Money, money, money...
Cunha e Silva Filho
A intensidade da semântica do título acima é mesmo proposital, visa a épater le burgeois, as “adiposidades cerebrais” dos famosos versos marioandradianos, ainda tão atuais, ainda tão oportunos.
Estou um tanto convencido de que a sociedade de espetáculos se move por cifras, antes mesmo do que pela ética, justiça, fé, crença, valores outros etc., etc., etc.
Não há nada que se faça hoje sem que logo da pessoa se exija alguma quantia, seja através do dinheiro vivo, do famoso cash, seja por vias virtuais, bolsas de valores, papéis, promissórias, títulos, ações, juros, dividendos, lucros, cotações, ou seja, um mundo de caminhos conducentes a um objetivo único e fetichizado: o resolve- tudo, o deus-de-tudo, o senhor-todo-poderoso, o criador não da Terra, mas do cifrão, sobretudo iconizado no seu símbolo mais idolatrado, totem da Estátua da Liberdade, ou se não, da Wall Street: o dólar -- sinônimo perfeito e versão atual dos Shylocks pós-modernos.
Cada dia mais dele dependemos e sem ele nada conseguimos. Afirmas-se até que, com ele compramos amizades, amor, afeto, companhia etc. Sem ele, nada feito.
Em todos os setores da vida em sociedade, nada se resolve sem, primeiro, desembolsar-se alguma quantia ou montante.
Na verdade, há uma simbiose perfeita entre o sistema capitalista e a sociedade subdividida em seus vários e “necessários” estratos, da humildade do viver à arrogância dos borbulhantes do colunismo social: dividir para reinar. Eis um princípio velho e certeiro, além de perpetuador das regalias de poucos, não só nos domínios tupiniquins, m as também nas grandes terras da América e outros continentes.
Tudo se faz em torno do vil metal, do “amor” comprado a pessoa de ouro, como os casamentos por contratos de duração determinada e efêmera até o suposto “amor” das boas famílias brasileiras.
A força do capital suplanta tudo e todos e é avassaladora nos seus objetivos e realizações. Em nome de estas todos os fins são permitidos e todos os meios são possíveis.
Vejam –se os diversos tipos de transações econômicas,, financeiras e cartoriais de que dispomos não em abundância de números existentes, mas na escassez da medida certa das concessões outorgadas desde os tempos reinóis...
A engrenagem que nos força a gastar e gastar é tão poderosa que, desde o início da formação dos burgos, das cidades, dos seus mecanismos de arrecadação pecuniária, os indivíduos vão a pouco e pouco naturalizando sua realidade e sua necessidade e, hoje, há alguém que reflita sobre ela, que nela veja o dedo forte e impiedoso das diversas fontes das galinhas de ovos de ouro, dessa pantaguélica tributação compulsória e insaciável na sua busca de novos modos de abocanhar capital alheio?
Foi o ser humano supostamente civilizado que inventou a máquina de fazer a fortuna dos governos e de alguns senhores feudais de hoje, muito ciosos do seu poder e da sua fortuna. A invenção do dinheiro foi feita para que uns poucos privilegiados se mantivessem, com a força da lei e da estrutura do Estado, inalteráveis, sempiternos.
Tanto na burguesia estatal comunista, quanto no capitalismo neoliberal controlado e protegidos, sempre que necessário, pelo grande Leviatã, a força centrípeta do dinheiro pouco ou nada, em algumas situações, altera a sua movimentação em direção às fontes de arrecadação. Vejam-se os cartórios de ofícios, os impostos recolhidos minuto a minuto, em toda parte de uma nação. É uma acumulação sem fim e líquida, protegida pela lei e pela espada, ou melhor, pelo fogo.
Tudo se resume a um resultado esperado: o dinheiro que paga tudo, de forma obrigatório ou não.Do nascimento à sepultura, ali está ele pronto a pôr suas garras afiadas, levando sempre vantagens, até nos momentos de infortúnios pelo qual todos passamos sem exceção.
Abstraindo todo esse contexto diversificado, o que nos sobra? Pouca coisa. A pressão do vil metal invade por dentro e por fora, numa ciranda sem limites nem solução. Viver é conviver com esse bicho devorador, antropofágico, sem alma nem sentimento, cuja única consequência sobre nós se resume a metamorfosear-nos em seres reificados ou coisificados, na sua visão distorcida e burra dos outros, por eles considerados simples autômatos destituídos de sentimentos e de calor humano, e por tempo indeterminado enquanto – ressalve-se -, bater esse cansado e magoado coração humano.
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