Cunha e Silva Filho
Considerada internacionalmente como
uma cidade de belezas deslumbrantes, lugar obrigatório do turismo estrangeiro
e nacional, o Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa,” tem sido castigada severamente
por uma onda de violência fora de
todos os limites imagináveis se comparados com o
seu passado tranquilo de um povo dado a festas, folias, pândegas, samba e animado futebol, entretenimento
variado e a uma vida plena de alegria e convívio ameno e acolhedor. Em 1964, quando
vim para o Rio de Janeiro, ainda
havia essa tranquilidade, esse sossego
que, hoje, é coisa do passado. Eu podia
chegar em casa altas horas e não sentia
medo algum de ser assaltado. Hoje isso é
uma temeridade e os cariocas se enfurnam
em suas casas ou apartamentos
deixando, muitas vezes, de
sair de casa, de ir a um teatro, cinema ou
qualquer show anunciado, de andar sozinho num lugar ou outro porque haverá sempre o medo à espreita.
Uma espécie de medo coletivo que se
apoderou das pessoas está acabando com a antiga alegria de liberdade
e de vida ao ar livre saudável e sem
a paranoia que tomou conta de seus habitantes. A notícia agora de uma intervenção federal na segurança do Rio
de Janeiro, a cargo do Exército Brasileiro, é algo alvissareiro aos cariocas
penalizados no seu cotidiano e em todos os bairros pelo crime organizado. Por outro lado, não se deve
esquecer de que o respeitado Exército só terá êxito quando travar uma batalha ingente contra traficantes
de drogas e armas e os viciados em drogas em todos os níveis sociais. De nada valerá
só
o combate sem trégua contra
os bandidos se não forem tomadas
medidas enérgicas e contínuas contra os usuários de drogas.
Sei bem que isso envolve outros componentes de lidar com esse gravíssimo
problema, para cuja solução os agentes sociais são chamados a colaborarem com o Exército. Sabe-se também que um
dos fatores da gigantesca violência tem raízes
na complacência contraproducente dos governos que, no passado, não tomaram decisões eficazes de modo a não permitirem que as chamadas favelas ( eufemisticamente denominadas comunidades) se transformassem em megafavelas nas quais prevalecem, ao logo dos anos, lideranças criminosas que estabelecem regras próprias de convivência social - espécie de “governos paralelos” e desobedientes às leis do Estado - entre os seus habitantes
na base do terror implantado pelo tráfico e milícias. Nesses redutos
convivem pessoas honestas e marginalidade armada e ostensiva impondo-se através da força das
armas e exigindo uma “lei do silêncio” sob a mira
de armas de fogo e com
arsenal mais poderoso do que o da
segurança pública.
Sei igualmente que o crime no Rio de Janeiro, de São Paulo e de outros estados da Federação evidencia fatores intimamente relacionados
às condições aviltantes da pobreza
brasileira, à ausência do Estado, da
educação, ainda bastante deficiente, e, finalmente, ao êxodo rural, com as migrações ocorridas maciçamente ao longo dos anos para,
notadamente, as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. A falta de
controle dos dois estados com os emigrantes,
sobretudo do Nordeste e Norte, a falência de outros estados de não reterem em seus lugares de origem esse contingente colossal de população sonhando com uma vida melhor, um Eldorado tupiniquim, na grande cidade, são outros componentes da proliferação da miséria e, no limite, do
número altíssimo de favelas no Rio de Janeiro.
A cidade das mulheres bonitas e das praias
paradisíacas, vem há tempos sendo
o alvo de uma escalada de homicídios
nos quais as vítimas são crianças mortas por balas perdidas num crônico estado
de guerra e confrontos entre facções criminosas e enfrentamentos com as
polícias militar e civil. Estes confrontos de criminosos e traficantes e as forças de segurança
do estado do Rio de Janeiro já deixaram atrás de si um número elevadíssimo de policiais
mortos e, em muitos casos, lutando em desigualdade de condições de
armamentos contra traficantes
superiormente armados. A sociedade carioca e a fluminense têm sido outra grande vítima das ações sangrentas de meliantes do tráfico.
Oxalá o general que irá comandar a segurança pública
do Rio de Janeiro consiga pelo menos reduzir ao máximo das possiblidades as aflições e os desesperos de uma cidade que se tornou refém
da maior criminalidade de todos os tempos - a bela e amada Cidade de São Sebastião.
Desejo-lhe boa sorte e espírito cívico nessa espinhosa empreitada.
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