Cunha e Silva Filho
As urnas apuradas para o segundo mandato deram à presidente Dilma Rousseff uma pequena margem de um número maior de votos do que o seu concorrente, Aécio. Não perdemos muito com o fracasso do Aécio Neves. No entanto, com a
senhora Dilma novamente no Alvorada logo logo descobrimos que tinha havido algo muito estranho no seu programa de governo,
quer dizer, a presidente nos prometeu
mundos e fundos no discurso de posse e ainda
levantou uma bandeira ousada e até alvissareira com um lema que
impactava o setor da Educação brasileira: “Pátria Educadora.”
Todos ficamos aguardando esse grande
passo, o de priorizar a educação no país.
Entretanto, aquele lema, nos seus primeiros dias do novo
mandato, foi substituído por um programa de governo que veio em cheio na contramão do que havia prometido na campanha e nos debates para
conquistar o eleitorado. Medidas
econômicas foram baixadas de tal sorte que
as promessas de campanha ficaram deixadas para trás.
O engodo logo se tornou patente. Teríamos um
governo autoritário, com determinações
no setor da economia que, nos primeiros meses, puseram a descoberto um
estado caótico da situação real nesse setor. Viera de imediato uma bateria de
aumentos de preços em vários setores, em seguida, o arrocho salarial do funcionalismo público
federal, a dívida pública
gigantesca, os juros altos, os problemas graves no setor energético, a
gastança incomensurável e, finalmente, o que é
pior, o envolvimento do
governo Lula e, por tabela, o da própria Dilma, com a corrupção, vindo à tona com a Operação Lava-Jato.
O que reduziu drasticamente a
popularidade do petismo e do governo Dilma foi a questão ética desdobrada nas denúncias que se
acumulavam desde o governo Lula com o ”Mensalão,” o “Petrolão” e as investigações profundas e continuadas
da Lava-Jato.
Outros fatores foram, ademais, fortes complicadores: o desgoverno da
presidente Dilma em vários flancos, o econômico (dívida interna espantosa, gigantismo dos ministérios, recessão, desemprego,
alto custo de vida), o político (promiscuidade do do PT com a chamada
base aliada sob a prática do “toma lá da cá”), o social (escalada da violência em conjunção com a
impunidade gritante,
sucateamento dos setores da saúde
pública, da educação, dos transportes etc.).
Todo
esse conjunto desviante da normalidade
de um bom gerenciamento do Estado Brasileiro desencadeou
a aversão de parte bem significativa da sociedade civil ao governo
Dilma e ao partido principal que lhe dá apoio e orientação, o PT. Por outro lado, a queda vertiginosa
do governo Dilma se deu mais pela
dimensão ética - cumpre reiterar - que lhe faltou desde sobretudo o segundo
mandato com a mencionada quebra
de promessas e da sonegação, por
motivos meramente eleitoreiros,
de dados financeiros à sociedade
brasileira. Ou seja, o povo se viu traído por Dilma, por suas promessas
mentirosas. Creio que a sua queda
partiu daí.
A grande prova da extrema rejeição do governo Dilma, do lulupetismo
e do descrédito do povo em geral pela classe
política teve seu ponto mais alto nas manifestações em massa
ocorridas ontem em todo o país. Foram
protestos gigantescos, sobretudo, em São Paulo e Rio
de Janeiro, contra o
desempenho quase zero da presidente, contra a corrupção
implicando mortalmente o governo federal
jamais vista em toda a história do país. Mesmo no exterior, as manifestações
foram duras contra o governo Dilma.
Essa maciça manifestação nacional contra
Dilma indicia, a par das evidências insofismáveis de que o
brasileiro não deseja mais a sua continuidade
no poder, novos desdobramentos em
direção ao seu impeachment, visto que não é possível que um presidente
ainda deseje persistir no
poder sem a aprovação
da maioria do povo e tendo em
vista o descalabro geral
de um governo que se esfarela a
olhos vistos.
Nem
adianta apontar novas
formas de governo, como um
semi-parlamentarismo ou semi-presidencialismo, porque, se assim
acontecesse, a raiz do problema persistiria
com a corrupção que ronda
o poder do Planalto com
novas investigações da Lava-Jato e novos personagens
corruptos que irão se somar aos
já existentes e presos.
Se
não se corta o mal pela raiz, o câncer
da corrupção governamental vira metástase e aí a situação de Dilma
tenderá a ser o isolamento tanto dos partidos que a apoiam quanto do que
resta do desmoralizado e decadente
PT.
Os milhões de brasileiros
que saíram às ruas não mais dão nenhuma crédito ao governo Dilma.
Essa posição da sociedade civil é mais do que suficiente para que a presidente possa vir a ter a alternativa de dois desfechos trágicos e de extrema solidão: a renúncia ao segundo mandato ou, contra a sua insistência em permanecer no cargo, o impeachment conduzido por vias democráticas e conforme a legislação
vigente. O Brasil, recordo, não é uma
pequena república sul-americana, nem
tampouco uma Síria. É um país que ainda
tem assegurada a normalidade democrática e os seus três poderes ainda estão sob a proteção
constitucional.
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