Cunha e Silva Filho
NOTA PRÉVIA. O artigo abaixo é uma reprodução de uma texto meu publicado em 2006, no qual sintetizei alguns traços do perfil político do ex-presidente Lula. O artigo saiu publicado no Jornal Diário do Povo, de Teresina, Piauí, em 13/06/2006.
O que, após quase uma década, quero reafirmar é a ideia que, na época, fazia desse político e, acima, de tudo, modéstia à parte, a coerência com que lhe desenhei a forma de seu comportamento de político que antecipava todos os desdobramentos que hoje a grande parcela do eleitorado tem a respeito dele.
Com o tempo, aquele mau político ainda piorou a sua imagem ante o cenário tenebroso que o petismo está revelando à sociedade brasileira e ao mundo.Os leitores, a partir daquele artigo, facilmente poderão também chancelar certos quesitos por mim destacados como crítica antecipadora, segundo já disse, das linha de força que permeiam a trajetória do PT nos dias que correm.
Ademais, chamo a atenção do leitor para as muitas expressões que coloquei no antigo artigo utilizando sublinhados ao leitor. Intencionalmente, usei desse expediente gráfico para reforçar o longo percurso de um série de escândalos pelos quais o pais, quase dez anos depois, iria atravessar de forma ainda mais acintosa culminando com a Operação Lava-Jato, o ponto alto do que a Justiça brasileira, pela ações corajosas do juiz federal Sérgio Moro e da Polícia Federal, conseguiu apurar nas investigações à procura de dilapidadores do dinheiro público do Estado brasileiro.
O epílogo dessa mega-operação jurídico-policial só se dará quando tudo for revelado da sujeira, improbidade, falta de ética e toda a sorte de desídias cometidas contra a Nação pelos governos do ex-presidente Lula até essa fase de segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
A interface do governo Lula
No último debate da corrida presidencial realizado pela TV Globo, entre o candidato Lula, hoje presidente do país, e o político José Serra, analisando a mise-em-scène de ambos, e sobretudo de Lula, e certamente levado por um sexto sentido, tive uma desagradável e estranha sensação de que o candidato petista me dava uma ideia de alguma coisa fabricada, de algo postiço, de alguém que, mais cedo ou mais tarde, iria me causar alguma decepção. Não deu outra.
Tendo nele votado, coisa de que me arrependo profundamente agora, fui aos poucos confirmando aquela desagradável sensação daquele último debate pela TV. Com o na dar da carruagem, fui me convencendo de que me deixara enganar por um candidato do qual esperava fosse cumprir um projeto de governo no qual, pelo menos, se mostrasse contrário a uma série de erros do governo Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor.
Vitorioso na eleição, Lula apagou da memória todo o seu discurso de fundo moralista e ético apregoado em campanha para a presidência da República e até mesmo as suas ideias supostamente ousadas de viés esquerdista dos tempos de líder sindicalista em São Paulo.
Figuras da intelligentsia brasileira, desde a fundação do PT, embarcaram no discurso político petista.
Onde estão esses intelectuais que deram sustentação ideológica ao Partido dos Trabalhadores, máxime à carismática persona de Lula?
Não vingaram as ideias de mudança para um Brasil ético e moralizado, voltado para o bem-estar de todos e não só da pobreza.
O vento neoliberal, inaugurado pela era Collor e retomado na sua radicalização pela era FHC, encontrou pleno agasalho nas asas do candidato das esquerdas brasileiras, co suas siglas hoje já gastas e desacreditadas mundialmente.
Ao atual governo petista só interessam os altos juros graças aos quais tem conquistado dividendos na economia, mas, lamentavelmente, ao custo de um pesado fardo e sacrifício para a classe média.
Saúde, educação, tributação, sobretudo são os setores em que o povo em geral tem mais sentido a presença omissa e autoritária – caso do imposto de renda de pessoa jurídica e sobretudo física – esta última constituindo verdadeiro confisco salarial perpetrada pelo atual governo.
Mas, voltando à persona de Lula, o que mais tem desqualificado o seu governo, não o credenciando, portanto, para um novo mandato, é a avalanche de práticas de ilicitudes e de desmoralização político-administrativa, cujo epicentro se situa no chamado “escândalo do mensalão,” segundo podemos acompanhar perplexos através das páginas de um jornal do porte da Folha de São Paulo, transformado em verdadeiro baluarte da causa democrática denunciando e verberando, passo a passo, essa grave crise moral por que está passando o nosso país.