Cunha e Silva Filho
A quem
já viveu uma boa experiência de vida, lembro aqui de uma crônica exemplar de Paulo Mendes Campos (1922-1991) falando
sobre o espírito protelatório do brasileiro. Nem me recordo mais do título, mas
ela é muito atual para os dias que vivemos no país Concordo em gênero número e
grau com
o apreciado cronista, jornalista e poeta brasileiro. Repare o leitor
se o cronista não estava certo. Darei como exemplo o setor da segurança pública do Rio de Janeiro.
Veja-se o que a ação protelatória fez com a segurança pública desse estado da Federação, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro. Aproximadamente, pode-se afirmar que há trinta anos os cariocas começaram a sentir na pele as consequências severas da violência que de então ate hoje só tem crescido ao ponto de o governo federal ter tomado a difícil decisão de nomear um interventor militar, o general Braga Neto, para ser comandante-em-chefe, com todos os poderes de sua função, da segurança fluminense.
Veja-se o que a ação protelatória fez com a segurança pública desse estado da Federação, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro. Aproximadamente, pode-se afirmar que há trinta anos os cariocas começaram a sentir na pele as consequências severas da violência que de então ate hoje só tem crescido ao ponto de o governo federal ter tomado a difícil decisão de nomear um interventor militar, o general Braga Neto, para ser comandante-em-chefe, com todos os poderes de sua função, da segurança fluminense.
Eu
diria que o passo dado pelo governo federal só foi dado
porque a escalada da violência chegou a tal
ponto que o próprio
governador Pezão houve por bem
pedir socorro ao Presidente da república
alegando que tinha perdido total
controle da alarmante e
caótica desordem social que se instalou no
asfalto e nas favelas por traficantes de
drogas s e meliantes oportunista.
O ponto máximo de grau de violência e barbárie localizou-se
em pleno carnaval carioca. As imagens,
na zona sul, de facínoras armados com
fuzis atirando em várias
direções, um policial civil sendo quase massacrado por um bando de bandidos, uma senhora
idosa sendo caçada numa calçada da zona sul e imobilizada por criminosos que lhe tomavam tudo que lhes parecesse valioso e outras cenas de selvageria como arrastões, furtos, assaltos em diferentes lugares do Rio de Janeiro foram a gota d’água a fim de que o governo federal acordasse de um longo sono
pesado para a realidade nua e
crua da vida carioca de hoje.
Agora, me pergunto: por que não se tomou
essa decisão muito tempo atrás? Sabia-se há tempos que o Rio, tal
como São Paulo e outras cidades pelo país afora, já vinha dando evidentes e sobejos sinais de que a coisa estava ficando preta para os brasileiros de todas as classes. Pelo
Rio de Janeiro, o Estado, passaram
vários governadores ( Moreira Franco, Brizola, Garotinho, a mulher do Garotinho, Benedita da Silva,
Sérgio Cabral e Pezão) e, no mandato de cada um deles, o Rio de Janeiro já vinha
sofrendo as consequências de uma
segurança pública mal conduzida.
Medidas contra a violência não nego,
foram tomadas, mas nenhuma delas
surtiu efeito positivo relativamente
à segurança que teimava em
se manter cada vez mais
ameaçadora Implantaram-se as UPPs porém estas foram fogo de palha, porquanto
a violência nos morros recrudescia
e, no varejo, vieram as balas perdidas matando crianças, jovens e adultos decorrentes dos confrontos entre facções criminosas,
milícias ou entre forças de segurança pública e meliantes em geral.
O fato é que a violência ascendente atingiu tão
magnitude que seus agressores passaram
a mandar e desmandar nos morros e favelas, de todos os cantos do Rio de Janeiro. Nessas comunidades começou
a imperar a lei dos chefes de quadrilhas
cada vez mais bem armadas e, em muitos casos,
bem superiores às dos policiais civis e militares.
As favelas e os morros deixaram de pertencer a um país com
ordenamento jurídico para se definir como
“cidades paralelas” “governos paralelos,”
“cidades partidas” - enclaves com as suas
leis próprias e draconianas, “olho por olho,” “dente por dente”, ou seja, pena de
talião. Seus modos de vida em flagrante
dissociação com a vida no
asfalto. Nesses enclaves manda quem tem mais, império da força
bruta e das armas, lei do cão, “cidade
de Deus,” lei do silêncio, em convivência tácita
à revelia da estrutura do Estado
Brasileiro. Desobediência civil ampla e
irrestrita.
Ali
só entra quem passar por uma
revista de homens armados. Quem
desobedecer a seus esquemas sofre pena capital. Ali os serviços de luz,
gás e outros só funcionam se passarem
pelas mãos de um chefe de quadrilha, traficante ou miliciano, ou melhor,
quem esteja com o poder nas mãos sempre sujeito a ser
substituído por outro bando de criminosos
invasores e vitoriosos
na batalhas entre marginais. Ali
poucos viverão uma velhice feliz. Quase
todos morrem em plena adolescência, ou ainda mocidade.
Muitos
dos que vão ajudar seus chefes
são analfabetos funcionais ou senão analfabetos. Os que se rebelam contra
esses chefes de tráfico são expulsos ou
mortos. Não há meio termo. Não há diálogo. Os dedos-duros são penalizados
mortalmente. Há tempos a pena de morte ai
se tornou consuetudinária. Ninguém escapa dos algozes. A solução para tudo ali só se resolve com um tiro na testa, sem julgamentos
nem tribunais, nem promotores nem defensores, nem jurados, quanto menos juízes togados.
Perdidos para sempre são essas gerações esquecidas dos poderes públicos, vivendo vidas relativas e
temporárias, ao arrepio das leis
do Estado Brasileiro. A intervenção das Forças Armadas, acima de
ideologias e partidos políticos, é um
dever das autoridades e, para
mim, é um ponto de partida. Já é um
começo da batalha contra a violência tentacular e covarde que angustia e cobre de luto a sociedade carioca.
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