domingo, 24 de março de 2019

FIZ MEU IMPOSTO DE RENDA. UFA!




                                Cunha e Silva Filho

          Antigamente, no final da década de 1960 e nos anos  1970 e 1980, por aí,   mesmo  recebendo  salários  baixos do magistério  público e privado, era obrigado, no meu caso, a ter que  pagar  o imposto de renda. Veja só, leitor,   o “Leão,” sempre guloso e ávido de dar um mordida no cidadão. Devemos pagar com alegria ao Fisco? Sim, é claro, mas não no país que é duro com  alguns enquanto  que os endinheirados de todos os tempos nunca foram mordidos conforme seria de se esperar do governo federal.
        Entra governo, sai governo,  e as grandes fortunas  não são tratadas pela Receita Federal com alíquotas  compatíveis   com as  suas riquezas,  as quais, por isso mesmo,  continuarão sendo  riquezas e sendo bem tratadas por aquele órgão público. Quanto mais dinheiro os ricos têm, tanto mais agraciados são pelo  governo federal.
        A indignação do homem comum com  os impostos  já vem de longa  data, como foi  bem ilustrativa a  passagem bíblica do Novo Testamento em que Pedro, o pescador,  a princípio, tinha horror ao cobrador de impostos  representado pela figura de Mateus que, depois,  deixou essa atividade,  para seguir Jesus na condição de mais um discípulo.  Afinal,  foi  o próprio Jesus, nas sua doutrinação pela Palestina, quem afirmou, alicerçado na lei de Moisés: “Se deve dar a César,  isto é, à   autoridade civil, o que é de César e a Deus o que é de Deus.”  
          O assalariado com carteira assinada e a média dos funcionários públicos,  civis e militares, não têm como fugir  ao acerto de contas com a  “derrama” anual. Em seus  magros contracheques, na fonte,  já têm  o governo como certo  e líquido o que lhes tirar do bruto.
        Por algum tempo, eu não tinha paciência de fazer    a declaração anual do imposto de renda. Sempre pedia a um  colega meu  da área de contabilidade. Encontrei  muitos bons colegas  que me preparavam a declaração, sem cobrar nada de mim..Faziam apenas por amizade,ao contrario dos dias de hoje em que a declaração de imposto de renda virou  um  bom negócio, a cada  ano, aos escritórios de contabilidade  que cobram  de acordo coma a  renda do contribuinte.
      Anos mais  tarde, com dificuldades, comecei a  preencher a declaração. Já não era mais  aquela documentação  por escrito, preenchida mesmo a caneta e com o formulário comprado nas papelarias  de qualquer bairro e entregue preenchido  nos postos da Receita Federal. Tempos depois, ingressávamos na era do computador, do preenchimento eletrônico,   respeitando os  modelos  que, de ano a ano,  foi-se tornando, pelo menos para mim,  bem mais  complicado porque seguiam os procedimentos técnicos  virtuais, primeiro fazendo  o download,  depois,  preenchendo  tudo conforme  os modelos baixados da Receita Federal. O meu problema era com  o preenchimento,  ou melhor,  a tormenta  começa a partir  dos lançamentos dos dados  dos comprovantes  fornecidos pelas  fontes pagadoras, com toda a sua parafernália,  os seus  labirintos  e os seus itens diversos.. Haja saco pra tanto.
       Qualquer erro  de um algarismo  mexia com o todo da declaração. E lá ia eu refazer tudo. “Diacho” Ás vezes, até por uma vírgula posta entre algarismos. Meu Deus! Que loucura essa feita pelos homens! Era aí, então, que praguejava contra  os responsáveis pela  Receita e contra que inventou  essa geringonça  virtual toda.
       Lembro-me   de que ela se aperfeiçoou no tempo da  ditadura militar e, se não incorro em erro,  foi  o Francisco Dornelles  que  trouxe dos EUA  a novidade dos formatos  adaptados  ao país.  Tampouco sei se essa é a verdade. O preenchimento  me tirava o sossego de  uns dois ou três dias.  Os dias de preenchimento se me tornavam verdadeira dor de cabeça  que  me atrapalhando a normalidade do  meu quotidiano.  Bastava se aproximar   tempo de declaração  do imposto que eu começava a me sentir  inquieto prevendo  a trabalheira toda que enfrentaria diante do computador. Isso, conforme sabe também o leitor,  acontece por volta do mês de março.      
     Sentia-me   vítima solitária da técnica e da robotização  ao ponto de não saber se quem  bolava tudo aquilo  era mesmo  um ser humano ou  um  máquina e aí, me  recordo da frase  cáustica e desafiadora   do meu querido ídolo, principalmente da fase do cinema mudo,  Charles Chaplin (1889-1977) proferida no seu último discurso de “O grande ditador”:  “Não sois máquinas. Homens  é que sois.” Digo isso pensando no pôster que tenho e guardo com carinho  há tempos colado na parede da dependência de empregada do meu apartamento, que uso como parte principal de minha biblioteca. A segunda parte fica na sala  de visitas e no meu quarto-escritório, numa pequena estante com três prateleiras cheias de livros e  papéis.  
            Este ano novamente passei por dissabores às voltas com o preenchimento. Lembre-se de que todo ano embutem novidades. O problema,  leitor,  é que não é somente  o preenchimento que  é chato e mexe com os meus nervos, porém tudo aquilo que antecede  a inciativa de preparar a declaração: reunir, pela internet, todos os comprovantes, seja de fontes pagadoras,  seja de planos  de saúdem, seja de outra natureza.
         Hoje,  tudo se faz virtualmente. Antigamente,   o Correio nos mandava pra casa. Agora, nem os contracheques nos enviam a não ser pra algumas categorias de funcionários  públicos. Pensam  as autoridades que todo mundo tem um computador  ou um celular mais sofisticado para atender a tudo isso. Quem não tem há que recorrer a um amigo ou às lan houses da vida. O planeta Terra virtualizou-se e, depois, viralizou as imbecilidades  nas redes sociais.
       Mas,  sabe, leitor, que já está um tanto    aborrecido com  este texto  insosso, o que mais atazana  a minha cabeça  no preenchimento da declaração são os pontos de “pendências”  nos alertando com sinal parecido com um “i” a fim de que  consertemos alguns  erros no preenchimento de alguns  itens. O pior é que,  por vezes,  corrijo e, quando vou  ver  nas “pendências,”  o sinal de alerta ainda me diz que errei. Quem tem paciência pra tanto, me diga, leitor? Pra concluir, graças a Deus, consegui enviar, sem “pendências” azucrinantes, a minha declaração  pra Receita. Descontei meus pecados  nessa empreitada  a contragosto. Um abraço a todos.
     

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