O GIGANTE EGOÍSTA(1)
Toda tarde, enquanto vinham da escola, as crianças costumavam ir brincar no jardim
do Gigante egoísta.
Era um
belo e amplo jardim, com macio e verde relvado. Aqui e
ali, havia, sobre a relva, lindas flores semelhantes
a estrelas, e havia doces pessegueiros que,
na primavera, brotavam delicadas folhas de cores rosa e pérola, as
quais, no outono, davam ricos frutos. Os pássaros pousavam nas árvores e cantavam tão docemente que as crianças paravam de jogar a fim de poder acompanhar-lhes o canto.
Certa vez, o Gigante regressou. Havia ido
visitar um amigo, o Ogre Cornualês. Ao
chegar, viu as crianças brincando no jardim.
“O que estão fazendo aqui?” – gritou com
uma voz
ríspida. As crianças dali
sumiram.
“O
meu jardim só a mim pertence, disse o Gigante, “qualquer um sabe disso. E não
permitirei que ninguém aqui brinque exceto eu próprio. ”Dito isto, construiu
um muro alto e colocou uma tabuleta – “INVASORES SERÃO PROCESSADOS.
Era um Gigante muito egoísta; As pobres
crianças agora não tinham aonde ir brincar. Tentaram divertir-se na estrada,
porém esta era muito poeirenta e cheia de pedras duras. Não
gostaram dessa experiência. Habituaram-se,
no entanto, a vaguear em
torno do muro alto após as lições da escola e a conversar sobre
o lindo jardim lá dentro. “Quão felizes éramos!” – exclamavam
umas para as outras.
Veio, depois, a primavera e, por toda
parte, não se viam quase flores
nem pássaros. Somente no jardim
do Gigante egoísta o inverno
ainda persistia. Os pássaros não mais desejavam ali trinar, porquanto não havia
mais crianças e as árvores
deixaram de brotar. “Não posso
entender por que razão ela está
demorando tanto a chegar,” acrescentou o Gigante, enquanto sentava-se
diante da janela e olhava para fora
vendo seu jardim frio e branco.
“Espero que o tempo mude.”
A primavera nada de chegar., nem o verão. O
outono trouxe áureos frutos a todos os jardins,. Somente no jardim do Gigante o tempo permanecia imutável.
Certa
manhã, o Gigante, encontrando-se na cama
acordado, ouviu uma música maravilhosa. Parecia-lhe tão
suave aos ouvidos que julgara estarem passando lá fora os músicos do
Rei. Mas, aquela música não era senão o
canto de um pintarroxo do lado de fora
da janela. Contudo, fazia tanto tempo que não ouvia mais uma pássaro cantando no jardim que lhe pareceu ser a mais bela
música do mundo. Em seguida, da janela aberta recendia um
delicioso perfume. “Creio que a
primavera chegou finamente,” afirmou
o Gigante que, então, saltou
da cama e olhou pra fora.
Visão
mais encantadora jamais descortinara. Por um buraquinho do muro, as
crianças haviam passado furtivamente
para dentro do jardim e já se encontravam
sentadas nos ramos das árvores. Em cada
árvore ele pôde ver uma criancinha. E as
árvores ficaram tão alegres com a chegada novamente das crianças que desabrocharam e ainda agitavam
suavemente os ramos por cima das suas cabecinhas. Os pássaros adejavam e gorjeavam
deliciosamente. As flores, com risos,
olhavam por sobre o verde relvado. Que
cena encantadora! Apenas num canto do jardim ainda era inverno e nele havia um garotinho em pé. Era tão pequeno que não podia
alcançar os ramos das árvore. Gritava em desespero.
Foi então que o coração Gigante começou a
amolecer à medida que olhava para fora; “Como fui egoísta!” –concluiu; “Agora sei por que a
primavera não queria voltar aqui. No
topo da árvore, vou pôr aquele garotinho. Em seguida, derrubarei o muro, e meu jardim há de ser o pátio de recreio para todo o sempre!”
Seu
lamento por tudo que fizera de mal era verdadeiro .Desta forma, descera de onde estava e abriu a porta de
frente com muita delicadeza e , dirigiu-se ao jardim. Entretanto, ao vê-lo,
as crianças ficaram tão
amedrontadas que saíram todas
correndo. O jardim, outra vez, voltou ao
tempo de inverno. Somente o garotinho
não correu, pois os olhos estavam tão cheios de lágrimas
que não viram a aproximação do Gigante. O Gigante subiu furtivamente até ele por detrás, colocou-o
gentilmente na mão e o levou até
à árvore. Rapidamente em flores desabrochou
a árvore e os pássaros nela cantar vieram.
Logo depois, o garotinho estendeu os
dois bracinhos enlaçando o pescoço do
gigante e o cobriu de beijos. As outras crianças, vendo que o Gigante não lhes
parecia mais um bicho papão, vieram correndo de volta ao jardim e com elas chegava a primavera.
“ Este jardim é vosso, minhas crianças", arrematou o Gigante e, segurando um grande machado, botou abaixo
o muro. Quando pessoas estavam indo ao mercado às doze horas, encontraram
o Gigante junto das criancinhas no mais belo jardim que jamais
haviam visto.
(TRAD..
DE CUNHA E SILVA FILHO)
NOTA: (1) Apud CAMPOS, JR.J. L. Springtime. 2nd. revised edition. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1940, p. 158-161.
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