terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A questão não é golpe: é a moralidade




                                      CUNHA E SILVA  FILHO



      Os partidos situacionistas, PT, PSOL, PC do B e alguns menos expressivos  contrários ao impeachment da presidente Dilma proclamam, como se fossem  donos da verdade, que os demais  partidos, DEM, PSDB, e PTB e outros menores, inclusive grande parte  da sociedade civil, querem o golpe.
     Não seria  um golpe, mas a deposição de uma  mandatária  do poder  por  absoluta   falta  de legitimidade.O que significaria isso? A rejeição do eleitorado   em geral  pela continuidade  de uma presidente que   perdeu  o favor do público, do povo,  ou, no mínimo, de uma parte não desprezível da sociedade brasileira.
       Não preciso  colher a opinião proveniente dos cálculos  estatísticos: basta auscultar a média  das pessoas, em conversas  nos bares,  nos restaurantes,  nas farmácias, nos supermercados,  nos botecos,  numa palavra, na rua – o grande termômetro  para medir, não a pressão arterial, mas a  grande indignação do eleitorado pela  forma como a presidenta  Dilma  tem conduzido  seu governo.
      É bem verdade que  a questão do suposto  golpe dividiu o mundo acadêmico da área jurídica em prós e contras no que tange ao governo  Dilma. Isso, na  minha opinião,  resulta  de uma gritante e inexplicável   falta de consenso entre  pessoas  de cultura e profundo  conhecimento do Direito  que se deixam contaminar  cegamente  por um lado  da política  brasileira atual  que, a olhos vistos,   está sendo conduzida por erros, omissões,  falta de ética,  empulhação,  cooptação política  cínica e deslavada. Diante da montanha  de desacertos administrativos,  de  recorrente   desrespeito às normas constitucionais  ainda não enxergam  tais doutos juristas claramente  o quanto  o nosso país  está  sendo  vítima  de uma governança  inepta e conluiada com  o que de   mais podre   existe  no lulo-petismo, cuja história  e fundamentos  se alicerçavam numa construção de um  país  mais justo  e menos excludente.
     Estes princípios  do petismo  sob os quais  se   pautava    a construção  político-institucional do  país tinham  raízes  assentadas na melhoria  dos trabalhadores   e na parcela  dos miseráveis  há longo tempo  esquecida    da sociedade. Com o tempo,  alguns  dos co-fundadores  do PT, o novo partido  com chumaços  de  vanguarda,  política  de   transformação  social  e de diminuição do fosso  de miséria  separando  secularmente  ricos e famintos, apostaram  na liderança  de um metalúrgico,  mas futuramente  se decepcionaram  com os rumos que o  partido  ia tomando, quer dizer,  rumos   que sinalizavam para   estratégias  eleitoreiras via  populismo,   salvacionismo e outros expedientes  escusos  que   fizeram alçar o ex-metalúrgico ao cargo mais   elevado  da Nação. Era o começo da era Lula, do político dublê  de sindicalista,  homem de origem humilde, sem o primário  completo,  mas  com talento de liderança,  homem de palavra fácil recheada de solecismos  mas que  reverberava  favoravelmente entre as camadas mais   sofridas  da população  brasileira. Além disso,  homem  fervoroso  nas suas ambições de conquistas do poder a todo custo.
    Tanto assim que tentou duramente  ser presidente da República e o conseguiu, Da minha parte,  nunca depositei confiança em suas  reais  intenções  de um propalado  grande presidente dado o seu  lado meio  malandro, meio  sinuoso,  de compor-se como  homem  público.
    Não deu outra. Procurou  conduzir-se com  boa desenvoltura  no poder nos dois mandatos, mas,  no subsolo de sua  presidência  já se  iniciava um processo  de   degenerescência  político-moral-institucional  que resultara  nos escândalos do Mensalão  duramente   criticado  por vários  grandes jornalistas brasileiros,  entre os quais   mencionaria Fausto Wolff do  saudoso  Jornal do Brasil. Os dois mandatos  do Lula foram  cumpridos  legalmente, contudo  sua popularidade já mal disfarçava  o que iria  pôr  a sua imagem  em xeque, a de um  político   sobre quem  já recaíam  suspeitas de  mau governança e corrupção nos altos escalões do poder no Planalto, a começar do seu chefe da Casa Civil,  José Dirceu, o homem forte do lulismo.
    Da passagem do  Lula para  Dilma aquela degenerescência que se iniciara com Lula iria    se agravar no mandato  primeiro de Dilma,  candidata preparada  doutrinariamente pelo seu  mentor-mor, o Lula. Ora, Dilma não teria  condições do líder petista e, além do mais,  não era  talhada para o cargo  de maior relevância  do país.
    Aguentou-se na presidência do primeiro mandato  a duras penas, mas já tendo atrás  de si   as nuvens negras  aprontadas pelo se antecessor  e  originadas  no campo minado  da corrupção  político-administrativa que recebera o nome de  Petrolão – esquema   engendrado  nas  fontes do poder  espúrio   com base na propina  e nos desvios  do dinheiro público  de estatais   mancomunadas com  grandes  empresários a fim de  dar vitória eleitoral  à custa  de  escambo: o governo  recebe propinas de vultosas   valores pecuniários  a fim de fazer  caixas milionárias  de campanhas  eleitorais  para  garantirem  a vitória  de petistas e sobretudo da eleição  presidencial.
      Esse, a meu ver,  é o cerne  da imoralidade que se plantou  em solo brasileiro  com  consequências deletérias para os cofres  públicos  e com irradiações  destrutivas  das finanças  dos estados e prefeituras  e sucateamento da máquina do Estado, cujas  consequências esperadas  foram   a quebradeira   das finanças públicas  e a deterioração da nossa economia e suas sequelas conhecidas lançadas no bolso  da sociedade: inflação de dois dígitos,  juros  altíssimos,   encarecimentos  do custo de vida  em todos os seus produtos,  desemprego,   fechamento de  firmas,  indústrias,  sucateamento  dos hospitais públicos,   crescimento  gigantesco da violência, entre tantos outros flagelos sociais que nos amedrontam dia a dia.
   Entretanto, a despeito disso,  os intelectuais do Direito, alguns sociólogos e cientistas políticos,  diplomatas  são contra literalmente  o afastamento  de Dilma. Qualquer tentativa de fazê-la sair  do governo  é por eles considerada um golpe contra as instituições democráticas.
   Ora, se não há, segundo esses juristas pró-Dilma,  nenhum sinal de que ela   cometeu alguma venalidade, um crime que a impedisse de continuar  mandando no país,  como fica, então,  o lado imoral  do seu governo,   do seu relacionamento com  o PT,  da sua fidelidade a esse partido,  das suas inverdades proferidas  no seu último   debate de campanha? 
  Prometendo mundos e fundos  visando a dar  continuidade ao seu programa de governo e, logo depois de empossada,  tendo a certeza de que saíra vitoriosa, saiu a campo  esquecendo as promessas e as propostas de governo com a validade  apenas até o derradeiro  instante de retórica vazia  e enganadora.
   Creio que isso  já é suficiente para  caracterizar o seu  segundo mandato como  uma quebra  de ética de um chefe de Estado. Todas as ações tomadas no segundo mandato  foram   determinantes    para a sua   acelerada  perda de popularidade,  uma vez que a sociedade logo  percebeu o quão tinha sido  engabelada pelos discurso eleitoreiro de D. Dilma.
     A par de não haver  cumprido  o que prometera,  um outro fator  crucial de sua queda de prestígio junto aos brasileiros foi   o recrudescimento  dos escândalos e denúncias  no seio de sua segunda  gestão, em especial  com  a operação  iniciada pela Lava Jato desdobrada em várias etapas de investigações  e consequentes  prisões de empresários e políticos  ligados ao governo federal  através do  esquema de propinas  pagas a membros do PT e de outros partidos aliados.
    Quer dizer,  revelações  bastante  comprometedoras do envolvimento do governo federal  em licitações  de obras de vulto   mediante o pagamento das referidas propinas que   entupiriam  de dinheiro   a direção  do PT  e de outros partidos  implicados no mesmo esquema a ponto de um  ilustre  membro do Supremo  Tribunal Federal, Gilmar Mendes, declarar  que, no país, se havia  formado  um  Estado  cleptocrático, cujos  dividendos  oriundos  de  esquema  com  grandes empresas renderiam  a vitória  do PT  em pelo menos  trinta anos.

    Fatos com esses não seriam suficientes para derrubar  um presidente da  República ?Daí se concluir  que a crise  política brasileira  tem seu  centro de gravidade no seio  do próprio governo, ou seja,  na pessoa  responsável  pela moralização  da rex publica. Não reconhecer  a  seriedade  desses argumentos  contra o atual governo  é querer  tapar o sol com  uma peneira ou  não   querer  enxergar que  o rei (ou rainha)  está nu (a) quando praticamente todo o país  vê claramente visto  a nudez  imperial e a moralidade   esfacelada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário