.
Através desta coluna estarei atento em defesa da minha terra natal e defendendo com a força das minhas palavras e do meu sentimento incondicional a intocabilidade de Amarante e o seu justo direito de permanecer como uma das cidades mais interessantes e merecedoras do orgulho que desfruta junto ao povo piauiense. Qualquer tentativa de afogá-la em águas inimigas será considerado um crime hediondo contra o seu rico patrimônio histórico-cultural. Os inimigos de Amarante receberão sem dúvida a execração dos seus filhos e dos que a amam acima de tudo Tenho certeza de que Amarante não servirá de holocausto das mesquinharias e artimanhas das ideias insanas dos homens maus.

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