sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

POR UM RIO DE JANEIRO MAIS CARIOCA



                                                                   Cunha e Silva Filho



         Considerada internacionalmente como uma cidade  de belezas  deslumbrantes, lugar  obrigatório do turismo  estrangeiro  e nacional, o Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa,”  tem sido castigada  severamente  por uma onda de violência  fora de todos os limites imagináveis  se comparados  com  o seu passado tranquilo de um povo dado a festas, folias, pândegas,  samba e animado futebol, entretenimento variado e a uma  vida  plena  de alegria e convívio ameno  e acolhedor. Em 1964,  quando  vim para o Rio de Janeiro,   ainda havia   essa tranquilidade, esse sossego que, hoje,  é coisa do passado. Eu podia chegar  em casa altas horas e não sentia medo algum  de ser assaltado. Hoje isso é uma temeridade e os cariocas se enfurnam  em suas casas ou apartamentos  deixando,  muitas vezes, de sair  de casa,  de ir a um teatro,  cinema ou  qualquer  show anunciado, de andar sozinho num lugar  ou outro porque haverá sempre  o medo à espreita.
          Uma espécie de medo coletivo que se apoderou   das pessoas  está acabando   com a antiga alegria  de liberdade  e de vida ao ar livre saudável e sem  a paranoia que tomou conta de seus habitantes. A notícia agora de uma intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, a cargo do  Exército  Brasileiro, é algo alvissareiro aos cariocas penalizados  no seu cotidiano   e em todos os bairros pelo crime  organizado. Por outro lado,  não se deve  esquecer  de que o respeitado  Exército só terá êxito quando travar  uma batalha ingente  contra  traficantes  de drogas  e armas  e os viciados  em drogas em todos os níveis sociais. De nada valerá   só  o combate sem trégua  contra os  bandidos se não forem   tomadas  medidas  enérgicas e contínuas  contra os usuários de drogas.
        Sei bem que isso  envolve outros componentes de lidar com  esse  gravíssimo problema, para cuja solução os agentes sociais   são chamados a colaborarem com  o Exército. Sabe-se também  que um  dos fatores   da gigantesca  violência   tem raízes  na complacência  contraproducente  dos governos  que,  no passado,  não   tomaram   decisões eficazes  de modo a  não permitirem  que as chamadas favelas ( eufemisticamente  denominadas comunidades) se transformassem em megafavelas nas quais   prevalecem, ao logo dos anos,  lideranças criminosas que estabelecem  regras próprias de convivência social  - espécie de “governos paralelos”   e desobedientes  às leis do Estado - entre os seus habitantes na base do terror implantado pelo tráfico e milícias. Nesses redutos convivem  pessoas honestas e  marginalidade armada  e ostensiva impondo-se através da força das armas e exigindo uma “lei do silêncio”   sob a mira  de armas de fogo e  com arsenal  mais poderoso do que o da segurança  pública.
       Sei igualmente que o crime  no Rio de Janeiro, de São Paulo  e de outros estados da Federação evidencia  fatores intimamente   relacionados  às condições  aviltantes da pobreza brasileira, à ausência  do Estado, da educação,   ainda bastante  deficiente, e, finalmente,  ao êxodo rural, com as migrações  ocorridas maciçamente ao longo dos anos para, notadamente,  as cidades  do Rio de Janeiro e São Paulo. A falta de controle dos dois  estados com os emigrantes, sobretudo do Nordeste e Norte, a falência de outros estados  de não reterem em seus lugares   de origem   esse contingente   colossal  de   população sonhando com uma vida melhor, um Eldorado tupiniquim,  na grande cidade, são outros componentes  da proliferação da miséria e, no limite, do número  altíssimo de favelas  no Rio de Janeiro.
         A cidade das mulheres bonitas  e das praias  paradisíacas, vem há tempos sendo  o alvo de uma escalada  de homicídios nos quais as vítimas são crianças mortas por balas perdidas num crônico estado de guerra e  confrontos entre  facções criminosas e enfrentamentos  com  as polícias militar e civil. Estes confrontos  de criminosos e traficantes e as forças de segurança do  estado do Rio de Janeiro  já deixaram atrás  de si um número elevadíssimo de  policiais  mortos  e, em muitos casos, lutando em desigualdade de condições  de armamentos  contra   traficantes  superiormente armados. A sociedade  carioca e a fluminense  têm sido  outra grande vítima das ações sangrentas de  meliantes do tráfico. 
       Oxalá o general que irá comandar a segurança pública do Rio de Janeiro consiga pelo menos reduzir ao máximo  das possiblidades  as aflições e os desesperos  de uma cidade que se tornou  refém  da maior criminalidade de todos os tempos -  a bela e amada Cidade de São Sebastião. Desejo-lhe boa sorte e espírito cívico nessa  espinhosa empreitada.


                                 

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