segunda-feira, 21 de março de 2016

Tradução do poema "La fuite du temps", de Pierre Ronsard ( 1524-1585)





La Fuite du Temps

                                  

Quand je suis vingt ou trente moois
Sans retourner em Vendomois,
Plein de pensées gababonde,
Plein d’um remords et d’um souci,
Aus rochers je me plains ainsi,
Aux bois, aux antres et aux ondes.

Rochers, bien  que soyez âgés
De trois mille ans, vous ne changez
Jamais ni d’état ni de forme;
Mais toujours ma jeunesse fuit,
Et la vieillesse que me suit
De jeune en  veillard me transforme.

Bois, bien   que perdiez les ans
En hiver vos cheveux mouvants
L’an d’aprês que se renouvelle
Renouvelle aussi votre chef
Mais le mien ne peut derechef
Ravoir sa perruque nouvelle.

Antres, je me suis vu chez vous
Avoir jadis verts les genoux,
Le corps plus dur,
Et les genoux, qui n’est le mur
Qui froidement vous environne.

Ondes, sans fin vous promenez,
Et vous mener e ramenez
Vos flots d’un cours que ne séjourne;
Et moi, san  faire long séjour,
Je m’en vais de nuit et de jour,
Au lieu d’où plus on ne retourne.


INEXORÁVEL TEMPO

                                                          Pierre Ronsard

Quando distante fico de Vendomois,
Durante  vinte ou trinta meses,
Cheio de pensamentos errantes,
Pleno de remorsos e de inquietações,
Aos rochedos, aos bosques, às cavernas
E às ondas meus queixumes apelo.

Ò rochedos,  posto que tenhais  uma vida
De três mil anos, nunca vos  modificastes
Nem a forma nem o lugar que ocupais.
Quanto mais me fogem  os verdes anos
Tanto mais me perseguem os anos
Transformando-me de jovem em velho.

Ò bosques, conquanto todos os anos
 Percebais,  a cada inverno,
Da tua esvoaçante  folhagem  a queda
No ano    seguinte tudo se renova,
Inclusive também vossa folhagem.
Dos  meus cabelos o antigo viço não recobre

Ò cavernas, convosco  outrora já estive.
Juvenis  meus joelhos  então eram.
Ágil o  corpo, a mão possante,
Agora,  porém,  ainda mais  duro meu corpo  está.
 Igualmente, os meus joelhos não são iguais
À parede  que friamente vos envolve.

Ò ondas,  infinitamente  conduzi e reconduzi
Vossas águas a um  destino 
Que alcançar não  posso,
E eu, sem que um lugar  seguro  consiga ter,
Um dia, ou noite, 
Partirei  sem mais voltar.


                                    (Trad. de Cunha e Silva Filho

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