terça-feira, 29 de agosto de 2017

DE REPENTE , O TEMPO SE FAZ CURTO



                                                         
                                                          Tudo é fugaz neste mundo.

Machado de Assis,  Memorial de Aires
                                                       

                                              Cunha e Silva Filho



               

              Não sei se já escrevi sobre o que vai adiante, leitor. Não tenho certeza de que o tenha feito Mas, vá lá. Deixemos que essa mania de tanta racionalidade sobre  a exatidão das coisas do passado seja posta de lado. Ainda tenho felizmente o presente diante de nós, posto que  um  presente sentido diferentemente, sem  - é claro -  mais aquela naturalidade  avoenga, aqueles períodos já “idos e vividos,”  nos quais, com  marcas  e fronteiras aproximadas  ou mais ou menos aproximadas e indistintas, vivia-se  um mundo interior sem sobressaltos quanto às dores do tempo, pois o tempo não nos ameaçava com rótulos  negativos nem preconceitos  implícitos  ou explícitos sobre o passar do tempo e  a visão amedrontadora  da  sua fugacidade inexorável que, vez por outra,  nos assalta  e nos faz sentir  toda a sua  imensa realidade e temores. 
           Eu me  lembro  bem daquelas noites  ou mesmo tardes em que, sozinho, na rede, no quarto   meio escuro,   me via  perscrutando  o destino de um  adolescente  que sonhava e sonhava. Eram um imensidão de sonhos, de visões futuras,  de fatos, acontecimentos,  vitórias e fracassos. Não chegava a ser uma visão dantesca. Porém, vinha em borbotões,  sem espaço nem  tempo  definido. Só sei que se voltavam  para os tempos futuros,  para o lugar do destino,  de algo  que poderia  ocorrer, de então a cinquenta anos, por exemplo. Sonhava e sonhava. Ninguém me importunava naqueles    sonhos  do futuro,  assentados numa ponto que,  excetuando acidentes naturais,   haveria de   vivenciá-los ou não.
       Aquelas vigílias eram reais. Eram sonhos, imagens indistintas,  visões  em potência que me   punham  naquele  estado  de espírito afastado  da realidade lá fora. Como fenômenos  eram  possibilidades, fatos que  poderiam  acontecer  mas, no futuro,  poderiam ser diferentes  dado que a visão do passado  se misturava  com  a capacidade de imaginação  do futuro. Nada, creio  eu,  aconteceu  conforme aqueles sonhos  imaginados,  desejados, profetizados no mundo  da imaginação  e da exaltação  adolescente.
        Mas quem  disse que não temos,  em cada  década de vida aproximadamente, a apreensão algo dolorida dos sinais do tempo? Ou eles são provocados pelos outros,  ou, por vezes,  sobre eles refletimos num átimo como se o tempo  nos estivesse  lembrando  de nossa condição  temporal  e do seu  fluir. ”Professor - me disse  muito  tempos atrás,  um aluno a propósito  de um  assunto  relacionado  ao tempo, à  minha idade – o tempo está passando.” Apenas  sorri  contrafeito  para ele.  Em casa,  fiquei  pensando no que o aluno  me dissera. Deixei pra lá. Eu tinha somente vinte e oito anos. Tinha o mundo pela frente.
          Mais ou menos pela mesma época, escrevi um  artigo de título “O primado do instante,publicado no jornal  Estado do Piauí. Era um  artigo de crítica à importância exagerada que se dá ao presente. Falei do tempo tríbio de  Gilberto Freyre (1900-1987),  e de outros aspectos  desfavoráveis   dos adoradores  de tudo que  seja  ligado  ao presente (passado na época) e, hoje, futuro. 
           Numa  apostila de inglês que preparei  nos anos 1970 para o Curso  Policultura, curso preparatório  aos exames do  antigo  Artigo 99 e vestibulares, situado no simpático bairro da  Penha, abordando as preposições  inglesas,  escrevi  a seguinte frase: “  I shall be an old man in the end  of the XX century.”("Serei um velho  no final do século  XX.").  Só agora percebo que havia exagerado na  compreensão da minha idade,  porquanto, no final do século XX, eu estaria apenas com  cinquenta e cinco anos. Veja-se  daí que um jovem  de vinte e cinco anos, tempo em que  estava trabalhando naquele  curso,  pensava que um homem de cinquenta e cinco já fosse velho. Agora, penso no quanto estava errado. Ah, mocidade apressada  e irrefletida nas suas   declarações!
         Uma vez, antes de completar trinta anos,   fiquei na dúvida se iria fazer  vinte nove ou trinta. Senti o sinal do tempo. Eu estava em Teresina a passeio. “Meu Deus, vou completar  vinte nove ou trinta?” A dúvida  me atrapalhava a memória e a lucidez por instantes  Será que era porque  percebia que já me abeirava dos trinta  e, que, pela primeira vez,   a ideia da fuga do tempo  me exasperava? A confusão durou apenas, como disse,  questão de segundos.
           Costumo afirmar que não gosto do tempo, no que sou  contrariado pela minha esposa, que, ao contrário, é uma grande amiga do tempo. Sua defesa do tempo  é bem simples e bem  racional: “ O tempo  é meu amigo, ele iguala  todos.   Não escapa ninguém e ninguém  o engana,”  sentencia ela com ares de pensadora. Ela se refere à questão  das mudanças físicas  do indivíduo, mudanças que tanto  abarcam os ricos  quanto os pobres,  as  mulheres bonitas e as não tanto. “Nem a plástica consegue detê-lo,”  conclui ela. A plástica tem  seus limites após os quais nada se pode mais fazer. O tempo, então, se recompõe  e toma o seu rumo   normal,  a não ser que viremos todos  um Dorian  Gray da vida, com todas as consequências  de que se tem  notícia. E que consequências, que Deus nos livre!
               
      ⁢


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

TRADUÇÃO DE UM POEMA DE ANTONIO MACHADO ( 1875-1939)




                          Calma


En  médio de la plaza y sobre tosca piedra,
el agua brota y brota. En el cercano huerto
eleva,  tras el muro  ceñido por la hiedra,
Alto ciprès la mancha de su ramaje yerto.

La tarde está cayendo frente a los caserones
De la ancha plaza, en sueños. Relucen las vidrieras
Com  ecos mortecinos de sol.  Em los balcones
Hay formas que parecen confusas calaveras,

La calma es infinita en la desierta plaza,
Donde pasea el alma su traza de alma em pena.
El agua brota y brota en la marmórea taza.
En todo el aire en sombra no más que el agua suena.


                   Silêncio

Sobre a áspera pedra no meio da praça
A água jorra  sem parar. No horto, perto,
Por trás do muro cercado pela erva
se avista altaneiro cipreste com sua sombra de ramagem  hirta.

Em sonhos   morre a tarde em frente dos casarões
da  larga praça. Rebrilham as vidraças
com  ecos de sol  esmaecidos. Nas varandas
formas há lembrando  indistintas  caveiras.

Na solitária praça, em abissal silêncio,
vagueia  a alma com seu vulto de alma aniquilada.
No tanque marmóreo, sem parar, a água  jorra
Lá fora, na penumbra, apenas a água o silêncio quebra.

                                                                                              (Trad. de Cunha e Silva Filho)



domingo, 20 de agosto de 2017

MUDANÇA DE HÁBITOS NA PAISAGEM FÍSICA E HUMANA DO RIO DE JANEIRO




                                                                     Cunha e Silva Filho


          Parodiando  Machado de Assis (1839-1908), direi: “Mudei eu ou o mudou o Rio de Janeiro?” Acho que mudamos ambos. A cidade não é a  mesma do tempo de Machado. Não é mais  aquela cidade que, num mural enorme de um prédio da Rua Ouvidor, mostra a paisagem física e humana do Rio antigo, sobretudo no ponto central da vida  urbana: a hoje Avenida Rio Branco,  outrora Avenida Central. Além do mural, há um trecho de uma crônica de Machado alusiva àquela paisagem, fruto de uma foto  ampliada e reproduzida naquela mural.
       O tom da narrativa do autor de Dom Casmurro (1899)  é irônico. A crônica fala da Rua do Ouvidor, a mais elegante do tempo de Machado. Rua estreita, mas preciosa, rua das modas vindas de Paris ou mesmo algumas  de Londres. Não me lembro  bem do núcleo do tema  da crônica, mas vou  voltar ao local do mural para  comentar, em outra crônica,  sobre o que  o bruxo do Cosme Velho   anotava sobre a condição topográfica dessa principal estreita  artéria carioca, sobretudo à altura do século XIX.      
    Fixo os olhos novamente no mural. Vejo, nas calçadas, de ambos os lados da avenida,  pessoas  com as vestes elegantes  do século XIX da primeira década do século XX  Os homens com chapéu, bengala  à inglesa,  guarda-chuva conversando  em duplas. As mulheres, elegantes,  com seus vestidos longos,  figuravam a moda daquele tempo. Na rua, carroças puxadas por trabalhadores humildes,  carros elétricos,  charretes, gente atravessando de uma calçada a outra. Olho para os prédios, com as suas  fachadas,  com suas placas anunciando algum  produto. Procuro vislumbrar se, comparado com  o que  existe hoje na mesma avenida,  algum prédio  ainda está de pé  até hoje. Ressalto ao leitor que o mural não corresponde  exatamente ao tempo da  crônica machadiana. Contudo, suas características arquitetônicas  o situam nas primeiras duas décadas do século XX.
       Consigo ver alguns velhos  prédios que atravessaram o século XX. Fico em dúvida onde estariam outros prédios que não mais existem. Com nitidez, vejo o velho  prédio,  no qual ficava o famoso Jornal  do Brasil, do tempo da Condessa Pereira Carneiro.
    O que salta à vista é que a paisagem  arquitetônica  amalgamou  o antigo e o moderno, onde o antigo tem mais destaque, principalmente se o nosso olhar  se coloca em direção aos prédios do Theatro Municipal, do Museu Nacional de Belas Artes, da Biblioteca Nacional. 
    Retomo o meu olhar novamente para dentro  do mural, da foto ampliada. Olho detidamente  aquele agrupamento  de agente  dispersa  nas duas direções da avenida. Paro a minha vista naquelas pessoas  estáticas na fotografia. Abstraio  essas pessoas que parecem  estátuas, imóveis e imagino-as em movimento de vida,  resolvendo seus problemas no Centro do Rio. Cada uma com a sua vida pessoal conversando sobre assuntos diversos. Rindo, ou caminhando  simplesmente na sua solidão e anomia da cidade que crescia, majestosa e bela. Quem  seriam elas? Todas desaparecidas. Todas nos seus lugares eternos, no silêncio dos tempos. Todas tragadas pelo tempo. Nasceram, tornaram-se  crianças, adolescentes,  adultas,  idosas viúvos ou viúvas, se casaram de novo ou permaneceram  na viuvez ainda exibindo seus anéis de matrimônio. Cumpriram  a sua travessia no espaço e no tempo. Hoje, apenas uma foto ampliada. Nada mais.
      Entretanto,  penso comigo: foram gente de carne e osso, não ficções,  não criaturas  imaginadas pela cabeça de um escritor ou poeta, ou dramaturgo. Viveram,  sofreram,  foram felizes ou não,  tiveram filhos,  netos. Casaram ou ficaram solteiros. Amaram, sorriram,  brincaram, trabalharam, foram alguém na vida. Fizeram o bem ou o mal. Enfim,  existiram.  Parodiando outro grande  escritor,  o poeta  Carlos Drummond  de Andrade (1902-1987): hoje são apenas uma foto no mural, ia dizendo “na parede.”
     Esta crônica, se o leitor atentar para o título,   subentende outro aspecto que desejo explorar   nas minhas   observações  da vida carioca. Esse aspecto é o do  contraste entre o que era  o Rio de ontem, ou melhor, o Rio dos séculos  XIX e XX e o do nosso século. Quanta diferença, abissal diferença no que se pensa das duas realidade temporais,  sobretudo do que se podia fazer com   o espírito aberto,  sem medo do medo  abominável que,  por vezes, nos assalta a nós, moradores  da Cidade Maravilhosa, hoje tão vilipendiada pela  violência  que teima em  crescer sem respeito a ninguém, mudando hábitos de vida, quer de dia,  de tarde ou de noite.
     O Rio é inseparável da carioquice, da alegria,  do samba, do carnaval, do futebol,  das praias, da sua vocação  para ser uma cidade do mundo e não só nossa, das piadas apimentadas, da sedução, do  sensualismo; o Rio  com a sua imagem das curvas femininas  nyemarianas.  O Rio do Centro e do hibridismo  de construções misturando  todas as épocas desde a sua fundação.
        O Rio da Zona Sul dos belos bairros aburguesados (Copacabana, Ipanema,  Leblon, ou de classe média da Zona Norte (a ex-aristocrática Tijuca, Vila Isabel, Méier,  Grajaú),   até os um tanto  esquecidos  bairros  dos cariocas  dos subúrbios (Madureira, Cascadura, Vila da Penha, ou o Rio da Barra da Tijuca,  do Recreio, da Zona Oeste), com cada bairro e suas diferenças de modos de vida da Zona Sul. Ou ainda os belos bairros da Zona Sul de frente para o mar, Sul, do lado de cá  do túnel, de classe média e media alta (Flamengo, Botafogo, Urca), e ainda os  Glória,  Catete, Glória Laranjeiras, de classes misturadas. 
           De resto, mesmo em   bairros luxuosos, às vezes, convivem classe altas, médias e pobres, a se ver pelos morros  que os cercam. Todo esse patrimônio de beleza, de antiguidade, de variedades está em perigo de se perder  com os tentáculos da violência instalada, fazendo   o carioca  de nascimento e o carioca  de coração mudarem sensivelmente o que podiam fazer  anos atrás: sair de casa em sossego,  voltar para casa em paz,  poder  andar a pé,  sem uma espécie de paranoia que, contra a nossa vontade,  nos acomete nos dias de hoje.
         Há quem enfrente ainda os lugares agradáveis, mas sempre com certo receio   de enfrentar algum  problema   relacionado à violência: o assalto, a presença inopinada de  pivetes,  o sequestro,  a bala perdida,  os furtos, os roubos,  os tiroteios  entre criminosos dos morros, ou entre estes e a polícia.   Criminosos mais bem armados do que a própria polícia.
         Para os que  podem andar em seus carros, a despeito  também de neles  não se sentirem seguros,  essa é a melhor forma  de  locomoção, ou senão tomar um táxi a fim de irem a um espetáculo  musical,  um cinema, um shopping, um teatro, um lançamento em  livrarias  da Zona Sul.
        Por isso,  o carioca nato  ou  de coração, mormente se  está com idade mais avançada, vai perdendo  o gosto de sair às ruas da cidade,  dar um passeio no Centro, visitar um dos poucos sebos,  ver um museu, andar  pela Avenida Rio Branco, sempre  apinhada de transeuntes para lá e para cá no tumulto   incessante  da grande cidade  que  não para   de movimentar-se.
       Imagine-se  um mural  reproduzindo uma foto   da paisagem  humana da Rio Branco de hoje repetindo os mesmos gestos meus de flâneur voltado ao mural do passado do século XIX e das primeiras décadas do século XX.  Ou seja, um  outro   flâneur qualquer no futuro,  olhando o mural do século XXI, em outro  prédio, de preferência  moderno,  quando todos os  contemporâneos de hoje  virarem  uma  retrato  no mural  visto por uma habitante  querendo fazer  um nostálgica comparação  da Avenida  Rio Branco para a posteridade.
         Só aguardo que esse outro flâneur não mais encontre a Cidade Maravilhosa  no estado  infernal em que  se encontra  agora, porém seja uma urbe semelhante àquela imagem  belíssima e comovedora  de um conto de Oscar Wilde(1854-1900), em que inocentes  criancinhas,  por terem  atravessado o muro proibido pelo gigante egoísta, a fim de nele brincarem, eram por ele rechaçadas.       
        Ao perceber o gigante que a saída das criancinhas  fazia  murchar   as flores do seu belo jardim, de repente  compreendeu   que só com a presença delas ali brincando, as flores de seu jardim  novamente   retornavam à antiga e  verdejante  beleza. Com isso, o gigante egoísta  se transformou  num bom gigante  e o cenário, antes  desolador,  transformou-se  num paraíso  logo que o gigante mandou  derrubar o muro proibido. O conto termina com o gigante  brincando alegremente com as  criancinhas. 

NOTA. Voltei ao lugar do mural para confirmar o que, em linhas gerais,  dizia o  Machado da famosa  Rua do Ouvidor.  Na referida crônica, Machado comentava  o lado íntimo que a Rua do Ouvidor não podida perder. Essa particularidade, segundo ele,  é que devia permanecer. Um rua  estreita, "aconchegante," própria para se falar ao pé do ouvido com um companheiro, uma  rua  de apreciação  das modas, até de olhar para um sapato  "de bico fino"de uma senhora  que passasse. Rua  apropriada aos cumprimentos  mais fáceis de um  lado a outro da calçada, podendo-se mesmo  dar um aperto de mão sem difculdades. Ao afirmar isso, Machado  era contra  alargar-se a Rua do Ouvidor -  tema central da crônica. Se fizesem isso,  ela perderia todo o seu encanto,  o seu sossego,  a sua privacidade, a sua tranquilidade doméstica.Outras   ruas poderiam alargar,  mas não a Rua do Ouvidor.

         

terça-feira, 15 de agosto de 2017

KIM JONG-UN, DONALD TRUMP E NICOLÁS MADURO: O QUE PODERÁ VIR DE CADA UM DELES?



                                                             CUNHA E SILVA FILHO



           Não pense o leitor que  o mundo se inquieta só com o que  esses três  dirigentes de países diferentes e com  problemas  internos e externos  diferentes. O primeiro, um ditador  a quem se atribui ter mandado matar o próprio irmão. O segundo,  um presidente de uma nação-chave  para a geopolítica  mundial Se não incorro em  erro,  Donald Trump,   desde a campanha  à  presidência, tem  dividido  os americanos, sobretudo com  o emprego  frequente de  afirmações  com traços de pós-verdades que só perturbam  a opinião pública  dos EUA, quer dizer,   desunindo os americanos,   pensando que esteja agindo assim  pelo bem do povo.   Ledo engano. Pelo contrário,  o que anda fazendo e o que pretende fazer  dividirá ainda mais  a nação.   O terceiro, um candidato forte a se transformar em ditador, se é que já não o era com todas as malvadezas que tem feito  indo de encontro as leis do seu país e conduzindo-o com mão de ferro, enfeixando nas mãos, na prática,  todos os três poderes, garroteando  a liberdade de  imprensa e castigando  quem se lhe oponha às determinações e vontades  com prisão,   torturas  e o que mais for possível de  violência policial. Façamos algumas reflexões gerais sobre cada um deles.
   
             Já se disse que Kim-jon-un não deseja  partir  para o confronto  bélico com os Estados Unidos, mas  chamar a tenção dos americanos   a fim de  que que  tenham   outro olhar  para seu país e o seu governo. Só estaria mesmo  interessado no respeito  que possa  merecer dos americanos. Deseja ter a certeza de que é uma nação forte e soberana, com possiblidades de  dispor de  armas nucleares. Seus testes nucleares   com  poder de atingir  os EUA é um recado que dá ao atual presidente americano, Donald Trump. Essa seria um  análise  especulativa  mas não o bastante  para que se  possas inferir o que  o gordinho com cara de  adolescente   que aminha  um tanto  mancando.
         Quanto ao presidente Donald Trump, da mesma  maneira  ainda se mostra um esfinge  de um homem  sem  experiência  política e  tendo só atuado  no mundo dos negócios  e nos meios  de comunicação televisiva que, por isso mesmo, desenvolve mais seus talentos no espaço  borbulhante da aparência,  do simulacro e dos efeitos cênicos  e retóricos. Sua própria campanha, sua vitória  meio enevoada  e  pouco transparente no resultado    das eleições, sobretudo tendo em vista  interferências   do governo russo,  segundo a imprensa  tanto   divulgou, país  com o qual os Estados Unidos  nunca teve  tampouco  relações  tão mais próximas e amistosas,  nos deixa um pouco  com o pé atrás.
       Contudo, não é somente isso  que  anuvia   essa figura   polêmica  e com  ares de  bravatas que, a meu ver,  não bem combina  com  a postura  de um líder   que possa ser levado a sério pela sociedade  americana. Sisudo aparentemente,  esse milionário  na presidência ainda trouxe outros  ingredientes pouco  assimilados por um povo  que se constituiu  de um melting pot, de um país de imigrantes, ele próprio descendente de alemães.  
     Um desses ingredientes  é  o nacionalismo, o querer os EUA só para os americanos, como a sinalizar que o pais  não seria bem receptivo  ao estrangeiro,  à mistura de  línguas ouvidas  em  partes do  território americano, nas colônias estrangeiras,  onde se ouve um multiplicidade de  idiomas, sobretudo o espanhol. Esquece Trump que, segundo  assinalei,  ele mesmo  não é de ascendência americana, o que torna  a sua  suposta  postura  anti-imigrante  uma contradictio in terminis.   
   Sua plataforma de campanha, de início, já se tornava  antipática e inconsequente, com a ideia de construir  uma barreira de isolamento  com o vizinho México, através de uma construção de uma muralha, à semelhança  de outras muralhas  de sombrias memórias.   Novamente, seu   proclamado nacionalismo   já está provocando   tumultos  entre os americanos, como recentemente  se deu na cidade Charlotteville, estado de Virgina(EUA),   onde movimentos racistas   e nazistas  reaparecem  mais abertamente exemplificados nos atos  de violência  da  Ku Klux Klan– espécie de seita diabólica formada de brancos racistas, retrógrada,  que deveria ser  alijada de vez  da geografia  estadunidense – vergonha  para os americanos  que  respeitam a democracia  e os direitos  civis do país.  Essa excrescência   nazifascista    repugna à  consciência  dos povos livres  num mundo globalizado. 
     Ao invés da bandeira nacionalista  “A América para os americanos,” apregoada por Trump em suas  campanhas   cheias de  fanfarronices e gafes  espetaculares e no mau sentido,  Trump deveria era dar continuidade  ao espirito e mentalidades  avançadas  daqueles ilustres  ex-presidentes americanos  que deixaram sua marca  de estadistas,  à frente  George Washington,  Abraham  Lincoln, Franklin Delano Roosevelt,  apenas  para mencionar três  líderes de envergadura moral e cívica.  Infeliz\mente,  estamos no mundo  órfãos de grandes homens que sirvam ao bem-estar de seus países. São poucas as exceções.
     Por último, a figura  sombria do bigodudo  Nicolás Maduro  que,  herdeiro do seu antecessor, Hugo Chávez, ainda se comportou muito pior como chefe  de governo. Sem estar preparado  para ser um presidente, Maduro tem se  destacado  pelos males que trouxe ao seu mandato  presidencial. Até entendo em parte que  não goste do que ele insiste em chamar de  “imperialismo  americano.” No entanto,  o que tem  praticado  internamente  é bastante  para  que esteja sendo  isolado  dos  da maioria do seus países vizinhos, inclusive do Brasil. 
      Sua grande falha foi   desejar  governar   excluindo  condições  que  permitam que um país  se sustente minimamente,  que é a liberdade  de imprensa,  o respeito  às divergências,   o respeito aos princípios democráticos, à Constituição  do país. Incompetente para  superar os  entraves  da economia  venezuelana, mesmo  tendo  a seu favor  um país  riquíssimo em petróleo, Maduro  perdeu o controle  da sua administração e passou  a compensar suas falhas  e inoperâncias  praticando  atos  lesivos  às normas democráticas.
    Realizou  eleições fraudulentas, como a última, que lhe dará  poderes ainda mais   discricionários. Ou seja,  na prática,  está governando  como    ditador num país em que o Congresso  não tem mais  voz  da oposição, em que o Judiciário  se transformou  numa marionete do seu governo e em que as forças armadas se transformaram  em verdugos  da sociedade  que, em grande parte,  lhe  é adversária e não o quer  mais no poder.
    O plebiscito  realizado pela  sociedade o reprovou como governante. Realizou uma Constituinte  fraudada com o objetivo de o manter no poder no qual  a estrutura do Estado  se tornou, assim,  um simulacro,  com juízes   submissos  ao seu absolutismo. Desrespeitou até os princípios do  líder e herói  Simon Bolívar, um herói nacional da liberdade dos povos. O governo de Maduro  não passa agora de uma  contrafação, um engodo.
    O Mercosul, do qual  fazia parte, lhe fechou as portas. Os organismos  internacionais não o reconhecem   como  mandatário. A população  está sofrendo  as agruras  da falta de abastecimentos de   produtos de alimentos, remédios  e outros itens  indispensáveis à sobrevivência, afora uma onda de violência de bandidos  e  traficantes contra a sociedade, desemprego e outra  mazelas sociais.  A fuga de venezuelanos  para países vizinhos, como o Brasil,   é um fato  consumado.

   O país se endivida. Está sempre a pedir ajuda à Rússia que lhe empresta  rios de dinheiro, o que nos leva a perguntar: para onde vai  tanto dinheiro russo?  Não é fácil  obter resposta a essa  indagação.  A Venezuela, sendo o pais com  as maiores reservas do petróleo  mundial, está cada vez mais, segundo as    últimas informações que tenho lido  veiculadas pela imprensa mundial,   se endividando   com  os russos que lhe serão  dóceis  enquanto  houver petróleo no  maltratado  país  sul-americano.  

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O BRASIL E A EPIDEMIA DA RAPINAGEM




                                                                         Cunha e Silva Filho




          No Brasil, leitor,  os desvios do dinheiro  público não são casos  fortuitos. Estão se torando  uma  regra ou,  para um usar uma expressão do campo da medicina, uma epidemia da gatunagem. Confirma-se historicamente uma tendência  nossa essa reincidência  em locupletar-se do  erário  público o indivíduo em  baixa ou elevada função administrativa  ou de fiscalização,  a corromper  ou ser corrompido e, para agravar mais o quadro  sinistro e mesmo trágico, a não ter receio de praticar a ilicitude diante de outro  mal que nos persegue na sociedade brasileira: a impunidade, condição realimentadora    da roubalheira,   da desídia,    da rapinagem, da sonegação de impostos, quer de pessoa física, quer principalmente jurídica.   
     Com o avanço da comunicação virtual,  com as redes sociais, com  um mais sofisticado aparelhamento  de investigações das polícias,  com um  logística  avançada  na obtenção  de  provas ou pistas que  identificam  mais rapidamente os malversadores  do dinheiro do contribuinte, esses  inimigos da coletividade e do bem-estar de uma sociedade  mais complexa  e muito mais afluente estão, não obstante saberem que, mais cedo ou mais tarde,  serão  encontrados,  contudo persistem, com  deslavado cinismo, na prática  generalizada, seja no setor  privado, seja no  setor público, do desfalque,  do uso da propina,   do superfaturamento  e de outras mazelas  imorais  que estão  prejudicando   profundamente   o Estado Brasileiro.
         Diariamente,  temos notícias de  prefeitos,   vereadores,   ou de outras categorias  da máquinas  administrativas federal, estaduais  ou municipais. São notícias mais ou menos  nestes termos: “O prefeito da  cidade tal  fugiu levando  todo  o dinheiro  da prefeitura,  ou seja,  dos contribuintes.”  Esse exemplo serve apenas de metonímia para   denotar todo um estado   de putrefação  da vida pública  brasileira. Tal realidade só tem parelha com  a criminalidade   em nossa sociedade que  já constitui, segundo  as estatísticas,  10% da criminalidade  mundial. Leitor,  este nível de  violência  é catastrófico, porquanto  configura   uma estado  de  semelhante a guerras civis.
       Teria solução  esses dois grande e gravíssimos  problemas que enfrentamos  no país? Sim,  teria e o vilão maior   está  encravado  na forma  de legislação penal  brasileira,  no nosso  Código Penal    e nas inúmeras  e graves   formas de punir  erroneamente  nossos  criminosos e nosso  larápios de todos os níveis sociais. Há poucos dias ouvi na  Televisão   a notícia  - que  desrespeito ao  nossos povo!⁢– de que a Justiça  irá  libertar uns trinta  mil  sentenciados só por causa do Dia dos Pais!⁢Onde é que estamos? Que absurdo é esse? Parece até mais um  exemplo de pós-verdade. Entretanto,  não é.
        Essa excrescência de tornozeleira  eletrônica  para preso  domiciliar  é uma  acinte   à inteligência do  nosso  povo. Prisão domiciliar, tornozeleira  e outros penduricalhos não passam  de  práticas  enganosas  para  não prender mesmo  facínoras, corruptos e  ladrões. Esses artifícios engendrados por  não sei quem ( e desconfio que veio por mimetismo   externo, por mera imitação  de mentalidade colonizada)  não surtem  nenhum efeito  punitivo algum. Muito ao contrário. Onde é que se viu  esse recurso de  prisão domiciliar? 
          Para mim,  prisão é na penitenciária  de segurança  máxima, xilindró, cadeia, sol quadrado,   cana mesmo,  não  formas  lenientes  de  tratar  bandidos e patifes de colarinho branco ou traficantes   e criminosos  hediondos. Deixem de  tanta  hipocrisia  e tergiversações, de postergações que escondem evidentemente  o horror de serem  atingidos  por penas  rigorosas  valendo  para ricos e pobres,   e, ao contrário,   expurguem essas   brechas e recursos  e mais recursos “legais” de bandidos   a fim de amenizarem longos    anos de prisão    que deveriam ser cumpridos  literalmente, na íntegra. Não podemos  viver mais na base dos recurso  escusos dos meirinhos  da época de Dom João VI,  tão bem  descritos  pelo romancista  Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) no  admirável livro Memórias de um sargento de milícias(1852).
          Gatunagem e violência  se entrelaçam, são irmãs  siamesas, são  farinha do mesmo saco. Veja um  coisa:  corrupção  política  é uma forma de  violência e, como tal, tem que ser  tratada a ferro e fogo. Enquanto no país  persistir a terrível e abominável  desigualdade  de tratar  criminosos e de todas as  formas,  quer dizer,   amaciar  os ricos e  brutalizar  os pobres e  negros  não haverá  justiça entre nós.  
         Leis duras e efetivas, sem  brechas  falaciosas  e espúrias, verdadeiros atentados  contra a ciência do Direito, é do que precisamos com urgência urgentíssima, leitor.  Não são para o futuro não. Têm  quer aprovados  para o presente,  o hic et nunc. O tempo tríduo de que falava  Gilberto  Freyre (1900-1987). Do contrário, seremos  engolidos pela violência tsunâmica  pela  rapinagem epidêmica,  pelo desmoronamento do Estado e, por tabela, pelo caos social  e financeiro,  já dando inequívocos sinais  de  exaustão.

       Não é somente o eixo Rio-São Paulo que está sofrendo na carne as consequências  da alta criminalidade,  É o país todo,  a Federação  inteira,  aa cidades e os campo, assim como  é nacional  o  gritante  problema  da rapinagem no setor  público e o mal vem de longe, conforme já  assinalei no  início deste artigo. A literatura brasileira já tem registrado todas essas mazelas sociais  em obras  ficcionais  de grande  qualidade  artística. Da mesma forma,  o teatro,  as novelas de  televisão,  até os programas  humorísticos. Não vale somente afirmar que a história brasileira   sempre foi assim  desde o Brasil Colônia, ou no primeiro e segundo  império,  ou  na República  Velha, Nova ou  novíssima.  
      Posições como estas  só avalizam  males crônicos  brasileiros, como se tudo  isso  fosse natural  e uma fatalidade  da nossa gente. Não.  É tempo  de  enfrentar  mudanças  corajosas, sem hipocrisias nem enganações ou  ensaísmos eruditos, acadêmicos, lidos  só  para iniciados. O país precisa  é de  pé no chão,  de vergonha  na cara,  de refundação moral,  de homens  dignos na presidência da República, na Câmera dos deputados, nos governos estaduais e municipais, nos Ministérios, no Judiciário, com igualdade de poderes, sem  baixos cleros,  sem delongas  macunaímicas nem  bruzundanguices.   A imagem do Brasil não pode ser mais  arranhada do que já está. Mudanças morais são necessárias na mentalidade  do povo e dos  governantes.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

TRADUÇÃO DE UM POEMA DE VICTOR HUGO ( 1802-1885)




            LA FLEUR ET LA PAPILLON

La pauvre  fleur disait au papillon céleste:  
-       Ne  fuis pas!
Vois comme nos destins sont différents. Je reste
                            Tu t’en vas!
Pourtant nous nous aimons, nous vivons sans les homes
                            Et loin d’eux,
Et nous nous ressemblons, et  l’on dit que nous sommes
                            Feurs tous deux!
Mais hélas!’ l’air t’importe et la terre m’enchaîne.
                            Sort  cruel!
Mais non, tu vas trop loin⁢ Pari des fleurs sans nombre
                            Vous fuyez,
Et moi, je reste seule à voir tourner mon ombre
                            À mes pieds.
Tu fuis, puis tu reviens, puis tu t’en va encore
                            Luire alleurs.
Aussi me trouves-tuojours à chaque aurore
                           Toute em pleurs!
Oh! pour que  notre amour coule des jours fidèles,
                          O mon roi!
Prends comme moi racine, ou donne-moi des ailes
                          Comme à toi!⁢
                                                                   (Les chants du crépuscule)


                 A FLOR E A BORBOLETA

Assim dizia a pobre flor a uma celestial borboleta:
                        ­_ Não fuja!
Não vês  quão diferentes nossos destinos são.  Eu fico,
                       Tu partes!⁢⁢
Não obstante, nos amamos, sem os homens vivemos.
                       E deles fugimos,
Muito temos em comum. Dizem até que ambas
                      Flores  somos!
Ai!  O vento te leva, a terra me acorrenta,
                     Cruel destino!
Mas qual nada! Pra muito distante vais! Entre inúmeras flores
Permaneço, vendo apenas mudar minha  sombra
                    A meus pés.
Foges,  depois voltas, em seguida, outra vez despareces
                    Pra iluminar outras plagas.
Em cada aurora, todavia,  sempre à tua espera estarei
                    Em prantos  debulhada!⁢⁢
Oh! a fim de que  dias felizes viva o nosso amor,
                   Ó meu rei,
Cria raízes que nem eu, dá-me asas
                  Às tuas  iguais!                    ( Les chants du  crépuscule)⁢⁢


                              
                                                                    (Tradução de Cunha e Silva Filho)

⁢ ⁢⁢

  
          




                                 

sábado, 5 de agosto de 2017

A CAMINHO DE UMA DITADURA?

                   


                                         Cunha e Silva Filho


         Acho que foi  o ex-presidente norte-americano Bush pai quem, em tempos difíceis globais,  afirmou: “A era dos ditadores acabou.” A se ver pela suas palavras, nada do que falou  aconteceu.  Países como a China,  Cuba,  Coreia do Norte e Síria, para só dar uns exemplos,  se mantêm no poder graças aos seus regimes  fechados, com governos  autoritários, com alternância no poder mas sustentadas  pelo sistema  comunista, ou com  homens fortes conduzindo seus governos autocratas  com mão de ferro  e o apoio das forças armadas.
       A Venezuela se encontra já numa dessas  alternativas em que o governo  é administrado  por um chefe  de governo que  ascendeu ao poder  por imposições do regime  anterior, o chavismo. Nele há eleições,  mas estas não passam de simulacros uma vez que os resultados  das eleições só consagram  quem já está com o poder, no caso,  o presidente Nicolás Maduro. Ora, só um  ingênuo diria que Maduro  governa de forma democrática.. Muito pelo contrário. 
          No país, rico em petróleo, Maduro manda e desmanda. Suprime a liberdade de imprensa  e quaisquer formas  de manifestações  contrárias ao seu governo. Manda nas forças armadas, , manda no legislativo  e manda no judiciário  ao qual concedeu  poderes de sobrepor-se ao legislativo, cuja maioria  é oposicionista Quer dizer,  Maduro é um pseudo-presidente eleito nem existe ali democracia Tudo é de fachada.
       Sua incompetência administrativa levou o país a uma hiperinflação jamais vista até hoje naquele país. Os opositores políticos,  intelectuais,  jornalistas, líderes estudantis, sindicalistas,  se exagerarem nos seus  protestos contra o  governo, são punidos com  prisões sumárias ou até mortos.
    A vida do cidadão venezuelano  tornou-se infernal a  ponto de muitos deles  fugirem  do seu país  para viver no Brasil. Já são muitos os sofridos venezuelanos  que transpuseram a fronteira com o nosso país a fim de  aqui  tentarem uma nova vida a despeito de que nós mesmo  estejamos  comendo fogo com a situação ainda incerta de nosso  país.
     Obrigando  os venezuelanos a votarem  para a instalação de uma Constituinte e ameaçando os  funcionários públicos a votarem compulsoriamente  a seu favor sob pena de serem  punidos,  Maduro age como verdadeiro  tiranete. O resultado das eleições para a  formação da Assembleia Nacional Constituinte(ANC) já foi  criticado por  40 países,  ou através de organismos internacionais como  a ONU, OEA e  a UE,que veem a vitória  a favor de Maduro  como  uma manipulação de votos e como  um ataque aos princípios democráticos.   A oposição rejeita a instalação dessa Constituinte porque para ela o presidente Maduro   ainda ficará mais  poderoso e poderá até  querer  eternizar-se no poder como ocorreu  com outras ditaduras  na América do Sul.     
    O mais grave é que antes mesmo dessas eleições, o  país  vinha sucessivamente  sofrendo com   greves,  manifestações   prós e contra  Maduro  que tiveram  consequências  trágicas: saldo de um centena ou mais  de mortes  cometidas  pelas forças  de segurança do governo, quase configurando  um  estado  de guerra civil. A par disso,  a população está à voltas com o desabastecimento  de alimentos e outros produtos de sobrevivência. Falta tudo no país. Falta mais: ordem  social,  paz,   harmonia  da sociedade.. O temor da população  é crescente e a oposição é aguerrida, enfrenta  os soldados com podem. O governo poderá alegar que a insurgência  é só da calasse média e dos ricos., quando, na realidade,  é o povo  indignado  que se volta contra  o governo de Maduro.
     Sob a hipocrisia de se servirem  da figura de Simon Bolívar e da figura polêmica  de Hugo Chaves, Maduro e  seus  seguidores  veem nos Estados Unidos o “império selvagem e bárbaro.” 
     Entretanto,   há em tudo isso uma flagrante contradição: um país  como a Venezuela não tem moral  para  só culpar  os americanos   pelas  suas mazelas, Foi a incompetência e o autoritarismo  de Maduro  que o levaram  ao desastre  de governo. Se ele fosse imbuído  mesmo  de   fundamentos democráticos teria enfrentado a oposição com argumentos convincentes e não    suprimir  a liberdade de expressão que é inerente à democracia,   nem perseguir   seus  opositores, nem tampouco  levar o país à desordem social, à miséria, à fome,   à marginalidade  e a tantas mortes  praticadas  pelas forças  militares e milícias de seu governo atrabiliário. Até o Vaticano  se opõe duramente contra o candidato a ditador perpétuo da Venezuela. Por todos os seus desmandos  o MERCOSUL já está prestes a Venezuela a Venezuela como  um dos seus membros.
     Por enquanto coexistem dois governos: um controlado  pelo situacionismo com a instalada Assembleia Nacional Constituinte (ANC) sob a tutela do TSJ (Tribunal  Superior de Justiça) a serviço da discricionariedade  de Maduro, quer dizer, um  Tribunal de juízes  comprados; outro o do Parlamento,  com a maioria da  Oposição, à frente a mUD Os desdobramentos  dessas divisões opostas pressupõem sérios riscos  para a paz na Venezuela. Qualquer  grito maior de parte a parte pode significar  a iminência de uma guerra civil. Oxalá que não.
    O  que não se deseja é que o país  sofra ainda mais em novas  ilegalidades   impostas  pelo governo  Maduro. As vítimas  traduzir-se-ão em mais  mortes, mais  miséria,  mais caos e mais migração  de cidadão venezuelanos  à procura de paz  e segurança  para as suas famílias.  Que não venha o pior.


terça-feira, 1 de agosto de 2017

AS FORÇAS ARMADAS: SEJAM BEM-VINDAS AO RIO DE JANEIRO




                                                   CUNHA E SILVA FILHO


     Posto que não seja evidentemente a missão precípua das Forças Armadas brasileiras a manutenção da segurança de um Estado, que é função da Polícia Militar, elas vêm em momento crucial por que passa o Rio de Janeiro, competindo com o Estado de São Paulo e mesmo ultrapassando este nos altos índices de violência  jamais registrados no país. Há muito venho em artigos postados neste Blog discutindo o problema número 1 do Brasil.   
  A segurança  pública no Rio tanto quanto outro setores vitais vêm  sendo sucateados pelo governo atual assim como  o foi nos dois mandatos do ex-governador Sérgio Cabral, responsável direto pelo estado de calamidade financeira em que afundou o Rio de Janeiro com uma série de consequências com falta de pagamento do funcionalismo e outras mazelas sociais, entre as quais o desaparelhamento da Polícia Militar, despreparada para enfrentar a onda de crimes de toda a espécie que vem tomando conta da cidade e do interior do Estado, deixando a sociedade carioca e fluminense à mercê  de banditismo   crescente e cada vez mais audacioso em suas ações criminosas e,  ademais, seguros da sua impunidade e   indiferente diante da lei e das forças de segurança.
   Tal quadro social desordenado, caótico, permissivo permitiu o surgimento cada vez grave de uma situação de descontrole e de impotência  vivida pelos forças de segurança pública, cuja  capacidade de  ações em confronto desigual com o potencial  mais  ofensivo do estado de marginalidade  se vem  configurando  como uma  situação de guerrilha urbana, na qual a marginalidade, diante da fraqueza das forças de segurança pública,  perdia todo o seu respeito aos homens da lei e à  repressão ao crime.
   Bem mais armados, utilizando armas de alto calibre, esses facínoras se sentiram firmes e inexpugnáveis diante de uma Policia Militar e Civil  assombradas com o poderio das armas dos fora-da-lei. A assinalada  fraqueza das forças de segurança  pública  se deveu ao estado de penúria e de sucateamento  das finanças  do Estado do Rio de Janeiro, vítima que foi  de um  ex-governador  que  cometeu  o maior desfalque, quer dizer, o maior assalto ao Erário  estadual já registrado na história  dos governadores  fluminenses,  deixando  à míngua todos os  setores da máquina administrativa estadual.
   A cidade do Rio de Janeiro, refém em todos os seus bairros, inclusive nas favelas, já não tinha a  quem recorrer a fim de estancar as assassinas balas  perdidas. Vozes de mães desconsoladas,  aflitas, parecidas, guardadas as diferenças contextuais e históricas,  com as “Mães da Praça de Maio”, dos sombrios tempos da ditatura  argentina.
   A bandidagem não pode impedir a nossa ida e vinda, a nossa liberdade de andar,  de ir para onde quisermos nessa linda cidade do Rio de Janeiro. Nem é justo que fiquemos presos em nossos lares,  acuados com medo de vivermos  numa cidade que nos convida sempre a viver ao ar livre,  a visitar  tantos  lugares atraentes, seja no centro da cidade, seja os bairros,  inclusive nas favelas, ainda  comandadas por  traficantes que nelas mandam e desmadam como se fossem  um  “governo à parte,” uma “cidade partida,” como disse alguém,  e multiplamente partida,  pois. em cada  comunidade, existe um “governos com leis próprias duras e pena de Talião, códigos de comportamentos esdrúxulos e até linguagem  de linguagem cifrada do submundo do crime e das drogas, onde a pena capital  há muito tempo  já existe  sob a proteção da mão de ferro  de bandidos.
  Quaisquer que sejam as posições ideológicas da sociedade  fragmentada e desunida,   que é a brasileira,  não há quem não dê as boas vindas às Forças Armadas. Alguém até poderá questionar  a   legalidade dessa providência que o governo federal  teve que tomar, mais  impelido pela clamor nacional  da sociedade  que não mais suporta  as mortes   de brasileiros   tanto civis como militares.
   O pior seria se o governo federal  não se posicionasse no que tange ao flagelo da violência no Rio, São Paulo e em outros Estados brasileiros. É óbvio que, no Rio, o altíssimo  nível da violência  não mais se sustentava, a ponto de alguns brasileiros já terem  se transferido para outros países nos quais   poderão ter um  vida mais  suportável e a salvo dos assaltos, arrastões,   balas perdidas,  estupros, sequestros.
  O grande objetivo  da chagada dos forças federais é livrar a população dos criminosos, doa a quem doer. A missão das Forças Armadas, com poder de polícia outorgado temporariamente por decreto  do Presidente da República,   e sendo auxiliadas pela Polícia  Militar, Polícia Civil e a Guarda Muncipal do Rio de Janeiro, a quem  prioritariamente  cabe dar segurança, a meu ver,   seria muito eficaz se atentasse para alguns pontos  cruciais:

1)   Desarmar os bandidos   homiziados nas favelas horizontais e verticais;
2)    Prender os marginais desarticulando  as quadrilhas de traficantes e de paramilitares que dominam  vários locais  do Rio de Janeiro;
3)   Combater sem trégua   o trafico de drogas com mão de ferro, capturando  os homens-chave  e possiveis substitutos  dos mesmos;  
4)   Punir   também   os usuários de drogas de todas as camadas  da sociedade, pobres e ricos, não importa. Em seguida,  encaminhá-los a tratamentos   de longa duração  a fim de se livrarem  do vício das drogas as mais diversas. As famílias, para isso,  desempenhariam  um  papel  fundamental  no sentido de   estimulá-los a fazerem  o tratamento  adequado;
5)   Incentivar organizações sociais e de direitos humanos que  realmente  estejam   interessadas na melhoria  da saúde  dos viciados em drogas. O papel das igrejas  e religiões de todas as denominações  seria providencial e muito mais se  se tornasse  uma meta  constante;
6)   Orientar, no âmbito da Educação, pais e alunos, avós,  familiares  a fim de que  possam  aprender  a lidar com viciados na família.  Tal orientação se desenvolveria através de pessoal  profissionalmente competentes (psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais,  pedagogos, orientadores educacionais, sociólogos, antropólogos    para atuarem   continuadamente  no sentido de   esclarecer, de forma didática, sobre  os males  terríveis dos múltiplos  vícios  a crianças e adolescentes, advertindo-os   quanto às desgraças físicas  e psicológicas de que serão acometidos caso  se deixem vencer  pelos enganosos  atrativos e   falaciosas   vantagens de engrossarem a  tortuosa e mortal  estrada  da autodestruição pelo  vícios das drogas.  

           A missão das Forças Armadas, pelo visto,  é muito  espinhosa e de alta complexidade, já que  vai exigir  mudanças    estruturais profundas  em outros setores da infraestrutura do Estado Brasileiro dado que o país atravessa  uma das mais  profundas crises  em vários flancos: na  crescente  degradação da moralidade  política, atingindo  até os três poderes, na precariedade dos setores da Educação em todos os níveis, no sistema  de saúde pública,  nos transportes,  e, em especial, na segurança  pública.  Por sua vez,  a missão  das forças federais  não terá   grande  resultado se não houver uma limpeza  profunda  na moralização  das polícias estaduais e civis. Cumpre, para tanto,  extirpar  dos órgãos de segurança  estadual,   a chamada banda podre  das Polícias Militar e Civil.
             A sociedade brasileira estará atenta e mais amadurecida nas próximas  eleições. É bem possível que os maus políticos de hoje  deixarão  de  atuar  em novos mandatos. O povo, ainda que politicamente mal informado, analfabeto  funcional ou analfabeto  mesmo,  está mais   esclarecido e  mais  cuidadoso com  os falsos salvadores da Pátria,  quer da esquerda, quer da direita. 
          Os carcomidos   políticos oportunistas, os sobas que ainda  circulam pela Câmara Federal e Congresso,  bem como os seus descendentes jovens mas politicamente deformados, seguindo à risca, os mesmo  passos  aéticos da cartilha  deletéria e conservadora  de  seus ascendentes, através dessas pragas que se chamam  nepotismo,  oligarquias,   há tempos  plantados  no Planalto, não hão de vencer  a pureza da democracia  e o caminho  da dignidade  e do respeito às leis do Estado Brasileiro. Da torpeza  e podridão da politicagem de  hoje hão de  renascer algumas  "rosas do  povo."